OCA TERRAVILA GLOCAL - Ocupação Cocriativa ArtFloresta
Sitio Bom Jesus - Rua Quilombo LT 56 - PA Quilombo - Lago do Manso - Chapada dos Guimarães-MT Brasil
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Categorias
Associação, Centro Cultural, DAOActividades
Acomodação, Agrofloresta, Aromáticas, Compostagem, Frutas, Grãos, Medicinais, Mudas, Orgânico, PANCs, Permacultura, Pesquisa, Preservação, Reciclagem, Sementes Crioulas, VoluntariadoFone: +5569999556403
Email: [email protected]
Instagram: @ocaterravilaglocal
Facebook: brazdyvinnuh
Twitter: @Brazdv
Sobre
OCA - Terravila Glocal
"Alegria, fruto da Liberdade c/ Confiança!"
OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA
>>Manter um Polo Produtivo utilizando o conceito Agroecológico e da permacultura. Horta c/ alimentos convencionais; cultivo de ervas aromáticas, medicinais, fitoterápicas e PANCs-(Plantas Alimentícias não Convencionais); meliponicultura; manejo extrativista; canteiro de mudas de espécies nativas e/ou ornamentais para reflorestamento local; Artfloresta (Arte como ferramenta pedagógica); turismo rural; resgate cultural; artesanato e artes em geral.
>>Criar um ambiente de convivência e experimentação laboral que dialogue com liberdade a respeito de planejamento consciente e inteligente de geração de riquezas para a sustentação do Polo, com vistas para a regeneração do homem, a fim de dar visibilidade à regeneração do ambiente integral; onde o bem comum (terra, água, ar, fauna e flora) esteja além da geração de conteúdos que estimule a troca de saberes.
>>TEATRO CIRCULAR REGENERATIVISTA URUCUMACUÃ - será uma edificação para marcar a presença da OCA OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA neste ambiente como inspiração ao Grande Público (Local e visitante).
>>Longe do estereótipo de ações com viés de “cuidados ambientais”, o projeto recebe colaboradores para alavancar esse processo imediato, onde é oferecida hospedagem e alimentação para participação no projeto pelo período acordado entre o interessado e o projeto. O candidato oferece 4(quaro) horas de mão-de-obra diárias por semana, com dois dias de folga.
O tempo restante os colaboradores são incentivados a produzirem para conquista de seus retornos fiduciários.
>>Esse sistema de “Terravila” Glocal é um conceito que vem dando certo, por oferecer aos experimentadores a liberdade de produzir o seu próprio sustento. Sem ter um mandatário centralizador. Os modelos comuns existentes, deixam um hiato que não pode ser preenchido. A proposta apresentada é de acesso e não de posse. Os colaboradores podem ser transitórios , temporários e "permanentes" pois é fato a transitoriedade da vida.
Com o processo em andamento para os trabalhos, vem ficando mais clara a proposta de uma “rede de ocupação produtiva e não de um grupo.
>>A proposta “Terravila” Glocal existe em três dimensões, LOCAL, com os colaboradores que a partir do pertencimento, se tornam moradores, por sua vez, locais; VIVENCIAIS são os colaboradores que fazem uma imersão local, por um período de tempo; GLOCAIS são os colaboradores que conhecem a proposta e participam de qualquer lugar do mundo, inclusive localmente.
>>Nesta “Terravila” Glocal OCA os trabalhos de infraestrutura estão sendo inicializados. Os colaboradores dessa primeira fase terão a oportunidade de conhecer de perto o mecanismo de se criar
recursos para gerir uma ocupação que vai além da moradia e da propriedade para o plantio, onde se busca a regeneração do ser humano para que ele compreenda e se torne regenerador de sua própria natureza. Em uma rede que vem se espalhando pelo mundo, agregando pessoas que se identificam, principalmente deixando clara a importância da Alegria, Liberdade e da Confiança. Juntos somos mais fortes sem perdermos nossa pessoalidade.
§ - O Projeto OCA terravila Glocal - Ocupação Cocriativa Artfloresta está sendo reconfigurado quanto ao formato das atividades locais, para deixar fluir com mais vigor tudo que vier para fortalecer nossa Ocupação.
NOVA FASE.
<<O que faria a equipe do Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL, estar na plataforma?>>
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Superou minhas expectativas, o capim cresceu enormemente. No inicio pensei que teria perdido meu investimento de tempo no plantio. Agora percebo que foi a coisa certa. Surpreendente.
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer P. - Livro II - Cap. 28
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O SANTUÁRIO DO MAGO Embora habitasse com sua única irmã, a Professora Plínia, numa mesma propriedade rio acima, à margem esquerda do rio Aguaporé, de frente à Praia da Lua Clara, nos arredores da esplendorosa cidade do Elo Dourado, Mago Natu possuía confortáveis aposentos no Palácio Fortaleza, cuja beleza e suntuosidade contrastavam com a simplicidade e o despojamento de sua própria moradia, privilegiada por encantos naturais. Para se chegar até a morada do Mago, era necessário subir o rio na direção Sul. A casa do Santuário era toda branca e bastante ampla, mas rústica, construída em adobe, ladeada de agradáveis varandas e grandes janelas. Nem de longe a área construída ostentava o esplendor do Palácio Fortaleza, mas a extensão do terreno com pomares, hortas, parques, bosques, cascatas, regatos e jardins secretos, dizia-se, era tão magnífica que atribuíam a autoria daquela paisagística às mãos do próprio Arquiteto Universal. Mago Natu tinha cabelos brancos e usava longas barbas. De personalidade emblemática, igualmente à sua irmã, a Professora Plínia, não aparentava sinais de velhice. Era amado por muitos, invejado por alguns, considerado sábio conselheiro e mestre do Rei Médium, que o distinguia pela humildade e comiseração. Conhecedor dos segredos da Natureza, não se jactava, nem usava em vão seu precioso saber. Amiúde solicitavam-no para resolver casos ditos misteriosos. Falava pouco, mas tinha incomparável senso de humor e, quando insultado, mostrava-se indiferente às bravatas e provocações dos que lhe rivalizavam. Na sua fantástica propriedade funcionava uma escola hermética, onde ministrava Ciência Iniciática, Astrologia, Ocultismo e Magia Sagrada. Reis e nobres do Reino do Elo Dourado e de alguns outros reinados vizinhos passaram períodos de reclusão naquele Santuário, desde os antepassados do Rei Pay, pai do Rei Médium e avô dos príncipes Urucumacuã e Kurokuru, além de nobres de reinados estrangeiros. Para se penetrar nos domínios do Mago Natu, cruzava-se um portal, formado por duas frondosas árvores de Pau-D’arco, uma florida de amarelo e outra de roxo, cujas copas se entrelaçavam formando um arco. Dependurada entre uma e outra árvore, ressaltava uma extensa placa de madeira, com a inscrição insculpida: Santuário do Mago. Aqui Natu Reza. M.’.N.’.O.’.P.’.Q.’.R.’.S.’ Dois enormes cães de guarda, um negro e um branco, postados à entrada sob o frondoso arco evitavam o ingresso de curiosos e impediam a saída dos que ainda não haviam completado o ciclo iniciático ou estavam despreparados. O cão negro, Philos, aparentemente feroz, rendia-se à mansidão, quando ouvia uma determinada palavra, pronunciada como senha. A senha de ingresso ao santuário era a própria palavra Philos. Somente os que conquistavam o direito de receber os ensinamentos do Mago Natu eram detentores do segredo. O cão branco, Sophos, ficava sempre de costas para os que adentravam o Santuário. Aparentemente manso, não se importava com a chegada dos neófitos e era indiferente à entrada dos aprendizes ou visitantes convidados. Sua função era inversa à do cão Philos. Enquanto um barrava a entrada, o outro não permitia a saída. Aos preparados só era facultado sair depois de concluído o curso, quando prestavam juramento perpétuo, sob sigilo absoluto de jamais revelar o conhecimento recebido. Assim, apropriavam-se do grau de Iniciado e recebiam por final, a palavra senha – Faculdade –, para deixar o Santuário. Todo aprendiz recebia, no portal de entrada, a senha para amansar o cão Philos, e depois três simbólicas chaves de metal – uma de ferro, uma de prata e uma de ouro – com que abriria as três grandes portas do conhecimento: a de ferro, para a Porta das Vontades; a de prata, para a Porta dos Sentimentos; e a de ouro, para a Porta da Sabedoria. Depois de passadas sete luas cheias reclusos, estavam prontos para sair do Santuário. Uma vez admitidos, os aprendizes ficavam presos naquele território de a-prender. Mago Natu transmitia aos seus acólitos hábitos comedidos, começando pela maneira de se vestir. Sempre usava vestimentas bem práticas e confortáveis. Executava um sem número de tarefas e, para trabalhar, gostava de trajar-se com uma túnica de algodão, branca e lisa, sobre uma folgada bombacha preta. Sobre o conjunto, um avental igualmente branco, com um grande bolso externo frontal, debruado de fita vermelha, com duas fileiras de letras repetidas, bordadas debaixo de uma estrela de cinco pontas, também bordada com fios de ouro. O Grande Rei e ele, somente, conheciam o misterioso significado iniciático daquelas duas fileiras de letras. A emblemática estrela dourada de cinco pontas, dizia ele, só aos iniciados dizia o significado, e as duas fileiras de letras, M.N.O.P.Q.R.S., ainda que repetidas, tinham entendimentos bem distintos um do outro.
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer P. - Livro II - Cap. 27
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REVELANDO MISTÉRIOS Rainha Gônia adentrou os aposentos dos filhos, com duas xícaras de chá de anis. O Príncipe Kurokuru já ressonava, mas Urucumacuã aguardava com interesse a chegada da mãe. Assim que a rainha se sentou à cama e reiniciou a narrativa da história de seus pais, Rei Ofin e Rainha Tarope, o Mago Natu entrou também no quarto e perguntou ao Príncipe Urucumacuã, depois de constatar que seu irmão dormia pesadamente: — Queres saber o que aconteceu nos sete dias seguintes ao teu nascimento? — Evidentemente, Mago Natu. Minha mãe veio aqui para me contar. — Meu filho, antes, porém, quero que saibas do que aconteceu na festa do nosso casamento... Nascestes três anos depois. — Senhora Rainha – interrompeu Mago Natu –, conte-lhe então sobre o vosso casamento e, depois, eu mesmo direi a respeito dos sete dias da festa do nascimento dos príncipes gêmeos. — Mago Natu – indagou o Príncipe Urucumacuã –, o que significam as letras escritas no vosso avental e esta estrela dourada? Desnecessário indagar-lhe o que simbolizava aquela estrela dourada. O significado das duas fileiras de letras bordadas em fios dourados e repetidas era também uma espécie de enigma pessoal. Sorrindo para o príncipe, respondeu afavelmente: — Este é um segredo só meu. A ninguém posso revelar. Mas quem o descobrir certamente será um grande e poderoso sábio! — Algum já descobriu? – perguntou Urucumacuã. — Sim – respondeu. — Quem? — Eu mesmo! Rainha Gônia também achou graça. Urucumacuã ficou meio ruborizado e não se deu por convencido. Olhou sério nos olhos do Mago Natu, surpreendendo-o: — Garanto-vos que sei o que significam as letras da primeira fileira: M.N.O.P.Q.R.S. — Então serás um grande sábio. Diga-me no ouvido. Príncipe Urucumacuã formou uma concha com as duas mãos, juntando-as entre sua boca e a orelha do Mago Natu. Falou tão baixinho que a Rainha Gônia não conseguiu ouvir o segredo. — Verdadeiramente, és um prodígio! T.U.V.X.Z., eis aí tua missão! Pelo domínio do Fogo Sagrado, Tu, Urucumacuã, Vencerás Xamãs Zombeteiros! Sem entender ainda o que o Mago Natu proclamara, a Rainha Gônia fitou-o melancolicamente, indagando: — Podes revelar o significado do que dissestes, Mago Natu? — Sem dúvida: nosso Urucum haverá de travar inúmeras batalhas com poderosos inimigos, visíveis e invisíveis... Xamãs, bruxos e outros feiticeiros. A todos aniquilará com sua força e inteligência e, pelo poder do Fogo Sagrado que dominará, há de a si mesmo transformar num portentoso pássaro misterioso e flamejante, o PÁSSARO DE FOGO. Rainha Gônia não ousou prosseguir com interrogatórios. Preferiu deixar o Mago Natu a sós. Um pressentimento a avisava de que se aproximava o dia em que Urucum acompanharia Mago Natu, ausentando-se do convívio familiar por uns tempos, para receber instrução e iniciação nos Pequenos Mistérios, no Santuário do Mago.
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer P. - Livro II - Cap. 26
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O SONHO DO PRÍNCIPE Anoitecera muito rápido. O Palácio Fortaleza já estava iluminado com archotes de resina vegetal e lampiões abastecidos com óleo de sementes de abelmeluco e folhas de cinamomo. O odorífico vegetal inebriava os corredores, transformando aquela atmosfera de paz e serenidade num agradável cenário, onde os ornamentos e as paredes revestidas de puro ouro refletiam brilho mágico e repousante. Em seus aposentos, o pequeno Príncipe Urucumacuã esperava sua mãe chegar para dar continuidade à contação das histórias familiares, conforme Mago Natu pedira. O irmão gêmeo Kurokuru pouco se interessava em ouvir as longas narrativas de sua mãe, embora fizesse algum esforço para se manter atento e de olhos abertos. Mas as demoradas cavalgadas pelas florestas e os prolongados passeios de barco com seu pai deixavam-no exausto ao final do dia. Eram suas diversões prediletas, no entanto. Sair andando pelo florestal ao lado do pai, pesquisando vegetais com poderes curativos, observando a pujança da natureza e a exuberante diversidade da flora e fauna locais, com tantas espécies de insetos e animais, significava para ele o que de melhor a vida poderia oferecer a um príncipe sem comprometimentos futuros. Não se preocupava em casar-se, quando atingisse a maioridade. Também não estava prometido a nenhuma princesa. Por isso, gozava da liberdade de aprender apenas o que lhe convinha, porque poderia casar-se quando e com a mulher que bem escolhesse. Ao Rei Médium comprazia ter um filho apaixonado pelos seus mesmos interesses. Identificava-se sobremodo com o menino porque cultivara ele mesmo, desde os tempos de criança, o gosto pela natureza e pelas ciências que aprendera com as gerações ancestrais. Ensinar ao filho Kurokuru o que também aprendera com seu pai, o Rei Pay, era mais do que um dever. E, por excelência, uma diversão. Enquanto príncipe, pequeno ainda, Rei Médium regozijava-se de acompanhar o Rei Pay em demoradas incursões pela natureza, cavalgando, andando dias seguidos pelas florestas, observando-as à procura de identificar espécimes de plantas, animais, pássaros ou insetos desconhecidos. Quando encontravam algum exemplar que ainda não fazia parte de suas coleções, o Rei Pay determinava: — Cata logo! Cata logo, filho! Desenvolveu grande capacidade de discernimento dos vegetais com propriedades curativas. Aprendeu como utilizá-los no tratamento para cura de diversas enfermidades. Tornou-se arguto catalogador de folhas, flores, caules e raízes, que pacientemente secava ao sol, no forno ou nas estufas feitas por ele mesmo, separando-as, classificando-as de acordo com características peculiares e propriedades terapêuticas. Sobrepunha as folhas secas colhidas de árvores, arbustos ou ervas umas às outras, prendendo-as com fios de ouro, formando calhamaços. Conforme aprendera tempos depois com o Grande Rei, que o visitava a cada três anos e de quem recebia lições especiais de astronomia e botânica, Rei Médium separava os catálogos das folhas, atando-os com fios de ouro, para facilitar o manuseio. Não raro, quando recebia visitantes interessados naquele tipo de conhecimento, admirados de suas habilidades de botânico e curador, adentravam seu laboratório e se perguntavam para que serviam aqueles catálogos de folhas secas. Ao que respondia: — Com estas folhas, livro as pessoas de diversos males! Assim chamava suas folhas de livros.
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Amanha 29/10
9 horas
o link da live streaming - criado pelo @+55 22 99848-4707 / QStarts - que vai ocorrer através do YouTube do NODE ⚡ ( não deixem de se inscrever no canal & para a live do evento) https://youtube.com/live/XZDhf-XK0UI?feature=share
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"Primeira fase" de uma experimentação - Capim VETIVER
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Estes canteiros de Capim VETIVER (Chrysopogon zizanioides), estão assim por pouco tempo. Estou tentando registrar cada processo. Muita gente pode até questionar, mas é assim mesmo. Aqui tenho que fazer por etapas. Ainda falta uma parte do do canteiro para receber mais terra. Depois venho com a cobertura. Tive a ideia de fotografas para que mesmo os leigos , como eu possam olhar e ver a evolução aos poucos.
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer Pereira - Livro II - Cap. 25
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O DESAPARECIMENTO A bela e virtuosa Princesa Gônia, filha única do Rei Ofin e da Rainha Tarope, carinhosamente mimada e chamada pela mãe de minha pérola da Madeira, tornou-se herdeira do trono e da coroa dos vastos domínios do reino do Rei Ofin, aos dezesseis anos. Coroaram-na rainha, destarte, muito jovem, numa cerimônia que o Mago Natu celebrou defronte ao caudaloso Rio Amoré, de frente ao Palácio da Madeira, à margem direita da colossal Praia do Refinado. Ao se sentir coroada, empunhando o cetro real e coberta com o manto verde bordado de ouro, incrustado de finas pérolas, a então Princesa Gônia relutava ascender ao trono do Reino da Madeira, acreditando que seus pais pudessem surgir, misteriosa e inesperadamente, amparando-a, colocando fim à angústia que lhe sufocava, diante da honorífica responsabilidade que recebia. Sorriso e pranto se misturavam em seu afável semblante e uma espécie de faustoso e agourento sortilégio, anunciado pelo Mago Natu, a acompanharia pelo resto da vida. Mago Natu havia ordenado que trouxessem o trono real até a praia, no intuito de lhe amenizar o sofrimento, visto que ela não se afastava nem desviava o olhar das margens do rio, alimentando a esperança de rever os queridos pais. A suntuosa peça, toda esculpida em madeira de lei, adornada com ramagens de folhas de ouro e flores incrustadas de pedras preciosas, foi levada com grande esforço do palácio do Rei Ofin até a Praia do Refinado e colocada sobre caprichoso tapete de pétalas de flores, exatamente para que se completasse ali o cerimonial da sagração e o juramento real. Construíram, assim, no bucólico cenário, ornamentado com folhagens e flores silvestres, um extenso palanque sobre as brancas areias, onde assentaram o trono. Pássaros coloridos e beija-flores diversos constantemente sobrevoando em torno da rainha donzela faziam-lhe companhia, enquanto ela permaneceu de pé, desde o alvorecer até o escurecer, daquele dia em profunda tristeza, derramando lágrimas copiosas sobre as límpidas e brancas areias. Sem ter quem a dissuadisse, fazendo-a se sentar, mantinha-se calada, imóvel, com olhar fixo no rio e os ouvidos atentos ao borbulho das águas. Recusava-se a beber ou comer qualquer coisa que lhe oferecessem. Apenas chorava, chorava e chorava. A Rainha Gônia se manteve naquele prolongado jejum sacrificial do amanhecer ao entardecer. Quando o sol já se ocultava no poente, ao surgir a lua cheia, sentiu-se prontamente reconfortada e estancou o pranto. Mago Natu pegou-a pela mão, conduzindo-a até o trono, concluindo e presidindo, então o restante do cerimonial de sagração com um vaticínio pressuroso e agourento: “De seu sofrido pranto derramado sobre a fina areia desta praia, haverá de nascer e brotar delicadas contas, a fim de que a memória de seus pais seja perpetuada nos contos de lágrimas. Grande Rainha serás e, por breve tempo, um majestoso império se erguerá da união do Reino da Madeira com o Reino do Elo Dourado, pelo vosso casamento com o Rei Médium. Jamais se verá império mais esplendoroso, nem mais fugaz, até que uma grande ave branca trespassada de sofrimento voe para terras longínquas, e um grande pássaro, atormentado pela dor, vá encontrá-la no alto das cordilheiras, onde criarão um pacífico e fascinante império e reinarão até a consumação dos séculos.” Os raios prateados do luar incidiram sobre minúsculas bolinhas de areia branca, formadas dos pingos de lágrimas da donzela rainha. O orvalho do anoitecer, regando-as, fez o milagre de germiná-las. Transformaram-se, por encanto, em pelotinhas iguais a contas de areia que germinaram, numa espécie tenra de gramínea, de ramada igual capim, brotadas no mesmo local onde a rainha permanecera de pé, chorando horas seguidas. Rapidamente cresceram, reproduziram-se e espalharam uma profusão de sementes cinza-azuladas, que ficaram conhecidas por contas de milagre, contas de lágrimas, ou capim de mil lágrimas — Coix lacrima-jobi. Todos os que ouviram as palavras do Mago Natu e assistiram ao cerimonial de sagração da Rainha Gônia testificaram que, das lágrimas vertidas pelo sofrimento da rainha donzela, saudosa de seus pais misteriosamente desaparecidos, nasceram os capins das contas de lágrimas. Assim, a Rainha Gônia subiu ao trono do Reino da Madeira, ungida e abençoada pelo Mago Natu. Em reconhecimento àquele autossacrifício, após a cerimônia da sagração e coroação, foi-lhe dado o título insigne de “Senhora das Contas de Lágrimas e da Pérola da Madeira”.
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer Pereira - Livro II - Cap. 24
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CONHECENDO AS HISTÓRIAS Rainha Alzira instalou-se confortavelmente no aposento vizinho ao da Professora Plínia. Trouxe de Avilhanas todas as suas tintas, manipuladas há poucos dias, além de uma provisão de tecidos cortados em tamanhos retangulares, que ela transformaria em belas pinturas. Não queria interferir na rotina dos moradores daquele palácio e combinou com o Imperador que só contaria a ele, à Imperatriz e à Professora Plínia partes que ainda não conheciam sobre o vergonhoso suicídio do despudorado marido, Rei Albe, o Rico, que se enforcou pelos pés, fato que culminara com o aparecimento do fantasma da Mula Sem Cabeça, o nascimento e a criação da menina Alba Esmeralda, e a verdade sobre a paternidade do menino Mulato, seu neto, que diziam ser filho de Calico, mas ela mesma suspeitava e acreditava que fosse do Conde Rasku, seu outro filho. Rei Médium sempre teve vontade de saber dessas verdades, mas por excessivo decoro e respeito à sua tia-avó, Rainha Alzira, não ousara perguntar-lhe se seu segundo filho, o Conde Rasku, era mesmo filho do Rei Albe, o Rico. Tampouco Rainha Alzira tocara no assunto. Tempos depois, sem que lhe questionasse, revelaria ao sobrinho-neto toda a verdade. A Imperatriz Gônia, por sua vez, sentiu-se confortada com o aconselhamento do Mago Natu. Tão logo saíram do salão de jantar, subiu com os filhos aos aposentos para contar-lhes em longa narrativa, desde quando os avós, Rei Ofin e a Rainha Tarope, pais da Imperatriz, desapareceram misteriosamente numa pescaria e ela, assim, sagrou-se Rainha do Reino da Madeira, subindo ao trono aos dezesseis anos de idade. — Vou começar contando quem eram os meus pais e como me tornei rainha do Reino da Madeira. — Mãe – interrompeu o Príncipe Kurokuru –, deixa pra amanhã. Estou com tanto sono. — Conte, então, para mim, minha mãe – pediu o Príncipe Urucumacuã. – Quero saber dessa história completa. — Pode dormir, meu filho. Contarei ao seu irmão primeiramente. Quando quiseres saber, peça-me. — Boa noite, Urucum. Boa noite, minha mãe. – Virou-se na cama, cobriu-se com macios lençóis de linho do Oriente e em menos de dois minutos o Príncipe Kurokuru ressonava. — Meu querido Urucum, quando quiseres dormir, avise-me. Prosseguiremos amanhã. “Meu pai, Rei Ofin, e minha mãe, Rainha Tarope, sumiram misteriosamente, durante um passeio de barco, tragados talvez pelas caudalosas e borbulhantes águas do Rio da Madeira, por força e circunstância de um enigmático naufrágio. Talvez tivessem servido de repasto às feras da própria água, da terra ou, quem sabe, houvessem se encantado em seres da Natureza, pelos séculos dos séculos. Certo é que jamais voltaram a ser vistos”. — Por que a guarda do vô Ofin e da vó Tarope permitiu que eles saíssem sozinhos? – inquiriu o Príncipe Urucumacuã. — O Rei Ofin não tinha o hábito de sair sozinho com a Rainha Tarope, meu filho. Eles apreciavam pescarias, gostavam das caçadas às margens do rio e se divertiam colhendo flores e frutos, mas sempre o faziam acompanhados de criados e seguranças. Contrariamente àquela rotina, naquele dia, não se sabe por que, Rei Ofin e Rainha Tarope recusaram a companhia dos vassalos e serviçais da Guarda, deixando-me sob os cuidados da minha aia e do Senhor Gaio, meu sábio preceptor, sob alegação de que necessitavam ficar a sós. — A senhora os viu, antes de saírem? — Saíram no alvorecer, quando os primeiros galos cantavam, e nunca mais voltaram... — Ninguém os procurou, depois disso? — Sete dias contados após o misterioso desaparecimento, pescadores e caçadores do Reino da Madeira desistiram das buscas. Estranharam a ausência de vestígios reais: a embarcação que usaram, peças de suas roupas, algum de seus pertences, nada foi encontrado. Ninguém no reinado se recordava de tê-los visto no rio ou às margens da floresta depois daquele fatídico dia. — Por que não chamaram o Mago Natu para dizer onde eles estavam? Mago Natu sabe de tudo, não sabe? — Foi o que fizemos, Urucum. Dadas as buscas por encerradas, Mago Natu veio ao Reino da Madeira. Chegando, dirigiu-se ao local de onde meus pais teriam zarpado. Lembro-me ainda dele, concentrado, sentado em posição de meditação sob uma grande figueira-brava, Ficus guapoi, à margem direita do rio da Madeira. Alguns momentos depois daquela serena quietude, disse pesaroso ao emissário que o acompanhava: — Do Rei Ofin, nada! Mas Rainha Tarope posso garantir, se encantou naquelas plantinhas flutuantes, por ali abaixo, além daquela curva, onde as águas se espalham e acaba a correnteza. — Que fantástico, minha mãe. A senhora acreditou no Mago Natu? — Olhei na direção que Mago Natu apontava. Constatei que flutuavam, balouçando livremente na superfície das águas profundas e calmas da enseada, próximo do porto de onde meus pais foram vistos pela última vez, uma grande camada de plantinhas de verde intenso, folhagem grossa, com pendõezinhos cobertos por delicadas flores arroxeadas. Os experientes pescadores do reinado, observadores e conhecedores da exuberante vegetação às margens daquele caudaloso rio, ainda não tinham visto iguais, nem assemelhadas a elas. Foi quando eu mesma as denominei de Tarope, Eichornia crassipes, acreditando firmemente que se tratava da minha mãe, a rainha encantada naqueles vegetais aquáticos. Assim, numa homenagem perpétua a sua memória, as outras pessoas também disseram: “É mesmo. É a Rainha Tarope. A nossa Senhora Desaparecida!” — E do vovô não encontraram nenhuma pista, nenhum indício de que ele também pudesse ter se encantado? — Do meu pai, Rei Ofin, como não houve sinais nem vestígios que pudessem registrar sua lembrança, disseram apenas: “Do Rei Ofin, nada!”; e passaram a se lembrar dele como o “Rei Finado”, hoje conhecido como o Refinado. — E a senhora, sofreu muito com o desaparecimento do vovô e da vovó? A Imperatriz Gônia encheu os olhos de lágrimas. Não conseguia mais falar. Beijou o filho, confortou-o entre os lençóis e despediu-se, com a voz embargada, abençoando-o: — Amanhã, te conto como recebi a coroa e o trono do Reino da Madeira.
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Em junho eu tive acesso a 100 mudas de Capim Vetiver(Chrysopogan zizanioides), fornecidas por Paula Leão (Deflor), colaboradora do Projeto OCA - Terravila Glocal - Ocupação Cocriativa Artfloresta - "Alegria, fruto da Liberdade c/ Confiaça!!! As mudas chegaram um tanto debilitadas, por passar quase trinta dias, dentro de um baú, durante o período de transporte.
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer Pereira - Livro II - Cap. 23
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CASOS À LUZ DE VELAS O Imperador e a Imperatriz abstinham-se de comentar publicamente assuntos misteriosos que envolvessem bruxos, feiticeiros, feitiços e encantamentos. Se evitados em meio à nobreza da Corte, em contrapartida, eram os temas preferidos dos plebeus e, sempre atualizados, pontuavam as conversas extramuros do Palácio Fortaleza. Não havia também como impedir que os dois príncipes ouvissem a respeito dos extraordinários e misteriosos acontecimentos ocorridos naquele reinado, porque o contato entre os meninos e a criadagem era inevitável. Além do que, mais tarde ou mais cedo, Príncipe Urucumacuã e Príncipe Kurokuru conheceriam toda a história familiar de seus antepassados, desde que os tataravós migraram do Continente Atlante, avisados por sonhos, premonições e por entidades celestiais de que fugissem para o mais longe que pudessem; a ilha de Atlântida estava predestinada a submergir. Julgando-se pelas orientações e conselhos do Mago Natu e da Professora Plínia, o casal imperial tinha certeza de que logo, logo, os filhos seriam iniciados nas ciências das letras, dos números e dos assuntos de mistérios. Antes, porém, o mais elementar dos ensinos a ser ministrado pela Professora Plínia e, na sequência, pelo Mago Natu, contemplava o conhecimento da verdade sobre a própria origem, a partir da história familiar. Ao saírem da carruagem, no pátio principal do Palácio Fortaleza, coincidentemente, avistaram Mago Natu. Ele os aguardava, sorridente e saudoso. Abraçaram-se felizes, festejando o reencontro, saudando-se à maneira dos palacianos do Elo Dourado. Antes que a Imperatriz Gônia dissesse algo, Mago Natu adiantou-se: — Senhora Imperatriz, que bom que Rainha Alzira esteja conosco. Ela mesma poderá relatar aos vossos filhos toda a saga da Mula Sem Cabeça. É tempo de saberem. Ainda que consideremos cedo demais para compreenderem determinados segredos e mistérios da Natureza, chegou a hora de se iniciarem nos antigos conhecimentos ocultos, místicos e mágicos. — Vamos primeiramente ao salão do jantar, que estou com fome – sugeriu o Imperador. — Meu pai – inquiriu o Príncipe Urucumacuã – ouvi dizer que a Mula Sem Cabeça apareceu aqui no reinado, na noite em que o senhor e minha mãe se casaram, é verdade? — Sim. É verdade. – respondeu o Imperador, circunspecto, olhando para a Rainha Alzira. — O que já sabes sobre esta história, Urucum? – inquiriu Rainha Alzira. — Ah, seu espertinho, andastes a escutar as histórias da tia Alzira? – Quis saber a Imperatriz. — Sim, minha mãe. Enquanto tia Alzira pintava quadros, lá na casa dela, contei um sonho que tive. Aí, ela mesma nos disse que, durante alguns anos, nas noites de lua cheia, sempre à meia-noite, um fantasma no formato de uma Mula Sem Cabeça, expelindo labaredas incandescentes pelo pescoço, era visto rondando as baias do Palácio das Esmeraldas, e também em outros reinados, assustando as criações e assombrando os sentinelas. — Tia Alzira, contastes para eles como que a Mula “Tá” se transformou na Mula Sem Cabeça e apresentou-se como assombração – indagou, preocupado, o Imperador. — Não, meu prezado. Não tivemos tempo para contar-lhes. — Detalhes? Que a senhora sabe e não quis contar? – questionou o Príncipe Kurokuru. — Ela só me falou que, quando Urucum crescer, para se casar com a Princesa Irina, terá de “matar” a Mula Sem Cabeça... – concluiu o Príncipe Kurokuru, muito espantado. O Mago Natu começou a rir da ingenuidade do principezinho: — Estás vendo, Rainha Alzira? Agora não tens saída. Tereis que abrir o jogo com os meninos. — Prefiro que vós mesmos ou a Professora Plínia se incumbam desta missão. Minha fase de heroísmos passou faz tempo. Príncipe Urucumacuã ficou levemente ruborizado, seus olhos verdes cintilaram como duas esmeraldas vivas e, num gesto arrojado, imitando um cavaleiro empunhando uma espada, anunciou: — Para me casar com a Princesa Irina, não só vou matar a Mula Sem Cabeça, como também encontrar um grande tesouro enterrado, desencantar o Sacipe Ererê e desfazer todos os feitiços provocados pelo Bruxo Neno e pela Feiticeira Zureta! — Ora, ora! Viva, então, Príncipe Urucumacuã! Nosso mito, nosso herói! – aplaudiram todos. Mago Natu dirigiu o olhar à Imperatriz, rastreando conclusões, como se lesse pensamentos. Sentiu a mesma admiração que a Imperatriz e a Rainha Alzira expressaram pela obstinação do Príncipe Urucumacuã em adquirir sabedoria para se sobrepor ao Bruxo Neno e à mãe dele, Feiticeira Zuzu, a Sacerdotisa das Sombras. No domínio de magias, encantamentos e feitiços, só o Mago Natu era superior, mas não usava de seus especiais poderes secretos para se confrontar ou contrapor aos dois. Pediu, então, ao príncipe que lhe contasse, se assim quisesse, o que ele havia sonhado recentemente: — Meu querido Príncipe Urucum, conte-nos novamente o que vistes no teu sonho! — solicitou Rainha Alzira, curiosa. Dirigindo-se à Imperatriz Gônia, Mago Natu pediu discretamente: — Antes que Urucum nos conte seu pequeno sonho, Senhora Imperatriz, é necessário que saiba de todos os acontecimentos anteriores aos ocorridos durante o vosso casamento. Também deverão saber daqueles que presenciamos nos sete dias de festa do seu nascimento, quando abrimos as sete caixas de metal que estavam dentro da grande caixa de madeira preta, mas só após contarmos sobre a origem de seus antepassados...
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer Pereira - Livro II - Cap. 22
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CHEGANDO EM CASA Ao ver os filhos e o marido desembarcarem no cais do porto, Rainha Gônia aproximou-se, emocionada de saudades. Pouco depois, Rainha Alzira surgiu no tombadilho, apresentando suas roupas coloridas e esvoaçantes, portando dois bauzinhos de prata em cada mão, surpreendendo a Imperatriz. Abraçaram-se demorada e carinhosamente. Lágrimas rolaram pelas faces de ambas e muitas lembranças vieram à memória da Rainha Gônia. Relembrou a cerimônia de recepção naquele tombadilho quando, àquela mesma hora, há quase dez anos, vivera intensamente a movimentação alegre entre baús e malas descarregadas, embarcações luxuosas chegando e saindo do portaló, dos abraços e beijos dos amigos e dos convidados que a aguardavam para o casamento. Além do encontro terno e apaixonado com seu noivo, que logo depois se transformaria em seu muito amado marido; reviveu lembranças da mais pomposa de todas as festas, sem olvidar quão desagradáveis coisas também macularam, desde aquela data, a notoriedade e a boa fama daquele império encantado. Inúmeras outras lembranças lhe ocorreram. Percebendo seu fortuito distanciamento e os olhos marejando lágrimas, o Imperador tomou-a gentilmente dos braços da velha amiga, apertou-a novamente junto ao peito e falou baixinho em seu ouvido: — Como estás cada vez mais bela! Queres casar novamente comigo? A Imperatriz sorriu, aninhou-se em seus braços e disse em voz alta: — O senhor se casaria com uma mulher que estivesse grávida? — Desde que o marido dela não se importasse... — Então, aceito, Senhor Imperador, impondo uma condição: terás de desfazer os feitiços do Bruxo Neno. — Hummm, bem sabes que ainda não tenho poderes para tanto. Se até o Mago Natu preferiu deixar as coisas como estavam... — Então, tia Alzira, acho que essa parte sobrou para ti... – Rainha Gônia falou com o propósito de descontrair, mas Rainha Alzira respondeu seriamente: — Minha querida, não pretendo, nem ouso, interferir nos desígnios da natureza. Acho que este trabalho caberá ao vosso filho, Príncipe Urucumacuã – disse, com semblante severo, mas compreensivo. — Que tenho eu com isto, vó Alzira? – Perguntou o menino Urucumacuã, olhando, admirado, as manifestações carinhosas do pai para com sua mãe. — É uma longa história, meu filho – respondeu-lhe a Imperatriz –, um dia, contaremos a ti e ao teu irmão todos os misteriosos acontecimentos deste reinado, desde antes do seu pai e eu nos casarmos. — É preciso que conheçam igualmente o que se passou, quando festejamos teu nascimento e do teu irmão – emendou o Imperador. — Já ouvi falar dos feitiços do Bruxo Neno. Sei também que ele está sempre querendo mostrar que é mais poderoso do que o Mago Natu – revelou o príncipe. — Ninguém pode ser maior nem melhor do que o Mago Natu, meu filho! Só o Grande Rei, que é superior a todos, inclusive ao Mago Natu, porque o Grande Rei é o mestre de todos nós. — Por que, então, Mago Natu não desfez os feitiços do Bruxo Neno? – quis saber Príncipe Kurokuru. — Porque somos livres para fazermos o que bem entendermos – justificou o Rei Médium. — Mas também seremos responsabilizados por todas as nossas palavras e ações – ponderou a Rainha Alzira. — Mago Natu nos ensina que devemos respeitar, sem interferir, no modo de ser de cada um. – acrescentou a Imperatriz. — Bem, querida, meninos, tia Alzira, teremos tempo suficiente para conversar sobre estes assuntos em casa. Vamos...
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer Pereira - Livro II - Cap. 21
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LIVRO II A INICIAÇÃO Sete anos depois... Grávida de sete meses, Rainha Gônia bordava calmamente, sentada sob um gazebo à sombra de trepadeiras de flores amarelas, apreciando o suave farfalhar das folhas ao vento. O ritmado movimento da agulha a passar o fio de seda por entre as tramas do tecido, aos poucos, encorpava e coloria pequenos pássaros vermelhos e florezinhas cor-de-rosa, motivos riscados nas ourelas da manta branca de puro linho. Aquela era mais uma entre as peças do enxoval que, de maneira delicada e paciente, preparava com parte dos tecidos que ganhara, trazidas pelo Grande Rei, diretamente do Egito, na última visita que ele fizera ao Reino do Elo Dourado, por ocasião do casamento da Rainha Gônia com o Rei Médium. Com a barriga avantajada, incomodada pelo desconforto dos meses finais da gestação, em intervalos regulares, a Imperatriz erguia-se, alongando a coluna, interrompendo por alguns instantes seu delicado trabalho para gracejar com o papagaio, companhia constante naqueles momentos de suave ocupação, ou para acariciar seu unicórnio branco que, igualmente, a seguia enquanto passeava pelos jardins de suntuosos chafarizes e fontes do Palácio Fortaleza. Apesar do enfado da gravidez, Rainha Gônia ainda se sentia um tanto melhor do que na gravidez anterior, quando também preparou o enxoval dos filhos gêmeos, Príncipe Urucumacuã e Príncipe Kurokuru. Num afetuoso passar de mãos, carinhosamente ajeitava a barriga, imaginando a felicidade que brevemente sentiria, com o nascimento, quiçá, de uma menina, a esperada Princesa Hévea, sete anos após o nascimento dos príncipes. Na noite da celebração do ritual lunar do casamento da Rainha Gônia com o Rei Médium, Mago Natu, em grande estilo, previra e anunciara o nascimento dos príncipes gêmeos. Profeticamente, nove anos depois daquele suntuoso casamento, quando comemoravam o aniversário dos gêmeos, Mago Natu proclamara, com pontual exatidão, a segunda gravidez da rainha, prevendo o nascimento de uma menina, uma irmãzinha para os príncipes aniversariantes: Princesa Hévea. O Imperador e a Imperatriz receberam, com surpresa, o inusitado vaticínio. Jubilosos exultaram, porquanto teriam novamente motivos para tantas outras comemorações no Palácio Fortaleza. A chegada da Princesa Hévea só aumentaria a felicidade naquela afortunada Casa Real. Buscando na memória as palavras que Mago Natu proferira vaticinando o nascimento da princesa, enquanto bordava miúdas borboletas coloridas esvoaçando sobre uma arvorezinha, Rainha Gônia pronunciava baixinho e compassadamente, com sublime doçura maternal, o nome de seu esperado bebê. Nos espaços entre os desenhos riscados no tecido, permeando os outros motivos bordados em fios de ouro, sobressaíam os monogramas dourados das iniciais do nome da princesa: P.H. A tarde prenunciava a hora de paralisar o trabalho. Já não havia mais claridade suficiente para contar os fios do tecido. O cansaço e a fadiga comuns às mulheres gestantes, pediam que a Imperatriz guardasse, no seu delicado bauzinho de ouro e marfim, instrumentos e acessórios de bordar. Separando as meadas de seda e colocando-as em ordem pelas tonalidades de cores, acomodou-as em apropriadas caixinhas de madeira marchetada, recolhendo do chão, com alguma dificuldade, sobras e pedaços dos fios coloridos, aparados dos trabalhos da manta. Ao espetar a última das agulhas numa almofadinha de seda vermelha, recheada de paina, distraiu-se, ferindo o dedo indicador. Quando uma gota de sangue se desprendeu, pingando sobre a manta de linho branco e manchando-a, a Imperatriz sentiu estranho pressentimento. Um tipo de calafrio lhe inquietou o coração. Acorreram-lhe à memória as exatas palavras do presságio pronunciadas pelo Mago Natu, durante os festejos de aniversário dos seus bem-amados filhos: “De hoje a um ano, quando os príncipes gêmeos festejarem sete anos de idade, a Albatroz branca cruzará os céus sobre o Palácio Fortaleza. A Imperatriz Gônia, então, sentirá ânsias de dar à luz. Às nove horas da manhã, na conjunção de Lunes na casa Vênus, então nascerá uma formosa menina. Será chamada Hévea. Princesa Hévea. Entre risos e fortuna cumprirá seu fadário, mas com muito pranto selará o seu destino. De seus olhos virginais verter-se-ão lágrimas como leite, e do ventre da terra, onde descansará, brotará a árvore cuja seiva apagará a lembrança de tormentosa tragédia, para restaurar a opulência do decadente império verde.” Sem compreender claramente o alcance daquela predição, a Imperatriz fixou seus olhos amendoados na direção do sol poente mergulhado no horizonte, espelhado ainda nas águas plácidas do rio Aguaporé, dirigindo uma prece: “Não permita, oh Grande Sol Central, que no dia do nascimento de minha princesa, passemos por tribulações iguais aos dias do meu casamento ou piores que aquelas que nos afligiram, quando Urucum e Kururu nasceram.” Inspirando profundamente, lembrou-se de que havia combinado com o marido que nunca mais fariam grandes festas para os reinados vizinhos, ainda que a criança nascesse no mesmo dia em que completassem dez anos de casados e os príncipes gêmeos estivessem fazendo sete anos. Fitou melancólica e terna o porto movimentado do rio Aguaporé, e algo inesperado acendeu-lhe o brilho do olhar. Era o mastro da embarcação do marido, Rei Médium, despontando na curva. Um grande alívio sobreveio ao coração. O papagaio que lhe fazia companhia, sacolejando-se alvoroçado, começou a matraquear: — Gôôônia, Gôôôônia, Urucum tá chegando! Urucum tá chegando! Kururu tá chegando! Hahahahaha! — Eu sei, papai Gaio. Urucum, Kururu e o meu amado também! – respondeu, estendendo-lhe a mão. A ave encantada logo se acomodou entre os dedos delicados da Imperatriz e, felizes, desceram as extensas escadarias do Palácio Fortaleza até o cais do porto, para recepcionar Rei Médium, os filhos e a comitiva que sempre lhes acompanhava. Havia mais de três meses que o Imperador e os dois filhos estavam longe de casa. Chegavam, agora, da extenuante viagem ao Reinado de Avilhanas, onde visitaram o primo Rei Naldo, filho da tia-avó, Rainha Alzira. Rei Naldo e sua mulher, Rainha Araci, tinham um casal de filhos: Príncipe Gesu Aldo e a Princesa Irina, a prometida em casamento ao Príncipe Urucumacuã, desde que nascera. Além dos interesses comuns aos soberanos do Império do Elo Dourado e do Reinado de Avilhanas — célebre pelas jazidas de pedras preciosas, especialmente as esmeraldas —, o Imperador e seu parente, familiarmente apelidado Calico de Avilhanas, precisavam negociar os termos dos contratos que previam união conjugal do primogênito do Rei Médium e da Rainha Gônia com a primeira filha de Rei Naldo e da Rainha Araci. Rei Médium também anunciou o nascimento próximo de sua terceira herdeira, a Princesa Hévea, manifestando interesse que ela se casasse, quando chegasse aos dezesseis anos, com o Príncipe Gesu Aldo, primogênito de Calico de Avilhanas. Rei Naldo e Rainha Araci aceitaram de bom grado o contrato antecipado daquelas alianças, e a mãe de Calico, Rainha Alzira, invocou as bênçãos celestiais para que o futuro de seus netos com os filhos de Rei Médium e Rainha Gônia fosse repleto de alegrias. Que tivessem filhos belos e virtuosos e próspera descendência. Feliz por conhecer os meninos do Rei Médium, príncipes Urucumacuã e Kurokuru, porque não pudera participar das comemorações dos sete dias de seus nascimentos, Rainha Alzira solicitou ao Rei Médium que a levasse dessa vez com sua comitiva ao Palácio Fortaleza, pois gostaria de assistir à Imperatriz Gônia, quando a Princesa Hévea nascesse. O pedido da Rainha Alzira foi aceito de plano, e o Imperador reservou as melhores acomodações nas carruagens, ordenando que, no longo trecho fluvial da viagem, ela ficasse no mesmo camarote com os dois príncipes. Rei Naldo, Rainha Araci e o Rei Médium se divertiam, observando a alegria dos príncipes, pela agradável e carinhosa companhia a compartilhar e a rapidez com que Rainha Alzira arrumava seus baús, colocando as joias de esmeraldas separadas no fundo falso de antigas caixas de prata. Rei Naldo não deixou escapar a oportunidade de gracejar com ela: — Mãe, desta vez, não tens marido para vos apressar, nem corres o risco do Rei Albe sumir e enterrar vossas joias; muito menos da Bruxa Bizarra ou da Feiticeira Zuzu tomar vossas esmeraldas! — Calico, Calico, eu já te proibi de pronunciar esses nomes nesta casa... – Disse Rainha Alzira, no mesmo tom de brincadeira. — Finalmente – disse o Rei Médium –, poderei ouvir estas histórias completas, contadas por ninguém menos que a própria protagonista, ou seja, quem mais as conhece, não é mesmo, tia Alzira? — Meu caro sobrinho, já inventaram tanta lorota sobre esta história que acredito haver quem pense que a mula sem cabeça sou eu mesma! — Então, quando chegarmos no Elo Dourado, teremos muito tempo para conversar, porque quero que Gônia também ouça os detalhes do acontecimento. — Sim, evidentemente. Vou contar todo o episódio, desde o começo. — E afinal, tia Alzira, já descobristes onde estão tuas esmeraldas? Dando de ombros, evidenciando uma pitada de desdém, Rainha Alzira olhou na direção dos netos e sobrinhos que estavam pouco mais adiante, abaixou o tom de voz, colocando o dedo indicador sobre os lábios, recomendando: — Deixemos esse assunto para conversar entre nós, adultos. Príncipe Gesu Aldo e Princesa Irina aproximaram-se choramingando junto à mãe, implorando: — Mãezinha, deixa a gente ir com a vó Alzira? — Prometemos não dar nenhum tipo de trabalho... Rainha Araci era afeiçoada demais aos dois para permitir-lhes a ausência numa temporada tão longa. Privar-se ao mesmo tempo da companhia da excêntrica, divertida e corajosa sogra e dos dois amados filhos extrapolava a dose de saudade que ela se dizia capaz de suportar. Quando tivessem oportunidade, iriam todos visitar a família dos primos. Além do mais, Príncipe Gesu Aldo estava em processo de iniciação no conhecimento das Ciências Naturais e dos Antigos Mistérios da Ordem Real (AMOR), com o mais dileto dos discípulos do Mago Natu, Mestre-Sala Kari Jó. Assunto encerrado.
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Agora devo esperar começar as chuvas, para começar o plantio de Gueiroba (Syagrus oleracea), Colhi um balde de sementes, vou colher mais. Palmito amargoso. Usado na culinária goiana e mineira.
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URUCUMACUÃ - H.H.Entringer Pereira [ Cap. 20]
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REVELANDO O OCULTO Celebrando ainda o rito final da consagração dos pequenos príncipes, Mago Natu, solenemente, brandiu seu cajado de marfim e ouro para concluir os trabalhos, dirigindo-se às centenas de convidados sob a tenda de seda branca. Percebendo a ausência do Príncipe Putho, filho do Rei Inci e da Rainha Régia, perguntou ao Príncipe Andy, que estava mais próximo: — Onde está teu amigo, que desde ontem à noite, depois do baile, ninguém mais o viu? — Também não sei, Mago Natu. Perguntei por ele ao Rei Inci e à Rainha Régia. Disseram-me que não sabiam. Talvez tenha passado a noite festejando em casa dos populares, amigos do plebeu que ganhou o concurso de dança. Ainda pela manhã, não apareceu para o desjejum. Princesa Putha, sua irmã, chora desde ontem à noite a ausência do irmão! Ela está inconsolável. — Humm, já sei... vamos procurá-lo! A Rainha Vidência, ao lado do Mago Natu, balbuciou algumas palavras. O Mago aproximou-se para ouvi-la e perguntou: — Estais vendo o que aconteceu? Será o mesmo que também estou sabendo? — Seis princesas precisam ver Gônia... Seis princesas precisam ver Gônia... Cinco estão com a ré pendida e a sexta chora inconsolável. Precisam ver Gônia... — Sei. Farei com que sejam recebidas imediatamente. Concluído o banquete, em que todo tipo de alimento conhecido e apreciado, tanto no Elo Dourado quanto nos outros reinados, foram servidos farta e refinadamente, Mago Natu aguardou que a maioria dos convivas debandassem. Discretamente, aproximou-se das princesas, entre elas as cinco claudicantes e a que não parava de chorar, convidando-as para uma visita especial à Rainha Gônia. Tímidas e desconfiadas de início, aceitaram acompanhar o Mago. Negando-se a sentar, cinco delas aguardavam de pé a chegada da Rainha Gônia, no Salão da Rainha. Ao apresentar-se, a beleza da rainha deixou a todas admiradas. Representava o modelo perfeito, idealizado para imitar tanto no jeito de vestir quanto na maneira de portar-se. Muito educada e afável, a rainha aproximou-se das moças, e com voz suave e compreensiva, perguntou à Princesa Putha: — Por que choras tanto? Que te sucedeu? Acaso estás triste porque teu irmão, desta vez, não foi o melhor dos dançarinos, perdendo o título para um plebeu? Sem querer falar, mas ao mesmo tempo, necessitando desabafar suas amarguras, uma delas, a Princesa Arraia – que escolhera permanecer nos festejos do Elo Dourado a voltar para o reinado do Caxixi com a mãe, Rainha Tapera, depois que seu pai, Rei Pindaíba, naufragara com todo carregamento de moedas de ouro que trouxera e seu irmão, Príncipe Nico, morreu derrotado na corrida Numpessó –, contou diretamente: — Rainha Gônia, falarei de mim, mas vejo que às amigas igual desgraça possa ter ocorrido. Fui a primeira das damas que bailaram com o príncipe de número 69 nesta noite. Não sei que tipo de feitiço me tomou. Certo é que não tive forças para resistir aos segredos que tão docemente falava aos meus ouvidos, e meu coração sucumbiu às doces cores com que pintava os amavios e os prazeres a que se entregam os amantes, garantindo-me que podia proporcionar-me arrebatamento deveras indescritível, tudo isso sem causar-me desonra, conservando-me donzela, condição necessária para que viesse me casar ainda virgem. Sem mais precisar me convencer, saímos em seguida. Disfarçadamente, parecia que ninguém nos enxergava, ocultamo-nos nas sebes orvalhadas dos jardins. Entre folhas reluzentes e o cri-cri fino e estridente dos grilos, perdi os sentidos e o juízo, entregando-me de corpo e alma, para que me possuísse, como ardentemente desejava. Por isso, hoje estou com a ré pendida, sofrendo dores e amargura, remanescentes de um amor que nada mais foi que um momento arrebatador de insana magia e paixão desenfreada; sequer sei de quem se tratava, ou quem fosse, se príncipe ou plebeu, pois estavam todos mascarados, trajados com capas iguais e sem os ornamentos que diferençavam os nobres dos demais. Lembro somente que enlouqueci, e seu número era 69.Com olhar grave e sisudo, mas mantendo semblante meigo e circunspecto, Rainha Gônia abaixou a cabeça, ficou meditativa por alguns segundos, inquirindo as outras princesas sobre o que ouviram da amiga: — Também foi isto que vos aconteceu? — Sim... – responderam em coro, à exceção da Princesa Putha, que se manteve calada e chorava escandalosamente. — Bem, neste caso, fiquem aqui. Farei com que venha o Doutor Sararraiva, para examiná-las. Precisamos saber a real situação de cada uma. Em menos de dez minutos, portando seus instrumentos de consulta, Doutor Sararraiva, muito sério e rubicundo, bateu à porta do Salão da Rainha. Na antessala, Rainha Gônia o recebeu. Explicou em breves palavras o que a Princesa Arraia havia descrito. Sem mostrar expressão de surpresa, calmo e compenetrado, solicitou à rainha que o levasse a um cômodo onde pudesse proceder aos exames necessários, para verificar pessoalmente, particularmente, cada uma das moças. A primeira a ser examinada, muito tímida, relutava em despir-se, quando ouviu a ordem: — Conte nua, conte nua, o que vos ocorreu... conte nua... Desembaraçando-se de suas recatadas e luxuosas vestes, a Princesa Ti colocou-se em posição de ser examinada. O doutor rabiscou algumas coisas numas lâminas de papiros e pediu que outra mais viesse, ordenando-lhe também que se despisse. E assim procedeu com cinco delas. Na vez da Princesa Putha, a que não parava de chorar, diante da resistência em atender ao pedido do doutor e de sua negativa em aceitar o exame de suas intimidades, Rainha Gônia intercedeu e solicitou a presença da mãe, Rainha Régia, para que, ficando mais à vontade, se desinibisse e confiasse, primeiramente, à mãe o que havia lhe causado toda aquela tristeza. Doutor Sararraiva explicou à Rainha Gônia até então o resultado de seus exames, dizendo-lhe que as cinco princesas haviam sido molestadas pelas partes dos fundos, mas que permaneciam virgens. Talvez com a Princesa Putha o resultado pudesse não ser o mesmo. Convidaram a Rainha Vidência para conversar com ela e arrancar-lhe, sem maiores constrangimentos, a confissão necessária. Antes que a Rainha Régia chegasse, Rainha Vidência adiantou-se e, colocando as mãos sobre a cabeça da Princesa Putha, revelou: — Das seis, esta é a única que engravidou! – Virou as costas e saiu da sala, sem mais dizer. Ao ouvir a revelação, a princesa estancou o choro e começou falar: — Sou a mais infeliz de todas. Fui a sexta parceira do dançarino de número 69. Não aceitei que fizesse comigo o mesmo que fez com as outras cinco... Depois que me entreguei, pedi que me mostrasse seu rosto. Ele relutou, não queria tirar a máscara. Num momento de descuido, passei-lhe a mão no rosto e eu mesma o desmascarei... Interrompendo sua confissão com um espasmo, sem conseguir falar porque um forte soluço embargou-lhe a voz, Princesa Putha caiu exangue, numa vertigem desvairada, abandonando-se ao exame meticuloso e esmiuçador de suas intimidades. Procedida a vistoria, Doutor Sararraiva imediatamente aplicou-lhe um extrato de ervas aromáticas no nariz e, antes que ela recobrasse os sentidos, diante de sua passividade, aproveitou para anunciar: — Quanto maior a nau, maior a tormenta! Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Realmente, ela está deflorada! – constatou, confidenciando à Rainha Gônia no exato momento em que a Rainha Régia adentrava o salão e ouviu, tal cruel sentença, esse fatídico rifão. Mantendo-se calmo, Doutor Sararraiva ministrou, tanto à mãe quanto à filha, cataplasmas de folhas maceradas sobre a fronte, pedindo que permanecessem deitadas. Sem muitas palavras, explicou à mãe: — Vossa filha foi desvirginada. Só vós podereis saber por quem... se ela vos contar. Com licença. Se precisarem de mim, por favor, me encontrem lá embaixo, no consultório. Que nos venham bons tempos. Rainha Gônia incumbiu Rainha Vidência de preparar o terreno para contar à Rainha Régia o que já havia dito momentos antes do Doutor Sararraiva concluir seus procedimentos. As outras cinco princesas permaneciam virgens, mas também foram molestadas, o que decerto lhes mancharia a honra indelevelmente. Ao ouvir a Rainha Vidência, Rainha Régia encolerizou-se. Pediu que a deixassem só. Sua filha precisava denunciar o autor de sua desonra; todavia a ninguém mais interessaria aquela delação. Quando sós, princesa Putha, aos soluços, conseguiu dizer à mãe: — Serei a... serei a... serei a maldita entre todas as seis! Pior ainda, foi o meu próprio irmão o que me botou. Calou-se, pois não conseguira mais falar, permanecendo muda dali por diante. Em vez da fala, sua voz começou a emitir vibrações musicais de timbre agudíssimo muito melodioso. Rainha Régia, descontrolada, acometida de repentina fúria, saiu desesperada, em desvario, gritando pelos vãos e corredores do palácio, à procura do filho causador da desgraça, o Príncipe Putho. Não tendo mais onde procurar, desceu até os porões do palácio, repetindo sem cessar: — Maldito Putho, maldito Putho... botou na sua irmã... maldito, botou na própria irmã... Encontrou-o finalmente, solitário, num salão abafado, banhado de pouca claridade, próximo do fosso mais largo e profundo que circulava um dos pátios internos, distante dos inúmeros compartimentos luxuosos e requintados do Palácio Fortaleza. Local preferido para as reuniões dos audaciosos aventureiros e caçadores, amigos do Rei Médium; ali também guardavam armas e exibiam coleções de troféus de caça, além de compartilharem histórias incríveis e proezas típicas de suas mirabolantes caçadas ou pescarias. Desatinada, completamente fora de si, Rainha Régia avistou o filho num canto sombrio do salão. Taciturno, alheio a tudo mais que acontecia nos seletos salões do palácio, examinando, indiferente à presença da mãe, a ossada de uma velha cabeça de veado Cariacu, por cuja galhada com três pontas em cada chifre, viradas para a frente, parecia fascinado. Enfurecida com a insensibilidade do filho a sua chegada, Rainha Régia, aproveitando-se de seu alheamento, tido por criminosa indiferença à suprema dor que ela e a filha compartiam, tentando vingar-se pelos próprios meios, de chofre, num golpe ágil, arrancou-lhe das mãos o crânio do cervídeo, investindo com ímpeto contra ele, atingindo-o com a força que dispunha no topo da cabeça, no propósito de assassiná-lo, esbravejando: — Seu maldiiiiiiiiiiiiito! Mil vezes, maldiiiiiiiiito! Você é quem botou na própria irmã! Maldiiiitooooo, botou na irmã... Para se livrar do ataque inesperado da mãe, Príncipe Putho, já ferido no alto do crânio pela ponta maior do chifre da cabeça do veado, sangrando em esguicho, atirou-se desesperado no valado de águas claras. Ao se precipitar no fosso, as águas imediatamente mancharam-se, avermelhando-se, tingindo a pele branca do príncipe de tons rosados ao mesmo tempo em que seu corpo começou a transformar-se, mudando de aspecto: os braços e as pernas deram lugar a nadadeiras e barbatanas; despareceram as pernas, que unidas alongaram-se, arrematando-se em nadadeira caudal, à semelhança de outros seres aquáticos. Única testemunha de vista do fenômeno, estarrecida diante da aberração, já aplacada sua fúria, Rainha Régia saiu correndo, ofegante, batendo forte os saltos dos botins pelos compridos corredores, para dividir com a filha e as outras cinco princesas desairosas a cena inusitada que acabara de ver, quando deu fim ao próprio filho, transformando num peixe aquele que botou nelas e na própria irmã, o Boto-cor-de-rosa. Feito isso, precisava do Rei Médium... “Quero ver Gônia e o Doutor Sararraiva!” – exclamou após contar às princesas como deu fim ao próprio filho encantado no episódio. Em seu consultório, Doutor Sararraiva terminava de anotar o diagnóstico da desonestação da ré das cinco donzelas, registrando, todavia, que apenas a sexta princesa fora totalmente desvirginada, tendo como provável autor da desonra o próprio irmão. Interrompido pelos soluços da Rainha Régia, que buscava informações precisas, porque queria entender o que acontecera, respondeu com a proficiência de catedrático o que anotara: — O dançarino de número 69 cometeu o ato seis vezes. Asseguro que com a Princesa Putha foi in sexto... As outras cinco continuam virgens, mas pelos exames, foram penetradas pela ré, por isso a ré pendida. Não posso garantir, mas conforme a Rainha Vidência, a única a engravidar foi a sexta, que se trata da vossa filha! — Quero que chamem os outros pais e mães. Afinal, Rei Médium é responsável por tudo o que está acontecendo neste reinado! Quero providências. Meu filho foi embruxado e minha filha embuchada! Doutor Sararraiva acalmou a rainha, anotando a manifestação dos sinais de intranquilidade e desequilíbrio emocional que apresentava, relacionando a cada sinal uma erva correspondente e apropriada ao tratamento. Nominou aquelas ervas mede-sinais. Com pouco tempo de administradas as diluições com os extratos medicinais, ela ficou totalmente paciente, aguardando a hora de se reunir com os outros pais e mães para que pudessem conferir os resultados dos acontecimentos, decidindo melhor sobre os dilemas e os destinos das acusadas. Mago Natu, Rei Médium e Rainha Gônia vieram com a Rainha Vidência à Câmara do GRAU, uma vez que não havia mais o Espelho Universal para fazer revelações. Solicitaram a presença dos pais e mães das princesas envolvidas no escândalo e do Doutor Sararraiva, para acalmar os ânimos, caso precisassem. Com todos os interessados reunidos, Rei Médium solicitou ao Mago Natu que buscasse uma pessoa mais. Queria que todos os assuntos conversados naquela “conferência” fossem formalmente grafados em pranchas de pele de bezerros, para que ficassem definitivamente assentados nos gráficos da história daquele império: os Relatórios Anais. Sem demora, trazendo às mãos uma pasta de couro, com algumas folhas secas prensadas, estiletes, penas de ganso, tintas e pranchas de pele, Professora Plínia, confundindo-se nela a seriedade e a palidez, apresentou-se solícita e competente. Chamando a si toda a responsabilidade pelos insólitos acontecimentos, cujo resultado lamentava sincera e profundamente, o Imperador evitou delongar-se em explicações por mais que três quartos de hora. Em estilo declamativo, referiu-se pesaroso à degeneração moral naquele reinado, principalmente no tocante ao casamento, dedicando capítulo especial à fidelidade conjugal, com ênfase no espúrio conúbio entre o Rei Boio e a Rainha Bisca, flagrados no delírio que os fez copular e seu consequente castigo. Professora Plínia, atenta às palavras do Rei Médium, indagou: — Também isso, pôr no gráfico? — Sim, Professora Plínia, também isso... além disso, os “relatórios anais” são assuntos para pôr na grafia... Pode pôr no gráfico. Feita a preleção, Rainha Gônia solicitou ao Doutor Sararraiva apresentar o resultado de exames, citando o nome das princesas acusadas e desonradas e as prováveis consequências de seus atos. Sem arrodeio, simplificadamente objetivo, pegou uma pranchinha onde anotara os nomes e as conclusões de seus exames, anunciando: — Princesa Arraia, a primeira. Princesa Zônia, a segunda. Princesa Pir Anhá, a terceira. Princesa Ariranhá, a quarta. Princesa Ti, a quinta, todas elas usadas e molestadas nas partes traseiras e, em sexto caso, a Princesa Putha, que diferentemente das outras, não mais poderá se casar virgem. Com ela, o ato foi consumado. É o que tenho a declarar. Ao ouvir o Doutor Sararraiva, Rei Inci, pai do Príncipe Putho e da Princesa Putha, marido da Rainha Régia, exasperou-se. Levantou-se, de dedo em riste, insultou o Rei Médium e toda sua Corte, vociferando, ofendendo lhes a honra, desabafando sua cólera com repreensões, deixando à vista, pela primeira vez, seu único e, até então bem guardado, dente incisivo: — Seu doutorzinho mede cu, mede cu! Como ousastes meter teus dedos sujos em minha filha, nos buracos onde a ninguém é dado nem o direito de ver? E vós, Rei Médium, cadê vossa vigilância, vossos guardas? É nisso que dá manter-se sempre impassível, alheio aos abusos de um bruxo patife, biltre, mequetrefe, que escarnece de todos nós, transformando pessoas em bichos diante do consentimento de um mago que nada mais sabe do que andar de lá pra cá, sem se preocupar em desfazer as feitiçarias daquele descarado e insolente! De minha parte, escuso-me levar de volta ao meu reinado minha filha desonrada. Que ela fique por aqui mesmo, e se tiver que parir, que seja neste chão para não macular as terras honradas por nossos ancestrais com a ignomínia desta infâmia. Que caia sobre a cabeça dela e não na minha tal granizo, a humilhação e o desprezo! Às palavras do Rei Inci, seguiu-se silêncio, rompido pela Rainha Régia. Sensibilizada pelo descaso e o desprezo do marido à filha, tomou para si seu sofrimento e, numa demonstração inigualável de amor maternal, ponderou: — Não vou permitir que minha filha seja rejeitada e apartada da família. Voltará comigo, ainda que não seja desfeito esse feitiço. Meu dever de mãe é acolhê-la e ampará-la, porque a maior das desgraças já aconteceu. Nosso filho Putho, o maldito responsável por toda essa tragédia, também já colheu seu castigo. Está condenado a viver nas águas, encantado igual aos outros, como um peixe. — Então quem não vai sou eu – retrucou o Rei Inci – , ficarei por aqui mesmo! Vós me aceitais na condição de hóspede do seu reinado, Imperador, até que me estabeleça em algum outro lugar, por minha própria conta? – propôs ao Rei Médium. — Penso que o amigo deve reconsiderar essa decisão, afinal sua filha pode estar grávida e não convém abandoná-la – ponderou o Imperador, mesmo depois de duramente insultado. — Não vou impedi-la de acompanhar a mãe. Porém não suportarei a desonra de ver nascer, na minha morada, um filho da maldição de um feitiço. Prefiro renunciar ao meu trono, pela minha própria honra. Que haverão de pensar de mim? Não, não voltarei com minha filha desonrada. Palavra de rei. Não volto atrás. Se a mãe quer proteger a filha, danem-se as duas. Posso ficar em vosso reinado até que vislumbre melhor sorte? — Sim, Rei Inci. Poderás usufruir de minha completa hospitalidade. Igualmente proponho aos amigos cujas filhas também estão infelicitadas pelos feitiços do Bruxo Neno, que as deixem por aqui, caso não queiram aceitá-las de volta aos seus lares. Acolherei e tratarei delas com a dignidade que merecem. Poderão morar num palacete que, neste momento, encontra-se desocupado. Para que não fiquem vadias, como boas cavalgadoras que são, tão logo estejam recuperadas, darei a cada uma um corcel branco para que auxiliem juntar o rebanho de búfalos que o menino de uma perna só, o Sacipe Ererê, estourou no dia em que desapareceu montado no cavalo Tição, para nunca mais ser visto nem achado... A proposta do Imperador foi de pronto aceita pelos dois outros reis, pais das princesas Zônia, filha do Rei Mende, e Ti, filha do Rei Buriti. Princesa Arraia, filha do Rei Pindaíba, já estava órfã de pai. Sua mãe, Rainha Tapera, a abandonara à própria sorte logo após o cerimonial de cremação do pai e do irmão. Retornara ao seu reinado revoltada com o trágico afogamento do marido, que a deixou em completa ruína financeira ao perder seu carregamento de moedas de ouro, deserdando a filha à mercê de seu destino. Princesa Pir Anhá, filha do Rei Kornio e da Rainha Bisca, desconsolada com a atitude da mãe, que traíra seu pai com o Rei Boio, renegou tornar-se enteada da Rainha Ália para seguir com o pai na longa travessia rumo às terras longínquas, além do oceano. Preferiu ficar no Reino do Elo Dourado. Princesa Ariranhá, também desolada com a atitude do pai, Rei Boio, que traíra sua mãe, Rainha Ália, com a Rainha Bisca, preferiu ficar sozinha a ser enteada do Rei Kornio e acompanhar a mãe na longa travessia, rumo às terras longínquas, além do oceano. A Princesa Ti, filha do Rei Buriti e da Rainha Pupunha, dentre as seis, fora a que mais se abalara. A recusa dos pais em aceitá-la de volta ao lar transtornou-a profundamente. Diante do desprezo e da indiferença, chorava muito, lastimando-se com gemidos plangentes, num tom melancólico que revelava sua sentimental agonia. Buscando consolar-se com a mãe, implorava perdão, alegando que não conseguira resistir à sedução do príncipe dançarino, sentindo-se enfeitiçada e dominada pela paixão. Sem comover-se com a dramática situação, Rainha Pupunha, indiferente ao sofrimento da filha, manifestou-se, acusando-a de leviana e indigna: — Não chore nem se lamente pelo que não tem mais conserto. Assuma agora a responsabilidade de sua culpa! Não irás conosco, mulher da ré pendida! Entre soluços e lágrimas, a Princesa Ti ajoelhou-se aos pés do Mago e implorou: — Por piedade, Mago Natu, jure que não me deixarás neste exílio. Mago Natu enternecido pela desgraça da princesa e vivamente compungido pelo seu arrependimento, abriu os braços na direção do sol poente, brandindo seu cajado de marfim e ouro, enquanto pronunciava em alta voz: — Juro, Ti! Que te libertarei. Jure, Ti, que queres ser sempre livre! Tocando-a com a ponta de seu cajado mágico, cobriu-a com seu manto branco, envolvendo-a completamente e ordenando: — Juro, Ti, que serás livre como uma pomba! Jure, Ti, que voarás pelos espaços celestes, onde percorrerás como em sonhos, todas as regiões inexploradas deste território sem fim. Voarás à vontade, onde a infâmia não te alcançará e resguardar-te-ás das injúrias e do teu injusto opróbrio! Diante da pequena plateia surpresa e comovida, Mago Natu retirou lentamente o manto que encobria a princesa, ordenando: — Voa, Juriti! Nas dobras perfeitas do tecido, o corpo da princesa desapareceu e, num passe de mágica, um pássaro columbiforme, de cor pardo-avermelhada, em arrulhos agradáveis e nostálgicos, ganhou o espaço sem fim, desaparecendo no céu daquela tarde turbulenta e inesquecível. Perplexos pelo que presenciaram, pai e mãe da Princesa Ti, Rei Buriti e Rainha Pupunha, em sentimento contrito, a uma só voz, bradaram alternadamente: — Subam aos céus nossas súplicas! — Desçam à terra estas lástimas! — Nossa paz, nossa alegria, tiradas nestas tormentas... — Haverá de em frutos tornar-se, que às aves do céu alimentem! – Brandindo novamente seu cajado, Mago Natu sacramentou: — Assim serão! Imediatamente, no pequeno pátio onde se encontravam, o chão estremeceu, um estrondo ecoou pelos ares abrindo uma cratera sob os pés do Rei Buriti e da Rainha Pupunha. Paralisados, estáticos, os dois, um ao lado do outro, afundaram na terra até os joelhos. Seus cabelos mudaram-se em folhagens, à semelhança de palmas verdes brilhantes e o restante do corpo converteu-se miraculosamente em tronco roliço e forte, permanecendo para sempre plantados no solo encantado do Elo Dourado! Calado diante do que testemunhara Mago Natu realizar com a filha do Rei Buriti e da Rainha Pupunha, igualmente ao que presenciara com o casal de amigos transformados em palmeiras, Rei Inci retirou-se, provocando a Rainha Régia: — Queres voltar para casa com tua filha, volte. Eu mesmo ficarei por aqui até pressentir um novo rumo para o meu destino. Quero descortinar outros horizontes, assenhorear-me de outras terras, e dominar um grande reinado! Rainha Gônia chamou as princesas Zônia, filha do Rei Abas e da Rainha Teci; Pir Anhá, filha abandonada do Rei Kornio; Ariranhá, do Rei Boio; e Arraia, do Rei Pindaíba, pedindo-lhes que se dirigissem até o palacete, onde habitariam a partir daquela data. Apesar das lágrimas e das lamentações, aceitaram seu novo destino e deram à nova morada o nome de Casa da Tolerância. Ficava, assim, quase resolvida a questão: pela tolerância do Rei Médium e pelo comportamento reprovável do Rei Inci, todo aquele acontecimento denominou-se o Incidente e a nova residência das quatro princesas que não voltariam mais aos seus reinados, a Casa da Tolerância. Rainha Régia, a única que corajosamente assumiu a atitude de não abandonar a filha, opondo-se valentemente à constrangedora autoridade do marido, a despeito de toda a censura e humilhação a que se sujeitara, abraçou a filha e a convidou para conhecer o fosso do palácio, onde seu irmão se transformara no Boto. Enlaçando-a pela cintura, percebeu que, sob as folgadas vestes, seu ventre avolumara-se e, intumescido, apresentava-se muito maior do que há algumas horas. Discretamente, saiu em direção ao outro pátio do palácio, onde um braço do rio Aguaporé ligava-se ao canal de onde partiam as pequenas embarcações para chegar ao grande cais do porto. Observando que o ventre da Princesa Putha aumentava a olhos nus e, desde o momento em que o pai a rejeitara, ela não mais conseguira pronunciar uma palavra a não ser emitir notas musicais de rara afinação, Rainha Régia acomodou a Princesa num espaçoso banco acolchoado, ordenando que permanecesse ali, quieta, até que ela voltasse. — Vou ver Gônia e pedir-lhe auxílio. Não saia daqui por nada! Em menos de meia hora, Rainha Régia voltava acompanhada de Rainha Gônia, Rainha Vidência, Professora Plínia e a Senhora Natividade da Luz. Ao avistarem a Princesa Putha, estendida sobre o banco, assustaram-se, pois sua barriga parecia de gestante prestes a dar à luz. Contorcendo-se em agonia, a princesa se agitava, debatendo-se, e à medida que suas dores aumentavam, soltava lamentos sonoros como notas musicais agudíssimas que perpassavam os quadrantes da enorme edificação, fazendo-se ouvir por todos os recantos da cidade. A Senhora Natividade da Luz, experiente e conhecedora dos sintomas que prenunciavam um nascimento, tomou a dianteira das providências, acalmando as demais assistentes: — Deixem-na em paz. Ela vai parir o que tem no ventre, dentro de poucos minutos. Quanto mais fortes as dores que a Princesa Putha sentia, mais alto e mais agudos eram os sons que emitia, chamando atenção de todos os serviçais e hóspedes do palácio. Muitos deles, atraídos pelos tons agudos e melodiosos, que não deixavam de parecer encantadores, acorreram ao local. Queriam saber do que se tratava. Uma pequena aglomeração já formada próxima à porta do recinto queria forçar a abertura da sólida e consistente porta de madeira, quando de repente a estridência da voz se calou. Um som semelhante a um grunhido abafado, mas forte, sobrepôs-se. Em seguida, a porta abriu rapidamente, e a Senhora Natividade da Luz, com uma criatura avermelhada nas mãos, embrulhada numa toalha branca de linho, com algumas manchas de sangue, dirigiu-se às margens do fosso e atirou longe nas águas aquele ser vivo recoberto e escondido nos panos! Ao voltar, os espectadores assustados perguntaram: — O que aconteceu? O que aconteceu? Sem poder explicar, resumiu o fato numa simples frase: — Foi o que a Princesa Putha pariu... foi a Putha que pariu! — Pariu o quê? O que foi que atirastes às águas? Sem ouvir a resposta, porque a Senhora Natividade da Luz fechara rapidamente a porta atrás de si, tomados pela curiosidade, correram a verificar que tipo de criatura fora atirada viva ao valado. Assombro total quando constataram que a princesa havia parido não uma criança, mas uma ser no formato de peixe! Muito mais se admiraram ao perceber que a pele do recém-nascido se transformava em grossa cobertura, revestindo o corpo de placas. — É mesmo um peixe! Um peixe encarnado! Um peixe de ex-cama, filho da Putha e do Putho, o que botou na irmã.... Pirarucu, o peixe encarnado! O burburinho ainda não se desfizera e a porta novamente se abrira. Correndo, segurando suas brilhantes vestes, com os belos cabelos louros esvoaçando, Princesa Putha, solfejando novamente acordes agudos, melodiosos e plangentes, atirou-se nas águas, atrás de sua cria, na esperança de resgatar o filho e ficar com ele no mesmo lugar em que o irmão e pai da criatura se encantara. Ninguém conseguiu detê-la. O desejo incontrolável de juntar-se ao pai e ao filho fizeram com que se precipitasse na água. Quando mergulhou, abraçou-se ao filho-peixe. Da cintura pra baixo, seu corpo transformou-se, igualmente cobrindo-se de escamas à semelhança do filho. Ela desceu, então, num mergulho rápido, às profundezas do canal, vindo à tona, à vista de todos, vocalizando mais ainda sua aguda melodia ao lado do pai de sua cria, o irmão encantado no Boto-cor-de-rosa. Ao vê-los, Rainha Régia, que já saíra desesperada à procura da filha, lembrou-se de quando ela dissera “serei a maldita entre todas... serei-a...”. Expressando-se num lamento profundo, Rainha Régia suspirou, mirou-se no espelho das águas plácidas do canal, acenando para a filha, que transparecia mais bela ainda, bradando: — És tu a sereia! A mãe do peixe encarnado! Serás daqui pra diante Iara, aquela que mora nas águas! Não resistindo ao canto melodioso da filha, Rainha Régia soltou um brado estridente, lançando-se às águas para abraçar a filha: — Esta é a vitória de Régia! A Vitória-Régia! Seu corpo boiou na superfície calma das águas, transformando-se rapidamente numa exótica e gigantesca flor flutuante, de forte resistência e grande beleza, onde a Iara pôde sentar-se, acolhedoramente, sobre suas pétalas, permanecendo com sua metade peixe submersa. O dia dava sinais de cansaço e apagava-se lentamente. Logo escurecera. Uma estrela cadente riscou os céus, deixando visível, por alguns segundos, um rastro luminoso, como sinal de que uma parte da história estava consumada. Príncipe Urucumacuã e Príncipe Kurokuru adormeceram em esplêndidos berços, abençoados pelos pais, pela Senhora Natividade da Luz e pelo Mago Natu. Concluída a apresentação de seus escritos, Professora Plínia fez a leitura dos registros daqueles fatos misteriosos e também de outros corriqueiros, passados durante as comemorações dos Sete Dias. Mago Natu, então, celebrou o encerramento das festividades com o ritual que lhe dizia respeito. Muitos dos convidados zarparam do cais do porto do Elo Dourado ainda naquele dia, enquanto outros arrumaram suas montarias, carruagens e embarcações para seguirem bem cedo, na madrugada seguinte.
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Se o planejamento, nos dá um norte para aquilo que pretendemos empreender, sem "maiores" riscos; nos leva a fazer um rumo totalmente diferente e que nem sabemos onde é que ele pode nos levar. O Projeto OCA OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA - TERRAVILA GLOCAL surgiu num momento, em que quase todas as informações, estavam alinhadas. Prontas para serem postas em prática. Ledo engano. Depois de uma viagem pelo imaginário, observando com acuidade todas as referências obtidas, cheguei a um determinador comum interessante, TUDO PODE SER ALTERADO O TEMPO TODO, basta observar, para evitar perdas. Porque riscos, teremos o tempo todo. Inclusive de deixar de respirar no segundo, seguinte. As ideias principais continuam sem perder a essência, porém, a tônica da realidade é vastamente ampliada, para a abertura. Nada conceitualmente fechado, sim, COCRIATIVAmente dialogando com todas as possibilidades. A OCUPAÇÃO está amadurecendo, para inspirar outros ekoNAVIgantes, a experimentar essa inusitada viagem, por meio da ARTe da resiliência. O que é a FLORESTA se não, o maior exemplo de resiliência?
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A VINGANÇA DO BRUXO No caminho para o Baluarte Sul, Mago Natu foi interceptado por uma criada. Andando rápido, meio ofegante, veio ao encontro do mago, afobada: — Mago Natu, por favor, a Rainha Tranha está de pé a andar pelo quarto, de olhos fechados, mas falando coisas absurdas! O Senhor pode ir lá para entender o que ela diz? — Sim. Preciso mesmo ouvi-la, podes voltar aos teus afazeres. Deixe-me cuidar disso pessoalmente. Bruxo Neno, de longe, vinha observando os passos do Mago. Percebera quando a misteriosa caixa preta com a inscrição dourada na tampa — M.N.O.P.Q.R.S. – I.N.R.I. — fora transportada para a Torre Sul. Sabia que, caminhando naquela direção, o Mago iria buscá-la. Precisava impedir que Mago Natu colocasse novamente as mãos sobre aquela caixa porque, certamente, usaria seus poderes e conhecimento para desfazer os feitiços que ardilosamente conseguira. Alguma atitude seria necessária para impedir ou, no mínimo, dificultar que suas melhores tramas e façanhas virassem água, e sua reputação ficasse novamente equiparada à de reles aprendiz de feiticeiro! Tentaria evitar o grande espetáculo que certamente o Mago proporcionaria àquela multidão, devolvendo às criaturas encantadas seus formatos naturais. Providencialmente a criada apareceu em boa hora para desviar o curso dos acontecimentos. Tudo, até então, conspirava em seu favor. Chegaria ao Baluarte Sul antes do Mago e se apropriaria, sem dificuldades, da cobiçada e enigmática caixa preta. Não causou surpresa ao Mago Natu a cena presenciada no quarto da Rainha Tranha. Um pouco mais delgada, com a negra cabeleira solta, parecia muito bem-disposta e saudável. Ainda que não abrisse os olhos, mantendo-os cerrados, apresentava-se elegantemente vestida num traje branco bordado com fios de ouro. A cingir-lhe a fronte, um solidéu de ramos de alecrim com flores miúdas amarelas. Indiferente aos movimentos que passavam em redor, pressentindo a chegada do Mago Natu, voltou-se em sua direção e admoestou: — Por que não cuidastes do que saístes a fazer? Acaso não sabias que vosso rival e mais perverso adversário vos espreitava? Não mais tereis a Caixa das Venturas! “Caixa das Venturas... Caixa das Venturas...”, pensou sem se pronunciar. “Acaso saberá da existência da caixa preta, se nunca falei esse nome para ninguém?”. — Sei do que temeis. Alguns hoje se alegram por seus filhos, enquanto outros pelo mesmo motivo chorarão. Os que estavam na água, na água ficarão; outros ainda às águas tornarão e nada... nada poderá se fazer. Não há mais tempo para desfazer o que está feito. O fruto aguardará paciente a hora da colheita. Cinco das seis, a ré penderão... A sexta, nas águas do ventre, concebeu um filho, que para as águas tornará. Guardai o que ouvistes e não se turbe o vosso coração. — É vidência! É vidente. Evidentemente – repetia. Absorto. Mago Natu. Com voz firme e resoluta, ordenou à rainha: — Rainha Tranha, a partir de agora és a Rainha Vidência! Aquela que é ex-Tranha! Viverás aqui, e na Câmara do GRAU receberás em consulta o Rei Médium, a Rainha Gônia e quem eu mesmo apresentar! Vem comigo. Vamos passar pela Torre Sul para saber da caixa preta! — Nada mais encontrarás na Torre Sul, ó grande Mago! Antes de ti, o adversário aproveitou-se carregando consigo a grande Caixa das Venturas! É bom que não tenteis recuperá-la. Traria mais infortúnio ainda ao nosso rei. Deixai que o adversário a carregue para muito longe, até que um dia retorne, trazendo aquilo que não levou, segundo o que está firmado no livro que ninguém conseguirá ler, porque encerra o destino e a sina do Grande Príncipe Urucumacuã! — Evidente, é vidente! Mesmo de olhos fechados, Rainha Vidência parecia enxergar com perfeição. Seguiu acompanhando Mago Natu até a Praia da Lua Clara, onde a animada festa de apresentação dos príncipes e da purificação da Rainha Gônia acontecia. A fila para reverências à Imperatriz e aos recém-nascidos quase terminava. Mago Natu, discretamente, com seu bastão de marfim e ouro, caminhou com a rainha Vidência até as margens do rio Aguaporé e sentiu que, sem os pedaços do Espelho Universal, que ele havia colocado dentro das caixas de metal, não conseguiria trazer de volta os príncipes e as duas rainhas encantadas em peixes que circulavam pelas proximidades da praia, como se também quisessem participar da festa. Como a lhes dar esperanças, falou: — Amigos, ainda não chegou vossa hora! Longo tempo nas águas vivereis. Nada por enquanto poderá ser feito... nada, nada... até o dia em que tudo for consumado. Um grande burburinho se formou nas águas, açuladas por um vento morno que levantava a areia em movimentos circulares, formando redemoinhos desfeitos no leito do rio. Os peixes encantados, Pintado, Surubim, Kaxara, Pirarara e Enguia, desapareceram no turbilhão. Peixe Boio e Peixe Mulher, com um séquito de peixinhos traíras, esconderam-se sob vasta moita de aguapé, às margens do local onde o Rei Manso encantara-se no Mergulhão. De posse da enigmática Caixa das Venturas, Bruxo Neno, plenamente satisfeito com o que imaginava sobrevir de seus tanglomanglos e bruxedos, sabedor de que se aproximava o momento de revelar os efeitos produzidos com os pós das mandrágoras no enfeitiçamento do Príncipe Putho e dos quantos mais com ele se envolveram, cuidou de reunir seus sequazes, às pressas, para retirar-se sorrateiramente. Em poucos minutos, encontrava-se no porto com a comitiva do Reino de Trindade, içando velas e zarpando, deixando uma herança que mudaria para sempre a história do esplendoroso Império do Elo Dourado.
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O nosso trabalho nesse mês, diminuiu por conta das intempéries, reduziu a quantidade de água que nos abastece, até as regas, ficaram mais escassas. Haveremos de superar esses desafios e brevemente teremos novidades para mostrar.
Aguardando as chuvas.
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A BELEZA DA RAINHA E A CONSAGRAÇÃO A BEIRA-RIO Ainda não eram sete horas e a imensa tenda de seda branca estendida sobre as areias macias da Praia da Lua Clara, no mesmo local onde se realizou a cerimônia lunar do casamento do Rei Médium com a Rainha Gônia, já estava completamente ocupada pelos convidados e moradores do Elo Dourado. Todas as cadeiras e mesas tomadas traduziam a expectativa pelo aparecimento da Imperatriz, cuja beleza singela era lembrada com admiração pela mesma plateia que assistiu à monumental festa de suas bodas. Ninguém conseguira se esquecer dos seus magníficos trajes, suas joias perfeitas, sua simpatia e exuberância impecáveis, tudo absolutamente harmonioso, conjugado ao encanto das músicas executadas e ao fascínio dos arranjos ornamentais e dos opulentos manjares. Também dessa vez não seria diferente. O ritual de apresentação dos príncipes recém-nascidos era aguardado com entusiasmo e euforia. As damas presentes perguntavam-se curiosas: — Estará mais bela, a Imperatriz? Ou a maternidade extraiu-lhe os encantos? Muitas apostavam que mais encantadora ainda deveria estar; outras, por ciúmes ou despeito, torciam para que o esforço e o desgaste naturais de dois partos seguidos houvessem causado um abatimento irrecuperável no seu semblante e silhueta. Afinal, como estaria a Imperatriz, depois de dar à luz seus dois rebentos? A brisa da radiosa manhã trouxe uma chuva de pétalas de flores das árvores de Samaúma, cobrindo as areias brancas de um tapete cor-de-rosa. Naquele cenário ímpar, onde a própria natureza florejava em saudação ao venturoso ritual, ouviu-se o início de uma execução melodiosa de címbalos, harpas e oboés. A Rainha Gônia finalmente saíra de sua carruagem dourada, vestida tal qual uma deusa terrena, de branco e escarlate. O brilho incandescente de seu vestido acalmava-se no contraste do manto branco, bordado de pérolas e brilhantes. Uma coroa de flores singelas modelava e prendia na fronte sua longa cabeleira cor de mel, e o brilho verde de seus olhos que mais pareciam esmeraldas vivas sob as sobrancelhas de perfeito alinhamento. O sorriso afável e afetuoso saudava a todos com acolhimento e simpatia. Não havia mulher mais bela. Nem o viço e a jovialidade das princesas chegavam-lhe aos pés. Era realmente a mais perfeita representação do enlevo feminino, agraciada pela candura natural e inefável da maternidade! Uma explosão emocionada de ohs e ahs, acompanhada de palmas e reverências à passagem da Imperatriz pela esteira de pétalas de rosas, silenciou-se quando o Imperador, altivo e garboso, um pouco mais atrás, conduzia em cada mão, em cestinhos de vime branco, os bebês reais mais festejados e esperados de todo aquele império. Mimosamente trajados, um envolvido por uma manta verde e amarela, e o outro azul e branca, sabia-se de antemão que Urucumacuã era o de verde e amarelo e Kurokuru o de azul e branco. Apesar de gêmeos, tinham olhos e cabelos completamente diferentes: um possuía cabelos avermelhados como fogo e olhos verdes como esmeraldas. O outro, cabelos castanhos como a terra e olhos azuis como a água. Logo que nasceram, a mãe lhes identificou e chamou-os na intimidade maternal de Urucum, ao de cabelos vermelhos; e Kururu, ao de cabelos castanhos. A Imperatriz já estava sentada no seu pequeno trono, quando o Imperador primeiramente lhe entregou a cesta com o primogênito. Ela o recebeu carinhosamente, levantou-o nas mãos, como se o oferecesse ao Sol e proclamou: — Tu, Urucumacuã, vitorioso xamã zelador, eu te consagro ao Fogo e ao Ar! Nenhuma tempestade te alcançará, nenhum vento te deterá, nenhum trabalho te fadigará! Por onde andares teu rastro firme será, e a terra em que pisares nenhum fruto te negará! Correrás montes, campinas, florestais, onde quer que fores, nenhum mal te seguirá, nenhuma dor sentirás, enquanto teu pé direito andar! Mago Natu, postado ao lado da Imperatriz, incensou-a e ao filho Urucumacuã com um turíbulo de ervas aromáticas, pronunciando uma oração com palavras noutro idioma incompreensível aos presentes, enquanto a mãe colocava o menino ao seio direito para abençoá-lo com a seiva maternal da vida. Depois que o menino mamou, foi solenemente posto num berço de ouro devidamente arrumado para a ocasião. Rei Médium entregou-lhe, então, o segundo rebento. A Imperatriz repetiu os mesmos gestos de carinho maternal e acolhimento, elevando o bebê na direção oposta, como se o oferecesse à Terra e à Água, dizendo: — Tu, Kurokuru, levantarás caídos e feridos! De tuas mãos curadoras sairão poções miraculosas. A peste não te afligirá. A fome e a sede não te encontrarão, nenhum frio te molestará e por onde tu andares, a bênção da cura te acompanhará! Com outras ervas e outro turíbulo de prata, Mago Natu também incensou o infante, orou com palavras incompreensíveis e a mãe o levou ao seio esquerdo para sorver o leite vivificante. Depois de satisfeito, o bebê foi colocado num outro berço de prata. Concluída a primeira parte do ritual de consagração dos recém-nascidos, passou-se à cerimônia de apresentação. Em fila e ordeiramente, os convidados se organizaram para contemplar os dois príncipes, levando-lhes os presentes que trouxeram de seus reinados. Depois que a procissão estava por terminar, Mago Natu percebeu que das seis últimas princesas na fila, cinco andavam claudicantes, pendidas para o lado, como se sentissem grande desconforto e uma chorava incessantemente! As imagens obscenas refletidas no Espelho Universal mostraram nitidamente aquelas seis fisionomias, além do mascarado que contracenava com todas. Tudo se encaixava. Já se aproximava o pino do meio-dia. Mago Natu, aproveitando-se do envolvimento de todas as pessoas com a visita aos recém-nascidos, sentiu propício o momento para surpreender os parentes e familiares dos enfeitiçados, tornando-os ao formato humano. Sabedor de que os estilhaços do Espelho Universal serviriam tão somente para reverter alguns feitiços, saiu discretamente para pegar a Caixa das Venturas que havia levado para o Baluarte Sul das muralhas. Decidiu interferir na espiral dos acontecimentos, pois as últimas imagens projetadas pelo espelho, antes que o Rei Médium o partisse, eram as dos príncipes Pintado, Surubim e da Princesa Kaxara. Aquela seria a oportunidade de realizar a façanha: hora perfeita para reverter os encantamentos que o Bruxo Neno provocara, sem saber exatamente que resultado produziriam suas tresloucadas mandraquices.
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É um momento de grandes transformações. Nosso bioma (cerrado) às margens do Lago do Manso, com seus 470km2 é mais que pitoresco. è um OÁSIS, deixando o coração do estado marejado de água doce. O Projeto Ocupação Cocriativa Artfloresta (Co-creative Occupation Art[forest]) Ocupação Cocriativa Art'floresta: Uma Imersão na Natureza e na Criação O que é a Ocupação Cocriativa Art'floresta? A Ocupação Cocriativa Art'floresta é um evento que convida pessoas a vivenciarem uma experiência única de conexão com a natureza e com a criação artística. É um espaço onde a arte, a sustentabilidade e a comunidade se encontram, promovendo a cocriação e a troca de conhecimentos. O que esperar da Ocupação: * Imersão na natureza: A ocupação acontece em um ambiente natural, proporcionando a oportunidade de se conectar com a floresta e seus elementos. * Atividades artísticas: Serão oferecidas diversas atividades artísticas, como oficinas, instalações e performances, que estimulam a criatividade e a expressão individual. * Sustentabilidade: A sustentabilidade é um dos pilares da ocupação, com ações que visam minimizar o impacto ambiental e promover práticas mais conscientes. * Comunidade: A ocupação é um espaço para construir comunidade, promovendo a troca de conhecimentos e a colaboração entre os participantes. Por que participar da Ocupação Cocriativa Art'floresta? * Conectar-se com a natureza: A natureza oferece um ambiente inspirador para a criatividade e o bem-estar. * Despertar a sua criatividade: As atividades artísticas proporcionam um espaço para explorar sua imaginação e expressar-se de forma livre. * Aprender sobre sustentabilidade: A ocupação é uma oportunidade para aprender sobre práticas sustentáveis e contribuir para um futuro mais sustentável. * Conhecer novas pessoas: A ocupação é um espaço para conhecer pessoas com interesses em comum e construir novas amizades. Para quem é a Ocupação Cocriativa Art'floresta? A ocupação é aberta a todas as pessoas interessadas em arte, natureza e sustentabilidade, independentemente da idade ou experiência. Como participar? Para participar da Ocupação Cocriativa Art'floresta, basta acompanhar as informações divulgadas pelos organizadores do evento. Em resumo: A Ocupação Cocriativa Art'floresta é uma experiência única que convida você a se conectar com a natureza, explorar sua criatividade e fazer parte de uma comunidade engajada em um futuro mais sustentável. Gostaria de saber mais sobre algum aspecto específico da Ocupação Cocriativa Art'floresta? Observação: Para obter informações mais detalhadas sobre a ocupação, como data, local e programação, consulte os canais oficiais dos organizadores. Palavras-chave: Ocupação Cocriativa, Art[floresta], natureza, arte, sustentabilidade, comunidade, criatividade, imersão. Possivelmente você gostaria de saber mais sobre: * As atividades artísticas que serão oferecidas na ocupação. * O local onde a ocupação será realizada. * Como se inscrever para participar da ocupação. * Os organizadores da ocupação. Se tiver alguma dessas dúvidas, por favor, me diga. Lembre-se: As informações aqui apresentadas são genéricas e podem variar de acordo com cada edição da ocupação. Vale lembrar que o Teatro URUCUMACUÃ, vem ser um capítulo especial dessa aventura. Porque nesse espaço físico alternativo teremos a oportunidade de exercitar nossas habilidades lúdicas em um ambiente totalmente imersivo.
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TERRA, SEMPRE TERRA, QUERENDO DIZER, VIVA! SAUDAÇÕES!
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Aqui a temperatura está castigando, bem mais do que se esperava. Em m curto espaço de tempo tivemos três incêndios. O que tudo indica um eles foi acidente provocado pelo rompimento de um fio de eletricidade. Queimou bem mais de 40ha. Os outros dois tem tudo para ser criminoso.. Desses dois, um foi no prédio da Escola Primavera, desativada tem algum tempo. Escola essa pleiteada para se por em funcionamento o CENTRO DE CULTURA SÓCIO AMBIENTAL "URUCUMACUÃ". Mas para que todas as ideias sejam colocadas em prática, demanda esforço físico, mental, espiritual, de modo a não se ter dogmas. Mas quase toda população carece desse artifício OCUPAÇÃO COCRIATIVA ART'fLORESTA - OCA TERRAVILA GLOCAL.
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A CAIXA DE OURO E O DIA DA CONFERÊNCIA A mais bela e a menor de todas as caixas ainda estava por abrir. Finalmente, quando abrissem a sétima caixa de ouro, Rainha Gônia deixaria o confinamento dos sete dias, desde que dera à luz, para se apresentar na cerimônia pública de consagração dos herdeiros reais, segundo a tradição dos Antigos Mistérios da Ordem Real (AMOR), a que o casal pertencia. O Imperador e o mago se encontraram muito cedo na Câmara do GRAU. O Palácio Fortaleza ainda estava em rebuliço, pois a noite do grande baile parecia não ter fim. No luxuoso salão, os candelabros ainda estavam acesos. Havia movimentação de carruagens nos pátios, barcarolas nos canais e fossos, damas e nobres circulando os jardins; uns se despedindo para se recolher, outros em pequenos grupos comentando a insatisfação e a frustração da maioria dos participantes e dos concorrentes com o insólito resultado do concurso de melhor dançarino. O Príncipe Putho, o franco favorito, imbatível em todos os outros bailes dos quais participara, fora vergonhosamente desclassificado. Ninguém sabia onde se ocultara e seus pais, Rei Inci e Rainha Régia, procuravam em vão, tanto pelo filho quanto pela filha, Princesa Putha, desparecida desde a execução do sexto e último número de dança do concurso. A frustração com a desclassificação do Príncipe Putho era total. Não comentavam o ineditismo do plebeu desconhecido vencer o concurso, mas o sumiço temporário dele na sequência das seis apresentações que deveria pontuar com diferentes damas. O Príncipe não concluíra um, sequer, dos números. Ainda no início das execuções musicais, ausentara-se do salão misteriosamente, levando consigo a princesa que lhe fazia par, tomando rumo ignorado, só retornando para o início do número seguinte, quando trocava de dama para também desaparecer em seguida, sem que ninguém conseguisse acompanhá-los ou segui-los. No sexto e último musical, nem o dançarino de número 69 nem a Princesa Putha, que lhe fazia par, permaneceram no salão. Ao final, depois de inútil procura, ninguém conseguira êxito em encontrar o par desaparecido. A comissão de jurados, então, anunciou o vencedor do concurso. Surpresa e admiração gerais. O bailarino contemplado com a melhor pontuação, identificado pelo número 96, era ninguém menos que um plebeu ignorado e desconhecido: o aprendiz de feiticeiro! Vendo àquela hora a movimentação no Palácio, já no romper do dia, o Imperador e o Mago confidenciavam: — Senhor Imperador, conheceis o rapazote que ganhou o concurso de dança? — Sim. É um jovem aparentado ao Bruxo Neno. Vistes o bruxo por estes salões? — Não. Sei apenas que está neste reinado, por causa do sacrilégio que ocorreu no meu santuário: a morte dos meus cães, o furto das mandrágoras e a incineração do corpo da Feiticeira Zureta, que abandonou queimando sobre a ara de pedra, são as marcas da presença dele pelo lugar. Tanto que está evitando me encontrar como também ao Conde Rasku. Comigo, nada farei, porque ele haverá de selar seu destino exatamente quando se encontrar com Rasku! — Haverão de se matar, Mago Natu? — Pior que isso, Senhor Imperador, pior que isso! Abraçando-se ao Rei Médium, Mago Natu caminhou em direção à Câmara do GRAU, onde abririam a última e mais desejada das sete caixas de metal. Em frente ao Espelho Universal, Mago Natu preparava o coração do Imperador, alertando-o das revelações que, provavelmente, se projetariam no espelho. Já antevendo o resultado dos acontecimentos passados no vestiário após as trocas de roupas entre os dançarinos e a colocação das máscaras, Mago Natu prognosticou: — Amigo, nunca mais o Império do Elo Dourado será o mesmo. De hoje em diante, a história de tesouros e encantos será permeada de sangue, ruínas e desgraças, até que um dia fique tudo sob cinzas. Porém, depois de séculos, um novo reino haverá de renascer, não menos exuberante e rico e, portanto, cobiçado pela sua grandeza, mas esquecido de suas passadas glórias. Não nos importemos com isto agora. Temos ainda muito trabalho a fazer... vamos, abra a caixa de ouro. Aparentemente calmo, como se não tivesse compreendido ou se importado com as predições do Mago Natu, o Imperador se aproximou da caixa de ouro. Sensibilizado pela beleza cintilante do objeto, girou sua correspondente chave ouvindo o clic característico da abertura. No mesmo instante, o espelho projetou imagens agradáveis aos olhos do Imperador. Entusiasmado com a festa que contemplava, viu sair de dentro das águas do rio Aguaporé os príncipes que haviam se transformado em peixe, a Rainha Trapa e a Rainha Zomba. Lembrando-se dos outros que também sofreram igual sorte, inquiriu ao Mago Natu: — Então, é isso o que me reserva o Dia da Conferência? — Sim. Mais do que isso, ainda. — Por que não vejo o que vai acontecer? — Continuai olhando, ainda não acabou. Outras imagens desenharam-se no reflexo do espelho mágico. Depois da surpresa que muito o alegrou, Rei Médium viu modificar-se a projeção. Uma sequência ritual de obscenidades e impudicícia se desenrolava, de forma que o rei não tinha dúvidas do que significavam. Um jovem mascarado, seis vezes seguidamente, apresentava-se com uma jovem diferente, praticando atos completamente abomináveis e desonrosos para qualquer um que ainda não havia sido consagrado pelo casamento. Constrangido com aquela profusão de imagens licenciosas, o Imperador irou-se, repudiando as visões e, encolerizado, pegou a caixa de ouro, atirando-a com força de encontro ao espelho, quebrando-o em sete pedaços. Atordoado, manifestou-se: — Mago Natu, preciso ver Gônia! Agora, neste momento! — Todos nós precisamos, Imperador! Os pedaços do espelho partido espalharam-se pelo chão. Calmo, sem censurar ou recriminar o amigo desatinado, explicou: — Recolha os sete pedaços, colocando-os cada um dentro de uma caixa. Feche a caixa e novamente as disponha uma dentro da outra, na mesma sequência com que as abristes. Por fim, recoloque-as na caixa preta de madeira e tampe-a. Pegando a peça de seda púrpura com que cobria o Espelho Universal, Mago Natu recolocou-a novamente sobre a moldura de ouro vazia do espelho, explicando: — Tudo o que vistes, e que tanto o aborreceu, aconteceu na noite de ontem! A tarefa que temos para hoje é conferir o que o espelho projetou. Não mais precisarás do espelho, agora. Vamos ao aposento da Rainha Tranha. Vejo que alguma coisa também aconteceu com ela. Às sete horas, Rainha Gônia seria apresentada com seus rebentos aos convidados e súditos para a celebração dos rituais de consagração dos Antigos Mistérios da Ordem Real (AMOR). Os príncipes também seriam consagrados aos mistérios do Fogo-Ar e da Terra-Água. O Mago o acalmou, dizendo: — Haverá muita alegria e comemorações até o meio-dia, quando a Rainha Tranha também deixará seus aposentos. Continuará de olhos fechados, pois não mais haverá de abri-los, porque receberá o dom de ver o invisível e revelar o oculto. Prepare-se. Da mesma forma que sorriste, também vos entristecereis. Haverá choro e ranger de dentes! Todavia, o esplendor do Império do Elo Dourado ainda permanecerá por tempos. Até que tudo novamente se encaixe. Senhor Imperador, jamais haverá império mais fantástico nem mais rico que o vosso! Vamos, pegue a caixa de madeira preta e tragamo-la conosco. Rei Médium obedeceu à ordem do Mago, recolocando cuidadosamente as caixas dentro umas das outras. Ao pegá-las, vinham à memória as projeções do espelho mágico de cada uma que abriu. De todas, a que mais o impressionou fora a última. Sem se conformar com a impudicícia das imagens projetadas, não se conteve e interpelou Mago Natu: — Mago Natu, por que a abertura da caixa de ouro, sendo a mais bela de todas, mostrou no espelho imagens de depravação e lascívia? — Porque o magnetismo e o fascínio que o ouro exerce sobre os humanos os levam facilmente à corrupção. Pelo ouro, são capazes de todas as bestialidades. Nenhum metal é mais querido nem cobiçado e a nenhum outro se iguala o ouro para seduzir e corromper. Dê-me a caixa de madeira preta. Preciso tirá-la daqui. Colocá-la-ei sob a vigilância da guarda no baluarte sul da muralha, até a hora da cerimônia de consagração. Vamos, está mesmo na hora de ver Gônia!
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Nenhum esforço é em vão. Hoje a APAQ - Associação do PA Quilombo e a OCA Terravila Glocal, receberam a equipe Multidisciplinar da S.O.S. PANTANAL - Promotora das Brigadas Pantaneiras. Com o Projeto ÁGUAS QUE FALAM. Sendo, a Brigada Voluntária PA Quilombo - a primeira do Município de Chapada dos Guimarães MT. A mesma, ocupa seu lugar, e abre essa discussão a respeito da qualidade das águas no PA Quilombo e por extensão, de seu entorno. ÁGUAS QUE FALAM promovendo o monitoramento da qualidade dos recursos hídricos dessa região em parceria com a S.O.S Mata Atlântica. Presentes no encontro de hoje: Lucinete Joaquim, Deuza e Júlio Leal(APAQ) Brazzdyvinnuh (OCA Terravila Glocal/APAQ) e A equipe visitante, composta por Heideger Nascimento, Luciana Leite(S.O.S Mata Atlântica), Carol Pailinquevis (S.O.S Pantanal), Gustavo Figueira(S.O.S Pantanal), Tainara Alencar e Daniela França.(Chalana) Mais uma parceria para viabilizar meios de conservar as nascentes, fontes de vida de um ambiente integral.
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O que muita gente deixa de ficar sabendo, não é responsabilidade de que produz, mas de quem não lê. Parece pertinente que toda iniciativa seja ela qual for, está "quase sempre" fadada aos desafios. Os quais não são poucos. Não me recordo de nenhuma iniciativa que eu tenha empreendido que não tenha me chegado com desafios gigantes e de toda ordem. Parece que era para eu parar de vez com a ideia de dar sempre bom cabo dos angus. Ainda que a angustia viesse depois. Pleiteamos a Ocupação do prédio da ESCOLA PRIMAVERA (desativada por escassez de contingente de alunos) localizada no terreno da Associação do PA Quilombo, no Lago do Manso, município de Chapada do Guimarães MT; com o intento de criar nesse ambiente, um Centro de Cultura Ambiental. Parece que os desafios estão sempre atentos, então os vândalos atearam fogo na vegetação no entorno do prédio. Que só não foi atingido em cheio por causa da umidade relativa do ar. O que nos obrigou a dar um salto mais longo e foi quando antecipamos o início das obras. Conforme o registro no vídeo. Propositalmente sem narração para se atentar mais para as imagens do que para o áudio. Neste cenário de desolamento será criado o Centro de Cultura Ambiental URUCUMACUÃ, assinado pela Ocupação Cocriativa Artfloresta OCA Terravila Glocal. Rua Quilombo Lote 46 - PA Quilombo - Lago do Manso - Chapada dos Guimarães MT- Brasil
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SEXTO DIA – O GRANDE BAILE Professora Plínia não economizara nos preparativos para que o grande salão de festas se transformasse num cenário encantador. A ornamentação de inspiração romântica, caracterizada por tênue iluminação de robustos lampadários suspensos nas abóbadas, evocava lembranças do derradeiro baile em comemoração ao casamento do Rei Médium e da Rainha Gônia. Desde aquela data, quando o Reino do Elo Dourado recebeu a auspiciosa visita do Grande Rei, sua corte e presença exótica da Rainha Alimpa, do Reino de Sabom, não se viam tão primorosos arranjos e ornamentos de tanta beleza nas dependências do Palácio Fortaleza. Enormes vasos de flores campestres tonalizavam em cores vibrantes, espalhando aromas intensos em contraste singelo com o resplendor luxuoso das paredes revestidas de ouro. As damas das coortes movimentavam-se num frenesi delirante entre as casas de banho e os salões de estética, preparando-se o melhor que podiam para engalanar o salão do baile, trajando seus vestidos de pura seda e desenhos bordados em relevos de fios de ouro e prata. Rainhas e princesas cruzavam os corredores de esguelha, espreitando para se certificar de que não simplificavam nem exageravam nas joias e acessórios escolhidos para compor com as vestimentas. A certeza de que a Rainha Gônia não estaria naquele baile avivava a esperança de que, ausente a maior rival nos quesitos beleza e elegância, a possibilidade de alguma dentre elas se destacar naqueles predicados aumentava bastante. À parte a exagerada inquietação das mulheres, reis e príncipes também compartilhavam, tanto mais discretos, os espaços de embelezamento apropriados aos homens. Os príncipes experimentavam uma predileção pelos perfumes eróticos e trocavam entre si recomendações infalíveis para fazer corte às princesas e, quem sabe, conquistar o coração de alguma donzela para pedi-la em casamento oportunamente. Em meio àquela organizada balbúrdia fomentada pela vaidade, Bruxo Neno encontrou o cenário propício e terreno fértil à execução de seu mais ardiloso e ambicioso projeto: desmoralizar para sempre o Imperador do Elo Dourado, desacreditar publicamente o Mago Natu e macular de forma indelével e irreversível a notoriedade do Reino do Elo Dourado, comprometendo-lhe a honra e a celebridade. Atuando pelas sombras, espreitando em surdina os movimentos na cidade do Elo Dourado, porque não desejava encontrar-se face a face nem com o Mago Natu, por conta da profana invasão perpetrada em seu território sagrado, muito menos com o Conde Rasku, seu mais perigoso e odiento desafeto, a quem devia um acerto de contas. Bruxo Neno procurava um cúmplice insuspeito para executar sua desforra. Dentre os clientes em potencial aptos a cumprir os procedimentos que havia planejado, elegeu o Príncipe Putho, filho dileto do Rei Inci e da Rainha Régia, notável pela elegância e aparência sedutora, além de acerbada vaidade por se considerar a excelência no desempenho como dançarino. Alojado secretamente na casa de um dos seus acólitos prediletos, Bruxo Neno recebia forte incentivo para intentar seus malignos projetos. Desde a festa do casamento do Rei Médium, não conseguira esquecer nem perdoar Mago Natu pela humilhação e pelo sofrimento que lhe provocou, quando teve que presenciar a metamorfose irreversível da sua amada companheira, a Bruxa Taruga Quelônia, num asqueroso, mas inofensivo réptil, a Tal Taruga. Episódio que culminou na decisão de se mudar de residência, definitivamente, para o vizinho não menos afamado, Reino de Trindade, sua atual moradia, servindo aos volúveis caprichos do Rei Mor. Escolhido o Príncipe Putho seu cúmplice e vítima, o bruxo aguardava a hora de praticar seus projetos ocultos para colocar à prova conhecimentos recém-adquiridos da falecida mãe, a Feiticeira Zuzu. Poucas horas antes de morrer, parecendo adivinhar seu fadário, entregou ao filho seu mais precioso e secreto legado: um manual completo, recheado de fórmulas mágicas inéditas, além de instruções minuciosas e inauditas, fartamente ilustradas, sobre o preparo e utilização das poções, pomadas e pós obtidos a partir das mandrágoras. Custava ao Bruxo Neno acreditar que sua mãe tivesse não só revelado a existência daquele raríssimo manual de receitas extraordinárias como também entregue em suas próprias mãos, momentos antes da colheita das mandrágoras que estavam a furtar do Mago Natu, dádiva oportunamente caída do céu. Agora sim, julgava-se apto a provocar transformações realmente mágicas, de grandes proporções, conforme seu desejo de vingança para equiparar-se ao Mago Natu. Queria corromper definitivamente a harmonia e a paz reinantes no Império do Elo Dourado, no intuito de angariar maior prestígio e consideração do Rei Mor, a quem, muito a contragosto, prestava vassalagem fazia três anos. Aquela era a oportunidade das oportunidades. Precisava aproveitar a boa sorte que andava a bafejar favorável. Desde que, há pouco mais de dois anos, a mulher do Rei Mor, Rainha Sissu, finalmente parira uma menina, exatamente um dia antes de sua própria mulher. A serva Murmur, esposa do bruxo, também dera à luz uma linda criança. O episódio aumentou seu prestígio perante o Rei Mor e afastou de vez a probabilidade de execução da sentença de morte decretada pelo rei de Trindade há três anos, caso não acertasse a fórmula mágica ou um encantamento suficiente para provocar a gravidez da rainha. Barões, condes e marqueses, entre outros nobres convidados, faziam pares com as respectivas esposas na expectativa do grande evento. A excitação em torno do baile era tanta que já não se lembravam dos acontecimentos extraordinários dos cinco dias anteriores. O sumiço da Rainha Tranha transformara-se num assunto tabu. A viagem inusitada do Rei Kornio e da Rainha Ália servia de comentário apenas nas rodas de prosa dos Pescadores, testemunhas do que acontecera à Rainha Bisca e ao Rei Boio. Tampouco se lamentava a respeito do infortúnio do naufrágio do Rei Pindaíba e da trágica morte de seu filho, Príncipe Niko. O fenomenal corredor Numpessó, Sacipe Ererê, deixara marcas que jamais seriam vistas ou vencidas por algum e... desaparecera cavalgando sobre o dorso de um endiabrado corcel negro, envolto numa misteriosa nuvem de poeira! Rei Manso afundara nas águas profundas. Quando emergiu, havia se transformado no pássaro Mergulhão, fadado a viver eternamente mergulhando em busca do ouro perdido de Pindaíba. Quase anoitecendo, tudo estava em perfeita ordem para o início do baile. Bruxo Neno havia saído em companhia de seu acólito, logo após o meio-dia, levando consigo alguns embornais, com utensílios um tanto desgastados pelo uso e outros com plantas e ervas que o acompanhante nunca tinha visto. Sem questionar ao seu mestre onde iriam e o que fariam, pois essa era a primeira regra que o aprendiz de feiticeiro se obrigava a cumprir, não conseguiu se manter em silêncio quando chegaram numa clareira, pegando o rumo da Fonte das Transformações: — Meu mestre, sabeis que este lugar é proibido pra qualquer um de nós? — Sei, sim. Sei também que só o Rei Médium e a Rainha Gônia podem vir aqui. — Então, se os guardas nos encontrarem aqui, seremos encarcerados. — Fique tranquilo, estão todos muito ocupados com o baile. A rainha ainda não pode ser vista, por causa do resguardo de sete dias, e o rei porque não pode vir neste lugar sem a rainha. — Não sabia disso. Por quê? — Por enquanto, é melhor não saber mesmo. Um dia vai saber... — E se acontecer alguma coisa diferente com a gente? Se o mestre acender fogo, vão localizar a gente pela fumaça. — É melhor que fique calado. Faça o que eu mandar e preste atenção para não inverter a ordem das coisas. — Posso ao menos saber o que meu mestre está preparando? O bruxo não respondeu à pergunta do assistente. Despiu-se. Entrou e saiu d´água sete vezes seguidas, entregou as raízes de duas mandrágoras ordenando ao aprendiz que passasse tudo pelo ralador, cuidando para que nenhuma parte se perdesse. Iniciou uma cantilena choramingas, cujas palavras soavam completamente desconhecidas. Atencioso ao que seu mestre lhe ordenava, o aprendiz ouviu um estrondo atrás de si, seguido de um sibilo e, assustado, levantou-se, posto que estava agachado a encher as caçoulas com as misturas de ingredientes, folhas e raízes trazidas pelo Bruxo Neno. Uma cobra preta, de escamas muito brilhantes e olhos vermelhos como faíscas, enrodilhou-se, acomodando-se entre os pés do feiticeiro, causando admiração e receio ao aprendiz: — Mestre, posso ficar mais longe um pouco desta cobra? — Fique. Mas não olhe diretamente pra ela. Abaixe a cabeça, feche os olhos e só abra quando eu mandar. Um tanto apreensivo, mas confiante no seu mestre, fechou os olhos, mantendo-se agachado. Em poucos segundos, adormeceu, voltando a si quando uma voz roufenha soou próximo ao seu ouvido esquerdo: — Acorda! Desfaça tudo o que arrumamos, guarde as caçoulas nos embornais. Vamos pra casa. Seu trabalho vai começar agora. — Posso saber o que vou fazer? – perguntou-lhe cismático o aprendiz. — De certo! Terás mesmo que saber muito bem o que havereis de fazer. Irás ao grande baile esta noite? — Com certeza. Afinal, desde o casamento do Imperador que não tivemos mais oportunidade de ir ao salão de bailes do palácio. Já preparei minha roupa. Estou pensando também em me inscrever no concurso de dança. Quem sabe consigo me sair melhor do que aquele exibido, o... o... o filho do Rei Inci, aquele tal... o tal... Como é mesmo o nome do príncipe metido a dançarino? — Putho? — Esse mesmo! — Então, garanto que vais te divertir muito... tenho um presentinho que entregarás exatamente pra ele. Se fizer tudo como vou lhe ensinar, terás chance de te apresentar até melhor do que ele e ganhar o concurso de dança. O que achas? — Faria qualquer coisa pra isso acontecer. — Então preste atenção: vês este pó vermelho? Pois bem, levarás no teu bolso, por dentro das ceroulas. Cuidado para não derramar nas tuas roupas. Na hora em que os dançarinos participantes do concurso forem trocar de trajes e colocar as máscaras, seja um dos primeiros a ir para o vestiário. Localize as roupas que o Príncipe Putho vai vestir. Pegue as vestes dele e substitua pelas tuas, espalhe esse pó dentro das ceroulas dele, porque todos os dançarinos vão usar trajes iguais. Ninguém saberá quem é quem enquanto estiverem dançando. Vista a tua roupa primeiramente, coloque tua máscara e saia do vestiário junto com todos os outros. — Como vão saber quem é o melhor dançarino, se todos estiverem vestidos iguais e mascarados? — Pelo número pregado nas costas das casacas. Tua casaca terá o número 69 e a do príncipe, o número 96. Por isso trocarás de casaca com o Príncipe Putho... A comissão de jurados nem perceberá. — Entendi. Meu mestre não vai ao baile, por quê? — Vou ficar de longe assistindo, não pretendo me encontrar, pelo menos por enquanto, com o Conde Rasku. Não estou preparado no momento para o nosso acerto de contas... Mas um dia a gente ainda vai se topar... Ah, se vai... — Certo. Então é só isso? E pra mim? Também preciso tomar uma poção para dançar melhor do que o príncipe, dê-me um pó ou um engrimanço qualquer, pelo menos... — Fique tranquilo. O Príncipe Putho quase não vai parar no salão! Mas toma, leve esse pó aqui, o amarelo, certo? E coloque só nas tuas roupas, entendeu? Em menos de hora voltavam à cidade. O aprendiz já se considerava o vencedor antecipado do concurso. Sonhava chegar o momento de tomar nos braços as mais belas princesas e dançarinas do reinado nos luxuosos salões perfumados do Palácio Fortaleza. Só não imaginava as consequências que teriam os acontecimentos dos quais seria agente e cúmplice.
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É comum as dificuldades de acesso, transporte, financeiro estar querendo impedir que se faça alguma coisa ter sucesso. Em qualquer campo da vida, do conhecimento, das ciências etc. O maior vilão é aquele que desiste na primeira pisada em falso. Como cada pessoa vê por uma janela, de acordo com suas histórias de vida, não tem como contar uma história real de outra forma, a menos que se rompa dogmas e (que se) quebre paradigmas. Ser filho da terra, ser de origem rural, ter vivido no mundo urbano, usufruindo de toda aquela volúpia que a urbanidade proporciona, de falso-prazer, diversão, euforia, civilidade... Ledo engano. Porém, romper com tudo isso, é uma coisa que não se explica. É surpreendente. Não é que eu tenha aprendido 1/3 da vida na terra, mas é o reconhecimento do peso que isso tem em minha vida à partir do momento que tomei a decisão de fazer essa mudança de via, por mim mesmo. Não pela onda do momento. De que viver no campo é bom. E É BOM MESMO. Sem os recursos necessários é bom, imagine com eles? Por que esse papo, nesse tom? Porque está sendo dessa forma. Nenhum trabalho que eu dedicar para viver onde eu estou ou onde eu poderia estar seria em vão. Vi meu amadorismo na agricultura ou na vida rural, começar a amadurecer e isso não tem preço pague. Porque isso tem valor, e valor não tem cifra. Um pé de Graviola gigante e seu primeiro rebento. Que trem bão é esse, que até os olhos lacrimejam de felicidade. Um dedo de Açafrão deu tudo isso, uma mão grande de tubérculos e folhas naturalmente produzidos debaixo dos meus olhos. Vem mais, muito mais...
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URUCUMACUÃ - H.H. Entringer Pereira (Cap. 15)
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ABRINDO A QUINTA CAIXA Antes de subir à Câmara do GRAU e abrir a quinta caixa, a de bronze, Rei Médium certificou-se de que as praxes para os sepultamentos do Rei Pindaíba, morto por afogamento, e de seu filho, o Príncipe Niko, estavam conforme os costumes do reinado do Elo Dourado. Solicitou a presença da Rainha Tapera e da filha, Princesa Arraia, a fim de que conduzissem o cerimonial preparado para cremação dos dois corpos. Totalmente abaladas e inconformadas com os acontecimentos, as duas se recusaram a atender aos pedidos da cerimonialista Professora Plínia, alegando não ter ouro suficiente para adquirir os bálsamos de mirra e de aloés, indispensáveis para besuntar e perfumar os corpos antes da incineração. Sem tempo a perder, Rei Médium ordenou que trouxessem Rei Manso à Câmara do GRAU. Localizado nos aposentos da Rainha Tranha, que ainda não despertara do torpor que se encontrava, desde o primeiro dia da caçada à Sonça Pintada, Rei Manso derramava lágrimas, pesaroso. Já havia entregado e devolvido sigilosamente o menino Kurupirá à floresta, e remoía consigo o segredo da gestação daquela criatura, esperando aflito pelo despertar de sua amada esposa, que jamais saberia do que havia se passado. Interrompido em seu estado meditativo, assustou-se com a voz sonora do Mago Natu a ordenar-lhe: — Rei Manso, venha comigo à Câmara do GRAU. — Não, por favor, Mago Natu, não quero ver aquelas cenas novamente! — Não é daquilo que trataremos. Precisamos dos vossos préstimos para outra tarefa. Por gentileza. — Não me diga que aconteceram outras desgraças? Diante do Imperador, Rei Manso inclinou-se e perguntou: — Senhor Imperador, em que posso vos servir, se a alegria que espero ainda não me veio e poucas razões tenho para continuar vivendo? — Rei Manso, preciso dos vossos préstimos de mergulhador. Quero que desças à profundidade das águas onde o Rei Pindaíba naufragou, resgatando o que puderes do carregamento de ouro para devolver à Rainha Tapera o suficiente ao custeio da cerimônia fúnebre do marido e do filho. E também, se possível, traga de volta o ouro apostado para pagamento dos reis Inci, Mende e Abas. — Assim o farei, Senhor Imperador. Diligentemente escoltado pela guarda real, Rei Manso saiu sem alardes. Mago Natu os acompanhou até onde a vista alcançou e, olhando para os céus, falou baixinho: “Pelo menos essa parte será resolvida”. Voltou pelas escadarias secretas e entrou na Câmara do GRAU. Rei Médium já havia tirado a tampa da quinta caixa e constatou a mesma configuração anterior: ela continha a caixa de prata, que seria aberta no sexto dia. Olhou o Espelho Universal e visualizou uma cena já prevista — o cerimonial de cremação de dois corpos e um reinado abandonado à própria sorte, encoberto pela vegetação e sufocado entre cardos. Ao entrar na Câmara do GRAU, Mago Natu limpou a garganta, anunciando sua presença: — Então, meu amigo, entendeste o que se passará? — Sim, Mago Natu. Nada farei para modificar o curso do rio. Três horas depois, quando concluídos os preparativos da pira sagrada para a cremação dos corpos, a pequena comitiva da guarda real voltava ao Palácio Fortaleza portando alguns alforjes cheios de material aparentemente pesado. Conhecedores das passagens secretas que ligavam o pátio externo ao Salão do Rei, sem comentários, dirigiram-se de imediato para avistar com o Imperador. Ao recebê-los, Rei Médium constatou: — Onde está o Rei Manso? Que fizestes a ele? — Senhor Imperador, pedimos a clemência de ouvir-nos! Algo surpreendente passou-se. Eis aqui os alforjes com o que foi resgatado do naufrágio do Rei Pindaíba pelo Rei Manso. — E onde está o restante? Onde está o Rei Manso? — Na primeira vez que mergulhou, ele trouxe este alforje; na segunda vez, este; e na terceira vez, quando se lançou nas águas, seu corpo desapareceu. Poucos segundos depois, testemunhamos um pássaro diferente emergir, ganhar o espaço azul e sobrevoar as águas onde o terceiro alforje, vazio, continuou flutuando em círculo, no local onde a correnteza se transformou em águas plácidas e calmas... como o Rei Manso. — Sim, compreendo, naquele lugar Rei Manso encantou-se no Pássaro Mergulhão! Mago Natu entrou no Salão do Rei e confortou o Rei Médium: — Nobre amigo, um alforje é para a despesa da Rainha Tapera com o cerimonial fúnebre. O outro é para que a viúva e a filha possam retornar ao próprio reinado e continuarem vivendo. Quanto ao Rei Manso, será eternizado na placidez dos rios e continuará encantado no pássaro mergulhão. — E a Rainha Tranha, o que será dela? — Despertará no sétimo dia, quando abrireis a última caixa. Porém não vos aflijais. Temos algumas surpresas ainda. Por hora, chegou o tempo de entregar à Rainha Tapera a parte que lhe deixou Pindaíba. De posse dos dois alforjes com as moedas de ouro que o Rei Manso havia tirado das profundezas do rio Aguaporé, Rainha Tapera agarrou-se a eles como se fosse ao próprio marido. A filha ambiciosa, Princesa Arraia, tentava tirar da mãe um dos bolsões, esbravejando, reivindicando aquela como sua parte de direito sobre o que deixara o Rei Pindaíba. A nenhuma das duas interessava dar aos corpos do pai e do irmão a cerimônia fúnebre digna de rei e príncipe. Vendo o embate das duas e a interminável sucessão de impropérios que diziam uma à outra, Mago Natu interferiu: — Rainha Tapera, Princesa Arraia, reservai a parte que devereis usar para a cerimônia fúnebre. O restante divide-o em partes iguais. Este é o quinhão de cada uma! Enfurecida com o pouco que lhe restava, Rainha Tapera amaldiçoou o marido, renegou o próprio filho e pediu ao Imperador que providenciasse as condições para regressar ao seu reinado imediatamente. Entregou as moedas de ouro ao chefe cerimonial das exéquias e disse à filha: “Se queres ficar aqui, é contigo! Para mim, acabou-se a graça!”. Antes do sol se pôr, quando se daria a cremação dos corpos, a comitiva do falecido e falido Rei Pindaíba, agora formada pela Rainha Tapera e meia dúzia de súditos, deixava cabisbaixa e humilhada os portões do Palácio Fortaleza. Princesa Arraia não aderiu aos desejos da mãe, rebelando-se. Preferiu ficar, à espera de que recebesse uma proposta de casamento de quaisquer dos príncipes casadoiros que ainda circulavam pelo Palácio Fortaleza. Melhor ainda, do Príncipe Putho, filho do Rei Inci e da Rainha Régia, que de longe era o mais guapo mancebo de toda a Região. Mais belo que ele, só o Conde Rasku, mas este já se casara e não manifestava desejo de arriscar-se noutro matrimônio. Nenhuma notícia chegara, até então, do rumo tomado pelo Sacipe Ererê e seu magnífico corcel. Alguns peões do Rei Médium vieram poucos minutos antes do anoitecer avisar ao administrador real que era impraticável juntar o rebanho de búfalos porque um corcel negro, desembestado e sem cavaleiro, promovera o estouro da manada em todas as direções do reinado, desparecendo no horizonte a oeste. Concluídos os cerimoniais de cremação do Rei Pindaíba e do Príncipe Niko, a noite voltou a cobrir com seu manto de estrelas as vastidões do Império do Elo Dourado. Em poucas horas, o Palácio Fortaleza mergulhou em silêncio profundo! Recolhido em seus aposentos, Mago Natu percebeu que as luminárias do Quarto Imperial ainda estavam acesas. Deduziu que o Imperador ainda estava acordado. Sentindo-se também insone, subiu as escadarias e bateu à porta. Ninguém atendeu. Pensou alto: “Lógico, meu caro! Rei Médium está visitando sua rainha e seus filhos. Ele foi ver Gônia! ”. Sem querer importunar o amigo naquele momento íntimo, voltou aos aposentos, deitou-se e começou meditar. Relembrando a cerimônia fúnebre, muitas imagens lhe vinham à memória. Porém, entre todos os rostos que pontuaram na celebração, dois ele não vira: o de Bruxo Neno e o de sua mãe, a Feiticeira Zureta, a Sacerdotisa das Sombras, que chegara – não se sabia o porquê do atraso – naquele mesmo dia, à hora do almoço. Imediatamente, o Mago se pôs de pé. Apagou as luminárias, pegou um archote no corredor e dirigiu-se ao cais do porto. Sem chamar a atenção do guardião, observou que a embarcação da Feiticeira Zuzu não estava atracada. Esgueirou-se por entre as dezenas de pequenos barcos amarrados, levantou a âncora de sua chalana e rumou para o Sul, subindo o rio, em direção ao seu Santuário. Já passava pela sua mente o que havia acontecido. Examinando as imagens que lhe ocorriam, Mago Natu olhou na direção do portal do seu Santuário. Apesar da noite sem luar, um clarão e uma coluna de fumaça se faziam notar no centro da propriedade, bem no rumo do Campo Santo, local de acesso proibido aos profanos e visitado uma única vez por ano, na consagração dos iniciados para receberem a colação do GRAU, nas cerimônias de conclusão dos períodos probatórios de iniciação. Bem que eu deveria ter vindo antes. Sinto que pouca coisa me resta fazer. – falou o Mago consigo. Atracou sua pequena chalana na árvore de Andiroba, subiu a rampa até os dois Paus-D’Arco e estranhou não ter sido recebido pelos dois cães guardiães, Philos e Sophos. Algo muito ruim está acontecendo – pensou o Mago. Continuou pela Senda da Iniciação, de cabeça baixa, olhando o emaranhado dos rastros sulcados na areia, atento ao piado soturno das aves agourentas e ao esvoaçar desordenado de corujas e urutaus. Pelo menos duas pessoas invadiram seus domínios sagrados. Seu coração já pressentira o desastre. Bruxo Neno e a Sacerdotisa das Sombras passaram por aqui. Oxalá não tenham mexido nas minhas mandrágoras. Quanto mais se aproximava do clarão, melhor enxergava a coluna de fumo que se elevava, exatamente no local do Altar de Libações e Purificação. Maior sacrilégio não poderia ter sido cometido. Um cheiro forte de carne chamuscada recendia em derredor. Mago Natu apressou o passo. Ninguém mais se movimentava pelo local. Antes de certificar-se de que era mesmo um corpo de animal que ardia na pira de purificação, um ímpeto o fez dirigir-se ao canteiro secreto, onde há três anos plantara três mandrágoras, com as quais o Grande Rei lhe presenteara. Não estavam mais no lugar. Alguém as retirara dali. — Oh, que insensatez! — proclamou em voz alta —. Fizeram-se vítimas da própria vingança! Sem perturbar-se, Mago Natu se aproximou do Altar de Libações e constatou que o sacrifício ali oferecido não se tratava de uma oferenda, mas de um ritual crematório. Não havia mais como reconhecer o cadáver. Estava patente que se tratava da Feiticeira Zuzu, pelas vestes abandonadas de propósito no chão, ao lado da pira. A exemplo de sua mãe, a incauta feiticeira também morrera na hora em que se aventurou a colher as mandrágoras. Os dois cães mortos do outro lado do canteiro também certificavam o desastre. — Agora está consumado. Bruxo Neno usou a própria mãe para conseguir as mandrágoras. O que será que vai fazer com elas? — perguntou a si mesmo, e respondeu — O pior ainda não aconteceu. Conformado com a profanação sacrílega de seu Santuário, Mago Natu esperou que as chamas consumissem os restos do corpo e iniciou uma breve e solitária cerimônia de limpeza e purificação do local. Não intencionava questionar Bruxo Neno sobre o que havia feito, tampouco exigir explicações para tomar de volta suas três mandrágoras. Pelo que conhecia do bruxo e de suas artimanhas, alguma feitiçaria estaria a caminho, para exibir poderes, eliminar desafetos ou ganhar fácil moedas de ouro. Concluídos os procedimentos, Mago Natu firmou propósito de manter sigilo sobre o que descobrira para que Bruxo Neno não modificasse seus planos, nem voltasse sua carga de ódio e vingança contra os dois príncipes gêmeos recém-nascidos, agora que detinha três mandrágoras em seu poder. A grande estrela da alva se apresentou no zênite, sinalizando ao Mago que deveria voltar ao Palácio Fortaleza. Descendo o rio o mais rápido que podia, chegou ao porto e manobrou sua embarcação diretamente no canal que ligava o cais ao pátio interno do palácio. Discretamente, subiu as escadarias e dirigiu-se à Câmara do GRAU. Rei Médium já estava lá. — Acordastes cedo, Nobre Imperador! Saúdo-vos em nome da Paz! — Na verdade, Mago Natu, nem consegui dormir. Fui aos aposentos da Rainha ontem à noite para vê-la e aos meus filhos. Aproveitei para visitar a Rainha Tranha também. — E então, o que vos tirou o sono? — Rainha Tranha parece estar despertando. Não abriu os olhos, mas falou coisas que me impressionaram, depois calou-se, mergulhando novamente em sono profundo. — Que disse ela de tão impressionante? Podeis me contar? — Sim. Parecia que estava a profetizar algo. Lembro-me de algumas coisas, meio desconexas, ouvi: “Antes que a Estrela da Alva surja no horizonte, um corpo arderá em chamas, profanando o território sagrado. Três plantas mágicas serão usadas para causar grande infortúnio e alguns encantamentos. Nem tudo será desfeito, até o dia em que descobrirem onde o Rei Albe enterrou seu tesouro de esmeraldas”. — É vidente, é vidente! Rainha Tranha é vidente! — Então, o que me dizeis? — Que não está dormindo... Ela está em estado de transe. — Será que vai despertar? Como lhe contaremos sobre o marido? — Ela não lembrará mais nada do passado. Será para sempre uma pessoa Ex-Tranha. Não vos preocupeis com ela. Vamos abrir a caixa de prata.
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O texto está impresso na foto. A foto é só uma forma de alegrar os olhos. A semana está indo.... Muito trabalho pela frente ainda!
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1. VETIVER (Vetiveria zizanioides) (texto transcrito do material informativo da Deflor) GENERALIDADES O Vetiver é uma gramínea perene, que ocorre nos mais variados climas, sobretudo tropical e subtropical. Apresenta porte médio, chegando a até 1,50 m de altura, é resistente a pragas, doenças, déficit hídrico, geadas e fogo. Possui crescimento ereto, formando touceiras. Reproduz somente por mudas. O sistema das raízes são densas e de alta resistência, atingindo 3 m de profundidade. As raízes apresentam sistema radicular agregante, formando um grampeamento natural estabilizante de encostas e taludes. Adaptação: adapta-se em qualquer tipo de solo e clima, sendo tolerante a índices pluviométricos entre 300 a 3.000 mm ao ano e períodos de extremo déficit hídrico, de cinco meses. Tolerante a temperaturas extremas entre – 9 a 50°C. Ao contrario da maioria dos capins de touceiras, no capim vetiver uma planta cresce em direção a outra (biotactismo positivo), formando uma barreira vegetal viva. É tolerante a valores extremos de pH, salinidade, toxicidade e baixos índices de nutrientes no solo, é ainda resistente ao fogo, alagamentos e pastoreio. Plantio: o plantio pode ser realizado durante todo o ano, mas preferencialmente deve ser feito na época chuvosa. A reprodução se dá exclusivamente por mudas, pois mesmo produzindo sementes, estas são estéreis. É muito usado para plantio em cordões, no sentido transversal à declividade dos taludes, para reter sedimentos. Principais usos: usado como barreiras para reter sedimentos e estabilização de aterros e áreas erodidas. As barreiras de Vetiver permitem reter os sedimentos transportados pela água. Com a sucessão destes eventos, será formado um terraço natural atrás das cortinas do capim, evitando assim, a degradação do solo. Além disso, quebra a intensidade do fluxo descendente das águas pluviais, colaborando para o sistema de drenagem superficial, permitindo um dimensionamento mais econômico (run-off menor na área de contribuição) e a inexistência de custos anuais de manutenção. O Vetiver não é planta hospedeira ou intermediaria de pragas e doenças. Ainda tem grande capacidade de seqüestro de carbono, cerca de 5 kg/planta/ano incorporados ao solo. VETIVER (Vetiveria zizanioides) Tipo de Solo Qualquer tipo de solo Temperatura -9 a 50º C Índice de chuva / Ano 300 a 3.000mm Consorciação Com leguminosas Adubação Fosfatada no plantio Profundidade de plantio 5,0 a 10,0 cm Hábito de crescimento Touceiras Tolerância Secas – fogo – geada - alagamento Utilização Controle de erosão / retenção de sedimentos Biomassa 40 t/ha Semeadura Curvas de nível, em linha Tempo de formação 60 a 90 dias 2. Barreiras vivas de Capim Vetiver GENERALIDADES São barreiras constituídas de plantas ou ramos vivos, com o objetivo de reter sedimentos e formando barreiras de elementos vivos. A principal planta usada na construção dessas barreiras é o Capim Vetiver (Chrysopogon zizanioides), que apresenta como principal característica o biotactismo positivo (capacidade de crescimento em direção a outra planta da mesma espécie) formando uma barreira viva num curto espaço de tempo, além de apresentar sistema radicular profundo (podendo chegar a até 3 m de profundidade) que provoca o atirantamento do solo aumentando sua resistência. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES O Capim Vetiver é plantado em nível e em linhas, no sentido transversal à declividade, com densidade de 10,00 plantas/m e distância entre as barreiras dependendo da declividade e do índice de erodibilidade da área. Figura 12: Detalhe aplicação de Barreiras de Capim Vetiver. 3. MODALIDADES DE MUDAS DE VETIVER A DEFLOR produz aproximadamente 2 milhões de mudas/ano de vetiver. Estas mudas produzidas são de várias modalidades: 1 – Mudas acondicionadas em sacolas plásticas: A altura das mudas varia de 30 a 60cm,e vão perfilhada com 2 a 4mudas/sacola – cada Caixa contém 80 mudas. 2 – Mudas acondicionadas em Bandeijas plásticas: São mudas menores que 20cm de altura, e no preço está incluso a bandeija – sendo que cada bandeija tem 50mudas, já perfilhadas com 1 a 2 mudas/ recipiente. 3 – Mudas em cordão vegetativo: São mudas de raízes nuas costurada umas juntas as outras formando um cordão com cerca de 20 mudas/metro, e acondicionadas em biomanta com solo e esterco, o plantio deve ser feito em valas e todo o cordão é plantado na vala, em curva de nível. 4 – Mudas em raízes nuas: As mudas vão em raízes nuas a base de 2mudas/touceira, ou 1 muda/touceira – As mudas vão enroladas em solo com umidade e envoltas por biomanta. O plantio deve ser imediato, e as mudas condicionadas em local com umidade. [Para a região em que estou empreendendo é uma ótima opção](Brazzdyvinnuh) Fonte: Deflor
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Quando idealizei o Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL era uma gama de ideias e ao passar do tempo, as coisas foram se afunilando e ainda continua nesse processo de amadurecimento. Uma coisa é bem certa, do final dos dias, há pelo menos dois meses, venho experimentando o exercício da resiliência. Período de campanha política, onde tudo cheira tentativa se ganhar votos. Mas ou a pessoa se veste de verdade e faz o que deseja ou pelo menos pensa que deseja e vai desbravando. Hoje estou voltado para a iniciativa de Medicinais e Aromáticas. Acredito que por conta do clima, um dos melhores aliados são os capins, e as nativas do do exuberante cerrado mato-grossense.
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À primeira vista, parece mesmo muito longe da realidade. Claro, para quem saiu da cidade, sem a menor noção do faria, à beira do Lago do Manso. O primeiro ano foi de pura expectativa, com tudo aquilo à minha frente. Terra para plantar, um cerrado exuberante. Pássaros para alegrar minhas manhãs... Na cidade isso era impossível. Animais silvestres circulando pelo quintal com confiança, de que estão em um lugar seguro. Livres de qualquer ameaça. Os tatus, devorando vorazmente os pés de macaxeira existentes à época de minha chegada no Sítio Bom Jesus, gentilmente cedido pelo sr. Joaquim Ferreira, para que eu pudesse desenvolver, o sonho de uma utopia possível. Passando por todos os desafios inimagináveis, fui adquirindo confiança e hoje, a "solitude" me faz companhia por completo. Não me tornei um ermitão, a presença de pessoas é bem vinda, porém, está sendo um tempo de profundo mergulho em um mar de possiblidades que não tem como ser feito a dois, três, grupos, etc. Quando esse momento chegar, o de partilhar essas vivências, será com a certeza de que estou fazendo a coisa certa, ao ponto de valer a pena, trazer pessoas para uma realidade, antes, apenas sonhada. Estou me sentindo muito bem, nos preparativos dessa infraestrutura, para que possamos em breve receber visitas periodicamente. A gosto de Deus, agosto chegou prometendo muita dedicação para fazer o mínimo, pela qualidade de vida do planeta. Esse pequeno gesto, somado, a tantos outros, pode de fato impactar. Viva nós tripulantes dessa ekoNAVI, rumo a regeneração de cada um.
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ABRINDO A QUINTA CAIXA Antes de subir à Câmara do GRAU e abrir a quinta caixa, a de bronze, Rei Médium certificou-se de que as praxes para os sepultamentos do Rei Pindaíba, morto por afogamento, e de seu filho, o Príncipe Niko, estavam conforme os costumes do reinado do Elo Dourado. Solicitou a presença da Rainha Tapera e da filha, Princesa Arraia, a fim de que conduzissem o cerimonial preparado para cremação dos dois corpos. Totalmente abaladas e inconformadas com os acontecimentos, as duas se recusaram a atender aos pedidos da cerimonialista Professora Plínia, alegando não ter ouro suficiente para adquirir os bálsamos de mirra e de aloés, indispensáveis para besuntar e perfumar os corpos antes da incineração. Sem tempo a perder, Rei Médium ordenou que trouxessem Rei Manso à Câmara do GRAU. Localizado nos aposentos da Rainha Tranha, que ainda não despertara do torpor que se encontrava, desde o primeiro dia da caçada à Sonça Pintada, Rei Manso derramava lágrimas, pesaroso. Já havia entregado e devolvido sigilosamente o menino Kurupirá à floresta, e remoía consigo o segredo da gestação daquela criatura, esperando aflito pelo despertar de sua amada esposa, que jamais saberia do que havia se passado. Interrompido em seu estado meditativo, assustou-se com a voz sonora do Mago Natu a ordenar-lhe: — Rei Manso, venha comigo à Câmara do GRAU. — Não, por favor, Mago Natu, não quero ver aquelas cenas novamente! — Não é daquilo que trataremos. Precisamos dos vossos préstimos para outra tarefa. Por gentileza. — Não me diga que aconteceram outras desgraças? Diante do Imperador, Rei Manso inclinou-se e perguntou: — Senhor Imperador, em que posso vos servir, se a alegria que espero ainda não me veio e poucas razões tenho para continuar vivendo? — Rei Manso, preciso dos vossos préstimos de mergulhador. Quero que desças à profundidade das águas onde o Rei Pindaíba naufragou, resgatando o que puderes do carregamento de ouro para devolver à Rainha Tapera o suficiente ao custeio da cerimônia fúnebre do marido e do filho. E também, se possível, traga de volta o ouro apostado para pagamento dos reis Inci, Mende e Abas. — Assim o farei, Senhor Imperador. Diligentemente escoltado pela guarda real, Rei Manso saiu sem alardes. Mago Natu os acompanhou até onde a vista alcançou e, olhando para os céus, falou baixinho: “Pelo menos essa parte será resolvida”. Voltou pelas escadarias secretas e entrou na Câmara do GRAU. Rei Médium já havia tirado a tampa da quinta caixa e constatou a mesma configuração anterior: ela continha a caixa de prata, que seria aberta no sexto dia. Olhou o Espelho Universal e visualizou uma cena já prevista — o cerimonial de cremação de dois corpos e um reinado abandonado à própria sorte, encoberto pela vegetação e sufocado entre cardos. Ao entrar na Câmara do GRAU, Mago Natu limpou a garganta, anunciando sua presença: — Então, meu amigo, entendeste o que se passará? — Sim, Mago Natu. Nada farei para modificar o curso do rio. Três horas depois, quando concluídos os preparativos da pira sagrada para a cremação dos corpos, a pequena comitiva da guarda real voltava ao Palácio Fortaleza portando alguns alforjes cheios de material aparentemente pesado. Conhecedores das passagens secretas que ligavam o pátio externo ao Salão do Rei, sem comentários, dirigiram-se de imediato para avistar com o Imperador. Ao recebê-los, Rei Médium constatou: — Onde está o Rei Manso? Que fizestes a ele? — Senhor Imperador, pedimos a clemência de ouvir-nos! Algo surpreendente passou-se. Eis aqui os alforjes com o que foi resgatado do naufrágio do Rei Pindaíba pelo Rei Manso. — E onde está o restante? Onde está o Rei Manso? — Na primeira vez que mergulhou, ele trouxe este alforje; na segunda vez, este; e na terceira vez, quando se lançou nas águas, seu corpo desapareceu. Poucos segundos depois, testemunhamos um pássaro diferente emergir, ganhar o espaço azul e sobrevoar as águas onde o terceiro alforje, vazio, continuou flutuando em círculo, no local onde a correnteza se transformou em águas plácidas e calmas... como o Rei Manso. — Sim, compreendo, naquele lugar Rei Manso encantou-se no Pássaro Mergulhão! Mago Natu entrou no Salão do Rei e confortou o Rei Médium: — Nobre amigo, um alforje é para a despesa da Rainha Tapera com o cerimonial fúnebre. O outro é para que a viúva e a filha possam retornar ao próprio reinado e continuarem vivendo. Quanto ao Rei Manso, será eternizado na placidez dos rios e continuará encantado no pássaro mergulhão. — E a Rainha Tranha, o que será dela? — Despertará no sétimo dia, quando abrireis a última caixa. Porém não vos aflijais. Temos algumas surpresas ainda. Por hora, chegou o tempo de entregar à Rainha Tapera a parte que lhe deixou Pindaíba. De posse dos dois alforjes com as moedas de ouro que o Rei Manso havia tirado das profundezas do rio Aguaporé, Rainha Tapera agarrou-se a eles como se fosse ao próprio marido. A filha ambiciosa, Princesa Arraia, tentava tirar da mãe um dos bolsões, esbravejando, reivindicando aquela como sua parte de direito sobre o que deixara o Rei Pindaíba. A nenhuma das duas interessava dar aos corpos do pai e do irmão a cerimônia fúnebre digna de rei e príncipe. Vendo o embate das duas e a interminável sucessão de impropérios que diziam uma à outra, Mago Natu interferiu: — Rainha Tapera, Princesa Arraia, reservai a parte que devereis usar para a cerimônia fúnebre. O restante divide-o em partes iguais. Este é o quinhão de cada uma! Enfurecida com o pouco que lhe restava, Rainha Tapera amaldiçoou o marido, renegou o próprio filho e pediu ao Imperador que providenciasse as condições para regressar ao seu reinado imediatamente. Entregou as moedas de ouro ao chefe cerimonial das exéquias e disse à filha: “Se queres ficar aqui, é contigo! Para mim, acabou-se a graça!”. Antes do sol se pôr, quando se daria a cremação dos corpos, a comitiva do falecido e falido Rei Pindaíba, agora formada pela Rainha Tapera e meia dúzia de súditos, deixava cabisbaixa e humilhada os portões do Palácio Fortaleza. Princesa Arraia não aderiu aos desejos da mãe, rebelando-se. Preferiu ficar, à espera de que recebesse uma proposta de casamento de quaisquer dos príncipes casadoiros que ainda circulavam pelo Palácio Fortaleza. Melhor ainda, do Príncipe Putho, filho do Rei Inci e da Rainha Régia, que de longe era o mais guapo mancebo de toda a Região. Mais belo que ele, só o Conde Rasku, mas este já se casara e não manifestava desejo de arriscar-se noutro matrimônio. Nenhuma notícia chegara, até então, do rumo tomado pelo Sacipe Ererê e seu magnífico corcel. Alguns peões do Rei Médium vieram poucos minutos antes do anoitecer avisar ao administrador real que era impraticável juntar o rebanho de búfalos porque um corcel negro, desembestado e sem cavaleiro, promovera o estouro da manada em todas as direções do reinado, desparecendo no horizonte a oeste. Concluídos os cerimoniais de cremação do Rei Pindaíba e do Príncipe Niko, a noite voltou a cobrir com seu manto de estrelas as vastidões do Império do Elo Dourado. Em poucas horas, o Palácio Fortaleza mergulhou em silêncio profundo! Recolhido em seus aposentos, Mago Natu percebeu que as luminárias do Quarto Imperial ainda estavam acesas. Deduziu que o Imperador ainda estava acordado. Sentindo-se também insone, subiu as escadarias e bateu à porta. Ninguém atendeu. Pensou alto: “Lógico, meu caro! Rei Médium está visitando sua rainha e seus filhos. Ele foi ver Gônia! ”. Sem querer importunar o amigo naquele momento íntimo, voltou aos aposentos, deitou-se e começou meditar. Relembrando a cerimônia fúnebre, muitas imagens lhe vinham à memória. Porém, entre todos os rostos que pontuaram na celebração, dois ele não vira: o de Bruxo Neno e o de sua mãe, a Feiticeira Zureta, a Sacerdotisa das Sombras, que chegara – não se sabia o porquê do atraso – naquele mesmo dia, à hora do almoço. Imediatamente, o Mago se pôs de pé. Apagou as luminárias, pegou um archote no corredor e dirigiu-se ao cais do porto. Sem chamar a atenção do guardião, observou que a embarcação da Feiticeira Zuzu não estava atracada. Esgueirou-se por entre as dezenas de pequenos barcos amarrados, levantou a âncora de sua chalana e rumou para o Sul, subindo o rio, em direção ao seu Santuário. Já passava pela sua mente o que havia acontecido. Examinando as imagens que lhe ocorriam, Mago Natu olhou na direção do portal do seu Santuário. Apesar da noite sem luar, um clarão e uma coluna de fumaça se faziam notar no centro da propriedade, bem no rumo do Campo Santo, local de acesso proibido aos profanos e visitado uma única vez por ano, na consagração dos iniciados para receberem a colação do GRAU, nas cerimônias de conclusão dos períodos probatórios de iniciação. Bem que eu deveria ter vindo antes. Sinto que pouca coisa me resta fazer. – falou o Mago consigo. Atracou sua pequena chalana na árvore de Andiroba, subiu a rampa até os dois Paus-D’Arco e estranhou não ter sido recebido pelos dois cães guardiães, Philos e Sophos. Algo muito ruim está acontecendo – pensou o Mago. Continuou pela Senda da Iniciação, de cabeça baixa, olhando o emaranhado dos rastros sulcados na areia, atento ao piado soturno das aves agourentas e ao esvoaçar desordenado de corujas e urutaus. Pelo menos duas pessoas invadiram seus domínios sagrados. Seu coração já pressentira o desastre. Bruxo Neno e a Sacerdotisa das Sombras passaram por aqui. Oxalá não tenham mexido nas minhas mandrágoras. Quanto mais se aproximava do clarão, melhor enxergava a coluna de fumo que se elevava, exatamente no local do Altar de Libações e Purificação. Maior sacrilégio não poderia ter sido cometido. Um cheiro forte de carne chamuscada recendia em derredor. Mago Natu apressou o passo. Ninguém mais se movimentava pelo local. Antes de certificar-se de que era mesmo um corpo de animal que ardia na pira de purificação, um ímpeto o fez dirigir-se ao canteiro secreto, onde há três anos plantara três mandrágoras, com as quais o Grande Rei lhe presenteara. Não estavam mais no lugar. Alguém as retirara dali. — Oh, que insensatez! — proclamou em voz alta —. Fizeram-se vítimas da própria vingança! Sem perturbar-se, Mago Natu se aproximou do Altar de Libações e constatou que o sacrifício ali oferecido não se tratava de uma oferenda, mas de um ritual crematório. Não havia mais como reconhecer o cadáver. Estava patente que se tratava da Feiticeira Zuzu, pelas vestes abandonadas de propósito no chão, ao lado da pira. A exemplo de sua mãe, a incauta feiticeira também morrera na hora em que se aventurou a colher as mandrágoras. Os dois cães mortos do outro lado do canteiro também certificavam o desastre. — Agora está consumado. Bruxo Neno usou a própria mãe para conseguir as mandrágoras. O que será que vai fazer com elas? — perguntou a si mesmo, e respondeu — O pior ainda não aconteceu. Conformado com a profanação sacrílega de seu Santuário, Mago Natu esperou que as chamas consumissem os restos do corpo e iniciou uma breve e solitária cerimônia de limpeza e purificação do local. Não intencionava questionar Bruxo Neno sobre o que havia feito, tampouco exigir explicações para tomar de volta suas três mandrágoras. Pelo que conhecia do bruxo e de suas artimanhas, alguma feitiçaria estaria a caminho, para exibir poderes, eliminar desafetos ou ganhar fácil moedas de ouro. Concluídos os procedimentos, Mago Natu firmou propósito de manter sigilo sobre o que descobrira para que Bruxo Neno não modificasse seus planos, nem voltasse sua carga de ódio e vingança contra os dois príncipes gêmeos recém-nascidos, agora que detinha três mandrágoras em seu poder. A grande estrela da alva se apresentou no zênite, sinalizando ao Mago que deveria voltar ao Palácio Fortaleza. Descendo o rio o mais rápido que podia, chegou ao porto e manobrou sua embarcação diretamente no canal que ligava o cais ao pátio interno do palácio. Discretamente, subiu as escadarias e dirigiu-se à Câmara do GRAU. Rei Médium já estava lá. — Acordastes cedo, Nobre Imperador! Saúdo-vos em nome da Paz! — Na verdade, Mago Natu, nem consegui dormir. Fui aos aposentos da Rainha ontem à noite para vê-la e aos meus filhos. Aproveitei para visitar a Rainha Tranha também. — E então, o que vos tirou o sono? — Rainha Tranha parece estar despertando. Não abriu os olhos, mas falou coisas que me impressionaram, depois calou-se, mergulhando novamente em sono profundo. — Que disse ela de tão impressionante? Podeis me contar? — Sim. Parecia que estava a profetizar algo. Lembro-me de algumas coisas, meio desconexas, ouvi: “Antes que a Estrela da Alva surja no horizonte, um corpo arderá em chamas, profanando o território sagrado. Três plantas mágicas serão usadas para causar grande infortúnio e alguns encantamentos. Nem tudo será desfeito, até o dia em que descobrirem onde o Rei Albe enterrou seu tesouro de esmeraldas”. — É vidente, é vidente! Rainha Tranha é vidente! — Então, o que me dizeis? — Que não está dormindo... Ela está em estado de transe. — Será que vai despertar? Como lhe contaremos sobre o marido? — Ela não lembrará mais nada do passado. Será para sempre uma pessoa Ex-Tranha. Não vos preocupeis com ela. Vamos abrir a caixa de prata.
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Em tempo de resiliência, tudo fica mais potencializado. Dependendo da vibração alcançada. Quem sabe preferida? Ano eleitoral, tudo fica meio instável, porém, tudo depende da direção que damos para o olhar. Mesmo com tantas funções, ainda encontramos tempo para empreender em mais qualidade di vida para a comunidade que vivemos. Conseguimos uma estrutura para montar um CENTRO DE CULTURA AMBIENTAL. Agora só falta começar os trabalhos de recuperação das partes danificadas pelo desuso. A Escola Municipal Primavera, no PA Quilombo está à disposição para o Projeto OCA em parceria com a APAQ - Associação do PA(Projeto Assentamento) Quilombo - Lago do Manso - Chapada dos Guimarães-MT
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A CORRIDA NUMPESSÓ Em menos de uma hora, a cidade do Elo Dourado experimentava um rebuliço de cavaleiros, carruagens, embarcações de todos os tamanhos e modelos só comparável ao registrado durante as festividades do casamento do Rei Médium com a Rainha Gônia. Os preparativos para a grande corrida Numpessó estavam concluídos, e a Professora Plínia acertava com o Imperador pormenores para garantir que a entrega dos prêmios ao primeiro e segundo colocados obedecesse ao ritual proposto pelo Mago Natu. Acercando-se de cuidados para que a tragédia provocada pela interferência do Bruxo Neno não se repetisse, evitando que outros príncipes pudessem ser atingidos por feitiços recorrentes e influências mágicas irreversíveis, o Imperador ordenou que seus guardas vasculhassem a cidade do portal norte ao sul, de um lado a outro do cais do porto, à procura de suspeitos desordeiros e do próprio bruxo, que não fora visto naquele dia circulando no meio dos convidados, mas sabia-se que estava no Elo Dourado. Outra presença não menos preocupante, o Conde Rasku, exigia do Imperador tanto maior de atenção, ainda mais que pesava sobre ele a desconfiança de ter liderado o bando que invadira a chácara do Senhor Frutuoso, quase o matando, na tentativa de extorquir-lhe o anel sem dono. Todavia o Conde Rasku se mantinha distante, algo taciturno, evitando contatos demorados com os outros nobres, esquivando-se dos possíveis questionamentos sobre o medonho e trágico desfecho de seu efêmero casamento, rematado em escândalo, com o saldo extraordinário da mulher encantada em fera, ele próprio amaldiçoado todas as sextas-feiras de lua cheia num lobo horripilante e sanguinário e o Bruxo Neno declarado seu inimigo figadal. Tanto Bruxo Neno quanto Conde Rasku temiam se encontrar, pois haveria, decerto, luta entre eles. Rei Médium foi pessoalmente certificar-se nas baias de que o único exemplar de corcéis que nascera negro, na noite de seu casamento, estava convenientemente arreado e ornamentado para o grande evento. Encontrou o animal bem escovado, crinas trançadas à moda exclusiva dos cocheiros do Elo Dourado, cascos tratados com tintura de jenipapo e óleo de mamona, reluzentes como uma pedra ônix. Admirado com a visão do garboso corcel, ouviu do cavalariço a seguinte ressalva: — Senhor Imperador, Tição não está completamente dócil ainda. Fizemos o possível para domá-lo, mas sua natureza intrépida custa a se modificar. Ele é diferente em tudo por tudo dos outros cavalos do vosso haras. O Imperador aproximou-se do exuberante corcel negro, de crinas longas e lustrosas, carinhosamente o afagou e disse baixinho à orelha: — Comporte-se como um nobre! À hora prevista, toda a população do Elo Dourado, incluso mulheres e crianças, além das centenas de convidados, aglomeravam-se nos dois lados da pista de Numpessó, procurando melhores lugares para apreciar o certame. Mais de cinquenta corredores inscritos, usando roupas muito coloridas e apropriadas, colocaram-se a postos. Na primeira fileira, Príncipe Niko, avesso a qualquer tipo de discrição ou modéstia, acenava aos pais, agitando com veemência a bandeira de seu reinado, gritando refrãos que faziam eco entre os conterrâneos e súditos do Rei Pindaíba. A Rainha Tapera, exibindo pesadas joias, não menos entusiasmada e confiante na superioridade do filho, empoleirou-se sobre um grosso galho de árvore, para alcançar maior amplitude de visão. Queria prestar atenção em todos os passos dos corredores, para que não passassem a perna no favoritismo do filho. Ao descobrir o propósito, Rainha Teci, a generosa mulher do sensato Rei Abas, dirigiu-lhe uma provocação: — Não se preocupe, Tapera! O maior rival do seu filho só tem uma perna! Nem querendo poderia passar a perna no Príncipe Niko e continuar de pé! Fique calma. — É certo que ele tem uma perna, mas em compensação, tem duas mãos, minha amiga! Se quiser empurrar o Príncipe Niko para derrubá-lo... — Aposto que Sacipe Ererê não precisará disso. — É o que veremos! Ao soar das trombetas, os corredores se concentraram, atentos ao sinal da largada, marcado pelo tinir de um grande sino de bronze. Enquanto os outros concorrentes buscavam as posições dianteiras para facilitar a saída, empurrando-se e conquistando à força os melhores espaços, Sacipe Ererê, humildemente, distanciou-se da aglomeração, postando-se atrás de todos. Rei Abas ficou apreensivo com o posicionamento do seu favorito, mas, confiante na preeminência e na humildade do garoto, não lhe fez qualquer tipo de recomendação. Rei Pindaíba exultou ao identificar o menino negro de uma perna só, lá atrás, na última fileira, cedendo a dianteira, sem resistência ao seu protegido e valoroso filho. Quando o tinido estridente do bronze ecoou, o coração dos espectadores bateu mais forte. Em menos de meio minuto, Sacipe Ererê emparelhara com o rival mais poderoso e prosseguiu acompanhando-o paralelamente, poupando, assim, energia e desempenho para os quinhentos metros finais da reta de chegada. Nos primeiros mil metros da corrida, a companhia constante de Sacipe Ererê ao seu lado, aparentando tranquilidade e pouco esforço, não tardaria a deixar o soberbo Príncipe Niko desarmonizado. Não se contendo, forte desejo de vingança o envolveu e, irado, atirou-se de um pulo à frente de Sacipe Ererê no intuito de atropelá-lo, jogá-lo ao chão para desclassificá-lo. Muito mais ágil, Sacipe Ererê elegantemente esquivou-se do adversário resvalando para a lateral, adiantando-se de maneira inacreditável. Abrindo metros e metros de vantagem, deixou o rival para trás, definitivamente, assim como todos os outros corredores. Chegou ao final do trajeto em tempo nunca antes registrado, causando notório rebuliço. Ovacionado calorosamente, foi carregado entusiasticamente pelos torcedores e apostadores. Longamente aplaudido, sem demonstrar sintomas de fadiga ou exaustão, mantinha-se saltitante, esperando pelo segundo colocado e os demais, plantando bananeiras, dando cambalhotas e divertindo a assistência à mercê de sua simplicidade e simpatia. Minutos depois, quando viu o Príncipe Niko se aproximando, foi-lhe ao encontro e, num gesto de pura cordialidade, veio pulando ao seu lado, deixando o rival enfurecido com tal atitude, tomada por deboche e humilhação. O segundo colocado, bufando e babando de cansaço, completado o trajeto, caiu no chão, estirando-se, esgotado. Sempre saltitante, Sacipe Ererê, num gesto de amizade, estendeu-lhe a mão. O insolente Príncipe Niko não só recusou a gentileza como também lhe cuspiu no rosto, xingando-o de “molambo fedorento!”. O jovem negro limpou a cusparada do rosto, sem zangar-se, abraçou o príncipe e disse-lhe ao ouvido: — Com um pé, “Tição” ganhei! Hahahahahaha! – Referindo-se ao cobiçado corcel negro, ricamente arreado, que receberia pela conquista, juntamente com outros prêmios. Debulhado em lágrimas e quase sem fôlego, fragorosamente derrotado, o Príncipe Niko se lamentava, choramingando, revoltado: — Com um pé, Tição ganhou... Com dois pés, Tição perdi! Assim, não é possível! Assim não pode ser! Afastando os fãs que se aglomeravam para abraçar o novo ídolo da corrida Numpessó, Mago Natu abriu passagem e disse com voz resoluta: — Receba teu prêmio de pé, Niko! Reunindo suas últimas energias, o derrotado e extenuado corredor levantou-se e, decepcionado, recebeu do Mago Natu uma terrina de prata, com alça lateral, muito ornamentada e bem polida. Infeliz com a má sorte, para afrontar o vencedor, escandalizar a assistência e vingar-se do Mago Natu pela insignificância do prêmio, se comparado ao do primeiro lugar, Príncipe Niko abriu a braguilha das ceroulas, despudoradamente, urinando dentro do objeto. Sacipe Ererê, muito ágil e feliz, já se apoderara do cobiçado corcel negro, “Tição”, montando-se com aprumo e graça, exibindo seu melhor sorriso, vestindo a carapuça vermelha encantada, exibindo a incomparável taça de ouro na mão direita e o coruscante anel mágico no dedo indicador. No instante em que o Mago Natu pronunciava em seu ouvido as palavras mágicas para que o gorro vermelho o fizesse invisível e o anel de brilhante o tornasse imortal, Príncipe Niko arremessou a malga de prata cheia de urina sobre Sacipe Ererê. Instalou-se um enorme rebuliço. O indomável corcel negro, Tição, assustou-se, desabalou pelos fundos do terreno, com o campeão Saci já invisível em seu dorso, sem antes ter ouvido do Mago Natu as palavras que deveria pronunciar para voltar ao estado natural. O cavalo indomável relinchou assustadoramente e, em poucos segundos, desapareceu numa enorme nuvem de poeira amarelada, levantada pelo tropear incontrolado e estrepitoso do garanhão selvagem. Em meio à enorme confusão estabelecida, um dos guardas reais, não suportando a audácia e o atrevimento do príncipe – que continuava furioso, exibindo sua genitália, afrontando desavergonhadamente a presença de recatadas rainhas e princesas pudicas – empunhando a espada deu-lhe um golpe certeiro, decepando o membro, com precisão cirúrgica. Horrorizadas com a cena e seu imprevisível desfecho, mulheres e moçoilas afastaram-se de imediato, deixando por conta de quem quisesse socorrer o atrevido. No afã de acudir o vitimado, os reis que haviam apostado em Sacipe Ererê voltaram as atenções para o Príncipe Niko, que sangrava agonizando, despercebendo-se que o próprio pai já não estava entre eles. Sentindo que o momento era mais que propício para fugir sem ser notado, poupando-se de honrar o compromisso que o levaria à ruína, Rei Pindaíba, desesperado com o prejuízo e pouco se importando com a aflição do filho, esgueirou-se pelos fundos do palácio, aproveitando o tumulto das mulheres que fugiam assustadas, pegou sorrateiramente seus baús de moedas de ouro, embarcou-os numa pequena canoa de pescadores e desceu pelo rio Aguaporé, enquanto a Rainha Tapera e sua outra filha, a Princesa Arraia, em total descontrole, berravam pelo marido e pai, agarradas ao filho e irmão irreversivelmente moribundo. Momentos depois, à notícia de que o Príncipe Niko morrera de esgotamento, juntou-se outra igualmente trágica: alguns pescadores que subiam o rio testemunharam que a velha canoa escolhida às pressas pelo Rei Pindaíba, para fugir e eximir-se do pagamento de sua dívida, estava furada e se afundou na curva do caudaloso rio, com todo o seu carregamento de ouro, antes que pudessem socorrê-lo. Rei Médium, aflito com os resultados da Corrida Numpessó, buscou a companhia do Mago Natu, para que o aconselhasse sobre o que fazer. Tinha três problemas a solucionar: sepultar o Príncipe Niko e o Rei Pindaíba, punir o guarda assassino e recuperar o naufragado carregamento de moedas de ouro, para honrar o pagamento das apostas contraídas pelo Rei Pindaíba com o Rei Inci, Rei Mende e Rei Abas. Depois de expor suas preocupações, Rei Médium ouviu ainda a advertência: — Além disso, meu nobre amigo, tereis de amparar a Rainha Tapera e sua outra filha, a venenosa e enfurecida Princesa Arraia – lembrou Mago Natu. — Não me escusarei disto, Mago Natu, mesmo que precise mergulhar para recuperar o tesouro de Pindaíba! — Não vos aflijais com esta parte... esta tarefa está destinada a outra pessoa! – concluiu, sorrindo. — Quem poderá executá-la por mim? — Rei Manso, nosso melhor mergulhador.
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QUARTO DIA – A CAIXA DA COMPETIÇÃO Feliz com o desfecho da história do anel sem dono, o Imperador chegou mais cedo à Câmara do GRAU, no quarto dia, para abrir a caixa de cobre. Das três caixas já abertas, pelo menos uma trouxera resultado feliz. Reencontrar o anel do Senhor Frutuoso foi, sem dúvida, o melhor acontecimento daqueles dias. Todavia, não foi suficiente para afastar a apreensão que o Imperador sentiria no momento da abertura da próxima caixa. Com gestos calmos, respirando profundamente, pensando no Mago Natu, girou a chave de cobre, atada à fitinha verde. Ouviu o clique idêntico ao das outras que já havia aberto. Ao levantar cuidadosamente a tampa da caixa de cobre, a porta da Câmara do GRAU se abriu simultaneamente: — Bom dia, Senhor Imperador! Pensando que eu não viria? — Certamente, Mago Natu. Julguei que iria vos encontrar aqui. — Então, o que temos para hoje? O que vos diz a caixa de cobre? — Sinceramente, estou receoso de olhar. Espero que tenhamos melhor sorte do que nos dias anteriores, ou pelo mínimo, que seja igual a ontem. — Vejamos, Senhor Imperador. Mago Natu removeu lentamente a cobertura de seda púrpura sobre o Espelho Universal. Rei Médium, mais tranquilo, retirou a caixa de bronze que estava dentro da caixa de cobre, constatando que se diferenciava das outras já abertas apenas pelo tamanho e pelo metal. Todavia, o movimento que se projetava no espelho obedecia ao mesmo ritmo dos anteriores. Assim que a caixa fechada era deixada sobre o aparador, ao lado da caixa aberta, projetavam-se no misterioso espelho imagens que aludiam às tarefas específicas a se cumprir durante aquele dia. Buscando compreender qual seria a próxima empreitada, Rei Médium manifestou-se: — Ao que me parece, teremos hoje a Corrida Numpessó?! — Exatamente, nobre amigo. Procuremos os melhores corredores entre os que nos visitam para que nos proporcionem uma tarde de boa diversão e lazer. — Que tal convidarmos o rapazito negro, que veio do Reinado de Eirunepé? — Sim, o Sacipe Ererê, aquele que tem uma perna só? — Esse mesmo! Será um adversário à altura para concorrer com o Príncipe Niko e bater suas marcas. Em menos de uma hora, Professora Plínia arregimentou os interessados na Corrida Numpessó. Por se tratar de uma prática esportiva muito apreciada no Reino do Elo Dourado, a população se movimentava com estardalhaço, delimitando o percurso com fitas coloridas e apostando palpites: uns no favoritismo ao Príncipe Niko, outros na invencibilidade presumível de Sacipe Ererê. Representando diversos reinados, muitos se inscreveram interessados nos prêmios anunciados. Ao vencedor seria entregue uma grande taça de ouro, cravejada de brilhantes, um garboso corcel, o único exemplar negro da criação de corcéis brancos do Rei Médium, um maravilhoso anel mágico e uma carapuça vermelha encantada. O anel daria ao usuário poderes de imortalidade; e o gorro vermelho, a magia da invisibilidade. O pai do Príncipe Niko, Rei Pindaíba, alardeava e exaltava as qualidades do filho, já antecipando e cantando sua vitória, baseado nas experiências anteriores, lembrando principalmente de seu derradeiro desempenho há três anos, durante a festa do casamento do Rei Médium. Acenando com propostas tentadoras, desafiava e incitava os outros reis a apostar o peso corporal de seus candidatos contra o peso de seu filho em ouro, julgando não haver corredores mais ágeis ou mais resistentes, capazes de obscurecer o brilho e o talento do Príncipe Niko, pois que, nesta corrida, os dois outrora concorrentes mais fortes, Príncipe Pintado e Príncipe Surubim, estavam fora, já que continuavam encantados em peixes, desde a corrida passada. Rei Buriti ouvia, circunspecto, a fanfarronice do Rei Pindaíba e o advertia: — Meu amigo, não menosprezeis adversários desconhecidos, nem aparentemente mais fracos. Temos muito sangue novo para esta corrida. Cuideis do vosso ouro com mais temperança e moderação! — Ora, vejam só, quem está a me dar lições de prudência e economia! Não aceitais meu desafio por que não tendes o peso do vosso filho em ouro para me pagar? — Não cuido disso, Rei Pindaíba. Se tivesse que apostar, não apostaria no meu próprio filho nessa corrida. Pagaria o peso em ouro apostando no menino Sacipe Ererê. Naquele sim, sou capaz de aceitar vosso desafio! — Então, negócio fechado! Vamos ver o peso do magricela Sacipe Ererê! Se vós perderes, quero só o peso do Sacipe Ererê. Se eu perder, pagarei o peso do meu filho Niko. Com o testemunho de alguns expectantes simpáticos às molecagens do endiabrado Sacipe Ererê, saíram à sua procura para levá-lo à balança e ver o peso. Sabendo que era motivo de apostas, o moleque Sacipe Ererê não se fez de rogado. Sentou-se no grande prato de um lado da avantajada balança, enquanto o Rei Pindaíba ia enchendo o outro com suas moedas de ouro. Quando os pratos se nivelaram, abarrotaram com as patacas de ouro um baú de madeira marchetada, cunhadas pelo irmão da mulher do Rei Pindaíba, Rainha Tapera, artífice oficial da prata e do ouro daquele reinado, conhecido pelo codinome de Cunhador. Sacipe Ererê não imaginava que seu peso estava cotado ao equivalente a cinquenta quilos em moedas de ouro, contra os setenta do atlético Príncipe Niko. Alegre e peralta, continuava saltitante com sua única perna, fazendo caretas impagáveis, esbugalhando os olhos, assobiando, mostrando a língua, ostentando duas fileiras de irrepreensíveis dentes brancos. Exibindo gratuitamente suas excêntricas habilidades motoras, a despeito da desigualdade física, prometeu ao Rei Buriti, dando cambalhotas arrematadas de piruetas acrobáticas, divertindo muito os espectadores, fazer “bonito e o impossível” para ganhar a corrida, recompensando-o pela confiança e crédito, com qualquer um dos quatro prêmios que viesse a receber. Rei Buriti gostou da proposta porque tinha especial interesse, não no anel mágico, nem no gorro vermelho encantado, nem na taça de ouro, mas no corcel negro da maravilhosa criação do Rei Médium. O Príncipe Niko, conhecedor de que seu maior concorrente seria o moleque negro de uma perna só, gargalhava da insuficiência física do adversário e incentivava o pai a arriscar mais apostas, tamanha autoconfiança e segurança de vencer o certame e conquistar os prêmios da imortalidade e da fama que tanto almejava. Rei Pindaíba refez cálculos, repesou suas reservas, projetando quadruplicar sem qualquer esforço, apenas num lance de sorte, a quantidade de ouro que trazia consigo. Tanto mais exaltado do que todos os outros reis, anunciou orgulhoso e falastrão: — Desafio a quem mais ousar lançar apostas no Príncipe Niko: seus setenta quilos de ouro bem pesados, contra os magricelos cinquenta do moleque perneta! Quem se atreve? — Eu aposto – disse Rei Inci. — Dobro a oferta – retrucou Rei Mende. — Triplico o páreo – arrematou Rei Abas. O único rei que ficou de fora da disputa foi Rei Manso, porque não se recuperara ainda do episódio da caçada em que sua mulher, a Rainha Tranha, gestara em três dias uma criatura que recebera a denominação Ex-Tranha de Kurupirá. Rei Manso preferia se manter distante dos outros movimentos depois que retornara da floresta onde soltou a Criatura ex-Tranha. Observou de longe a empáfia do Rei Pindaíba, desaprovando-o intimamente, pensando consigo: “Há de ser esta a oportunidade de dar-lhe uma boa lição de humildade!”, esquivando-se da aglomeração. Feitas as contas, ao final, havia seiscentos quilos de moedas de ouro depositados em favor de Sacipe Ererê contra oitocentos e quarenta quilos de reluzentes moedas douradas produzidas pelo Cunhador, porfiados pelo Rei Pindaíba. O pai do Príncipe Niko, lançando à sorte todo seu carregamento de moedas de ouro, apostara tudo que possuía numa só parada.
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VOLTANDO A MEMÓRIA Os olhos do Senhor Frutuoso brilharam de alegria e se encheram de comovidas lágrimas, quando a guarda real se apresentou para escoltá-lo até sua antiga propriedade, abandonada e nunca mais pisada por ele, desde o fatídico sinistro. Confiante de que teria, finalmente, a oportunidade de se lembrar com clareza do que acontecera. Montou um garboso corcel, ricamente arreado, cedido pela generosidade do Rei Médium, com a intenção de proporcionar momentos de emocionantes lembranças. Muitos dos participantes do torneio da coleta de frutos e frutas não sabiam ainda o que sucedera ao Senhor Frutuoso. Ignoravam completamente que ele portava um valioso anel de brilhante, deixado entre as frutas de seu comércio que, de tão bem guardado, ficou esquecido por ele mesmo entre os seus pertences. Naquele dia, porque o Rei Médium e o Senhor Regente contaram cada um a parte que conheciam sobre o episódio do misterioso anel, cujo dono até aquela data não se apresentara, a maioria dos convidados ficou sabendo. O Imperador há tempos suspeitava de que o Conde Rasku tivesse participado daquele crime, mas como ninguém conseguira provar e o Mago Natu não revelara quem seriam e de onde vieram os seis malfeitores, o caso permanecia em sigilo. O assunto do anel misterioso ganhou destaque em todos os salões e corredores do Palácio Fortaleza. Versões diferentes se ouviam e falavam, algumas dando conta de que o anel sem dono era uma invenção do Senhor Frutuoso para angariar a simpatia e chamar a atenção do Imperador. Os que não tinham motivos para duvidar do segredo que o chacareiro confiara ao rei, cogitavam quão surpreendentes são alguns acontecimentos que escapam à vã compreensão das pessoas comuns, atribuindo a propriedade de tão preciosa joia a ninguém menos que o Grande Rei que, provavelmente, o deixara de propósito na caixa de frutas. Momentos antes de permitir que o Senhor Frutuoso voltasse a sua chácara, Mago Natu o interpelou: — Meu bom amigo, fui à baía, onde deixei meu anel? Surpreso com a indagação, porque aquela era a parte da senha que ele mesmo deveria interpelar ao verdadeiro pretendente do anel, respondeu: — Essa pergunta eu mesmo teria que vos fazer!? — Então, eu mesmo lhe darei a resposta: “deixei com as cascas das frutas na caixa de pregos!”. Vá e encontrareis o anel. Poucas horas mais tarde, o Senhor Frutuoso retornou ao Palácio, escoltado pela guarda real, exibindo muita alegria e felicidade, sentimentos que não o visitavam desde o dia do sinistro. Pediu para se avistar com o Rei Médium. Ao entrar na Sala Real, numa reverência humilde e respeitosa, anunciou: — Senhor Imperador, meu amado rei, trago-vos a melhor notícia que poderia me felicitar. Regressei à chácara e, revolvendo entre os escombros, encontrei o anel no meio dos pregos e das ferramentas que o incêndio não destruiu. Ei-lo, intacto. Quero devolvê-lo ao legítimo dono. — Legítimo dono? Então encontrastes também o verdadeiro proprietário? — Sim, Senhor Imperador! Trata-se de ninguém menos que o Mago Natu. Afinal, ele tanto disse a minha parte da senha, quanto a dele próprio! — Humm, Mago Natu e suas surpreendentes lições. Precisastes perder tudo quanto tinhas para reencontrar teu verdadeiro tesouro. Vamos entregá-lo ao Senhor do Anel, então! Mago Natu, de posse do anel, examinou, olhando-o fixamente. À medida que o fitava, a joia irradiava um brilho fulgurante, transcendente, jamais produzido noutro objeto semelhante. Cada vez mais o anel jorrava um esplendor coruscante, iluminando o rosto do mago até que ele, num processo presenciado somente pelo rei e pelo Senhor Frutuoso, pronunciou três palavras compassadas e incompreensíveis. O anel retomou seu estado anterior, emitindo apenas seu brilho normal. Entregando-o ao Rei Médium, pediu que passasse o misterioso anel como prêmio ao vencedor do evento programado para a abertura da quarta caixa de cobre, na manhã seguinte. Rei Médium aceitou a oferta, tomou para si o anel e, como galardão à honestidade e fidelidade do Senhor Frutuoso, recompensou-o com uma grande quantidade de ouro, equivalente ao valor do brilhante do anel, para que pudesse novamente restaurar sua chácara, retornando ao seu especial comércio de frutas. Mago Natu explicou também: — Este anel, de agora em diante, dará ao seu portador o dom da imortalidade, tão logo o coloque no dedo, desde que pronuncie as palavras necessárias que ouvirá de mim, na hora certa.
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O Projeto OCA Terravila Glocal em parceria com a APAQ - Associação do PA Quilombo, começo a receber o material para a construção do Teatro Urucumacuã - O primeiro material a chegar o foi um caminhão de pneus que estão depositados no galpão da APAQ. Espaço cedido para armazenar o material ao abrigo das intempéries, evitando assim a proliferação de mosquitos e outros insetos.
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Tenho me empenhado na lida diária da organização. Aos poucos a coisa vai tomando forma. Estou aproveitando o curral para o plantio dos capins: Vetiver, Capim Limão e Citronela.
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O SENHOR DO ANEL SEM LEMBRANÇA Terminadas as movimentações das festas do casamento, logo depois que os convidados do Rei Médium e da Rainha Gônia regressaram, deixando o reinado mergulhar em sua rotina de quietude e paz, o Imperador recebeu a primeira visita de um súdito em palácio: o Senhor Frutuoso. Embora aparentasse semblante tranquilo e alegre, não passou despercebido ao rei que algo o inquietava. — O que o aflige, Senhor Frutuoso? — Senhor Imperador, encontrei um precioso objeto entre as caixas de frutas do meu comércio. — Do que se trata? — Ei-lo. Não sei avaliar o exato valor, mas acredito que se trata de objeto muito precioso. É provável que pertença a algum dos nobres que estiveram por aqui, durante o vosso casamento e passaram pela minha frutaria. Algum deles reclamou convosco a perda de algo? — Não que me dissessem, Senhor Frutuoso. O que pretendeis fazer? — Quero entregar-vos este anel, pois quem o perdeu, certamente virá reclamá-lo convosco! — Senhor Frutuoso, Rainha Gônia e eu estamos nos preparando para uma longa viagem. Passaremos uma temporada no Reino da Madeira, e o reinado do Elo Dourado ficará sob a responsabilidade do Senhor Regente. Não convém que outros saibam que esta joia tão preciosa está com o Senhor Regente à espera do dono. Poderão surgir interesseiros e oportunistas capazes de tudo para consegui-la. Portanto, sois vós a pessoa que deverá ficar com ela, até que o legítimo dono a procure. Evite falar a qualquer que seja sobre a posse deste objeto. Eu mesmo farei discretamente algumas investigações. Se descobrir quem é o verdadeiro dono, mandarei buscá-lo consigo, que o entregarás mediante uma senha. — Já podeis me revelar qual a senha? — Sim, perguntareis a quem se apresentar reclamando a posse do anel: “Fui à baía, onde deixei meu anel?”. — O que a pessoa deverá me responder? — Deixei com as cascas, na caixa de pregos! — Humm, parece uma boa senha: “Deixei com as cascas na caixa de pregos!”. Algumas luas se passaram e ninguém veio à casa do Senhor Frutuoso reclamar a posse do valioso anel de brilhante. Temendo deixá-lo em local muito fácil de encontrar, cuidou de guardá-lo no sótão de sua casa, no falso fundo de uma caixa de pregos e ferramentas. Passado algum tempo, o Senhor Frutuoso, ocupado com o cultivo de suas fruteiras e hortaliças, absorvido totalmente pelas atividades de seu bem frequentado comércio, esqueceu-se completamente do precioso objeto que mantinha sob sua guarda. Passara-se mais de ano que Rei Médium e Rainha Gônia viajaram para o Reino da Madeira. Chegaram notícias recentes trazidas pelos mensageiros reais, dando conta de que o preceptor da Imperatriz quando jovem rainha do Madeira, o Senhor Gaio, havia se encantado numa ave faladora de plumagem verde brilhante, o que deveria prolongar ainda mais a estadia do casal real na sede daquele reinado. Só voltariam quando encontrassem outro regente para gerir finanças, manter a ordem e estabelecer a justiça no reinado, nos moldes de como era feito no Elo Dourado. No Elo Dourado, o período era de paz e progresso. Um competente conselheiro regente administrava os negócios na ausência do casal imperial, até que uma notícia desagradável chegou ao palácio, trazida por um camponês vizinho de propriedade do Senhor Frutuoso. Muito assustado e aflito, veio em visita ao conselheiro real com a novidade terrível: — Senhor, a chácara do Senhor Frutuoso foi invadida ontem à noite por malfeitores. Atearam fogo à residência dele. Nós vimos o clarão e a fumaceira. Meu filho e eu saímos para prestar socorro. Encontramos o Senhor Frutuoso desmaiado, muito ferido, amarrado ao tronco de uma grande fruteira! — Oh, céus, que barbárie, já sabem quem foram os malfeitores? – indagou o conselheiro real. — Não fazemos ideia. – ressaltou o camponês. — Como está o Senhor Frutuoso? — Nós o trouxemos e internamos na Casa da Saúde. Ele estava ainda em estado de choque, mas aos poucos vem recobrando os sentidos. Logo, logo esperamos que se recorde do que aconteceu. Queimaram-se todos os seus bens. Da casa só restaram escombros. — Hoje ainda irei visitá-lo. Assim que o Rei Médium e a Rainha Gônia chegarem tomaremos as providências que o caso requer. Até lá, depois que estiver sarado, o Senhor Frutuoso poderá morar na ala dos hóspedes deste palácio. — Fico imensamente grato por ele, Senhor Regente! — Cumpro apenas meu dever, amigo. A propósito, tem ideia, ou o Senhor Frutuoso falou algo que possa nos dar pistas para descobrir quem foi ou quem foram os malfeitores? — Sim, Senhor Regente. Disse-nos que eram seis elementos. Dois o seguraram e amarraram à árvore, dois o açoitaram e dois atearam fogo à propriedade. Depois, fugiram montados em cavalos negros e alazões. — Humm, menos-mal. Não são súditos deste reinado. Devem ser forasteiros, desordeiros vindos de Avilhanas, Trindade, ou de outros reinados onde se criam cavalos negros e alazões. Nenhum deles foi reconhecido? — Usavam túnicas idênticas e estavam encapuzados, Senhor Regente! — Aguardemos o Senhor Frutuoso lembrar detalhes para começar investigações. De qualquer forma, designarei sentinelas a vigiarem os portais deste reinado. — No que puder, podeis contar comigo. Já andei olhando pela cidade e vi cavaleiros desconhecidos montando zainos, baios e alazões. Não tenho certeza, mas dentre eles, identifiquei o Conde Rasku. — Conde Rasku? Humm, precisamos investigar... Não sabia que Rasku estava no Elo Dourado. Por que não anunciou sua vinda, nem veio ao Palácio se hospedar? Preciso me informar sobre o que está acontecendo. As exatas razões do atentado, o Senhor Frutuoso levou tempo para recordar. Ainda que precisasse se lembrar de tudo para auxiliar no deslinde do caso, sua memória não trazia elementos que acrescentassem informações relevantes. Reforçava, quando indagado sobre o sinistro, que não possuía desafetos, nunca tivera inimigos, nem credores, nem devedores, o que ninguém contradizia. Sempre fora um homem honrado e honesto. Exemplo de bom súdito e cidadão. Por essas e outras razões, mereceu o direito de residir na ala de hóspedes do Palácio Fortaleza, vivendo às expensas do tesouro real. ocaterravilaglocal
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VIDA, VIDA, VIDA... Mãe de tudo e de todos Mãe fiel ao Deus maior Nos ensina que a vida Mãe da mãe e mãe do pai Mãe do rico e do pobre Força que pode gerar Pelo amor se entrega Sem tréguas pode ensinar Aprende com a dor Da partida lá de dentro de seu rebento a rebentar Do teu colo, do teu ventre Para o forte frio do vento Ventania a carregar Para o amadurecimento Sua cria para amar. Antes ou depois do sofrimento Retornar ao sentimento Do momento da partida Se todo barco tem liberdade Para ir e vir da lida Como não teria Para ficar por toda vida? Terra, Água, Fogo e Ar Como não comemorar? @brazzdyvinnuh [email protected] Chapada dos Guimarães–MT PA Quilombo -Lago do Manso - Brasil
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TEMPO AO TEMPO. Só assim para se aprimorar e então aprimorar seus feitos. Está feito e não é feitiço. Feito isso, é hora de perceber que tudo segue um fluxo natural. Por mais que se insista em apressar as coisas, o senhor tempo permanece inatingível. Senhor absoluto de tudo que no tempo existe. Se a vida rural é novidade para quem chega da cidade, imagine lidar com aquilo que parecia improvável? Essa experiência com o Vetiver está sendo uma aposta. Além do plantio para subsistência. EVOÉ!!!
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Após longa expectativa por experimentar, aplicar, o Vetiver no cerrado, finalmente, ontem e hoje pude fazer o plantio das mudas que chegaram da DEFLOR. A perda foi mínima, apesar da distância e do tempo ficado (sufocadas) no baú. Ainda não dá para ver com riqueza de detalhes, mas foi registrado.
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TERCEIRA CAIXA – DIA DE ABASTECER A proficiência da Professora Plínia resultara na completa organização de todos os detalhes e cautelas para garantir êxito aos participantes do grande convescote em busca de frutos silvestres. Cercadas de cuidados e recomendações, cada uma das equipes lideradas pelos reis tomaria direções opostas para coletar a maior quantidade possível de frutos. Quem apresentasse melhor desempenho trazendo, além de maiores quantidades, algum fruto ainda desconhecido, ganharia o troféu esculpido por Rei Kornio, em pedra jade e magnetizado pelo Mago Natu — a Kornio-cópia —, para que sempre gozasse vida de fartura e abundância. No entardecer, o alvoroço dos cães sinalizava o retorno dos colhedores de frutos. Búfalos, treinados na lida do transporte de cargas, vinham dispostos em juntas, vagarosos, mas ritmados sob o comando dos berrantes, lotados de cestos com cupuaçu, gabiroba, araticum, bocaiuva, araçás, grumixamas e bacuris. No final da comitiva, Rei Abas e Rainha Teci estavam em escancarada euforia: além da enorme quantidade de frutos que haviam coletado sozinhos, encontraram também uma espécie da casca verde, carnuda, com um grande caroço redondo, nem doce nem suculenta, de aroma discreto e macia, sem nome que a identificasse. Na hora da conferência, Rei Abas e Rainha Teci venceram dois quesitos da campanha – tanto coletaram a maior quantidade de frutos, quanto apresentaram uma variedade ainda desconhecida. Explicando ao Imperador o local onde haviam colhido aquela espécie incomum, Rei Abas revelou os detalhes de sua colheita abundante: — Rei Médium, separei-me do grupo, mais ou menos na direção da chácara onde residiu o Senhor Frutuoso. Fui ao mesmo local onde, no ano passado, um bando de malfeitores ateou fogo à casa e à propriedade. Tudo lá se encontra abandonado. Lembrei-me de que na época do vosso casamento foram presenteadas ao Senhor Frutuoso algumas sementes e caroços de espécies que ainda não havia nesta região, trazidas pelo Grande Rei, lá das distantes terras do Oriente. Encontrei, então, estes frutos, e minha mulher me pediu: “Abas, cate todas”. Assim, enchi todos estes cestos. Enquanto isso, minha mulher colheu outras frutas noutras árvores. Perguntei-lhe o que eram, ela me respondeu: “Parecem com os Goi, Abas!”. Assim, conseguimos esta grande quantidade de frutas. Feliz com o desempenho da tarefa do terceiro dia, Rei Médium anunciou o nome do vencedor do certame, declarando ainda que as frutas trazidas pelo rei Abas e sua mulher, Rainha Teci, seriam denominadas Abascate e Goiabas! Ao entregar ao Rei Abas o troféu de jade deixado de lembrança pelo Rei Kornio, o Imperador relembrou dos desventurados amigos, que àquela hora navegavam rumo às terras do outro lado do grande mar, para além das bandas onde alguns de seus antepassados, em tempos remotos, refugiaram-se, tão logo foram avisados da enorme catástrofe que submergiria a ilha em que habitavam. Ao receber a Kornio-cópia de jade, Rei Abas e Rainha Teci pediram ao Rei Médium que chamasse o Senhor Frutuoso e entregasse a ele aquele troféu, justificando: — Senhor Imperador, nós apenas tivemos a ideia de ir ao pomar onde o senhor Frutuoso residia, porque soubemos de seu infortúnio. Desde que a casa foi incendiada, ninguém mais voltou ao local, por isso tivemos a sorte de encontrar tantas frutas. Na verdade, ele é o legítimo merecedor deste troféu. — Bem lembrado, Rei Abas. Tragam aqui o Senhor Frutuoso. Feliz com a honraria, o Senhor Frutuoso, assim que recebeu o prêmio, pediu ao Imperador que o autorizasse a voltar a sua antiga chácara. Queria relembrar os tempos em que cultivara seu belo pomar. O Imperador autorizou e ainda ordenou que alguns guardas o acompanhassem, para garantir que não passasse por nenhum outro dissabor. Justificou o cuidado com seu súdito alegando que era questão de honra zelar pela integridade do Senhor Frutuoso, que sofrera um atentado há dois anos, quando uma quadrilha de malfeitores incendiou a propriedade, queimando sua moradia. Por pouco não o assassinaram para que entregasse uma preciosa e rara joia que havia encontrado dentro de uma caixa de frutas no seu comércio. Rei Abas e Rainha Teci não sabiam daquele episódio. Pediram ao Senhor Frutuoso que, se quisesse, contasse o que acontecera. Muito emocionado, começou a relatar o ocorrido a partir do dia em que encontrou um magnífico e incomparável anel de brilhantes.
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Quando migrei da sociedade urbana para a rural, não sabia que, possivelmente, faria isso para o resto da vida. Ou para toda a vida. Nem fazia a ideia de que o pandemônio da pandemia, daquele momento, pudesse ser positivo... Pandemia + mudança de governo. Liberdade vigiada para ousar. Se eu soubesse naque momento que minha ida para o mato era para não voltar novamente para a cidade, talvez eu tivesse desistido... Quem sabe até mesmo sido entubado por falta de bom senso. Escolhi viver da melhor maneira possível, em um lugar que me seduziu à primeira visita. Os desafios foram me fortalecendo e hoje os tenho como ponto de impulso para atingir os objetivos mais solidários que venho tendo. Tudo numa intensidade que não é para muitos. O artista e seus conflitos. A solitude prevalece. Terra, fogo, água, ar, eter...nidade. Acolher tudo que pode ser transformado em resultado. Trabalhar, viver a terra e plantar. Nutrir-se bem do que vem do chão que não é sujeira, mas pão. O Projeto OCA costura as várias vertentes do pensamento humano para se ter a possibilidade de ver um resultado que abraça sem restrições. Fazer arte sem receio, mas com cuidado. O projeto OCA acolhe aos entediados, incompreendidos, solitários, pensantes sem travas. Sem nada que constrange. O Projeto OCA hoje, lida com a diversidade cultural e ambiental de modo empático. Começar uma atividade e dar continuidade. Uma rede de ações pela regeneração.
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O terreno está pronto para receber, as mudas de vetiver que chegaram em Chapada dos Guimarães-MT
sob o resplendor da lua!
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Se perspectiva é avenida, em russo - sugere longa visão até o ponto fixo - Balé, música, arquitetura, a arte é quando vista de dentro para fora, essa cura do olhar. O ser passa a enxergar a natureza se relacionando com tudo. A Vida é isso. O ponto é bom. Acrescenta bônus. Mas não é tudo. E isso faz toda diferença. Esse ambiente virtual é prova disso. Por meio de um veículo de comunicação mais democrático, podemos nos aproximar de todos que buscam uma perspectiva que admite a vida como ponto principal. A Arte cabe em qualquer parte. Por isso que a Vida, essa dinâmica de sobreviver aos solavancos da carruagem, se torna mais suportável. Não fosse a arte, eu e a soberana Natureza com toda sua diversidade e "adversidades" não estaríamos tão íntimos. Aqui no interior do cerrado mato-grossense, reverenciando essa oportunidade que poucos têm. Mesmo sem a necessidade de posse de um título definitivo. Porque somos transitórios e muitas das vezes intransigentes em algumas instâncias do dia a dia. Quero parabenizar cada pessoa que além de estar nesta nave, é mais um ponto de ligação desse pensamento menos convencional. Que independente de qualquer coisa estamos buscando um presente mais consciente, para que viver tenha mais sentido.
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Nota: Na semana anterior foi "republicado, equivocadamente" o capítulo 7. Seria normalmente publicado na sexta-feira, provavelmente mudarei para sábado, devido conflito de atividades. Gratidão pela compreensão. A DESPEDIDA DE KORNIO E ÁLIA Rainha Gônia recebeu o marido e o Mago Natu alegremente, mas aflita. Queria saber por que Rei Kornio e Rainha Ália passaram pelo seu aposento para se despedir, dizendo que partiriam para muito distante, naquela madrugada, antes mesmo da celebração do ritual de apresentação e consagração dos gêmeos, contrariando a tradição do resguardo da Boa Esperança. A rainha quis saber: — O que está acontecendo com a Rainha Tranha? Por que foi isolada nos aposentos ao lado e não posso vê-la? A Senhora Natividade da Luz, desde a meia-noite estava cuidando de uma criatura parida pela Rainha Tranha. Não permitiu que a Imperatriz visse o rebento nem explicou como ela dera à luz sem ter ficado grávida os nove meses. Confidenciou com a Imperatriz que o menino nascido era diferente dos outros. Genuinamente uma criatura ex-Tranha! Mago Natu e o Imperador se olharam, sem respostas. Rei Médium temia contar a verdade à Rainha Gônia e lhe alterar a saúde, naquele delicado período. O mago, entretanto, não poderia omitir a verdade, ainda mais sabendo que a criatura ex-Tranha não ficaria oculta por muito tempo. Fazendo uma preleção tática, acalmou a Rainha Gônia e levou ao colo um dos gêmeos, admirando as diferenças de fisionomia: — Nascidos da mesma mãe, filhos do mesmo pai! Um, com os cabelos vermelhos como o fogo e olhos verdes como esmeraldas. Este é Urucumacuã. O outro, de olhos pretos como a noite e moreno como a terra. Este é Kurokuru! Rei Médium também não fazia ideia do que havia acontecido à Rainha Tranha, desde que foi levada como bela adormecida para aquele isolamento, ficando sob os cuidados da Senhora Natividade da Luz. Andava excessivamente ocupado com os convidados e pensativo quanto aos extraordinários acontecimentos registrados desde o Dia da Caça, quando abrira a caixa de estanho. Mago Natu convidou Rei Médium e Rainha Gônia a acompanhá-lo pelo corredor interno dos aposentos até onde se encontrava Rainha Tranha. Abrindo a porta devagar, a avistaram no leito, inerte e desacordada. Com a fisionomia aparentemente tranquila, a rainha parecia uma bela estátua de cera. Ao seu lado, na mesma jaula de ouro que fora usada pelos caçadores, quando saíram para aprisionar a Sonça Pintada, um menino com características diferentes estava trancado. Ligeiramente assustado ao vê-los, arregalou ainda mais os grandes olhos negros, eriçou os cabelos vermelhos qual porco-espinho, arrepiando a grosseira pele esverdeada, sapateando com os dois pés de calcanhares voltados para frente e dedos para trás, emitindo guinchos iguais aos de animais silvestres. Rei Médium e Rainha Gônia surpreenderam-se com a despropositada visão: — Que menino é este? — De onde o trouxeram? – perguntaram ao Mago Natu. — Acalmai-vos. Explicarei agora. Esta é a criatura gerada em Tranha. Criatura ex-Tranha: é Kurupirá, filho de Kaiporã, aquele ser gerado e reproduzido pela força mágica no dia em que o Bruxo Neno se deitou com a Senhora Pan Thera, a Marquesa de Sonça, momentos antes de ela se transformar na gata Pintada! — Inacreditável! – admirou-se Rainha Gônia. – Como pode já estar deste tamanho? — Parece-me que ele ainda está crescendo – observou o Rei Médium. O menino, de aparência horrenda, olhava-os ternamente, apesar de arisco e amedrontado. Virando as costas aos observadores, forçava o corpo por entre as grades da jaula, aparentando força descomunal. Rainha Gônia, assustada com a demonstração do menino, não tinha palavras para expressar admiração e espanto. Rei Médium jamais vira criatura parecida, mas conhecia os porquês de sua origem, contada pelo Mago Natu. — Que faremos com ele? Deve ser perigoso. Vamos mantê-lo aprisionado, Mago Natu? — Não. Ele é um menino gerado por efeitos de encantamento. Deveremos libertá-lo, para que cumpra sua função e vá viver como guardião das florestas, em companhia do pai Kaiporã e de Sonça Pintada. — E a Rainha Tranha, vai continuar desacordada? O que faremos para que ela volte ao normal? — Meu amigo, precisamos trazer o Rei Manso até aqui e contar-lhe toda a verdade. Só então poderei tirar a Rainha Tranha deste transe e libertar Kurupirá para cumprir seu destino. — Mago Natu, o senhor acha que ele suportará saber que a mulher, possuída por um horripilante ser encantado, em três dias gestou esta criatura em total estado de inconsciência? E que, depois de algumas horas de nascido, Kurupirá, já crescido como um menino, deverá voltar para a floresta, porque não pode viver conosco? — Sim, meu nobre amigo, o Rei Manso precisa saber de tudo. Rainha Tranha jamais se lembrará do ocorrido; também não lhe contaremos. Quando ela acordar, será como se nada houvesse acontecido! Rainha Gônia, ouvindo o diálogo do marido com Mago Natu, conseguiu se manifestar: — Peço-vos, Mago Natu, não mostreis a criatura ex-Tranha ao Rei Manso. Antes, levem Kurupirá para a floresta. Se Rei Manso souber da verdade, rejeitará a mulher por algo que ela não é culpada. É melhor que ele continue pensando que sua mulher sofreu o ataque de algum ente sobrenatural e, com o susto, perdeu a memória — Amada Rainha, nada me custaria vos atender, mas a única pessoa que poderá levar o Kurupirá à floresta é o próprio Rei Manso! Nenhum outro. Qualquer um que quiser acompanhá-lo será ferozmente atacado pela Sonça Pintada ou morto pelo próprio Kaiporã, o legítimo pai de Kurupirá. — Neste caso, Mago Natu, ordeno que o Rei Manso saiba de tudo e conduza o menino Kurupirá o mais rápido possível ao seu verdadeiro pai. Depois, organizaremos a excursão aos campos e campinas para coleta de frutos silvestres. — Faça isso, nobre amigo. Aproveitai para incumbir Professora Plínia das providências para o convescote de hoje. Rainha Gônia chegou mais perto da jaula onde estava Kurupirá. Com a voz muito meiga, disse à criatura ex-Tranha: — Olá, Kurupirá. Tu me ouves, me compreendes? O menino olhou-a interrogativamente, emitiu um guincho estridente, virou-lhe as costas e sinalizou em direção à porta do corredor, forçando ainda mais o corpo de encontro às grades da jaula de ouro. Na tentativa de consolar Rainha Gônia para que compreendesse o que era preciso ser feito com o menino, Mago Natu explicou: — Rainha Gônia, Kurupirá está apontando na direção que deseja ir. Jamais aprenderá nossa linguagem, tampouco se adaptará aos nossos costumes. Assim que o Rei Manso estiver preparado para levá-lo, alcançará a liberdade necessária para cumprir seu fadário de pequeno guardião dos animais silvestres, assim como seu verdadeiro pai, Kaiporã. Em poucos minutos, Mago Natu, Rei Médium e Rei Manso encontravam-se reunidos na Câmara do GRAU. Este último sem entender ao certo porque fora conduzido até ali, porquanto naquele compartimento somente o mago e o rei entravam ritualmente. Admirado com a mobília e perplexo diante do misterioso Espelho Universal, pois não conhecera nada que se assemelhasse, permaneceu silencioso e sorumbático, remoendo tristonho as causas da desventura que culminaram no estado cataléptico em que sua mulher continuava mergulhada. Esperando que o Rei Médium e o Mago Natu acenassem a possibilidade de reversão daquele quadro enigmático, ficar calado, por enquanto, não o aborrecia. Passivo e indiferente, cumpriria de bom grado qualquer prescrição ofertada sob a promessa de tirar a companheira daquele estado lastimável. Mago Natu, dobrando cuidadoso a manta de seda púrpura que retirara de cima do espelho, discretamente convidou o Rei Manso a olhar com atenção o que se apresentaria refletido no objeto mágico. De imediato, reconheceu o local onde estivera há três dias, na caçada à Sonça Pintada. Reparou no momento preciso em que a Rainha Tranha se afastou do grupo de caçadores e se deparou com uma criatura agigantada, de feições medonhas, corpo peludo e pés virados para trás, que se aproximou sorrateiramente às costas da rainha. A visão daquele ente encantado de aspecto medonho causou tamanho estupor que não conseguiu gritar e desmaiou. Extremamente atordoado com aquela visão absolutamente real, Rei Manso colocou o rosto entre as mãos e implorou ao Mago Natu: — Por favor, Mago Natu, poupe-me de ver o restante da cena... Já entendi o que aconteceu... Tranha não tem culpa de nada! — Rei Manso, tranquilizai-vos. Preciso que vejais outra coisa. Creio que agora suportareis saber como tudo ocorreu. Venha comigo, por favor. Rei Médium, não menos perplexo, de súbito, recorreu a um expediente astucioso para tirar o amigo daquela difícil situação: — Aproveitai que estão todos envolvidos com a excursão aos campos e campinas para a coleta de frutos e levai a criatura gerada em Tranha de volta à floresta. Ninguém saberá o que aconteceu, a não ser que vós mesmo quereis contar. Rei Manso, ciente dos misteriosos acontecimentos, confortado pelo Mago Natu, ouviu todas as instruções e submeteu-se aos procedimentos rituais aplicados pelo Mago para levar Kurupirá ao florestal. Submeteu-se a uma demorada sessão de defumadura com raízes e ervas aromáticas, principalmente de folhas de tabaco e cascas de mandarina, próprias para afastar o perigo de ser abordado por outros entes maléficos encantados da floresta e, especificamente, por Kaiporã. Recebeu pintura no rosto e nos braços com tabatinga branca, flores de jenipapo e um emplastro nos cabelos, produzido com gordura de pata branca selvagem. Nada, até então, despertara a rainha do transe. Permanecia bela, adormecida, imóvel, com a pele lívida, só não estava morta porque respirava suavemente. O ligeiro rubor das faces e dos lábios eram únicos indicativos de que seu corpo se mantinha aquecido e vivo. Olhando para a mulher que muito amava, Rei Manso fez a pergunta que Mago Natu esperava: — Ela voltará ao normal? Lembrará o que aconteceu? — Certamente. Assim que retornares da floresta, ela despertará. Estará bem-disposta, sem se lembrar de nada, porém terá vaga recordação de ter saído à caça, algo parecido a um sonho, nada mais que isso. Tranquilizai-vos. Jamais lhe contareis sobre o que fizestes. Se ela por acaso descobrir, provavelmente se encantará também, fugindo para a floresta à procura do “filho” Kurupirá, e nunca mais a vereis. Portanto, guardai convosco este segredo. Vamos, tudo será consumado!
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A grande sacada desta plataforma é oportunizar, o aprendizado de forma abrangente e sem constrangimentos. Conforme lido com as ferramentas deparo com uma novidade. Só tenho a agradecer pela experiência. A bonificação (não sei se é o termo correto) dá um gás. Adquiri mudas de Vetiver com esses recursos. Em breve estarei postando aqui.
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Para facilitar a produção local de produtos agrícolas, e do extrativismo, em parceria com a Associação do PA Quilombo, no Lago do Manso, estamos começando a movimentar para a reforma de um galpão para a instalação de uma micro Agro-industria para empacotamento a vácuo de produtos da região, como mandioca, milho e verduras, além de pequi, mangava e palmitos.
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O ARDIL PARA NÃO DESFAZER O FEITIÇO Rei Kornio, incumbido de liderar as equipes, fez pessoalmente a distribuição dos petrechos para capturar os peixes encantados. Confiou a sua esposa, Rainha Bisca, providenciar quitutes e petiscos para a alimentação dos pescadores. Hábil na preparação das guloseimas, rapidamente Rainha Bisca apresentou algumas novidades para se alimentarem, enquanto durasse a excursão pelo rio Aguaporé. Pela ligeireza com que foram feitas, as doces guloseimas à base de fécula de mandioca ganharam o nome de brevidades. Uma hora após zarparem do porto do Elo Dourado, os pescadores chegaram ao local onde estrategicamente armariam redes para capturar os encantados príncipes-peixes, Pintado, Surubim e Kaxara; e as rainhas-peixes, a Pirarara, Rainha Zomba, e a Enguia, Rainha Trapa. Cumprindo algumas recomendações diretas do Mago Natu e do Imperador, Rei Médium, os participantes dividiram-se em quatro grupos de seis elementos, liderados pelos reis Mende, Kornio, Boio e Buriti. Cada grupo recebeu uma grande rede tecida especialmente pelo Senhor Frutuoso, o proprietário da Frutaria Real, que passava seu tempo a cardar lã com fibras vegetais para tecer redes de pesca, as mais resistentes produzidas no Elo Dourado. Rainha Bisca não foi escolhida integrante de nenhuma das quatro equipes. Rei Kornio, o cuidadoso marido, para não a deixar sozinha às margens do caudaloso rio, iniciou a construção de um abrigo coberto de folhas gigantes, sob uma frondosa árvore de angico, recomendando que não se afastasse em hipótese alguma dali, até que ele retornasse com a missão cumprida. Corajosa, a rainha aceitou as advertências do marido, aguardando silenciosamente a oportunidade de entregar secretamente ao Rei Boio o talismã enfeitiçado que guardava consigo. Rainha Bisca acreditava que o Bruxo Neno confiara aqueles objetos encantados sob recomendação explícita de que não permitisse a nenhum outro participante da pescaria vê-los ou saber que os possuía, para que fosse assegurado completo êxito na empreitada. Solidário à desdita dos amigos – Rei Kornio e Rainha Bisca, que também tiveram o filho Príncipe Surubim encantado num peixe –, Rei Boio ofereceu-se de muito bom grado para concluir a feitura do abrigo onde a rainha deveria esperá-los à margem do rio Aguaporé, com as brevidades e as outras guloseimas que comeriam tão logo voltassem. Completamente envolvidos com os estratagemas da pescaria, nenhum dos participantes se prontificara a colaborar com o Rei Boio na conclusão do abrigo. Três das embarcações com suas equipes já haviam zarpado, afastando-se para os locais onde armariam as redes, enquanto os cinco componentes da equipe do Rei Boio esperavam por ele já embarcados, mas ainda atracados no porto. A sós, Rainha Bisca e Rei Boio conversavam sobre a excursão, até que ela mostrou o objeto encantado ao rei e ingenuamente lhe entregou: — Este é vosso. Colocai-o no pescoço. Bruxo Neno me garantiu que terei de novo meu filho Ur, em forma de gente, e que o vosso filho e os outros voltarão a ser como eram... príncipes, reis e rainhas! Rei Boio, solícito e obediente à Rainha Bisca, mulher de seu dileto amigo Rei Kornio, passou o colar com o mágico talismã pela cabeça ao mesmo tempo que a Rainha Bisca. No imediato contato com o objeto enfeitiçado os dois sentiram um forte arrepio e, tomados por uma força misteriosa, voltaram-se um ao outro, abraçando-se fortemente. Sem se aperceberem, um libidinoso frenesi os envolveu e, por sentirem incontido desejo, despiram-se, entregando-se totalmente ao império dos sentidos, num arrebatamento amoroso semelhante a uma primeira vez. Quanto mais se envolviam, mais ardiam de desejo e, assim, completamente entregues ao feitiço erótico do talismã, abandonaram-se, perdendo a noção do tempo. Os cinco elementos da equipe que aguardava o Rei Boio voltar, impacientes com sua demora, concordavam que já se passara tempo suficiente para que ele retornasse. Dois deles, com o consentimento dos outros três, desembarcaram e escalaram a barranca da margem do rio, em direção ao local onde a Rainha Bisca deveria estar. Procurando pelo Rei Boio, antes de avistá-lo, preocuparam-se diante da possibilidade de o encontrar ferido ou atacado por algum animal feroz. Ao avistarem a pequena cabana de palhas habilidosamente construída para abrigar a Rainha Bisca, achegaram-se devagar. À medida que se aproximaram, ouviram gemidos e sussurros idênticos aos arrulhos das juritis e dos pombos envolvidos em ritual de acasalamento. Curiosos, logo flagraram a cena que imaginavam: o rei e a rainha nus, completamente entregues ao delírio amoroso, deleitando-se no chão sobre suas vestes, alheios a tudo quanto se passava em redor. Perplexos e escandalizados com a inusitada cena, gritaram com os dois: — Rei Boio, Rainha Bisca, que desonra é esta? Terão coragem de ver Gônia, depois disso? Despertados e interrompidos como se tivessem levado um choque, os dois se levantaram, deixaram seus trajes no mesmo lugar e correram juntos em direção à barranca do rio. As duas testemunhas do episódio tentaram contê-los, mas não conseguiram. Os dois se jogaram abraçados, atirando-se nas águas profundas e calmas do rio Aguaporé... num desatinado desvario, pois nenhum dos dois sabia nadar. Sem reação, os dois interceptores do colóquio amoroso se sentaram, olhando para a onda d’água que se propagava, crescentemente formada a partir do ponto em que os amantes se precipitaram. Um deles disse ao companheiro: — Os dois co-pularam... e vão morrer, os coitados não sabem nadar. — Infelizmente, não podemos fazê-los nadar. Interrompendo o companheiro antes que concluísse sua frase, o outro mostrou, apontando o local em que se formava a onda em que se atiraram, dois corpos cinzentos e roliços vindo à tona. Surpresos, assim que avistaram aqueles corpos semelhantes a animais aquáticos, que em nada lembravam pessoas, totalmente diferentes dos amantes que caíram n’água, desconhecidos de todos os outros animais e peixes que povoavam o rio Aguaporé, logo concluíram que eram os corpos do rei e da rainha, agora dois animais aquáticos miraculosamente transformados em exímios nadadores. Muito admirado, um deles constatou: — Olha ali, Rei Boio e Rainha Bisca também viraram peixes! Tenho certeza de que um peixe é Boio e o outro peixe-mulher! Peixe Boio e Peixe-Mulher! Disfarçando seu medo em assombro, o outro sugeriu: — Voltemos para o nosso barco. Também precisamos pescar. — Vamos avisar aos companheiros que temos mais dois peixes encantados para capturar. — Você tem coragem de contar ao Rei Kornio o que aconteceu? — Nós dois temos de contar. — Será que ele vai nos acusar de assassinos ou que inventamos esta história só para termos um álibi? — Não, as roupas dos dois estão aqui, não tem nenhuma marca de sangue, nem sinais de terem sido tiradas à força. — Então, vamos logo, porque o peixe Boio e o peixe-mulher estão nadando em direção ao barco. — Veja, olhe aquilo... são milhares de peixinhos em volta deles. – Incrível! Parecem aumentar de tamanho, sem parar. — Vamos, precisamos avisar aos nossos companheiros... Temos uma boa história de pescador para contar. Hehehe! Pegaram as roupas do Rei Boio e da Rainha Bisca e levaram consigo. Margeando o rio em direção ao local onde estavam aportadas as outras duas embarcações. Observaram que os peixes encantados também os seguiam, e com eles o recém-surgido cardume de peixinhos que crescia rapidamente, aumentando de tamanho diante de seus olhos. Próximo dos barcos aportados, gritaram aos companheiros: — Vejam isto, estes dois peixes diferentes e este cardume de peixinhos que não para de crescer... — Sim, estamos percebendo – confirmaram. — Nós dois vimos como tudo aconteceu. – Contaram, com pormenores, tudo que haviam presenciado. Diante da incredulidade dos companheiros, lançaram a primeira rede para começarem a captura do peixe Boio e do peixe-mulher. Assim que a rede os cercou, o enorme cardume que cresceu rapidamente, já medindo dois palmos de tamanho, atacou em direção à rede e devorou num instante as malhas, com uma voracidade nunca vista. Os pescadores, cheios de espanto, recolheram logo o que sobrou delas, acreditando no relato que os dois amigos haviam testemunhado. Só não conseguiam entender por que e de onde havia surgido aquele cardume tão voraz e como os peixinhos cresceram tão depressa, acompanhando o peixe Boio e o peixe-mulher. — Pra isso não tem explicação, pode acreditar que tem o dedo ou a mão toda do Bruxo Neno nessa história... E esse cardume só pode ter se formado das sementes que o Rei Boio ejaculou na água. Como ele traíra a Rainha Ália e a Rainha Bisca traíra o Rei Kornio, são peixes-traíras, sem dúvida. Sem condições de continuar a pescaria, o grupo desceu o rio para se encontrar com os outros pescadores e, principalmente, com o Rei Kornio, para informá-los do inusitado acontecimento. O enorme cardume de traíras seguiu junto. Ao avistarem os amigos pescadores, que pareciam pelejar para recolher as pesadas redes, sinalizaram para que as tirassem o mais rápido que pudessem da água. Antes que conseguissem, sofreram um devastador ataque das traíras, que também devoraram todas as outras armadilhas, deixando-as impróprias e sem condições de capturar os peixes encantados que já se encontravam aprisionados. Não demorou para que os pescadores, cansados e desanimados, aportassem às margens do rio, enquanto o Rei Mende se dispunha, com muito otimismo, a consertar as tralhas danificadas, e assim prosseguir com a pesca, até que o Rei Kornio, ciente de tudo, resolveu desistir. Desesperado e, mais ainda, desmotivado, Rei Kornio não parava de lastimar a desonra e a traição de sua mulher com seu melhor amigo, também agora castigados e transformados em peixes e, pior ainda, causadores do aparecimento das perigosas e vorazes traíras, que infestavam as águas límpidas e tranquilas do rio Aguaporé. Visivelmente entibiado e deprimido, convidou seu grupo a bater em retirada. — Ficai, se quiserem. Para mim, está tudo acabado. Não tenho mais desejo de desencantar o que quer que seja. Por mim, continuarão encantados per omnia saeculorum. Jogou todas as suas tralhas de pesca n’água. Chamou seus lacaios. Silentes e compreensivos à dor de seu rei, remaram sua chalana entoando melancólicas cantigas rio acima. O Rei Mende, compartilhando da dor do amigo, achou melhor voltar com eles. Porém garantiu que, quando chegassem ao Palácio Fortaleza, consertaria todas as redes danificadas, e assim estaria criada a Liga da Confraria do Peixe, para os que desejassem voltar no dia seguinte, a fim de cumprir a missão que lhes foi proposta. Não queria desistir da tentativa de amenizar o sofrimento causado a todos pelo encantamento dos amigos em peixes, além de desfazer a vingança maligna que Bruxo Neno perpetrara dessa vez contra o Rei Boio e o Rei Kornio. A tarde já findava, quando os pescadores aportaram no bucólico cais do Palácio Fortaleza. Dois dos sete serviçais que os recepcionavam, percebendo que algo diferente acontecera, não visualizando entre eles o Rei Boio, a Rainha Bisca nem os príncipes-peixes encantados, discretamente retrocederam, saindo à procura de Mago Natu. O silêncio dos pescadores, o rosto triste e cabisbaixo do Rei Kornio, seus olhos turvados de lágrimas e seu estado emocional aparentemente humilhado eram indícios incontestes de que outra desgraça pairara sobre eles, semelhante talvez àquela dos caçadores da encantada Pan Thera, a Sonça Pintada, no dia anterior. Quando o Rei Kornio saiu da embarcação e pisou o portaló, levantando os olhos, encontrou-se com o Mago Natu: — Preciso ver Neno – disse-lhe o Rei Kornio. — Antes estaremos com o Rei Médium. Depois, é melhor ver Gônia do que ver Neno! — disse, laconicamente, Mago Natu, abraçando-o e confortando, conduzindo-o diretamente aos aposentos do Rei Médium, na Câmara do GRAU. Rei Médium, observando o estado lastimável do amigo, perguntou-lhe se desejava que buscassem os dois pescadores da equipe do Rei Boio para relatar o que presenciaram. Com a voz roufenha, fazendo grande esforço para se expressar, disse que não, mas solicitou ao Mago Natu que trouxesse também à presença deles a Rainha Ália, mulher do Rei Boio, para que compartilhassem sua má sorte e infortúnio. Sem demora, Rainha Ália chegou diante dos três. Mago Natu esclareceu o que se passava. Contou com detalhes, poupando a rainha do constrangimento de ouvir diante dos dois reis a minuciosa descrição das intimidades em que os amantes traíras se envolveram. Como se já estivesse esperando, preparada para ouvir tudo aquilo, Rainha Ália, mantendo-se passiva e tranquila, apontou uma solução. Queria evitar que o amigo fosse alvo dos escarnecedores, livrando-o das humilhações e constrangimentos que o caso ensejava. — Senhor Imperador, também me sinto atingida pelo mesmo vendaval de infortúnio. Não me resta motivo para voltar ao meu reinado, pois meu único filho, o Príncipe Pintado, foi condenado a viver como ente das águas. Igual sorte aconteceu a vós, Rei Kornio. Proponho-vos, então, que somemos nossas desventuras e nos mudemos para bem longe daqui. Noutras terras distantes, que existem a Norte e Leste d’além-mar, e assim reconstruiremos nossos reinados. E vós, Imperador, podereis encampar meu reinado com todos os meus súditos, desde que me forneça provisões suficientes para a grande travessia. — Estais me propondo casamento, Rainha Ália? — Sim, meu amigo, a menos que não queiras. — Quanto a vossa filha, Princesa Ti? Irá conosco? — Melhor que fique por aqui. Querendo, poderá se casar, voltando para o reinado de Boio, refazendo nossa linhagem. — Assim seja, então. Mago Natu esboçou um sorriso. Rei Médium também dissimulou seus sentimentos porque, apesar daquela tragédia, considerou a solução apresentada pela Rainha Ália prática e decisiva pelo desapego. — Então, Rei Kornio, que dizeis? Se estiverdes de acordo, agora mesmo ordenarei aos meus lacaios que providenciem os meios necessários para vossa mudança e viagem – propôs o Imperador. — Eu aceito, senhor Imperador. Preciso da minha “aliada”! Mago Natu, naquele momento, abriu um armário esculpido num bloco de alabastro e retirou dali a última espada fabricada pelo ferreiro e joalheiro real, Kalibur, falecido há pouco tempo. Na semana em que morrera, Kalibur entregara ao Rei Médium sua última encomenda: as espadas dos príncipes Urucumacuã e Kurokuru, cujo nascimento se aproximava. O exímio artesão também deixara com o Imperador uma outra espada. Aquela se destinava ao seu próprio filho, cujo nascimento era esperado em breve. Dias depois, Kalibur foi encontrado dormindo para sempre entre as ferramentas e forjas de sua oficina. A última espada fabricada por ele permaneceu sob a guarda do Imperador. Retirando o precioso e raro objeto do armário, Mago Natu reverentemente olhou para o Rei Médium e, num aceno consensual, obteve dele a permissão para selar o compromisso entre o Rei Kornio e a Rainha Ália, entregando-lhes a consagrada espada mágica, para que pudessem recomeçar suas vidas, fundando um novo reino, em terras pra lá de distantes. Prostrados diante do Rei Médium e do Mago Natu, juraram fidelidade mútua, amparo na adversidade e preservação dos conhecimentos rituais e dos segredos da magia e dos antigos mistérios das Ciências Ocultas, nos quais eram iniciados. Mago Natu celebrou a cerimônia, concluindo: — Eis a última espada de Kalibur! Uma autêntica Ex-Kalibur! Fincai-a sobre a grande rocha negra em que havereis de edificar um novo reino. Aquele que conseguir arrancá-la, herdará para sempre o reino encantado de Kornio e Ália. Na madrugada do dia seguinte, duas suntuosas embarcações trirremes zarparam do cais do Elo Dourado, silenciosa e discretamente, com destino às desconhecidas terras nórdicas de além-mar. Rei Kornio levava consigo, além de considerável carregamento de ouro e pedras preciosas, um casal de sua criação de unicórnios acompanhado do mais recente rebento; e a Rainha Ália, além de seus majestosos pertences, grande estoque de paninhos para secar as mãos, bordados caprichosamente: as toalhas. Entristecido com a partida dos amigos, Rei Médium convidou Mago Natu para irem à Câmara do GRAU. Precisava abrir a terceira caixa, a caixa de ferro. Cauteloso e apreensivo, perguntou ao amigo: — Qual será a surpresa de hoje? Mago Natu olhou-o compassivamente, deu-lhe um tapinha nas costas, incentivando-o: — Não vos atormenteis, meu amigo. O que tiver de ser, será. Abra a caixa de ferro. Depois visitaremos a Imperatriz Gônia e a Rainha Tranha, porque ainda não sabeis das outras surpresas que vos aguardam. — Surpresas? Outras? – Manifestou-se perplexo o Imperador. Não fora informado ainda do que sucedera no decorrer da noite, enquanto providenciava o necessário para a grande viagem do Rei Kornio e da Rainha Ália. Depois de abrir a terceira caixa – a de ferro –, nada havia de diferente dentro dela, além da quarta caixa – a de cobre –, que abririam no dia seguinte. Sem tecer nenhum comentário, o Imperador olhou para Mago Natu, replicando o mesmo gesto que fizera nas vezes anteriores e, em seguida, dirigiu-se ao Espelho Universal. Pela imagem refletida, entendeu que, naquele terceiro dia, deveria organizar uma grande excursão aos campos e campinas, para que fossem coletadas frutas e frutos silvestres. O participante que conseguisse apanhar a maior quantidade e variedade de frutos seria agraciado com um objeto no formato de um enorme chifre, esculpido em pedra jade, deixado de presente pelo Rei Kornio: uma espécie de réplica do original que recebera do Grande Rei, na celebração das bodas do Rei Médium e da Rainha Gônia. O condão daquele objeto mágico era proporcionar fartura e prosperidade a quem o recebesse. Rei Kornio não estaria presente para entregá-lo pessoalmente, mas o Rei Médium solicitara ao Mago Natu que o fizesse no lugar dele. Quem desempenhasse melhor a tarefa do terceiro dia mereceria, assim, a cópia do grande talismã do Rei Kornio — a Kornio-cópia. Decidido quanto a quem entregar a Kornio-cópia, o Imperador convocou Mago Natu: — Vamos, preciso ver agora a minha rainha! Desde que a Imperatriz dera à luz, ainda não recebera visitas. Mantinha-se recolhida, isolada em seus aposentos, alheia a quaisquer acontecimentos exteriores ao seu espaçoso e confortável quarto, conforme rezava a antiga tradição e o costume dos ancestrais, aguardando até que se passassem sete dias e ocorresse mudança na fase lunar. No sétimo dia, já passado o puerpério, a Imperatriz vestir-se-ia de branco, mostrando-se com seus dois rebentos, numa cerimônia para todos, convidados e súditos, para a purificação e consagração dos recém-nascidos aos elementos Fogo e Ar, Terra e Água. Seria também coroada mãe com a mesma joia que deveria ter usado no ritual lunar do seu casamento, se o precioso diadema de camafeus e rubis – a joia da Tia Ara – não tivesse sido roubado pelo Príncipe “Y” e depois enfeitiçado pelo Bruxo Neno. Ainda que Mago Natu tivesse recuperado a cobiçada joia naquela oportunidade, decidiu por destruí-la, utilizando-se de outro encantamento. Rei Médium, dias depois do casamento, encomendou ao joalheiro da Corte, Kalibur, outra peça de igual beleza para que a rainha pudesse se apresentar naquele ritual da purificação. O Imperador, Mago Natu, Professora Plínia e Senhora Natividade da Luz, além das camareiras, eram a únicas pessoas que entravam e saíam livremente dos aposentos da parturiente antes de celebrada a consagração dos rebentos e purificação da mãe. Davam àquele período de resguardo o nome de Boa Esperança, cujo término marcava-se com as comemorações festivas do Dia da Conferência, ou Celebração dos Sete Dias. A tradição ritual do resguardo, no entanto, foi quebrada pela Rainha Ália e pelo Rei Boio naquela oportunidade. Ambos solicitaram ao Mago Natu e ao Imperador que lhes autorizassem despedir-se da Imperatriz, porque partiriam sem previsão de retornar àquele reinado. Pressentiam que jamais voltariam e, talvez, fosse aquela a última oportunidade de ver a Imperatriz e conhecer seus bebês. Não houve obstáculos da parte do Imperador a que o casal de amigos visitasse a Rainha Gônia e os pequeninos príncipes. Mago Natu, no entanto, advertiu-os de que tivessem cuidados durante a visita, explicando-lhes: — Sabeis que os recém-nascidos ainda não foram consagrados aos elementos que os protegerão dos infortúnios, mas também não vos impedirei de ver Gônia. Lembrai-vos: não deveis revelar vossa desdita à Imperatriz, tampouco direis a outrem o que vereis nos aposentos da rainha. Guardai convosco aquele segredo!
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Coletividade busca recursos para o PA QUILOMBO
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O projeto OCA TERRAVILA GLOCAL, se sente beneficiado com as parcerias que vem estabelecendo com a Associação PA QUILOMBO, no Lago do Manso, em Chapada dos Guimarães. Desde 2022 o Projeto OCA, acompanha os desafios mais diversos da comunidade. Um deles é falta de manutenção das estradas, que termina deixando a população insatisfeita e até mesmo, com pré-disposição para deixar a localidade e procurar outros assentamentos para empreender em agricultura familiar. Juntamente com a Associação do PA Quilombo, por meio de reivindicação a municipalidade vem conseguindo fazer um total de 23 km de melhorias na estrada para que o transporte de modo geral seja feito a contento. Importante registrar esse feito, para restaurar a autoestima da população que desacreditava capacidade da gestão atual, de concretizar esse interesse comum, visando não só a agricultura, mas também o turismo rural para essa região do cerrado. Essas vias atendem ao ônibus escolar de segunda a sexta-feira
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Nota: (não foi possível postar ontem. O fazendo hoje, conforme me comprometi). O ARDIL PARA NÃO DESFAZER O FEITIÇO Rei Kornio, incumbido de liderar as equipes, fez pessoalmente a distribuição dos petrechos para capturar os peixes encantados. Confiou a sua esposa, Rainha Bisca, providenciar quitutes e petiscos para a alimentação dos pescadores. Hábil na preparação das guloseimas, rapidamente Rainha Bisca apresentou algumas novidades para se alimentarem, enquanto durasse a excursão pelo rio Aguaporé. Pela ligeireza com que foram feitas, as doces guloseimas à base de fécula de mandioca ganharam o nome de brevidades. Uma hora após zarparem do porto do Elo Dourado, os pescadores chegaram ao local onde estrategicamente armariam redes para capturar os encantados príncipes-peixes, Pintado, Surubim e Kaxara; e as rainhas-peixes, a Pirarara, Rainha Zomba, e a Enguia, Rainha Trapa. Cumprindo algumas recomendações diretas do Mago Natu e do Imperador, Rei Médium, os participantes dividiram-se em quatro grupos de seis elementos, liderados pelos reis Mende, Kornio, Boio e Buriti. Cada grupo recebeu uma grande rede tecida especialmente pelo Senhor Frutuoso, o proprietário da Frutaria Real, que passava seu tempo a cardar lã com fibras vegetais para tecer redes de pesca, as mais resistentes produzidas no Elo Dourado. Rainha Bisca não foi escolhida integrante de nenhuma das quatro equipes. Rei Kornio, o cuidadoso marido, para não a deixar sozinha às margens do caudaloso rio, iniciou a construção de um abrigo coberto de folhas gigantes, sob uma frondosa árvore de angico, recomendando que não se afastasse em hipótese alguma dali, até que ele retornasse com a missão cumprida. Corajosa, a rainha aceitou as advertências do marido, aguardando silenciosamente a oportunidade de entregar secretamente ao Rei Boio o talismã enfeitiçado que guardava consigo. Rainha Bisca acreditava que o Bruxo Neno confiara aqueles objetos encantados sob recomendação explícita de que não permitisse a nenhum outro participante da pescaria vê-los ou saber que os possuía, para que fosse assegurado completo êxito na empreitada. Solidário à desdita dos amigos – Rei Kornio e Rainha Bisca, que também tiveram o filho Príncipe Surubim encantado num peixe –, Rei Boio ofereceu-se de muito bom grado para concluir a feitura do abrigo onde a rainha deveria esperá-los à margem do rio Aguaporé, com as brevidades e as outras guloseimas que comeriam tão logo voltassem. Completamente envolvidos com os estratagemas da pescaria, nenhum dos participantes se prontificara a colaborar com o Rei Boio na conclusão do abrigo. Três das embarcações com suas equipes já haviam zarpado, afastando-se para os locais onde armariam as redes, enquanto os cinco componentes da equipe do Rei Boio esperavam por ele já embarcados, mas ainda atracados no porto. A sós, Rainha Bisca e Rei Boio conversavam sobre a excursão, até que ela mostrou o objeto encantado ao rei e ingenuamente lhe entregou: — Este é vosso. Colocai-o no pescoço. Bruxo Neno me garantiu que terei de novo meu filho Ur, em forma de gente, e que o vosso filho e os outros voltarão a ser como eram... príncipes, reis e rainhas! Rei Boio, solícito e obediente à Rainha Bisca, mulher de seu dileto amigo Rei Kornio, passou o colar com o mágico talismã pela cabeça ao mesmo tempo que a Rainha Bisca. No imediato contato com o objeto enfeitiçado os dois sentiram um forte arrepio e, tomados por uma força misteriosa, voltaram-se um ao outro, abraçando-se fortemente. Sem se aperceberem, um libidinoso frenesi os envolveu e, por sentirem incontido desejo, despiram-se, entregando-se totalmente ao império dos sentidos, num arrebatamento amoroso semelhante a uma primeira vez. Quanto mais se envolviam, mais ardiam de desejo e, assim, completamente entregues ao feitiço erótico do talismã, abandonaram-se, perdendo a noção do tempo. Os cinco elementos da equipe que aguardava o Rei Boio voltar, impacientes com sua demora, concordavam que já se passara tempo suficiente para que ele retornasse. Dois deles, com o consentimento dos outros três, desembarcaram e escalaram a barranca da margem do rio, em direção ao local onde a Rainha Bisca deveria estar. Procurando pelo Rei Boio, antes de avistá-lo, preocuparam-se diante da possibilidade de o encontrar ferido ou atacado por algum animal feroz. Ao avistarem a pequena cabana de palhas habilidosamente construída para abrigar a Rainha Bisca, achegaram-se devagar. À medida que se aproximaram, ouviram gemidos e sussurros idênticos aos arrulhos das juritis e dos pombos envolvidos em ritual de acasalamento. Curiosos, logo flagraram a cena que imaginavam: o rei e a rainha nus, completamente entregues ao delírio amoroso, deleitando-se no chão sobre suas vestes, alheios a tudo quanto se passava em redor. Perplexos e escandalizados com a inusitada cena, gritaram com os dois: — Rei Boio, Rainha Bisca, que desonra é esta? Terão coragem de ver Gônia, depois disso? Despertados e interrompidos como se tivessem levado um choque, os dois se levantaram, deixaram seus trajes no mesmo lugar e correram juntos em direção à barranca do rio. As duas testemunhas do episódio tentaram contê-los, mas não conseguiram. Os dois se jogaram abraçados, atirando-se nas águas profundas e calmas do rio Aguaporé... num desatinado desvario, pois nenhum dos dois sabia nadar. Sem reação, os dois interceptores do colóquio amoroso se sentaram, olhando para a onda d’água que se propagava, crescentemente formada a partir do ponto em que os amantes se precipitaram. Um deles disse ao companheiro: — Os dois co-pularam... e vão morrer, os coitados não sabem nadar. — Infelizmente, não podemos fazê-los nadar. Interrompendo o companheiro antes que concluísse sua frase, o outro mostrou, apontando o local em que se formava a onda em que se atiraram, dois corpos cinzentos e roliços vindo à tona. Surpresos, assim que avistaram aqueles corpos semelhantes a animais aquáticos, que em nada lembravam pessoas, totalmente diferentes dos amantes que caíram n’água, desconhecidos de todos os outros animais e peixes que povoavam o rio Aguaporé, logo concluíram que eram os corpos do rei e da rainha, agora dois animais aquáticos miraculosamente transformados em exímios nadadores. Muito admirado, um deles constatou: — Olha ali, Rei Boio e Rainha Bisca também viraram peixes! Tenho certeza de que um peixe é Boio e o outro peixe-mulher! Peixe Boio e Peixe-Mulher! Disfarçando seu medo em assombro, o outro sugeriu: — Voltemos para o nosso barco. Também precisamos pescar. — Vamos avisar aos companheiros que temos mais dois peixes encantados para capturar. — Você tem coragem de contar ao Rei Kornio o que aconteceu? — Nós dois temos de contar. — Será que ele vai nos acusar de assassinos ou que inventamos esta história só para termos um álibi? — Não, as roupas dos dois estão aqui, não tem nenhuma marca de sangue, nem sinais de terem sido tiradas à força. — Então, vamos logo, porque o peixe Boio e o peixe-mulher estão nadando em direção ao barco. — Veja, olhe aquilo... são milhares de peixinhos em volta deles. – Incrível! Parecem aumentar de tamanho, sem parar. — Vamos, precisamos avisar aos nossos companheiros... Temos uma boa história de pescador para contar. Hehehe! Pegaram as roupas do Rei Boio e da Rainha Bisca e levaram consigo. Margeando o rio em direção ao local onde estavam aportadas as outras duas embarcações. Observaram que os peixes encantados também os seguiam, e com eles o recém-surgido cardume de peixinhos que crescia rapidamente, aumentando de tamanho diante de seus olhos. Próximo dos barcos aportados, gritaram aos companheiros: — Vejam isto, estes dois peixes diferentes e este cardume de peixinhos que não para de crescer... — Sim, estamos percebendo – confirmaram. — Nós dois vimos como tudo aconteceu. – Contaram, com pormenores, tudo que haviam presenciado. Diante da incredulidade dos companheiros, lançaram a primeira rede para começarem a captura do peixe Boio e do peixe-mulher. Assim que a rede os cercou, o enorme cardume que cresceu rapidamente, já medindo dois palmos de tamanho, atacou em direção à rede e devorou num instante as malhas, com uma voracidade nunca vista. Os pescadores, cheios de espanto, recolheram logo o que sobrou delas, acreditando no relato que os dois amigos haviam testemunhado. Só não conseguiam entender por que e de onde havia surgido aquele cardume tão voraz e como os peixinhos cresceram tão depressa, acompanhando o peixe Boio e o peixe-mulher. — Pra isso não tem explicação, pode acreditar que tem o dedo ou a mão toda do Bruxo Neno nessa história... E esse cardume só pode ter se formado das sementes que o Rei Boio ejaculou na água. Como ele traíra a Rainha Ália e a Rainha Bisca traíra o Rei Kornio, são peixes-traíras, sem dúvida. Sem condições de continuar a pescaria, o grupo desceu o rio para se encontrar com os outros pescadores e, principalmente, com o Rei Kornio, para informá-los do inusitado acontecimento. O enorme cardume de traíras seguiu junto. Ao avistarem os amigos pescadores, que pareciam pelejar para recolher as pesadas redes, sinalizaram para que as tirassem o mais rápido que pudessem da água. Antes que conseguissem, sofreram um devastador ataque das traíras, que também devoraram todas as outras armadilhas, deixando-as impróprias e sem condições de capturar os peixes encantados que já se encontravam aprisionados. Não demorou para que os pescadores, cansados e desanimados, aportassem às margens do rio, enquanto o Rei Mende se dispunha, com muito otimismo, a consertar as tralhas danificadas, e assim prosseguir com a pesca, até que o Rei Kornio, ciente de tudo, resolveu desistir. Desesperado e, mais ainda, desmotivado, Rei Kornio não parava de lastimar a desonra e a traição de sua mulher com seu melhor amigo, também agora castigados e transformados em peixes e, pior ainda, causadores do aparecimento das perigosas e vorazes traíras, que infestavam as águas límpidas e tranquilas do rio Aguaporé. Visivelmente entibiado e deprimido, convidou seu grupo a bater em retirada. — Ficai, se quiserem. Para mim, está tudo acabado. Não tenho mais desejo de desencantar o que quer que seja. Por mim, continuarão encantados per omnia saeculorum. Jogou todas as suas tralhas de pesca n’água. Chamou seus lacaios. Silentes e compreensivos à dor de seu rei, remaram sua chalana entoando melancólicas cantigas rio acima. O Rei Mende, compartilhando da dor do amigo, achou melhor voltar com eles. Porém garantiu que, quando chegassem ao Palácio Fortaleza, consertaria todas as redes danificadas, e assim estaria criada a Liga da Confraria do Peixe, para os que desejassem voltar no dia seguinte, a fim de cumprir a missão que lhes foi proposta. Não queria desistir da tentativa de amenizar o sofrimento causado a todos pelo encantamento dos amigos em peixes, além de desfazer a vingança maligna que Bruxo Neno perpetrara dessa vez contra o Rei Boio e o Rei Kornio. A tarde já findava, quando os pescadores aportaram no bucólico cais do Palácio Fortaleza. Dois dos sete serviçais que os recepcionavam, percebendo que algo diferente acontecera, não visualizando entre eles o Rei Boio, a Rainha Bisca nem os príncipes-peixes encantados, discretamente retrocederam, saindo à procura de Mago Natu. O silêncio dos pescadores, o rosto triste e cabisbaixo do Rei Kornio, seus olhos turvados de lágrimas e seu estado emocional aparentemente humilhado eram indícios incontestes de que outra desgraça pairara sobre eles, semelhante talvez àquela dos caçadores da encantada Pan Thera, a Sonça Pintada, no dia anterior. Quando o Rei Kornio saiu da embarcação e pisou o portaló, levantando os olhos, encontrou-se com o Mago Natu: — Preciso ver Neno – disse-lhe o Rei Kornio. — Antes estaremos com o Rei Médium. Depois, é melhor ver Gônia do que ver Neno! — disse, laconicamente, Mago Natu, abraçando-o e confortando, conduzindo-o diretamente aos aposentos do Rei Médium, na Câmara do GRAU. Rei Médium, observando o estado lastimável do amigo, perguntou-lhe se desejava que buscassem os dois pescadores da equipe do Rei Boio para relatar o que presenciaram. Com a voz roufenha, fazendo grande esforço para se expressar, disse que não, mas solicitou ao Mago Natu que trouxesse também à presença deles a Rainha Ália, mulher do Rei Boio, para que compartilhassem sua má sorte e infortúnio. Sem demora, Rainha Ália chegou diante dos três. Mago Natu esclareceu o que se passava. Contou com detalhes, poupando a rainha do constrangimento de ouvir diante dos dois reis a minuciosa descrição das intimidades em que os amantes traíras se envolveram. Como se já estivesse esperando, preparada para ouvir tudo aquilo, Rainha Ália, mantendo-se passiva e tranquila, apontou uma solução. Queria evitar que o amigo fosse alvo dos escarnecedores, livrando-o das humilhações e constrangimentos que o caso ensejava. — Senhor Imperador, também me sinto atingida pelo mesmo vendaval de infortúnio. Não me resta motivo para voltar ao meu reinado, pois meu único filho, o Príncipe Pintado, foi condenado a viver como ente das águas. Igual sorte aconteceu a vós, Rei Kornio. Proponho-vos, então, que somemos nossas desventuras e nos mudemos para bem longe daqui. Noutras terras distantes, que existem a Norte e Leste d’além-mar, e assim reconstruiremos nossos reinados. E vós, Imperador, podereis encampar meu reinado com todos os meus súditos, desde que me forneça provisões suficientes para a grande travessia. — Estais me propondo casamento, Rainha Ália? — Sim, meu amigo, a menos que não queiras. — Quanto a vossa filha, Princesa Ti? Irá conosco? — Melhor que fique por aqui. Querendo, poderá se casar, voltando para o reinado de Boio, refazendo nossa linhagem. — Assim seja, então. Mago Natu esboçou um sorriso. Rei Médium também dissimulou seus sentimentos porque, apesar daquela tragédia, considerou a solução apresentada pela Rainha Ália prática e decisiva pelo desapego. — Então, Rei Kornio, que dizeis? Se estiverdes de acordo, agora mesmo ordenarei aos meus lacaios que providenciem os meios necessários para vossa mudança e viagem – propôs o Imperador. — Eu aceito, senhor Imperador. Preciso da minha “aliada”! Mago Natu, naquele momento, abriu um armário esculpido num bloco de alabastro e retirou dali a última espada fabricada pelo ferreiro e joalheiro real, Kalibur, falecido há pouco tempo. Na semana em que morrera, Kalibur entregara ao Rei Médium sua última encomenda: as espadas dos príncipes Urucumacuã e Kurokuru, cujo nascimento se aproximava. O exímio artesão também deixara com o Imperador uma outra espada. Aquela se destinava ao seu próprio filho, cujo nascimento era esperado em breve. Dias depois, Kalibur foi encontrado dormindo para sempre entre as ferramentas e forjas de sua oficina. A última espada fabricada por ele permaneceu sob a guarda do Imperador. Retirando o precioso e raro objeto do armário, Mago Natu reverentemente olhou para o Rei Médium e, num aceno consensual, obteve dele a permissão para selar o compromisso entre o Rei Kornio e a Rainha Ália, entregando-lhes a consagrada espada mágica, para que pudessem recomeçar suas vidas, fundando um novo reino, em terras pra lá de distantes. Prostrados diante do Rei Médium e do Mago Natu, juraram fidelidade mútua, amparo na adversidade e preservação dos conhecimentos rituais e dos segredos da magia e dos antigos mistérios das Ciências Ocultas, nos quais eram iniciados. Mago Natu celebrou a cerimônia, concluindo: — Eis a última espada de Kalibur! Uma autêntica Ex-Kalibur! Fincai-a sobre a grande rocha negra em que havereis de edificar um novo reino. Aquele que conseguir arrancá-la, herdará para sempre o reino encantado de Kornio e Ália. Na madrugada do dia seguinte, duas suntuosas embarcações trirremes zarparam do cais do Elo Dourado, silenciosa e discretamente, com destino às desconhecidas terras nórdicas de além-mar. Rei Kornio levava consigo, além de considerável carregamento de ouro e pedras preciosas, um casal de sua criação de unicórnios acompanhado do mais recente rebento; e a Rainha Ália, além de seus majestosos pertences, grande estoque de paninhos para secar as mãos, bordados caprichosamente: as toalhas. Entristecido com a partida dos amigos, Rei Médium convidou Mago Natu para irem à Câmara do GRAU. Precisava abrir a terceira caixa, a caixa de ferro. Cauteloso e apreensivo, perguntou ao amigo: — Qual será a surpresa de hoje? Mago Natu olhou-o compassivamente, deu-lhe um tapinha nas costas, incentivando-o: — Não vos atormenteis, meu amigo. O que tiver de ser, será. Abra a caixa de ferro. Depois visitaremos a Imperatriz Gônia e a Rainha Tranha, porque ainda não sabeis das outras surpresas que vos aguardam. — Surpresas? Outras? – Manifestou-se perplexo o Imperador. Não fora informado ainda do que sucedera no decorrer da noite, enquanto providenciava o necessário para a grande viagem do Rei Kornio e da Rainha Ália. Depois de abrir a terceira caixa – a de ferro –, nada havia de diferente dentro dela, além da quarta caixa – a de cobre –, que abririam no dia seguinte. Sem tecer nenhum comentário, o Imperador olhou para Mago Natu, replicando o mesmo gesto que fizera nas vezes anteriores e, em seguida, dirigiu-se ao Espelho Universal. Pela imagem refletida, entendeu que, naquele terceiro dia, deveria organizar uma grande excursão aos campos e campinas, para que fossem coletadas frutas e frutos silvestres. O participante que conseguisse apanhar a maior quantidade e variedade de frutos seria agraciado com um objeto no formato de um enorme chifre, esculpido em pedra jade, deixado de presente pelo Rei Kornio: uma espécie de réplica do original que recebera do Grande Rei, na celebração das bodas do Rei Médium e da Rainha Gônia. O condão daquele objeto mágico era proporcionar fartura e prosperidade a quem o recebesse. Rei Kornio não estaria presente para entregá-lo pessoalmente, mas o Rei Médium solicitara ao Mago Natu que o fizesse no lugar dele. Quem desempenhasse melhor a tarefa do terceiro dia mereceria, assim, a cópia do grande talismã do Rei Kornio — a Kornio-cópia. Decidido quanto a quem entregar a Kornio-cópia, o Imperador convocou Mago Natu: — Vamos, preciso ver agora a minha rainha! Desde que a Imperatriz dera à luz, ainda não recebera visitas. Mantinha-se recolhida, isolada em seus aposentos, alheia a quaisquer acontecimentos exteriores ao seu espaçoso e confortável quarto, conforme rezava a antiga tradição e o costume dos ancestrais, aguardando até que se passassem sete dias e ocorresse mudança na fase lunar. No sétimo dia, já passado o puerpério, a Imperatriz vestir-se-ia de branco, mostrando-se com seus dois rebentos, numa cerimônia para todos, convidados e súditos, para a purificação e consagração dos recém-nascidos aos elementos Fogo e Ar, Terra e Água. Seria também coroada mãe com a mesma joia que deveria ter usado no ritual lunar do seu casamento, se o precioso diadema de camafeus e rubis – a joia da Tia Ara – não tivesse sido roubado pelo Príncipe “Y” e depois enfeitiçado pelo Bruxo Neno. Ainda que Mago Natu tivesse recuperado a cobiçada joia naquela oportunidade, decidiu por destruí-la, utilizando-se de outro encantamento. Rei Médium, dias depois do casamento, encomendou ao joalheiro da Corte, Kalibur, outra peça de igual beleza para que a rainha pudesse se apresentar naquele ritual da purificação. O Imperador, Mago Natu, Professora Plínia e Senhora Natividade da Luz, além das camareiras, eram a únicas pessoas que entravam e saíam livremente dos aposentos da parturiente antes de celebrada a consagração dos rebentos e purificação da mãe. Davam àquele período de resguardo o nome de Boa Esperança, cujo término marcava-se com as comemorações festivas do Dia da Conferência, ou Celebração dos Sete Dias. A tradição ritual do resguardo, no entanto, foi quebrada pela Rainha Ália e pelo Rei Boio naquela oportunidade. Ambos solicitaram ao Mago Natu e ao Imperador que lhes autorizassem despedir-se da Imperatriz, porque partiriam sem previsão de retornar àquele reinado. Pressentiam que jamais voltariam e, talvez, fosse aquela a última oportunidade de ver a Imperatriz e conhecer seus bebês. Não houve obstáculos da parte do Imperador a que o casal de amigos visitasse a Rainha Gônia e os pequeninos príncipes. Mago Natu, no entanto, advertiu-os de que tivessem cuidados durante a visita, explicando-lhes: — Sabeis que os recém-nascidos ainda não foram consagrados aos elementos que os protegerão dos infortúnios, mas também não vos impedirei de ver Gônia. Lembrai-vos: não deveis revelar vossa desdita à Imperatriz, tampouco direis a outrem o que vereis nos aposentos da rainha. Guardai convosco aquele segredo!
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Alguém da rede conhece essa espécie? Tenho algumas mudas no projeto, não é comestível. Disseram que suas sementes são utilizadas para fazer sabão. Os fruto são do tamatamanho uma azeitona de coloração de pêssego.
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Tudo depende de mão-de-obra. Força física. Os recursos humanos nem sempre são compatíveis. É preciso habilidade para realizar qualquer ação.
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(Tive problemas técnicos para postar na sexta-feira) O FEITIÇO DAS TRANSFORMAÇÕES Minutos após o Imperador Médium, a Imperatriz Gônia e o Mago Natu voltarem ao Grande Salão de Diversões do Palácio Fortaleza, Rainha Bisca iniciou o relato contando que o Grande Rei jogava uma animada partida de gamão com a Rainha Alimpa, sobre aquele estojo-tabuleiro, ornamentado de madrepérola e jade, quando ouvimos um grande burburinho no pátio externo. Rainha Alimpa se distraiu e o Grande Rei, num lance de dados magistral, retirou todas as suas pedras restantes das casas do tabuleiro. Inconformada com as constantes derrotas no gamão para o seu mais poderoso adversário, levantou-se, voltou as costas ao tabuleiro e, um tanto desconcertada, disse: — Revoltante! Como este jogo conspira contra quem está com sorte?! O Grande Rei sorriu de seu amadorismo e emendou: — Não é o jogo que conspira contra quem está com sorte, é a sorte que conspira contra quem não estava jogando! Colocando todas as peças de volta no estojo, Rainha Alimpa sorriu, dobrou o tabuleiro, fechou e o devolveu ao Rei Médium. O ruído do grande tumulto instantaneamente formado no pátio do Palácio Fortaleza, pela aglomeração repentina dos convidados ao casamento, fez com que o Grande Rei, Mago Natu, o Imperador, a Imperatriz e a Rainha Alimpa — também chamada de Sacerdotisa Alimpa — viessem ao pátio saber do que se tratava. Não lhes causou admiração porque imaginavam ser o burburinho e a aparente desordem remanescentes das comemorações pela vitória dos príncipes Niko, Surubim e Pintado, na corrida de Numpessó. Porém, a alegria barulhenta de alguns reis e rainhas contrastava com o pranto desesperado de outros, no meio do alarido. O arauto real se apressou e, adiantando-se, abriu caminho entre a aglomeração e o tumulto formado, chegando até onde estava o Imperador, anunciou, ofegante e aflito: — Senhor Imperador, uma inusitada desgraça aconteceu! Peço-vos que convoque Rei Kornio e Rainha Bisca, o Rei Mende e a Rainha Trapa, Rei Boio e Rainha Ália, o Rei Negro Norato e a Rainha Zomba para que relatem pessoalmente o ocorrido! — Assim farei. Fiquem tranquilos – disse o Imperador. Dirigindo-se ao Mago Natu e ao Grande Rei, solicitou que fossem até a Sala da Rainha e lá o aguardassem. — Por gentileza, nobres senhores... senhores, se acalmem... – E, mencionando os nomes que o Arauto Real lhe dissera, os conclamou: — Por favor, senhores reis, senhoras rainhas, sigam-me. Vamos ao Salão da Imperatriz. Precisamos ver Gônia! No Salão da Imperatriz Gônia, as quatro rainhas e os quatro reis, emudecidos, pareciam desnorteados, em estado de choque. O Imperador e a Imperatriz iniciaram um inquisitório, assistidos pelo Grande Rei e pelo Mago Natu, que se mantinham calmos, observando quietos, antevendo todo o desenrolar do episódio. — Senhores, senhoras, pela ordem. Quem quer falar primeiro? – perguntou o Imperador Médium. — Eu – disse o Rei Kórnio. — O que aconteceu? Explique-se de uma vez – solicitou a Imperatriz. — Meu filho, Príncipe Surubim, o Ur, virou um peixe liso e gosmento. — Um peixe? Como assim? – surpreendeu-se a Imperatriz. — E o meu filho, o Príncipe Pintado, idem – disse Rei Boio. — E a minha filha, a Princesa Kaxara, também – lamentou-se, banhada em lágrimas, a Rainha Zomba, não mais conseguindo sorrir, enquanto o Rei Negro Norato, inconformado e enfurecido, acusava o Príncipe Andy Suruba, o “Y”, e sua mãe, a Rainha Trapa, por todo aquele infortúnio. — Tudo por causa da maldita joia da tua Tia Ara, roubada e enfeitiçada pelo Bruxo Neno! — E também por causa desses terríveis sabonetes — vociferou o Rei Negro. Ao ouvir falar as palavras “tiara roubada”, Rei Médium aguçou os sentidos. A Imperatriz Rainha Gônia interessou-se amiúde e autorizou o Rei Negro Norato a prosseguir relatando o que sabia. — Depois que os vencedores da Corrida Numpessó receberam a premiação — Rei Negro Norato relatava o episódio aflito, suando frio, espumando pelo canto da boca, enquanto os outros ouviam calados —, o Príncipe Surubim, o Ur, e o Príncipe Pintado chamaram minha filha Kaxara para irem se banhar no Poço dos Desejos e das Transformações, usar os sabonetes, as Barra Alimpa, que ganharam da Rainha de Sabom. Princesa Kaxara foi sem autorização, burlando a vigilância, sem nossa permissão. Quando chegaram ao Poço dos Desejos, mergulharam. Molhados, saíram da água para esfregar as Barra Alimpa, os tais sabonetes inebriantes, uns nos outros. Começaram por gostar da brincadeira. Resolveram, inocentemente, tirar a roupa pra esfregar-se melhor pelo corpo inteiro. Entraram no mato porque ficaram temerosos de serem vistos nus, se ensaboando... Nisso, o Príncipe Surubim, o Ur, avistou o Príncipe Andy Suruba, filho do Rei Mende e da Rainha Trapa, o tal “Y”, escondido no mato, cavando e desenterrando um objeto da areia. — Era uma joia de camafeus? – interrompeu o Imperador. – “Prossiga.” — Era — continuou o Rei Negro Norato —, mas ele tentou escondê-la dos três. Quando os três se aproximaram, não teve como disfarçar e lhes propôs uma brincadeira que chamou a brincadeira do Suruba. Pegou a peça, a tal joia da Tia Ara, colocando-a sobre a cabeça um a um dos três, passando-lhes sabonete no corpo e esfregando-os. Falou umas palavras de magia, como se estivesse celebrando um outro ritual, ordenando que rolassem pela areia até dentro d’água, enquanto ele dizia: — Esta é a magia do Suruba. Quem a “tiara” usou, caiu n’água, sendo peixe, gente virou; sendo gente, peixe virou! — Assim que os três tocaram n’água, se transformaram imediatamente em peixes. Um, o Príncipe Pintado, ficou cheio de manchas pequenas e pretas por conta das pedrinhas redondas que colaram no corpo, enquanto ele rolava na areia; o outro, Príncipe Surubim, o Ur, ficou com as manchas dos gravetos secos que grudaram na pele ensaboada; e a outra, minha filha Kaxara, ficou com as marcas das folhas secas agarradas à pele, também ensaboada. Os que ouviam o relato, perplexos, nada compreendiam. Muito sério, o Grande Rei e o Mago Natu acompanhavam atentos o relatório, sem se manifestar. O Imperador quebrou o silêncio, interrogando: — Como sabes se foi mesmo desta forma que os encantamentos ocorreram? — Porque o Rei Mende e a Rainha Trapa testemunharam, quando saíram à procura do filho, Príncipe Andy Suruba, o “Y”, que havia desparecido, antes de começar a Corrida Numpessó, juntamente a Bruxo Neno, Rei Mor e Rainha Sissu. Quando eles o encontraram nas imediações do Poço dos Desejos, lá na Fonte da Lua de Mel, chegaram bem no momento de presenciar o desfecho do caso, e o próprio “Y” contou a parte que eles não viram. — Ficamos ao longe observando, quando avistamos a princesa e os príncipes nus, ensaboados, e o Príncipe “Y” de posse da joia de camafeus da Tia Ara, pronunciando palavras esquisitas, semelhantes àquelas que a Bruxa Bizarra dizia. – confirmou o Rei Mende. Rainha Zomba, em desespero, pediu ao Mago Natu: — Mago Natu, eles foram enfeitiçados. Por misericórdia, faça algo para que minha filha, Kaxara, o Príncipe Pintado e o Príncipe Ur voltem a ser gente! As outras rainhas, mães do Príncipe Surubim e do Príncipe Pintado, igualmente exigiam que o encantamento fosse desfeito, enquanto a Rainha Trapa, mãe do Príncipe “Y”, arrependida, confessou todo o seu plano: além de mandar o filho furtar a tiara de camafeus da Imperatriz Gônia, ela mesma também havia tirado um garfo, uma faca e uma taça, enquanto ceava, atendendo uma solicitação do Bruxo Neno. Desejava que ele fizesse um feitiço para sua irmã, Rainha Sissu, poder engravidar, e que o filho, Príncipe “Y”, pegara escondido a joia da Tia Ara antes da cerimônia lunar do casamento, atendendo a sua própria ordem: — Eu pedi ao Andy Suruba que levasse a joia de camafeus da noiva para que o Bruxo Neno a enfeitiçasse. Iria entregá-la à minha irmã, Rainha Sissu, que a usaria por pouco tempo, secretamente, porque ela precisava engravidar. Assim que a Rainha Sissu engravidasse, realizando seu maior desejo e do marido, Rei Mor, juro que daria um jeito de devolver a maldita joia da Tia Ara! O Grande Rei permaneceu calado, mas o Mago Natu se pronunciou: — Rainha Gônia, a tiara está mesmo enfeitiçada! Não a queira de volta. Quanto ao encantamento feito pelo Príncipe Andy Suruba, só ele poderá desfazê-lo. Ou não. Chamem o Príncipe “Y” aqui. O Rei Mende, temendo pelas consequências do pesadelo provocado inadvertidamente pelo filho, antecipou-se e sugeriu: — “Y” não sabe o que fez. Se sabe, não sente! “Y” não sente... – Sem muitas explicações, parecendo não se importar com o desespero das mães e o inconveniente causado pelo Bruxo Neno, Mago Natu pediu licença e se ausentou do salão, falando consigo: “Essa brincadeira vai longe...”
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Se tratando de um ambiente múltiplo, penso que devemos utilizar os espaços da melhor maneira. Estou preparando o terreno para fazer um berçário para mudas de Vetiveria zizanioide (L) Nashville, reclassificado como Chrysopogon zizanioide (L) Roberto. Por conta do trabalho com aromáticas e medicinais. A intenção é ir substituindo o Colonião e Brachiara por Vetiver.
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Entre um corte com a foice, um olhar para ter certeza, que não existe uma casa de marimbondo e um gole de água, cabe "Um poema para o Rosa. E uma prosa para Pessoa".
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Às vezes por fora No que deflora A beleza da face A nobreza delgada Da farsa/ da flora O destino da história/ Mundo afora… Como uma gota No deserto deságua/ Evapora/ só ficando A lembrança daquilo Que em cada um mora O que vale a pena Não se acumula Ao longo do Tempo Na vida o que importa É o tempo presente O agora sou eu - a porta Aberta - NINGUÉM fecha Quem melhora sou EU - sou - eu a qualquer hora. Brazzdyvinnuh Monte das Oliveiras Santana do Taquaral
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O Projeto OCA Ocupação Cocriativa Artfloresta - Terravila Glocal, é uma iniciativa Quase que solitária, entre tantas outras espalhadas pelo mundo. Não é nova nem velha. Pouco observada. O objetivo principal é manter uma OCUPAÇÃO(com moradores locais e/ou em trânsito) que seja COCRIATIVA(a partir de uma ideia anteriormente posta em prática, que corrobora com o propósito da sustentabilidade regenerativa). Por ser artista, com essa visão agroecológica, permacultural e "agroflorestal", sem conhecimento científico em agronomia e similar, coloquei meus dotes artísticos a disposição das atividades agrícolas - nominei de ARTFLORESTA - Logo, "artfloresteiros" e entusiastas, descartam a ideia da necessidade de POSSE para executar um trabalho regenerativo de determinado ambiente. Uma Ocupação Cocriativa Artfloresta tão somente necessita de ACESSO a determinado ambiente, rural ou urbano(seja o acesso a quaisquer bens imobiliários ou não) para implementar uma atividade coletiva ou não. A fim de criar riquezas, contribuir com os bens comuns(água, terra, ar, fauna e flora) gerar trabalho e renda sem se submeter a um chefe. Algo que combina muito bem com os artistas, rebeldes, libertários, pensadores, sem excluir as pessoas "comuns" que adorariam uma vida assim, fora do consumo desenfreado e das convenções ordinárias. Ainda que com responsabilidade e comprometimento com a causa regenerativista. A ARTE prevalecendo como fio condutor de qualquer gerência proposta por pessoas interessadas em experienciar esse tipo de convivência. Sustentar-se da própria mão de obra. *A arte à frente de todas as atividades agrícolas e rurais -
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SEGUNDA CAIXA – DIA DA PESCA Ainda temeroso pelo resultado do dia anterior, o DIA DA CAÇA, o Imperador convocou a Professora Plínia para que, com o apoio do seu infalível amigo, Mago Natu, tomasse todas as providências e precauções no sentido de evitar aborrecimentos ou surpresas parecidas com o sucedido à Rainha Tranha. Mesmo desejando saber o que seria da jovem rainha, Rei Médium evitara perguntar sobre seu estado ao Mago Natu, temendo que a única resposta possível o desapontasse ainda mais e entristecesse toda a Corte do Elo Dourado. Sempre se adiantando ao que o Imperador apenas pensara, Mago Natu manifestou-se: — Prezado amigo, Rainha Tranha continua em transe. A Senhora Natividade da Luz foi devidamente orientada quanto aos procedimentos e cuidados com ela. Vou dizer, mas mantenha o que ouvireis em sigilo, porque o Rei Manso ainda não está preparado para aceitar as consequências do episódio de ontem. — Diga-me de uma vez – pediu o Imperador – , ela sobreviverá? — Certamente. Mas, amanhã ao anoitecer, irá parir uma criatura, cujo pai é o Kaiporã, o Homem do Mato! Rei Médium tomou um susto, seguido de um pressentimento incômodo. Não resistiu e prosseguiu, perguntando: — Como assim? Ela está grávida daquela criatura encantada que dizem ser o filho do Bruxo Neno com a Marquesa de Sonça, parido depois que a traidora Pan Thera se encantou na Sonça Pintada? — Exatamente. Venho, neste momento, dos aposentos da Imperatriz. Conversei com a Senhora Natividade da Luz. Não estive com a rainha pessoalmente, mas a Senhora Natividade me confirmou que, de ontem para hoje, Rainha Tranha apresentou uma barriga demasiadamente crescida, semelhante à de uma grávida de sete meses. Amanhã, antes que surja a lua cheia, certamente nascerá dela um rebento que ficará conhecido com o nome de Kurupirá, a Criatura ex-Tranha. — E daí, o que sucederá, Mago Natu? – indagou o Imperador. — Veremos, veremos. Ocupemo-nos agora dos pescadores. Preciso organizar o necessário para as atividades de hoje. Um leve toc-toc-toc à porta e Professora Plínia apresentou-se, disposta a cumprir o que lhe fosse determinado. — Professora Plínia, organize uma grande pescaria hoje. Explique aos pescadores, principalmente ao Rei Boio e ao Rei Kornio, que deverão capturar os peixes que eram seus filhos, os príncipes Pintado e Surubim e também a Princesa Kaxara, encantados pelo Príncipe Andy Suruba, depois que Bruxo Neno enfeitiçou a joia da Tia Ara. Além destes, também deverão trazer fora d’água Rainha Zomba, encantada na Pirarara, e Rainha Trapa, encantada na Enguia, tomando o máximo cuidado para não tocar diretamente nesta última. Mago Natu também fez à irmã uma recomendação: — Professora Plínia, se alguma mulher, principalmente as rainhas, quiserem participar da pescaria, não as impeça, deixe-as ir. Pouco mais de um quarto de hora e os aficionados por pescaria estavam reunidos no Salão de Esportes do Palácio Fortaleza fazendo as inscrições. Receberam excelentes materiais e equipamentos adequados, assim que aceitaram os regulamentos do campeonato, comprometendo-se a capturar as rainhas e príncipes-peixes sem feri-los ou maltratá-los. Rei Kornio estava especialmente animado, esperançoso de ver novamente o filho, Príncipe Surubim, o Ur, virado gente, ainda que isso lhe custasse ou exigisse algum sacrifício. Rei Boio, pouco menos entusiasmado com a pescaria, mas desejoso de se aproximar da Rainha Bisca, mulher do amigo Rei Kornio, aproveitou a oportunidade e investiu: — Rainha Bisca, veja como vosso marido está feliz com esta oportunidade de ver o Príncipe Ur virar gente. Anime-se também e vamos à pescaria. Rainha Ália ouviu o convite do marido à mulher do amigo e, enciumada, admoestou: — Boio, preste atenção! Isto não é adequado para nós, mulheres. Eu mesma não irei. Cuide-se, porque tu não sabes nadar! O Bruxo Neno observava meio escondido, de longe, sem opinar. Tampouco se prontificaria a participar das ações cuja finalidade era desfazer os feitiços e encantamentos provocados por ele nos dias em que festejaram as bodas do Rei Médium com a Rainha Gônia, três anos passados. Decidido a não colaborar para que desfizessem seus próprios encantamentos porque perderia fama e poder, além de comprometer sua reputação de bruxo, viu na Rainha Ália um trunfo precioso. Precisava desencorajá-la de acompanhar o marido, tornando-a aliada antes que ela percebesse ou desconfiasse de suas intenções. Ao mesmo tempo, precisava incentivar Rainha Bisca ao inverso. Gesticulando para a Rainha Bisca, chamou-a discretamente, instruindo: — Rainha Bisca, admiro vossa coragem e determinação, o que não vejo em vossa amiga, Rainha Ália. Porém, para que tenhas êxito no que ireis fazer, levarás contigo este talismã. Este outro entregareis secretamente ao Rei Boio, cuidando para que ninguém mais veja. Dê um jeito de distrair a atenção das pessoas, afastando-vos disfarçadamente. Depois de colocar vosso talismã no pescoço, ponha este outro no pescoço do Rei Boio e verás que resultado maravilhoso! — Por que terei de colocar o talismã no Rei Boio? Por que não no meu marido? Não ficará ele zangado comigo? – indagou Rainha Bisca. Precisando rapidamente de uma resposta, Bruxo Neno falou a primeira coisa que lhe veio ao pensamento: — Basta que somente um de cada casal use o talismã. Já tens o teu e, como a Rainha Ália preferiu não ir, entregue tu mesma ao Rei Boio o outro talismã. — Por que não entregas diretamente a ele? — Porque Rei Boio me odeia. Eu também não simpatizo com ele. Só estou fazendo isso por dó da Rainha Ália. Além do mais, Boio nunca vai acreditar que minha intenção é simplesmente colaborar. Só eu, somente eu mais eu, está entendendo, pode desfazer o feitiço que encantou os príncipes e as rainhas em peixes. — Por que não entregas também um talismã igual ao Rei Mende? Parece que ele está esperançoso de ter a Rainha Trapa de volta. — Não entendes de feitiço, minha cara. Nesses casos, só dois talismãs podem ser usados. Se quiseres, dê o seu ao Rei Boio e o outro ao Rei Mende. — E terei meu filho de volta, sem o talismã? — Não posso garantir nada, neste caso. — Prefiro meu filho, Ur gente... Se fizer do jeito que me dizes, garantes o resultado? — Garantido que sim. Palavra do Bruxo Neno. Depois me conte! Rainha Bisca foi a única mulher que se inscreveu para a pescaria. Ocultando os dois talismãs de pedra preta, no formato de dois peixinhos amarrados por uma cordinha fina, entre as dobras de suas vestes, já imaginava o momento em que colocaria um dos objetos encantados em si mesma e o outro no pescoço do Rei Boio... Pensamentos extravagantes começaram a assaltá-la. Querendo desviar o foco das tentações esquisitas que começara a ter, Rainha Bisca aproximou-se do Rei Manso, notando sua tristeza: — Por que não queres ir à pescaria? Não pretendes te divertir? Rei Manso olhou-a sem muito interesse e, cabisbaixo, respondeu: — Uma coisa ruim está em Tranha. Algo terrível terá de sair dela. Quero ficar por aqui mesmo. Além de tudo, não tenho filho algum virado peixe... Prefiro ficar aqui, por enquanto! Rainha Bisca, não entendendo o que Rei Manso dizia, mudou o assunto e perguntou se ele se lembrava dos acontecimentos de três anos passados, na festa do casamento do Imperador com a Imperatriz, produzidos pelas artes malignas do Bruxo Neno, depois da inesquecível corrida Numpessó. Príncipe Niko venceu aquela prova e o Príncipe Andy Suruba, o “Y”, filho do Rei Mende e da Rainha Trapa, aproveitando-se do grande alvoroço estabelecido entre os hóspedes do palácio pela vitória do Príncipe Niko, furtou disfarçadamente o diadema de camafeus e rubis da Rainha Gônia, a pedido do Bruxo Neno, levando-o para que ele o enfeitiçasse. Antes de entregar a valiosa joia a sua tia, Rainha Sissu, mulher do Rei Mor, cujo propósito era engravidar, se conseguisse ficar com a peça sobre a cabeça algumas horas, desconhecendo o poder mágico que o bruxo produzira naquele diadema, concorreu para o encantamento de dois príncipes e uma princesa em peixes e, no final do caso, sua própria mãe, a Rainha Trapa, se transformaria no peixe-elétrico, a Enguia, por também cobiçar a joia de camafeus de marfim e rubis enfeitiçada. — Não recordo exatamente como tudo aconteceu – lamentou-se Rei Manso –, só sei que o Príncipe Surubim, Príncipe Pintado e a Princesa Kaxara estão até hoje nadando pelas águas do rio Aguaporé. Meus filhos não estavam com eles naquela comemoração... Como é mesmo que se deu o encantamento? Detendo-se nos acontecimentos que fariam o Rei Manso se lembrar da confusão vivida naquele dia, Rainha Bisca discorreu sobre o acontecido.
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Gradeei 1ha para limpeza e plantio. Por intermédio da Associação do PA Quilombo. Estamos na fase de conscientização da importância da coletividade para somar forças. Só assim se consegue melhorias para uma comunidade. Luta árdua. Chegaremos lá!
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Annona crassiflora O araticum-do-cerrado (Annona crassiflora), da família Annonaceae, é uma fruta nativa do cerrado brasileiro, popularmente chamada de marolo, cabeça-de-negro ou bruto. Outros frutos que pertencem à família Annonaceae têm forma parecida com o araticum-do-cerrado, como a ata, também conhecida como pinha ou fruta-do-conde.
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Concluiu ontem dia 15 a capacitação de Voluntários Brigadistas. Nos dias 14 e 15 de maio de 2024 - na sede da Associação do PA Quilombo - Lago do Manso em Chapada dos Guimarães-MT - A capacitação é oferecida pela ong S.O.S Pantanal. Iniciativa que reduziu em mais de 80% as queimadas em nosso Assentamento de 2020 para 2024 Ontem ao final do dia terminou a capacitação oferecida pela SOS Pantanal. A Brigada de Voluntários de Combate e prevenção aos incêndios florestais, tem mais cinco novos voluntários, a partir da capacitação.
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PRIMEIRA CAIXA – DIA DA CAÇA (4) Boquiaberto com a longa narrativa do Mago Natu, o Imperador Rei Médium tinha vontade de fazer perguntas e perguntas. No entanto, precisava de instruções para que pudesse convocar a Professora Plínia e delegar providências para a organização da caçada à Sonça Pintada. Uma pergunta, todavia, não saía do seu pensamento. Antes que a formulasse, Mago Natu lhe respondeu: — Queres saber se Conde Rasku ainda vira lobo nas noites de lua cheia e se ele irá se inscrever para participar da caçada? — Exatamente, Mago Natu. — Pois bem, um dia aquela maldição será desfeita, não por mim, mas pelo Príncipe Urucumacuã. Porém deixemos que as coisas sigam seu curso natural, sem interrupções. Se ele quiser ir à caçada, que ninguém o impeça. Professora Plínia, sempre eficiente, já anotava num rolo de papiro os nomes dos nobres valentes e corajosos plebeus que se dispunham sair à caça da misteriosa fera pintada. Cada inscrito ouvia instruções, uma lista cheia de normas de procedimentos e cuidados específicos para que o aprisionamento do fantástico animal não lhes causasse danos. Quando o grupo de doze caçadores, seis reis e seis vassalos, já se dispersava para iniciar a empreitada, ouviu-se uma voz feminina se erguer dentre o burburinho: — Também vou. Quero fazer minha inscrição! A ousadia foi de pronto identificada. Era a Rainha Tranha, mulher do Rei Manso, o líder dos caçadores. Ela era notável pelas participações em afamadas temporadas de caça que ocorriam todos anos em seu reinado. Exímia caçadora, Rainha Tranha também queria acompanhar o marido junto dos outros caçadores. Em vão tentaram demovê-la da ideia de se arriscar em tão perigosa e inusitada empreitada. Irredutível, vestindo um gibão elegante e empunhando, com galhardia, arco e flecha, conseguiu autorização do anfitrião e do Mago Natu para seguir com a comitiva. Deveriam, independentemente do resultado, retornar ao Palácio Fortaleza impreterivelmente antes de anoitecer. Ao soar das buzinas, nobres e destemidos caçadores, segurando pelas coleiras cães especialmente adestrados, saíram cavalgando suas garbosas montarias. Logo despareceriam florestal adentro. Quase anoitecendo, quando os serviçais do Palácio Fortaleza iniciavam o ritual de acender os archotes do pátio interno, ouviu-se o soar da buzina dos caçadores seguido do toque inconfundível do trombeteiro real. Com grande alarido, aglomeraram-se no pátio de serviços os que queriam recepcionar a corajosa comitiva, todos ansiosos por novidades, desejosos de conhecer finalmente, ao vivo, a fera encantada para certificar-se de que realmente tratava-se de uma enorme gata de pelo dourado, com pintas negras espalhadas por todo o corpo, portando um diadema de brilhantes na cabeça e um grosso colar de ouro no pescoço, objetos que testificavam ser a fera encantada a mesma Marquesa de Sonça ou Senhora Pan Thera. Os caçadores chegaram sem alardes, cabisbaixos, e logo se dispersaram, puxando pelo cabresto em direção às baias um cavalo arreado, sem cavaleiro. Constatou-se que a jaula onde deveria estar aprisionada a fera encantada voltou com algo em seu interior, semelhante a uma pessoa deitada, encoberta por um manto real. Abrindo espaço entre os nobres e a turba que se aglomerava querendo saber se a fera encantada já havia se convertido novamente em pessoa, Rei Manso, visivelmente transtornado e aflito, desceu da montaria calado, passou à frente de todos e solicitou, em voz baixa, aos auxiliares de ordens do Palácio Fortaleza que retirassem o corpo estendido de dentro da jaula de ouro e o levassem imediatamente à presença do Mago Natu e do Imperador. Os espectadores e recepcionistas da comitiva, quase explodindo de curiosidade, indagavam: — Cadê a fera encantada? — Quem morreu na caçada? Os mais observadores notaram que a montaria que voltou sem cavaleiro era da Rainha Tranha, a única mulher a participar da empreitada e que, certamente, seria a mesma pessoa de dentro da jaula embrulhada no manto do Rei Manso e retirada como morta. — Rainha Tranha... só pode ser! Assim que o burburinho se desfez, os cavaleiros deixaram o pátio, levando as montarias para as baias e a matilha de caça aos canis, sem comentar ou responder às perguntas dos serviçais do palácio. Circunspecto, Rei Manso não disfarçava seu desatino. Foi ter com o Imperador e o Mago Natu, que de pronto vieram ao seu encontro, conduzindo-o à Sala do Rei, onde lhes confidenciou, privativamente, longa narrativa. Ambos ouviram em silêncio. Mago Natu, porque já adivinhara tudo; e o Imperador, porque não desconfiara de nada. — Senhor Imperador, reverendo Mago Natu, alcançai a dor profunda que me constrange – disse-lhes como a implorar solução, ao mesmo tempo em que buscava consolo para o que narraria confidencialmente. — Não nos poupe detalhes, Rei Manso, por gentileza – pediu o Imperador. — Não se aflija. Tudo o que aconteceu teve um propósito, uma razão de ser. Conte-nos o que viu – Mago Natu reforçou o pedido. Respirando fundo, Rei Manso, com a voz trêmula e ainda muito assustado, revelou aos dois amigos: — Por favor, ela está como morta! Digam-me que ela não morreu! — Acalme-se, ela não morreu. Está em transe, mas seja forte, pois ficará nesse estado de torpor por três dias. Depois que expulsar aquilo que está em Tranha, voltará a viver, porém de nada se recordará. — Vamos ao ocorrido, Rei Manso. Fale, por favor – pediu Rei Médium, também ansioso para conhecer a verdade. — Chegamos ao local onde nos foi instruído iniciar a caçada à encantada Pan Thera e de lá nos dispersamos. Cada um de nós tomou uma direção. Combinamos que a Rainha Tranha ficaria ali, naquele ponto central, na qualidade de guardiã da jaula de ouro. Evidente que, se a Sonça Pintada circulasse pelos arredores, Rainha Tranha estava devidamente instruída e preparada para capturá-la. Já tínhamos ouvido falar do filho que a fera encantada havia parido na floresta, mas duvidávamos da veracidade daquela história. — Então, não vos alertaram quanto aos perigos de encontrar a criatura parida pela Sonça Pintada, o temível Caipora, o morador do mato? – Rei Médium interrompeu. — Achávamos que era apenas conto de caçadores. — Pois bem, prossiga – pediu o Imperador, enquanto Mago Natu apenas ouvia. — Vê bem, Rei Médium, passado o tempo que combinamos de nos reencontrar, chegamos todos de volta ao ponto de onde nos dispersamos. Surpreendentemente vimos uma criatura diferente, nua, de corpo peludo, cabeça grande, pés redondos, montado num enorme porco-do-mato que desapareceu tão depressa, deixando um cheiro horrível, antes que pudéssemos cercá-lo com os cachorros e tentar aprisioná-lo. Foi então que avistamos a cena mais constrangedora que já vi. Dentro da jaula, completamente despida, ao lado de suas vestes destruídas, a Rainha Tranha desmaiada, com o corpo todo melado de um visgo esbranquiçado... Oh, que vergonha, Senhor Imperador! Será que ela foi possuída por aquela criatura horrorosa? — Ouviram gritos? Pedidos de Socorro? Tem marcas de violência ou luta pelo corpo? – interrogou o Imperador. — Não, absolutamente, ela só estava desmaiada. Deve ter sido de susto! Reverendo Mago Natu, diga-me, o que faremos? O que será da minha rainha agora? — Levem seu corpo para os mesmos aposentos onde a Imperatriz, Rainha Gônia, deu à luz aos príncipes Urucumacuã e Kurokuru. Deixem-na sob os cuidados da Senhora Natividade da Luz e não permitam que seja visitada. Dentro de três dias, tudo se resolverá. Não comentem nenhures nem alhures — recomendou Mago Natu. O Imperador, no entanto, queria também ouvir o relato da caçada à Sonça Pintada, mas julgou inconveniente prosseguir o interrogatório ao Rei Manso, dado seu estado emocional abalado e constrangido. O próprio Rei Manso, porém, concluiu o relatório: — Senhor Imperador, todos nós, os doze caçadores, sentimos que a fera encantada estava rondando, nos arrodeando; os cães ladravam e até nos posicionamos em círculo, fechando em rota convergente, mas sequer a avistamos. Sentimos até o cheiro dela, ouvimos seus esturros langorosos, mas ninguém a localizava. Parecia mais de uma, multiplicada, em todos os lugares ao mesmo tempo. Ficamos horas andando em círculo, sem êxito na empreitada, até desistirmos. Convencemo-nos de que é mesmo uma fera encantada e admitimos nosso total fracasso nesta primeira tarefa. — Não se preocupem, teremos ainda outras seis caixas para abrir. Veremos as outras surpresas que nos trarão. Continuemos nossa festa. Creio que devemos nos encontrar no Salão de Jantar, dentro de alguns momentos. — Até breve, senhores! – despediu-se o Mago Natu e foi providenciar a acomodação da Rainha Tranha nos aposentos da Imperatriz. No clarear do dia seguinte, Mago Natu se encontrou com o Rei Médium, na Câmara do GRAU. A despeito da apreensão que o Imperador sentia quando descobriu o Espelho Universal (EU), retirando a manta púrpura, o mago o encorajou, dizendo-lhe: — Não temas. O que tiver de ser, será. Cada dia é único. Ontem já se foi, amanhã não nos pertence... vamos, abra a segunda caixa. Com a chave de chumbo à mão, temeroso pela surpresa que os aguardava, o Imperador girou-a cuidadosamente e ouviu o clique destravando a fechadura. Abriu a caixa, constatando que, semelhante à primeira caixa, ela continha apenas outra caixa, a de ferro, que seria aberta no terceiro dia. Olhou para o Mago Natu e, antes que lhe perguntasse algo, recebeu a ordem: — Olhe para o EU. Consegue ver o que deverá fazer hoje? Ao direcionar os olhos ao Espelho Universal, Rei Médium imediatamente foi transportado no tempo, e viu se refletirem cenas repetidas de acontecimentos registrados durante os festejos do seu casamento com a Rainha Gônia, há três anos. — Entendes o que estás vendo? – inquiriu o Mago. — Perfeitamente. Lembro-me de quando os príncipes Surubim e Pintado e a Princesa Kaxara foram transformados em três peixes, pelas artimanhas do Bruxo Neno, enfeitiçando a joia de camafeus de rubis da Tia Ara. E depois, também, quando a Rainha Zomba se transformou no peixe Pirarara, e o Rei Negro Norato, na Cobra Grande... — Sim, exatamente. Aquelas duas, Rainha Zomba mais a filha, Princesa Kaxara, por não terem derramado sangue durante o encantamento, ainda têm possibilidades de voltarem ao que eram antes. Também assim, a Rainha Trapa, porque transformou-se na Enguia, o peixe-elétrico, num episódio diferente dos outros – lembrou o Mago –, porém o Rei Negro Norato talvez fique para sempre encantado na Cobra Grande, pelos golpes da adaga com que foi ferido. — O que deveremos fazer? Chegou a hora de desencantá-los, é isso? — Bem, é... e não é! Se conseguirmos pescá-los, tirando-os da água, capturando-os em redes... Rei Médium não esperou que o Mago Natu concluísse sua fala: — Como conseguiremos? — Organizando uma grande pescaria. Será essa a tarefa do segundo dia, determinada pela abertura da segunda caixa, a de chumbo. Todos que quiserem, independentemente de quantidade, poderão ir, especialmente o Rei Mende, porque sua mulher, a Rainha Trapa, continua encantada em peixe-elétrico, a Enguia. Os pais do Príncipe Ur, o Surubim, Rei Kórnio e Rainha Bisca, além dos pais do Príncipe Pintado, Rei Boio e Rainha Ália, também deverão ir, caso queiram.
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Pequizeiro
Mangueira
Gravioleira
As três árvores que não pretendo fazer nenhuma intervenção com podas.
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Aberta II Edição do webVARAL.oca São 20 vagas abertas para webVARAL.XXIV. Sem custos. Contato [email protected]. Em breve dados completos por aqui. As inscrições se encerram ao completar um total de 20 textos. Os poemas ou micro-textos. Textos Curtos com tema regenerativista impressos em qualquer peça de roupa, assinados, enviados por E-mail para WEBVARAL.SEGUNDAEDIÇÃOXXIV - e-mail:[email protected] - O poeta abre mão dos direitos para exposição que permanece exposta até a instalação da 3a. edição. O webVARAL não devolverá nenhum material enviado, nem a OCA não fará uso indevido do material exposto, em seu benefício, o objetivo é expandir o hábito de ler e escrever, por meio de uma experiência colaborativa. Na tentativa de oferecer luz aos olhos das pessoas que passam pelo Sítio Bom Jesus, onde o projeto OCA TERRAVILA GLOCAL está instalado. O webVARAL não devolverá nenhum material enviado - As inscrições serão encerradas ao completar 20(vinte) textos encaminhados primeiramente por e-mail. Os inscritos serão avisados por E-mail para o envio das peças. Qualquer dúvida WhatsApp 65-98170-9882 - Brazzdyvinnuh
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Hoje foi dia dar início a duas frentes de trabalho - No Gueirobal e nas proximidades do plantio de Erva Cidreira. (Faltaram fotos, bateria do celular descarregou)
Brazzooca, [email protected]
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Reflexão. Diante das dúvidas, quanto aos eventos de catástrofes "naturais" (visto que sabemos ter influência humana nesse processo) por toda a terra de forma globalizada, é no ambiente local, que se pode observar a dimensão da interferência humana para transformar um ambiente, negativa ou positivamente. Ainda acredito que a educação seja um ponto determinante na impulsão de um comportamento e que a reeducação deva caminhar paralelamente a esse processo de aprender e reaprender as coisas. Valorizar a vida por exemplo. E como chegar a isso. (discorreria sobre o tema, mas não é esse o objetivo.) Nas fotos deste texto veremos o antes e o depois. Aprimeira quando da chegada em um ambiente sem um mínimo de atenção e nas outras duas imagens, o resultado de como vem ficando o ambiente. Para um velho de hábitos urbanos perceber alterações tão visíveis, e permitir-se a esse desmoronamento de conceitos obsoletos, já é um ganho imensurável. Tudo depende da entrega. O meu poema é "a mãe terra."
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O CASTIGO DO CONDE RASKU Recebido com honrarias de rei, Conde Rasku chegou a Trindade pouco antes do sol se pôr. Rei Mor preparou uma recepção digna, pomposa, repleta de agrados e mesuras. As doze jovens cortesãs, chamadas pelo Rei Mor de “Minhas Doze Garças”, em dupla fila, compunham uma ala ao longo de um extenso tapete de peles e penas vermelhas, exibindo seus mais atraentes dotes físicos, em decotes que mostravam não só o vão dos seios, além das costas e umbigos, numa procissão de sensualidade despudorada, bem do agrado àquele que encarnava a supremacia da beleza masculina aliada à preeminência de ardoroso amante. Aparentemente lisonjeado, galante e sedutor, o novo rei passeava os olhos por todas, deliciado, procurando debalde, entre elas, a verdadeira Bela de Trindade, porque sabia, de ouvir dizer, que nenhuma mulher até então se igualava em formosura à recatada e tímida serva Angelin, a filha do Bruxo Neno. Não vendo a encantadora moça exposta entre as jovens, disfarçando o irresistível desejo de conhecê-la, já tencionando seduzi-la, perguntou ao Rei Mor, que o acompanhava apresentando as beldades, dizendo seus números, posto que não tinham nomes, e seus principais atributos: — Esta é minha Garça número um. Ela sabe como ninguém lhe arrancar suspiros de puro prazer! Esta é minha Garça número dois... Esta, a número três... conhecem todos os segredos das palavras amorosas... Esta, a número quatro... – e assim por diante, até concluir a apresentação das doze. Insatisfeito, mas usando de astúcia, Conde Rasku investigou: — Amigo, não vejo as duas mulheres mais belas deste reinado! Onde estão a Princesa Anaconda e a tua criada Angelin? Rei Mor, surpreendido pela pergunta, buscou uma resposta rápida, desculpando-se do desleixo: — Amigo, à filha do rei não convém expor-se entre cortesãs; tampouco é conveniente às criadas se avultarem em formosura e donaire, entre as damas às quais servem por obrigação e dever desde o nascimento... — Releve-me a impertinência, Senhor Rei, mas justifico meu afã: proponho casar-me com vossa filha e, desde já, quero pedi-la em noivado. Portanto, interessa-me, também, conhecer qual das criadas lhe deve lealdade, continuando a seu dispor. As feições do Rei Mor instantaneamente se transformaram. Um largo sorriso brotou de seus lábios, acendendo nos olhos um brilho de êxtase. Por pouco não se ajoelhou aos pés do Conde Rasku, beijando-lhe as mãos, em agradecimento comovido pelo gesto de coragem e audácia, implícito no pedido que há muito esperava viesse especialmente da parte de algum nobre ousado. Sonhara, planejara e até conspirara, utilizando de todos os meios, para casar a filha com o príncipe dos príncipes, o herdeiro do Elo Dourado, Príncipe Urucumacuã; mas o rei de Avilhanas, Conde Rasku, a despeito de algumas histórias tenebrosas que pairavam sobre ele, ainda era o mais belo homem de todas as cortes. E beleza para o Rei Mor era fundamental. Refazendo-se do abalo provocado pela emoção da proposta surpresa, Rei Mor pigarreou, arrumou-se dentro de suas excêntricas e luxuosas vestes, ajeitou a coroa de cem brilhantes e rubis sobre a cabeça, emitindo seu consentimento: — Fico honrado e agradecido, e adianto-vos: por dote, recebereis todas as terras que de Corumbi eram na divisa do meu reinado. Sem prejuízo de herdares os objetos mais preciosos de que disponho: as sete misteriosas caixas de metal que, todas as vezes que preciso, abro alguma delas e se realizam meus pedidos. Conde Rasku encheu-se de interesse: — Quem vos entregou essas caixas? — Negociei-as por um bom preço com o Bruxo Neno... valem bem mais do que paguei. Pertenciam ao Mago Natu que, certo dia, presenteou-as ao Rei Médium. Ao ouvir o nome do bruxo, o novo rei de Avilhanas desconfortou-se. Por algum tempo, havia se esquecido de que Bruxo Neno também habitava em Trindade. Nem se atinara para o fato de que a jovem mais bela de todos os reinados era precisamente sua “filha”— a doce e meiga Angelin. Ligeiramente atordoado, mas extremamente argucioso e vingativo, viu se apresentar a oportunidade de conquistar, de uma só vez, os dotes do Rei Mor, tirando-lhe do poder as sete caixas mágicas. Mais ainda, consumaria seu perverso desagravo contra o bruxo, desonrando sua “filha”. Caso fosse preciso, assassinando-a também. Dissimulando sua perfídia, Conde Rasku ensaiou o sorriso mais irresistível e sedutor, indagando ao Rei Mor: — Quando poderei conhecer sua encantadora filha, para entregar-lhe o anel de noivado?
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Impossível ficar alheio ao progresso que vem germinando de uma forma poética. Enxadas, facões, roçadeira, plantio, colheita, arte, pensamento, criação, vivências por demais enriquecedoras.
Momento único. Ainda solitário, pelo momento exigir isso.
Em breve recebendo visitantes.
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No sitio a gente além de perder a noção do tempo, não vivemos em função de dias úteis. à espera de um final de semana pra tirar aquela descansada... nem tant também. Um dia após o outro e vamos levando a vida nessa troca de energia e produzindo. Um dia de cada vez, vamos indo. Nem tão índios, por causa dos insetos, melhor trabalhar vestido. Botina, caneleira, luvas, ... EPIs - Tenho que estar firme forte para amanhã continuar....
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Nessa experiência de cuidar da terra, fazer o manejo de cada atividade, para deixar o ambiente minimamente organizado, a fim que se possa observar o que está sendo preparado, desenvolvido, dá uma mão-de-obra e tanto. Para uma pessoa urbana que resolve fazer uma imersão profunda, em um universo totalmente adverso ao vivido anteriormente, não é fácil. Para muitos, nem imaginável, para outros impossível... mas existem aqueles que apesar de tudo parecer contra, eles vão na contra-mão fazendo o que podem. Futuramente essas pessoas, quem sabe possam deixar uma história diferente, de adesão A vida mais natural possível, ainda que fora das convenções? Paralelamente ao aprendizado que adquire-se, deveria registrar os processos pelos quais as pessoas são obrigadas a enfrentar, superando obstáculo, vencendo os desafios sem perder o encanto pela poesia impressa na vida cotidiana.
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URUCUMACUÃ* – Pássaro de Fogo. Uma história Real, de um Brasil que o Brasil desconhece! “As verdades, por mais que se tente ocultá-las – por séculos e séculos – um dia virão à tona, ainda que contrariando a nossa ignorância travestida de inteligência!” Manteve-se oculta do conhecimento humano por séculos, a história de uma personagem real, mitificada, hoje tida como lendária, no inconsciente coletivo de poucas pessoas, interessadas em assuntos dessa natureza. Urucumacuã – Pássaro de Fogo, em idioma próximo a Língua Geral provavelmente. Urucumacuã carece de ser estudado com mais profundidade. As informações existentes nos são apresentadas comumente como poéticas. Particularmente, minha intenção é aproximar o público dessa obra tão importante como literatura, mas indispensável à universalidade das coisas, principalmente à regeneração histórica da humanidade no mundo em que habita. Percebo a EKONAVI com essa transversalidade ao absorver e reverberar informações holisticamente. Não é por acaso que venho disponibilizar nesta plataforma em minha página, essa história que para muitos não passa de folclore, mito, lenda... em pequenas cápsulas, poções mágicas, fertilizante "frequencial" para fortalecer nossas raízes cósmicas. *H.H.Entriger Pereira - Autora desta saga contada em mais de 400 páginas - 2a. edição Editora Viseu. [Quero abrir aqui espaço para compartilhar oportunamente às sextas-feiras essa história que nos evidenciam...] NOTA DA AUTORA No final de 2012, numa manhã de primavera, recebi em minha casa a visita do amigo, escritor, poeta, ator e diretor teatral, Braz Divino. Veio para o café da manhã, o que me acrescentava uma alegria a mais, e trazia-me uma proposta visivelmente tendenciosa: pediu-me que escrevesse umas poucas linhas, coisa de uma ou duas páginas, para uma revista que intentava editar. A propósito, a revista em tela seria “Rumores”, o número zero de um projeto que futuramente seria rebatizado como “Urucumacuã”. Começamos a prosa entre um copo e outro de açaí. Fazia tempo que eu não produzia texto algum e me sentia desmotivada a empreender uma tarefa daquele calibre. Indaguei a respeito do assunto que gostaria que escrevesse. Quando me revelou, no primeiro momento, pensei em descartar o plano da minha colaboração, pois o tema proposto me pareceu absolutamente insólito. O que poderia eu escrever a respeito de um personagem que residia no mundo dos mitos e cuja transitoriedade era tão efêmera quanto improvável? Ah, tudo bem, teria deixado um legado incógnito, um fabuloso tesouro e uma obscura biografia, que somente acrescentava aos seus dados a hipotética existência de um irmão gêmeo. Era tudo o que eu sabia, até então, a respeito do Príncipe Urucumacuã – O Pássaro de Fogo – sobre quem teria de escrever pelo menos duas páginas de revista. Que desafio! Propus-lhe que escreveria, então, no formato de cordel, um jeito mais simples e poético de transmitir o que minha imaginação ditasse. Braz Divino passou-me a bola, conversamos trivialidades e nos despedimos. Ele, com a esperança de que eu entregaria o texto pronto em no máximo uma semana; eu, com a certeza de que teria que inventar, imaginar, criar, dar vida ao meu Pássaro de Fogo, pois já havia me apropriado e facilmente estabelecera laços de amor com o misterioso personagem. Inventei Urucumacuã ao meu gosto e sabor. Uma culinária que não me parecia mais difícil do que elaborar um bom prato, com sabores tropicais, regado a tucupi e folhas de jambu. Qual o quê... em poucos versos e algumas estrofes, esgotei-me. Não conseguia avançar, por absoluta ausência de inspiração. Passaram-se dias, nem um verso, nem uma estrofe. Urucumacuã permanecia inerte, a bordo de uma embarcação que singrava os mares em busca do Oriente... Natal de 2012, precisamente noite de 26 para 27 de dezembro. Numa rara ocorrência de insônia, reiniciei a contar para mim mesma o que já havia escrito do Príncipe dos cabelos de fogo e olhos de esmeralda. De repente, um milagre: abre-se um portal mágico. Mergulho profundo numa época em que passado e presente se abraçam. Vem à tona uma personagem de boa memória. Encontrei Rainha Alzira, a quem devo todas as lembranças da história de Urucumacuã e de todas as outras histórias tributárias dessa maravilhosa saga... Nós já nos conhecemos faz tempo. Liguei para Braz Divino e solicitei que me visitasse. De pronto, recebi sua bem-vinda visita. Expliquei-lhe que não escreveria mais uma ou duas páginas de sua pretensa revista. Meu amigo olhou-me entre pasmado e aflito, indagando: “E agora, o que vamos fazer?”. Sem muita explicação, acrescentei por resposta: “Vou escrever um livro. Duas páginas de uma revista são insuficientes para contar toda a história do Príncipe Urucumacuã”. Ele me compreendeu, brindamos à ideia com uma taça de açaí caprichada, alinhamos alguns pensamentos e prometi que um dia haveria de publicar a história completa. Assim se fez. Gratidão a Braz Divino. H. H. Entringer Pereira Vilhena/RO –Outono de 2018. APRESENTAÇÃO Pessoa não fosse. Nem tivesse sido. Agora, haveria de sê-lo. Se (não) em sonho, fantasia, pelo menos. Ilusão não seria. Quimera. Mera, quem sabe metamorfosear-me-ia em “Pássaro de Fogo”(.) Urucumacuã, em língua ancestral, por encantamento e de repente merecimento ter: o de ser escrito por Helô Pereira. Pessoa traduz meu paladar literário, principalmente no Livro do Desassossego, em que ele fala o que eu diria. Caso ele não tivesse escrito, “Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pela qual é senhora e rainha”(F. P). Helô Pereira tem esse cuidado despretensioso para facilitar a imersão do leitor, nesse momento tão importante, na leitura. Exatamente um mergulho em suas caixas mágicas da imaginação. Em busca do objetivo. Urucumacuã. Penso que, ainda que eu relesse a obra de Helô Pereira, por mais 33 dúzias de vezes, não atingiria a essência esculpida, palavra por palavra, em linguagem apetecível aos olhos e ao intelecto. Pessoa, o Fernando, no Livro do Desassossego, texto 259, disse: “Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sexualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie — nem sequer mental ou de sonho —, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem.” Ai de mim, se esforço não tivesse feito, para atirar-me de corpo e alma em universo que acesso só pode ter de fato, depois de degustar Urucumacuã, livro inaugural da literatura equilibrada de Helô Pereira. Até então, não passava de uma utopia. Era tudo então, nada mais nada menos que uma miração. Um mito do inconsciente coletivo, há muito, quase arquivado na memória. Acompanhei de perto o surgimento dessa obra líteroiniciática, por assim dizer, que resgata, não um mero mito ou lenda, mas um personagem humanamente real. Distante do conhecimento da humanidade atual. Que nos primórdios da alquimia, da magia, do magnetismo e todas as ciências metafísicas, quânticas e espirituais, ele foi um dos exemplos mais próximos a inspirar magos, bruxos e templários distantes da essencial verdade conferida ao Príncipe, com seus verdes olhos incrustados em uma face cor de canela, de beleza impecavelmente ímpar. Sem contar suas madeixas vermelhas da cor de fogo. Urucumacuã definitivamente está longe de ser uma invenção histórica, como se vê grafado nos livros de história que discorrem sobre o tema. Temos hoje o conhecimento das Minas que trazem seu nome — uma lenda que povoa o imaginário coletivo antes do período da colonização espanhola na Amazônia. Porque até onde se sabe essas “minas” seriam as mesmas do “Rei Salomão”. Inclusive, o nosso desbravador Marechal Rondon não teria vindo simplesmente para estender uma linha telegráfica de Porto Velho a Cuiabá com a finalidade de estabelecer comunicação entre índios “selvagens” e uma população a caminho do desenvolvimento. Existindo tempo de plantar e de colher, logo estamos na era da colheita de uma época que não se repetirá. Ficaremos tão somente com uma das artes mais elegantes de todos os tempos, a literatura — capaz de revelar muito mais do que aquilo que se vê com assustadora propriedade. Helô magistralmente desmistifica, em Urucumacuã, um momento único da humanidade, em que se consegue ver as causas das transformações, do ser puro em objeto de disputa. A autora aproxima o passado do presente, com o aparecimento das coisas, dos seres, dos objetos, das palavras, das pessoas — revela a origem de uma civilização ainda por ser descoberta. A leitura subliminar da obra nos leva por labirintos até o universo místico, mágico e sublime da “eterealidade” que cada indivíduo vem investigando. O momento é ideal para testarmos a nossa capacidade de discernir entre o real e o fictício agora. Conferindo a realidade com os encantamentos de uma trama de milhares e milhares de anos, em meio às florestas mais densas que se soube existir um dia. Sentimos ainda, em nosso íntimo, a imperiosa necessidade de compreendê-la como a nós mesmos. Urge que se tome conhecimento dessa obra única, antes que tentem reinventá-la de acordo com o interesse pernóstico dos desbravadores atuais da literatura. Ao coração sensível. Bem me faria ser Pessoa para falar em Urucumacuã. Ou ser Urucumacuã e ser escrito por Heloiza Pereira. Braz Divino Ferreira da Silva Poeta plástico, Artista ambiental, artfloresteiro PREFÁCIO Sabendo que ao ler UrUcUmacUã iria adentrar em um mundo imaginário, repleto de tramas, feitiços, encantamentos, vesti-me como se fora enfrentar aventuras perigosas e ao mesmo tempos fantásticas, com armadura de ferro, alando meus pés para voar baixo e observar de bem perto, sem na terra encostar, os intrincados caminhos do inatingível, tornando-o palpável. Um tapete escarlate então se abriu a minha frente, como se fora um enunciado dramático de tudo o que iria encontrar — entrega, fascínio, tragédia, amor, lascívia, transformação e dor. E me camuflei em uma figura invisível para, sobretudo, não me machucar com tantas estripulias extraordinárias, criadas pela Autora que, de uma maneira exuberante, fascinante, criativa, nominou tudo e todos de um modo em que alia a fauna, a flora, a natureza, enfim, toda a vivência. E me enredei em cada passo, em cada compasso da trama, e me senti na corte, observando tudo e perquirindo — aonde ela (a Autora) quer chegar? Senti-me qual um Avatar, uma personificação de Deus, com a finalidade divina de aceitar e explicar o poder do imaginário que escorre por entre os dedos da Autora que, tenho certeza, escreveu tudo isso sorrindo, de suas próprias ideias, de suas figuras de linguagem, fazendo-me sorrir também. E a maneira descritiva dos ambientes internos e externos, dos adornos, das indumentárias leva-nos até a sentir a fragrância das flores, ver o nascer do sol, ouvir as águas dos rios e os pássaros cantarem, além de apreciar o décor e até notar o farfalhar dos tecidos e admirar suas cores. E continuei no encalço do Príncipe Urucumacuã, atrás de seu mistério, mergulhando fundo nas alquimias, profecias, bruxarias, encantos que permeiam o Império do Elo Dourado e outros reinos vizinhos, trançando meus passos com reis, príncipes, magos, duques, condes, marqueses, bruxos, vassalos e plebeus, mergulhando nos encantamentos fantásticos de sagas que foram misturadas com lendas urbanas, amazônicas e folclóricas. E eis que um Pássaro de Fogo, encarnação do príncipe de cabelos vermelhos e olhos verdes, voou para longe, trincando o meu coração, após desvendar seu segredo. Ave, Urucumacuã! Leitura estimulante que tem o condão de nos levar até o epílogo, para descarregar toda a nossa emoção de uma só vez, no final. Valeu, Helô Pereira! Agora só resta ler, se encantar, rir e chorar... Júlia Trindade –Poeta e escritora LIVRO I A CÂMARA DO GRAU O dia amanhecera radiante, inundando de luz dourada o grande pátio do Palácio Fortaleza. O Imperador, Rei Médium, levantara-se mais cedo, cuidando em não fazer barulho para que a Imperatriz, Rainha Gônia, continuasse repousando tranquila. Em silêncio, foi até o vestíbulo, compôs-se como de costume, subindo em seguida as escadarias secretas que ligavam seus aposentos à Câmara do Grande Reflexo Auto Unificado (GRAU), abstraindo-se em profunda e demorada meditação. Aquele era o dia em que, conforme profetizara o Mago Natu, durante a celebração lunar de seu casamento, há exatamente três anos, nasceriam os filhos gêmeos: Príncipe Urucumacuã e Príncipe Kurokuru. Consultando apontamentos e anotações astrológicas num rolo de pergaminho, constatou ser aquela data o solstício de verão, quando o Sol entraria na Casa Astral de Gêmeos, exatamente como Mago Natu anunciara. Sobre um aparador de madeira entalhada e marfim incrustado de ouro, estava a grande caixa preta, ao lado do molho de sete chaves de metal que recebera de presente do Mago Natu, assim que concluíra aquela predição. Ao mesmo tempo em que, pensativo, fitava o Espelho Universal (EU), prestava atenção àquele misterioso objeto, querendo desvendar quais segredos ali se continham, lembrando-se de que Mago Natu dissera que “aquela caixa estava trancada por dentro e só seria aberta pelo próprio Tempo, na hora em que os príncipes gêmeos nascessem”. Um raio de sol incidiu diretamente sobre a caixa, realçando as inscrições em letras douradas sobre a tampa, chamando ainda mais a atenção do Rei Médium. Pelo espelho, enxergou cada uma das letras, como se fossem partes vivas de uma composição, pronunciando-as em voz alta: M.N.O.P.Q.R.S. – I.N.R.I. Ao dizê-las, olhou instintivamente na direção do espelho e viu quando os ideogramas dourados, um a um, deslocavam-se da caixa para o espelho, projetando-se no reflexo, alinhando e recompondo-se na mesma ordem em que formavam a inscrição sobre a tampa da misteriosa caixa. Por alguns instantes, Rei Médium ficou absorto, admirado com a fantástica miragem. Ainda quieto, concentrado, viu também quando a imagem da caixa preta igualmente se projetou no fundo do espelho, solta, como se flutuasse, independente do móvel onde estava pousada. Buscando compreender o significado daquilo, lembrou-se de que sua mulher, a Rainha Gônia, deveria dar à luz dentro de algumas horas. O Palácio Fortaleza já estava preparado para a grande festividade do nascimento dos dois príncipes, com todas as suas acomodações repletas de visitantes — quase todos que compareceram à festa do casamento do Rei Médium com a Rainha Gônia, à exceção do casal, primo Rei Naldo e Rainha Araci, do Reinado de Avilhanas, porque também a Rainha Araci aguardava o nascimento de sua segunda filha, a Princesa Irina. Desejando a presença do Mago Natu ali, naquele instante, para que pudesse mostrar ao amigo a miraculosa projeção que ainda se conservava no Espelho Universal, Rei Médium fechou os olhos, buscando-o pelo pensamento. Um súbito destrancar da porta o empalideceu. Mirou novamente o espelho e lá estava refletida a imagem do próprio mago, que o cumprimentava sorridente e cordial. Logo o reflexo se desvaneceu. Mago Natu apresentou-se, então, diante dele, usando a roupa costumeira sob o avental branco que continha duas fileiras de letras repetidas, bordadas em fios de ouro: M.N.O.P.Q.R.S. — Chamastes? – Perguntou o mago, saudando-o. — Sim, Mago Natu. Preciso que me expliques algo. — Quereis saber os segredos e o mistério da caixa preta, correto? — Exatamente. Sei que hoje, à hora em que os príncipes nascerem, ela irá se destrancar. Recordo-me de que no dia do meu casamento, quando me entregastes a caixa de madeira preta e o molho das sete chaves de metal à Rainha Gônia, dissestes a ela que cada uma das chaves abriria a caixa de metal correspondente à chave... — Sim. É isto. — Pois bem — asseverou o Rei Médium —, disseste-me ainda que só poderia abrir uma caixa a cada dia, a partir do dia do nascimento e que, quando abrisse, saberia o que fazer... — Perfeitamente. As instruções estão contidas dentro de cada uma delas — repetiu sorrindo o Mago. — Entendi. Então, hoje, a primeira das caixas de metal será aberta? — Não. Hoje apenas a caixa preta irá se destrancar. A primeira caixa de metal, a de ferro, deverá ser aberta amanhã, ao alvorecer, porque o primeiro menino nascerá nesta manhã, mas o segundo só ao cair da noite! — O que farei agora? Esperarei até a grande caixa preta se abrir, ou descerei até o salão onde meus convidados aguardam notícia do nascimento dos gêmeos? — Vá para os vossos aposentos. Rainha Gônia já se levantou, e a Senhora Natividade da Luz está cuidando do quarto, preparando-o para os nascimentos. — E meus convidados? Deverei atendê-los pessoalmente? — Fique ao lado de sua rainha até o primeiro filho nascer, porque o segundo só virá no cair da noite. Não se preocupe, a Professora Plínia cuidará das recepções e da hospedagem dos vossos convidados. Afinal, nossa cerimonialista é competente e primorosa. Estarei com ela para auxiliar nas tarefas. Até breve. Rei Médium tranquilizou-se. Outras perguntas ainda o inquietavam: “Por que os filhos gêmeos haveriam de nascer em horários tão diferentes? Como o Mago Natu sabia que eram dois meninos?”. Todavia, preferiu esperar que o tempo lhe desse as respostas a mostrar-se impertinente ou inoportuno com o amigo. Confiava nele e tinha convicção de que suas predições eram exatas. Precisava um pouco mais de paciência para obter as respostas. Chegando à janela da Câmara do GRAU, sentiu uma agradável brisa a desalinhar seus cabelos. Olhou para o firmamento, admirando-se do tom azul brilhante, sem qualquer nuvem àquela hora da manhã. Dirigindo ao Grande Sol Central uma prece de gratidão, quando volveu o olhar em direção ao Espelho Universal, que refletia a fisionomia do Grande Rei. Fez uma reverência respeitosa, dobrando levemente os joelhos, dizendo para si e para o espelho: “Sei que não virás a esta comemoração, pois o dissestes aqui no meu casamento. Peço-vos, então, em nome do Grande Sol, assiste à Imperatriz Gônia, na hora de dar à luz aos filhos”. Um movimento diferente formou-se no pátio central do Palácio Fortaleza. Rei Médium não esperava retardatários, pois os convidados que confirmaram presença à grande festa de nascimento dos príncipes já haviam chegado conforme previsto. Além disso, todos se encontravam confortavelmente hospedados no palácio e nas casas nobres da cidade do Elo Dourado. Intrigado com a aglomeração repentina, fechou a janela, cobriu o espelho com a manta de seda vermelho-púrpura e desceu as escadarias rapidamente, até o pátio da entrada principal. A comissão de anfitriões do Palácio Fortaleza recepcionava um adolescente negro, de aproximadamente quinze anos e muito sorridente, cujo nome anunciado pelo arauto real não constava nas listas de convidados da Professora Plínia. Revisando suas pranchetas de anotações, convenceu-se de que não anotara mesmo aquele nome. Perguntou ao recém-chegado: — De que reino vieste? Muito simpático, o jovenzinho negro tinha uma particularidade que a todos causava admiração: só possuía uma perna. No entanto, era lépido como um coelho, bem-disposto e brincalhão. Com muita desenvoltura e sem acanhamentos, identificou-se, entregando à Professora Plínia um rolo de pergaminho vegetal — suas credenciais e identificação. — Sou Sacipe Ererê, venho com minha comitiva do distante Reino de Eirunepé. Em nome do meu honrado e mui bondoso soberano, o Rei Vel, e sua distintíssima esposa, Rainha Candelária, saúdo o grande Imperador do Elo Dourado, Rei Médium, sua virtuosa esposa, Rainha Gônia, toda a sua nobre Corte e trago-vos estes presentes! Rei Médium aproximou-se do rapaz, afastando-se da aglomeração, abriu passagem entre os cortesãos, pegou o rolo de pergaminho das mãos da Professora Plínia, olhou-o por instantes e pronunciou-se: — Bem-vindo, Sacipe Ererê e também sua comitiva. Estejam à vontade na Corte do Elo Dourado. Grato ao vosso rei pelos presentes que trouxestes. Professora Plínia, por gentileza, acomode nosso jovem hóspede e seus acompanhantes na mesma ala em que estão os corredores de Numpessó. Cuide para que nada lhes falte. A maioria das pessoas riu. Julgaram que o Imperador estivesse a troçar do recém-chegado. Rei Médium, circunspecto, esclareceu: — Sacipe Ererê vem do Reino de Eirunepé, representando o Rei Vel e a Rainha Candelária, que não puderam comparecer. Ele é um dos corredores que representará seu reinado na Corrida Numpessó. Conte-nos tua história, Sacipe Ererê. Por que só tens uma perna? — Senhor Imperador, prezados nobres, nasci assim. Quando minha mãe estava gestante de poucos meses, uma feiticeira poderosa que vivia no Reinado de Eirunepé entrou em demanda com o Rei Vel e a Rainha Candelária. Derrotada no embate, para se vingar, lançou uma maldição sobre todas as mulheres grávidas do reinado. Alguns meses depois, os bebês de Eirunepé nasceram todos desse jeito, assim que nem eu... Hehehehehehe. — Ooooh! — exclamaram em uníssono. Um dentre os ouvintes perguntou: — Quem era a feiticeira maligna? Ainda mora por lá? — Taruga Quelônia, a Tal Taruga... mas faz tempo que não ouvimos notícias dela. Dizem que se mudou, depois que se casou com um bruxo famoso deste reinado, o Bruxo Neno. Rei Médium se adiantou, explicando: — Viviam aqui, Sacipe Ererê. Bruxo Neno atualmente mora no Reinado de Trindade. É súdito do Rei Mor. Já se casou com outra mulher, a bela serva de Mor, a Murmur, desde que Taruga Quelônia, a Tal Taruga, encantou-se num réptil. — Quem fez o encantamento? — quis saber Sacipe Ererê, demonstrando aflição. — Não se aflija — tranquilizou-o Rei Médium —, a Tal Taruga encantou-se num animal totalmente inofensivo e indefeso. Desde a festa do meu casamento, há três anos passados, que ela vive a andar pelas praias do Elo Dourado, cavando e enterrando ovos na areia. Não fará mal a ninguém mais... Amigos, fiquem à vontade. Logo teremos notícia do nascimento dos príncipes Urucumacuã e Kurokuru. Desfeito o burburinho com a chegada da comitiva de Sacipe Ererê, o Imperador recebeu os brindes mandados pelo Rei Vel, passou ligeiramente pelo Salão de Refeições, saudando os nobres que degustavam o desjejum e voltou aos seus aposentos. No pátio do palácio, duas criadas vindas de direções opostas se encontraram no meio do jardim. Saudando-se alegremente, olharam ao mesmo tempo para o céu. Viram quando uma enorme ave branca, de bico longo e desconhecida, desenhou um círculo no espaço, pousando elegantemente na janela dos aposentos reais. Admiradas com a acrobacia do grande pássaro, uma perguntou à outra: — O que é aquilo? — Ora, ora, então não te lembras? — Lembrar-me do quê? — Do vaticínio do Mago Natu, no dia do casamento do Rei Médium com a Rainha Gônia: “...No dia em que Sol e Lunes estiverem na Casa Gemini, um grande pássaro branco, desconhecido neste reinado, pousará na janela dos aposentos reais. Então, a rainha dará à luz filhos gêmeos: Príncipe Urucumacuã e Príncipe Kurokuru.” — Ah, já sei. É Gônia dando à luz... isso mesmo, o grande pássaro branco... deve ser Gônia dando à luz! Naquele mesmo instante, ouviu-se o choro de um recém-nascido. Na Câmara do GRAU, um forte estrondo ecoou feito trovão. Rei Médium atemorizou-se com o barulho, dirigindo-se imediatamente ao compartimento secreto. Abrindo a porta, com cautela, viu quando a manta de seda que cobria o Espelho Universal deslizou até o piso, refletindo a imagem da misteriosa caixa preta se destampando. O rei, cauteloso, aproximou-se do objeto, cuja tampa desaparecera, e sentiu uma energia fora do comum a lhe percorrer o corpo. Dentro da caixa preta, forrada de seda azul brilhante, havia uma caixa de ferro, ainda fechada. Teve ímpetos de buscar o molho de chaves pendurado num cabideiro ao lado do espelho. Algo inusitado prendeu sua atenção: a imagem do Mago Natu refletida no espelho, que o observava, advertindo: — Hoje, não! Só abrireis a primeira caixa de metal amanhã, ao raiar do dia. — Amanhã!? — surpreendeu-se o Rei Médium. — Sim, amanhã! Dentro desta caixa de estanho está a caixa de chumbo; dentro da caixa de chumbo, a de ferro; dentro da caixa de ferro está a caixa de cobre; na caixa de cobre, a caixa de bronze; na caixa de bronze, a caixa de prata; e dentro da caixa de prata, a caixa de ouro. Cada dia abrireis uma delas e, então, sabereis o que fazer em cada um dos sete dias. — Hoje, o que farei? — Aguardareis. Vosso segundo filho ainda está por nascer. — Estais convicto de que há mesmo um segundo filho? — Certamente. Príncipe Kurokuru nascerá ao cair da noite. Acreditais em mim? — Se dizeis assim, assim será, Mago Natu! A imagem refletida no espelho esvaneceu. Rei Médium cerrou as cortinas e olhou pela derradeira vez a caixa de ferro dentro da caixa preta de madeira. Em obediência às recomendações do mago, retirou com grande esforço o objeto de metal, liberando-o da caixa de madeira, admirado de seu peso, pois sabia que dentro dela continham-se outras seis caixas. Examinando o interior forrado em seda azul brilhante, viu que em nenhum dos lados, tanto fora quanto dentro, havia marcas de ferrolho ou tranqueta. Perguntou a si: “Como permaneceu trancada esse tempo todo, se não há com que trancá-la? Onde foi parar a tampa com as inscrições douradas?”. Dissuadido de compreender o enigmático presente, optou por deixar a sólida caixa de estanho sobre o aparador. Certificando-se de que o forro de seda azul nada simbolizava ou tivesse de incomum, constatou que a caixa de estanho possuía apenas uma abertura no formato da chave pela qual seria aberta. Contendo-se para não a abrir antes do momento autorizado, pousou sobre ela o molho das sete chaves e se retirou. Precisava ver e abençoar seu primogênito nascido àquela hora. Não demorou um minuto, troou pelo amplo espaço do pátio do Palácio Fortaleza o repique de um grande sino. Ouviu-se na sequência a trombeta do arauto real, solene e auspiciosa, anunciando aos quatro cantos do palácio o venturoso nascimento do Príncipe Urucumacuã. No parapeito da janela dos aposentos reais, a grande ave branca, denominada cegonha, ergueu majestoso voo e despareceu para nunca mais ser vista na imensidão daquele céu azulado. À tarde, enquanto os convidados do Rei Médium se preparavam para cear e depois se divertir com os jogos de mesa e tabuleiro preferidos pela maioria dos reis e rainhas, em alegre e efusiva movimentação, mais uma vez o arauto real tocou bem alto o sino de bronze, conclamando a atenção de todos com o troar afinado da trombeta, alardeando outro nascimento. Cumpria-se a profecia do Mago Natu, dita há exatos três anos: a Imperatriz Rainha Gônia, ao anoitecer, dera à luz seu segundo filho gêmeo, Príncipe Kurokuru. CAPÍTULO 2 ABRINDO AS SETE CAIXAS No alvorecer do dia seguinte, Rei Médium subiu à Câmara do GRAU. Quando abriu a porta, encontrou-se com o Mago Natu: — Estava a vossa espera... bom dia! — Bom dia, Mago Natu. Vim abrir a caixa de estanho. Devo? — Certamente. Só vós podereis fazê-lo. Eis a chave. Mago Natu, com o molho de sete chaves na mão, retirou com cuidado a chave de estanho presa às amarras de fitas coloridas, entregando-a solenemente ao Imperador. — Gire-a uma vez à esquerda e duas vezes à direita. Ouviram um breve clique e outros dois mais prolongados. A tampa da caixa abriu-se instantaneamente, ao tempo que um rápido clarão se refletiu no espelho. Rei Médium sondou o interior da caixa de estanho como se procurasse algo secreto. Nada havia além de outra caixa — a de chumbo. Removeu a caixa de chumbo, separando-a, colocando a caixa de estanho aberta e vazia entre a de madeira preta destampada e a de chumbo ainda lacrada. Sem entender o que se passava, perguntou ao Mago: — Que farei com isso, agora? — Olhai o espelho e compreendereis. A imagem de uma reluzente e portentosa gata pintada a espreguiçar-se projetou-se em primeiro plano, de frente ao Rei Médium. A beleza sedutora e a aparente ferocidade do animal provocaram ao mesmo tempo admiração e temor. O olhar lascivo da fera parecia magnetizar o rei. Dando um passo atrás, esquivando-se da ameaçadora e sedutora miragem, perguntou ao Mago: — É a Marquesa de Sonça, a senhora Pan Thera, aquela que o Bruxo Neno e o Conde Rasku transformaram nessa fera pintada, na noite seguinte ao casamento do conde? Mago Natu, assentindo com a cabeça, segredou ao Imperador: — Perfeitamente. Preciso vos alertar sobre cuidados que adotareis, quando vossos convidados saírem a caçá-la. — Deveremos, então, organizar uma caçada? — Sim. Todos os vossos convidados, reis e acompanhantes que desejarem, deverão sair para caçar a fera pintada. — Mas não temos tradição de caçadas no Império do Elo Dourado, desde que essa fera encantada começou a aterrorizar os caçadores. – argumentou. — Não se trata de uma caçada igual às outras. Precisamos capturá-la apenas, não a matar, para retirar-lhe uma joia que carrega presa ao pescoço e desencantá-la! Aquela descomunal fera pintada vagava livremente por todos os florestais. Encontrar-se com ela era um dos maiores riscos a que os caçadores se sujeitavam, ainda que muitos o desejassem, por curiosidade ou paixão. Embora tivesse a aparência de animal feroz, não era a ferocidade seu maior perigo. Sua magia e beleza fascinavam, deslumbravam, atraíam fatalmente homens e mulheres. Ainda que tivesse aspecto aparente de animal, exalava aromas exóticos tão sedutores que levavam os que não estavam preparados para resistir aos seus encantos à lascívia, à loucura ou à morte. Muitas histórias de caçadores iludidos, desaparecidos ou encontrados mortos, sucumbidos à atração da sensualidade da fera pintada, eram descritas por causa do desejo e da curiosidade que despertava nos que tencionavam possuí-la. — Meus convidados terão obrigatoriamente que aprisioná-la? — Exatamente. Deverão resistir, no entanto, ao magnetismo sedutor dos seus olhos agateados, não deixando que seus olhares se cruzem diretamente. A armadilha para atraí-la será de paus e cordas com isca de flores de jasmim. Após aprisioná-la, cortem-lhe as garras, trazendo-me para que possa desfazer o feitiço e transformá-la novamente na bela e sedutora senhora Pan Thera. — Mago Natu, vós mesmo desfareis o encantamento? — Sim, desde que consigam trazer-me as aparas de suas garras afiadas. — Se não conseguirem? — A marquesa continuará encantada, até que o Príncipe Urucumacuã cresça e adquira conhecimento para cumprir ele mesmo essa tarefa, desfazendo não apenas esse como tantos outros encantamentos que existirão neste reinado. — Referi-vos, inclusive, àqueles que o Bruxo Neno provocou, durante a festa do meu casamento? — Alguns deles. Nestes próximos sete dias em que se abrirem as caixas de metal, principalmente hoje, amanhã e depois de amanhã, agiremos no sentido de encontrar as criaturas que continuam encantadas sobre a Terra, no reino das águas ou no espaço celeste, para que retornem às próprias essências, aos seus elementos originais – garantiu Mago Natu. — Quanto ao Kaiporã, aquele ente que, acreditamos, ter sido parido pela fera pintada, a Pan Thera encantada, deveremos também o aprisionar, para desencantá-lo? — Não, o Kaiporã, cria parida pela Sonça Pintada, transformou-se num guardião do florestal. Cuidai para que nenhuma mulher participe dessa caçada, porque o resultado poderá vos surpreender – advertiu o mago. — Podereis me explicar melhor? — Claro. Mas cuidemos disso antes que se cumpra essa primeira das sete tarefas mágicas. Teremos muito trabalho a realizar. Depois explicarei os porquês de tudo! Rei Médium confiava na extraordinária capacidade e no conhecimento do Mago Natu a respeito das Ciências dos Mistérios e Magia. Acreditava firmemente que ele dominaria com agudeza de espírito e argúcia as forças ocultas manipuladas pelo Bruxo Neno, para sobrepô-las, desfazendo as incontáveis feitiçarias que, desde a festa de seu casamento com a Rainha Gônia, dividiram a população do Elo Dourado e avivaram intrigas, azedando o ânimo entre os reinados, tornando insuportável a vida de muitos súditos nos lugarejos de beira-rio. Entretanto, algo inexplicável desassossegava o coração do Rei Médium. Sentia que alguns dos encantamentos provocados pelo Bruxo Neno estavam irremediavelmente condenados a se perpetuar ao arbítrio do tempo. Não ousava, porém, desobedecer nem contrariar os ditames do Mago, ainda que custasse a admitir a possibilidade de que seus amigos enfeitiçados e transformados em peixes e répteis, há três anos, voltassem aos formatos naturais humanos, sem prejuízo das faculdades de ponderar ideias e raciocínios, ou, simplesmente, lembrar-se das circunstâncias vividas sob outras formas, noutras essências. Se houvesse possibilidade de qualquer sequela permanente em suas memórias assim que se desfizessem os feitiços, incluindo transtornos mentais, melhor seria que permanecessem encantados para sempre. Mago Natu perguntou ao Rei Médium se ele conhecia os pormenores e os motivos pelos quais o Bruxo Neno se apropriara do bridão de ouro encantado que pertencera ao Rei Albe, o Rico, utilizando-o para transformar a senhora Pan Thera, Marquesa de Sonça, na deslumbrante fera Pintada. Comentava-se que o bruxo, quando a encantou, tencionava apenas libertá-la da dolorosa tortura infligida pelo marido, o belo e cruel Conde Rasku, que a flagrou, em sua primeira noite de casados, em pleno ato com o bruxo e, para se vingar da mulher traidora, marcou seu corpo nu, coberto de pó de ouro, com golpes de ferro em brasa! — Ouvi rumores... tia Alzira falou algumas coisas na derradeira visita que nos fez, logo que a Imperatriz ficou grávida – assentiu o Rei. O Imperador se recordava de que, mais ou menos à época daqueles acontecimentos, sua tia-avó, Rainha Alzira, já viúva do Rei Albe, o Rico, visitou-o no Palácio Fortaleza, assim que soubera que a Rainha Gônia engravidara dos príncipes gêmeos. Naquela visita à Imperatriz, Rainha Alzira também trouxe notícias do Reinado de Avilhanas, contando detalhes do nascimento de seu primeiro neto — o Príncipe Gesu Aldo, primogênito do Rei Naldo e da Rainha Araci, já com dois anos de idade à época. Relatou também sobre os despautérios e extravagâncias do incorrigível filho Conde Rasku e seu excêntrico casamento; coisas secretas que aconteceram entre Rasku e a nora, Marquesa de Sonça, transformada e encantada numa fera pelas artes mágicas do Bruxo Neno. Justificou, no entanto, que ela mesma não poderia vir à festa de nascimento dos príncipes Urucumacuã e Kurokuru, pois a Rainha Araci estava novamente grávida e daria à luz, naquela mesma época, à Princesa Irina, sua segunda neta, conforme as predições do Mago Natu. Princesa Irina fora prometida em casamento ao Príncipe Urucumacuã, antes mesmo de nascer. — Conde Rasku chegou de Avilhanas anteontem – informou o Rei Médium ao Mago Natu –, entregou-me mensagem mandada pelo primo, Rei Naldo, dando conta de que a Princesa Irina nasceu, felizmente. Por isso não pode vir a esta comemoração. Conde Rasku também se limitou a repassar os recados do irmão, respondendo sucintamente o que o Imperador perguntara. Sequer tocou no nome de sua mãe, Rainha Alzira, e de sua cunhada, Rainha Araci; tampouco relatou acerca dos acontecimentos envolvendo sua mulher, a Marquesa de Sonça, com o Bruxo Neno, depois da traiçoeira armadilha que os dois enredaram no dia seguinte às bodas. — Nem espere, nem queira ouvir do Conde Rasku sobre aquilo, meu amigo. São raras as pessoas que sabem do misterioso incidente, além de uns poucos lacaios da Marquesa de Sonça, mantidos de boca fechada sob ameaça de morte pelo próprio conde. — E quanto a vós? Como soubestes do ocorrido? – indagou o Rei Médium. — Tenho minhas fontes de informação, amigo! — E que fontes, Mago Natu, que fontes! — Garanto-vos que Conde Rasku estará entre os primeiros dos interessados a se inscrever para capturar a Sonça Pintada. Não por vontade de desencantá-la e de tê-la como mulher novamente, mas por desejar avidamente tomar-lhe a joia que está no pescoço. Ele não percebeu que o Bruxo trocou rapidamente a peça, deixando no pescoço da fera o falso bridão e ficando com aquele verdadeiro, que pertenceu ao vosso tio-avô. — Podereis contar-me sobre o acontecido, Mago Natu? — Certamente. Antes que nossos caçadores capturem a Sonça Pintada e seu falso bridão encantado, sabereis como tudo aconteceu... — Por que não utilizareis as mandrágoras que recebestes do Grande Rei para desfazer de uma só vez todos os feitiços e encantamentos provocados pelo Bruxo Neno? – Rei Médium indagou? — Não servem para isso, especificamente. Ganhei-as do Grande Rei com a recomendação de somente utilizá-las em benefício de toda a população do Elo Dourado. Cada uma das três mandrágoras possui uma utilidade específica. A primeira é só para curar epidemias; a outra para restaurar a fertilidade dos casais neste reinado e a terceira para livrar nossa população da escassez de alimentos, quando e se houver. — Haverá, então, motivos para usá-las? – interpelou o Rei. — Quem sabe, amigo, quem sabe? — Dizei-me agora, Mago Natu, quando, como e por que a Marquesa de Sonça se transformou naquela fera Pintada? — É uma longa história, prezado Rei Médium. Preciso mesmo vos contar. Voltemos no tempo, desde a época da festa do vosso casamento, há três anos, quando o Conde Rasku anunciou seu noivado com a Marquesa de Sonça e, algumas luas depois, realizou suas bodas lá em Avilhanas. Naquele tempo, exatamente, passeavas com a Rainha Gônia visitando o Reino da Madeira, e eu andava pelo Reinado da Perfeição, hospedado no Palácio do Grande Rei. Lembremos, pois...
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Capacitação para Brigadistas Voluntários no PA Quilombo em Chapada dos Guimarães-MT, Associação PA Quilombo e S.O.S Pantanal no combate aos incêndios florestais. Proteger o cerrado é um dever de todos.
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É superando os desafios que nos fortalecemos. Buscamos soluções na maioria das vezes prontas. Criá-las quando necessário é o mote da vez. Aceito sugestões, mas quero também descobrir caminhos alternativos, pois no ofício do plantar tudo já existe. Criamos expectaivas naquilo que desconhecemos. Recuperar, restaurar, regenerar é olhar com olhos para além da técnica, do palpável... Tudo tem jeito quando nos propomos à essa troca: homem x terra, terra x homem.... A natureza está para servir e ser servida. [email protected]
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OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA TERRAVILA GLOCAL está definindo seu ponto de partida. Sem dúvida será com o plantio de milho. A natureza me pregou uma peça. Quando o comum nesta região seria que no outono as chuvas estivessem findando, elas entram em cena literalmente. Eu agradeço ao Universo por isso. Aos trancos e barrancos venho aprendendo essas sutilezas que não nos chegam em um tutorial. Só pela observação e sem pressa. Comecei gradeando no ano passado meio (1/2) hectare, não plantei ainda por causa das mudanças climáticas. Agora, vou ampliar minha mão de obra para um (1) hectare, onde planejo plantar além alimento para sustentar o espaço, experimentar as aromáticas e medicinais, as mais rústicas devido o clima aqui pelas bandas do Lago do Manso
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INTROITO:[Alguns pseudos poetas dirão que sou romântico demais. Que vivo nadando com as borboletas, voando com os peixes, cavalgando com as borboletas. Que mal há nisso? Por acaso esse comportamento inspira cuidados? Ser utópico com os pés plantados na terra, com os sentidos todos aguçados para tentar compreender a liguagem das aves que falam comigo diuturnamente... pois a Mãe da Lua é minha preferida, na falta de outras tão belas quanto]. Não tem como separar a OCA TERRAVILA GLOCAL de qual quer esboço de arte. Uma habitação sem um poema que seja, carece de uma revisão do que seja gênero de primeira necessidade. Estou falando isso porque depois de meio século de peleja para esculpir uma vida saborosa, novos sabores começam fazer parte do meu <<menu diário>>... A imersão não é mais na floresta mineira em Juiz de Fora, Salvaterra continua sendo um bairro bonitin, mas minha imersão agora é nas frequências, ondas cibernéticas de onde posso tirar outros poemas diletos. Quando idealizei essa ocupação, foi pensando na possibilidade de me salvar dos arroubos citadinos, da busca embevecida por uma resposta que a cidade não dá. Quem dá essa resposta é cada um. Para facilitar o meu entendimento, prefiro dizer que é a terra lá da roça onde eu planto meu próprio alimento e ainda posso ter mais pessoas fazendo isso comigo. Isso pode acontecer em qualquer lugar do mundo, mas o mundo é muito grande pra isso. Em qualquer parte do Planeta já está de bom tamanho. e olha que ainda tá é grande. Estou propositalmente sendo prolixo para dizer que sem paciência não se atinge o âmago da questão. O objetivo dessa proposta tão comum é tão somente plantar e colher, de forma que possa inspirar outras pessoas, para umas aventuras com essas nuances. Respeitando os bens comuns: a terra, a água, o ar, a fauna, a flora, fazendo um esforço imenso para controlar o fogo, afim de que ele seja útil e não destrutivo. Usando o bom senso em cato ato cometido. Me sinto honrado de estar fazendo parte deste grande movimento que tem a EKONAVI como norteadorara de possibilidades. Feliz pelo *Projeto OCA TERRAVILA ter sido um dos contemplados para participar da Oficina de Financiamento da Agricultura Sustentável da Web3.0
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Quando tudo parecia pender rumo a estiagem, despenca do céu uma chuva providencial deixando toda pessoa ligada no espírito das coisas da natureza, cada vez mais, obedientes aos sinais mais sutis, de que essa força inominável, que atinge a todos sem excessão realmente, nos domina e nos surpreende. "O Maior Mistério é ver mistério, ai de mim senhora natureza humana..." No retorno de uma reunião da organização de uma festa para a "Rainha Rural", na sede do município de Chapada dos Guimarães-MT, que vem acontecer no dia 23 de maio, onde a mesma contará exclusivamente com a presença de MULHERES no evento. O Projeto OCA Terravila Glocal, a Associação PA Quilombo e mais onze comunidades rurais assumiram o compromisso de promover o tema da festa A AUTO ESTIMA E O EMPODERAMENTO DA MULHER NO CAMPO. Observando os encantos que os grandes latifundios se negam a enxergar, a riqueza que brota do chão, desperta na pequena comitiva de cinco pessoas, os diversos sentidos. A visão, o olfato, o tato, o paladar, todo sentimento de pertencimento desse lugar gente da terra. Com riqueza sem igual que precisa ser preservada, de alguma maneira. A colheita e certa, se respeitarmos a flora, a fauna, a terra. Então a gente se depara com um belo e saboroso fruto de Araticum (Annona crassiflora) disponível, à mão. (O que mais me impressionou foram as conexões, as intenções se convergindo, o assunto principal foi a Mulher, no retorno o alimento da terra - não é romantismo, sim experimentação). aBRAZZoz, desde a OCA Terravila Glocal
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Quinta espécie que comparece no sítio Bom Jesus, deixando a OCA TERRAVILA GLOCAL ➕ viva. Só consegui registrar essa. Os outros animais foram Ouriço Caxeiro, Tamandua, Lobinho, Tatus, Coelhos... Em breve uma assembleia dos "bichos gente boa".
aBRAZZoz
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[Para regenerar o ambiente é preciso regenerar o homem. Recu[pe]re os valores do Ser Humano e ele estará pronto para reconhecer o valor do outro. Reconheça sempre o conhecimento científico, mas.... observe a sensibilidade que acompanha o indivíduo.] TUDO COMEÇA COM O PRIMEIRO MOVIMENTO - Foi isso que aconteceu. Eu ex-urbano, ou urbano em exercício de desapego desse modelo de vida, tinha algumas sementes de Urucum, as plantei com a intenção de produzir mais sementes, e está sendo feito isso. A terra que tudo dá, tem que ser tratada com respeito. A Mãe Terra dá, a Mãe Terra toma. Por isso ela tem fome. Deixá-la desnuda é o mesmo que cortar o seu lanchinho diário. OCA - Terravila Glocal - Lago do Manso. aBRAZZoz Vamos descobrindo aquilo que ainda não havia sido observado. Entrega!
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Minha experiência, um dia será vista sem olhar torto. Falo isso porque minha habilidade com o plantio está começãndo a fluir. Estou bem entusiasmado com as espécies que exigem menos domínio da técnica. Espontaneamente vão se desenvolvendo eu olhando a poesia da flora agradecer pela minha persistência. Breve terei material diferente para mostrar. - OCA -
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Em um tempo anterior, onde a busca pela espiritualidade se fazia necessária, em um ambiente caóticamente urbano. Bem mais contemporaneamente, pude receber de H.H.Entringer Pereira, um presente que era pra ser degustado numa edição da Publicação RUMORES, a qual eu era editor. Ganhei de H.H. um conteúdo que facilitaria meus dias. Um cordel começou ser feito, o que achei curioso. Mais curioso foi quando Heloiza me disse que não faria mais o que eu havia pedido. Fiquei arrasado. repirei e ela disse: o conteúdo que tenho para a revista é de um livro - e me narrou o que seria organizado. Os dias de construção do livro foi partilhado comigo em detalhes. - de 2012 a 2014 - Depois de um périplo por alguns estados com espetáculo de teatro e oficinas de luminárias, surgiu Encantatória - meu quarto livro - o primeiro impresso e editado por Ilma Fontes editora de O CAPITAL - Aracaju-SE. - A apresentação foi de Heloiza - Prefaciado por Cezar Simao - Conexões com a brasilidade se dando em grande proporção. Chegou a vez de URUCUMACUÃ ir para o forno, eu apresentei a saga ao meu modo, mais para uma Ode que apresentação. Desdobramentos tantos, COVID-19 me auto-exilei em uma "ecovila", em Juiz de Fora-MG - onde não pude ficar porque eu não caibo todos os lugares. Um Clikc e vim parar no PA Quilombo, um Assentamento que se originou devido a contrução da Usina Hidroeletrica do Manso - formando assim o terceiro maior Lago Artificila do Brasil, com 470km de extensão. Os moradores das margens do Rio Quilombo tiveram que ser realocados para a parte mais alta, por causa da inundação da localidade, assim se formou o PA Quilombo. Mas foram três os rios que se perderam com o represamento - Rio da Casca, Rio Manso e Rio Quilombo. odo esse movimento despertou em mim um profundo sentimento de pertencimento a esse lugar de resistência. OCA - a ocupação que eu precisava começa a surgir das linhas de um livro que mostra isso de forma sensitiva, até. Ocupação Cocriativa Artfloresta - é a tradução de tudo isso. è poder fazer tudo que se faria na cidade, aqui no Meu Cerrado Minha Vida. Os desafios são inúmeros, mas até o momento não foram suficientes para que eu desistisse de aprender a ytrabalhar a terra utilizando as técnicas disponíveis, a ciência, a tecnologia, a empatia para reconstruir um Eu Novo e liberto dos medos impostos por um sistema que aliena aquele que se deixa encantar pela ilusão de tudo que não é nosso. Meu pertencimento é de fino trato comigo mesmo. Pisar na terra, me banhar nas águas do Manso (com piranhas e tudo). Quando cheguei de mudança na beira do lago, me deparei com uma placa inusitada: FIM DO ASFALTO! Prosa para outra hora. Vi o tempo transformar o ambiente magistralmente, um bom exemplo é o pequizeiro que se desnuda no verão ou no tempo de estiagem, conforme duas fotos para ilustrar esse encantamento. Todos os Orixas estão de prontidão neste ambiete repleto de respeito a origem da vida. Se tiveres olhos e sentimentos poderás alcançar mais que um livro, mais que uma história contada pelos povos originários, mais que uma mera Ocupação para receber pessoa disposta a dar a resposta que a vida pede. Para essa rede se formar de nós, nós e nós, TAODAO - E2GLATS - EKONAVI - SENSORICA - facilitando essas imersões. Basta confiar na intuição e dar o primeiro passo. Depois bater as asas e voar. O Sítio Bom Jesus é o ninho dos volitantes. OCA Ocupação Cocriativa Artfloresta
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URUCUMACUÃ - A SAGA, livro de H.H.Entringer Pereira
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Por Brazz Dy Vinnuh * Antes da América ser do Sul, era doçura. Em algum lugar e tempo remotamente impresso, nas paredes dos livros de cavernas, rochas e rios contados por diversas personagens, odiendas ou cativantes e encantadoras. Lúdicas ou reais. Os pré-incaicos senhores da atemporalidade arquivaram na memória da terra, do homem e do tempo informações e conhecimentos, os quais insistem em bater à nossa porta diuturnamente. Enquanto os feudos se alinhavam contra ele mesmos, as suas crias se divertiam na rabeira das horas contadas nos relógios pelos raios solares; fosse em casa, nos palácios, nos campos, pradarias, pantanais, cerrados, florestas fechadas… Só se tinha “aqueles” momentos como testemunhas oculares — os rios, as pessoas, as pinturas, a cosmogenia. Antes do Brasil ter essa forma, já, na engenhosa memória do homem borbulhava todo desassossego que, ao olhar do lado, se contamina(ria)… Visto que a única riqueza que se leva da superfície terrena é a ignorância na acepção da palavra, ou o conhecimento adquirido no transcorrer das épocas — um dos jeitos para se compreender como chegamos ao que somos hoje é por meio da cultura seja oral, escrita ou pictórica e a arte. Dentre as artes, uma delas com grandes possibilidades de elucidação, quase que de qualquer enigma, ainda parece ser a literatura. H. H. Entringer Pereira, foi a mais fiel possível aos fatos narrados em sua obra de estreia como romancista, “Urucumacuã”. Sua verve jornalística lhe mostrou um leque de horizontes nesta investigação minuciosa, da galeria de dezenas de personagens inimagináveis, criação de nomes, lugares, coisas, os quais desfilam nas passarelas de diversos cenários mostrados na história contada em uma saga de “três” livros no primeiro volume (2012/2018), narrando com o máximo de veracidade, o momento que antecede a transição-transformação do Brasil, bem antes da visitação dos europeus. O Brasil se encontrava neste mesmo lugar, aqui as pessoas viviam com intensidade, os povos do período que se destacavam eram os incas, de quem Urucumacuã, personagem central da obra de Entringer, trouxe sua linhagem austera. A obra não poderia ter outro desfecho, visto que a autora apenas revela os acontecimentos daquela “data”, por mais que a narrativa de “Urucumacuã”, não esteja sustentada cientificamente — por enquanto. Com o avanço da tecnologia, isso poderá ser comprovado futuramente. O livro de Heloiza regata os derradeiros momentos de uma civilização devastada pela ganância e o desvio da moralidade saudável. Do respeito à vida como maior tesouro a ser conquistado. Ainda traz de presente ao leitor atento a iniciação ao processo de espiritualização cósmica. Conta ainda com elementos peculiares que podem nos levar a descobrirmos quem somos hoje. Em “Urucumacuã”, se tivermos o profundo cuidado de ao invés de apenas lê-lo, vivenciá-lo com acuidade, chegaremos à essência do que pelo menos almejamos em ser um dia, se tivermos paciência para tanto. Sem deixarmos de ser mortais equivocados, intransigentemente carentes de toda forma de afetos e autoamor. Até porque a paixão carnal pela outra pessoa (ou coisa) é mera metáfora do que devemos ser para nós mesmos. O Ser hominal é sagrado e profano na tentativa de perpetuar aquilo que caminha nas asas do universo cativo de cada um. Sobre esta obra a autora assim se manifestou, em entrevista ao jornal Folha do Sul (Rondônia, dia 20/07/2018) por ocasião de seu lançamento: “Urucumacuã numa língua indígena ancestral significa ‘pássaro de fogo’. Existe uma lenda que circula o mundo de que esse personagem é um príncipe que morou nesta região há alguns milhares de anos, deixando um colossal tesouro. Mas não há registros que certifiquem a real existência dele. Um dia, Brazz Dy Vinnuh, um artista e escritor vilhenense, meu amigo, pediu-me que escrevesse algo a respeito de Urucumacuã, dando vida ao personagem… Eu aceitei o desafio e assim comecei a escrever a minha própria interpretação biográfica da Casa Real do Príncipe da Beira do Rio e liguei no mesmo contexto os mitos e lendas amazônicas mais conhecidas, numa interpretação particular e única de suas origens…”. H.H. Entringer Pereira é escritora, jornalista, presidente da Academia Vilhenense de Letras. Nascida em 03/04/1956 em São Rafael, no Espírito Santo, a autora do livro “Urucumacuã” (Lura Editorial) é Bacharel em Direito e trabalhou no Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia. Mora em Vilhena (RO). Casada com Salvador Pereira Júnior, é mãe de quatro filhos. Faça contato: https://www.facebook.com/hentringerpereira. * Poeta, agricultor e artista visionário, Brazz Dy Vinnuh reside em Chapada dos Guimarães (MT). É criador e mantenedor da Ocupação Cocriativa ArtFloresta. Contato: http://ciaabrazos.blogspot.com.br/ e https://www.facebook.com/abrazosycia?ref=hl. LITERATURA (Literatura regenerativa,resgata a origem do Brasil) Urucumacuã — A Saga, livro de H. H. Entringer Pereira Data: 2 02America/Sao_Paulo abril 02America/Sao_Paulo 2024 Autor: Eduardo Waack - Jornal O Boêmio https://jornaloboemio.wordpress.com/2024/04/02/urucumacua-a-saga-livro-de-h-h-entringer-pereira/?fbclid=IwAR1kuaITFraSMsxbJ399fUnWbEKRQDtYvVDiK21LrrnoMWJMYhSEsoVGCPM_aem_AeATAiEW-ZToeCa0vszqPerwBbOtrP7H8Eap_tcHbFFFsBRG-HTAYSswGdjHJ-MY0B2Q9jq_aat0nn_W5hxEitOK
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SOBRE PEIXAMENTO - Lago do Manso / Eleição Diretoria PA Quilombo
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Hoje 31/03/2024 aconteceu a eleição da nova diretoria da Associação PA Quilombo. Não por acaso é uma data emblemática. O video é um trecho da fala do Presidente eleito o agricultor Edimar Joaquim, popularmente conhecido por Amorim. Em sua fala ele ressalta o empenho da Associação em buscar meios de a Eletrobras - FURNAS - cumprir com o acordo feito em 2000, para o peixamento do Lago do Manso; criando então fonte de trabalho e renda para a população ribeirinha.
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Oficina de produção de rapadura em Santana do Taquaral- Oficina foi minisrada pelo biólo e produtor rural Joaquim Ferreira, morador do PA Santana do Taquaral, município de Santo Antonio do Leverger - MT ATENÇÃO CAMARADAS: SE ALGUÉM TRABALHAR COM CANA DE AÇUCAR E PUDER DAR UM FEEDBACK, EU AGRADEÇO, ESTOU COM O PENSAMENTO DE PLANTAR CANA DE AÇÚCAR, ME FALARAM DE UMA VARIEDADE CHAMADA 579, SE ALGUÉM CONHECER E TIVER O CONTATO DE PRODUTORES, EU AGRADEÇO.
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O Lago do Manso é um manancial importantíssimo para nossa região. Na época das cheias ele chega a transbordar. Aqui no PA Quilombo cada um tem a responsabilidade de preservar esse legado deixado por FURNAS Eletronorte - desde 2000 estamos aguardando o peixamento do lago com espécies predadoras de piranhas, que tem aumentado considerávelmente. O Lago além de oferecer trabalho e geração de renda, é um dos atrativos turístico da região mais exuberante.
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Minha intenção é tão somente informar o processo que estou usando para observar a natureza por meio de meu fazer artístico. Um processo solitário para em breve poder receber pessoas aqui no espaço com um mínimo de vívência.
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Tenho me empenhado em registrar o processo de envelhecimento das roupas expostas às intempéries, passaram pela estação de estiagem, e por um curto período de chuvas. Visto que neste ano as chuvas diminuiram drasticamente.
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O desenho da OCA OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA começou assim. em 2022. Desafiando os caminhos a serem explorados. Em breve haverei de postar alguns registros das primeiras atividades, as quais foram tomando novas formas. Meu objetivo é estabelecer uma relação o mais humana possível com este ambiente, que antes era pasto e meu desejo é torná-lo produtor de alimento.
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Às vezes estamos tão condicionados em um sistema, que deixamos de olhar para frente, para além da quarta parede. deixando então de apreciar o espetáculo por completo. Aqui é o lugar para que possamos nos comunicar, tirar dúvidas, gerar outras, movimentar de forma colaborativa para o bem comum. Assim sendo, como aprendiz que sou, não do que seja regeneração, mas da vida em si. Depois de migrar da vida urbana para a rural, sinto a imperiosa necessidade de continuar fazendo conforme vou aprendendo, e aprendendo conforme vou ensinando. E nessa troca, aproveito para deixar aqui minha gratidão aos possíveis leitores, do pouco que tenho tentado mostrar aqui do paraíso que habito, OCA TERRAVILA GLOCAL no PA Quilombo - Lago do Manso - Chapada dos Guimarães-MT. Gostaria de saber se por aqui, nessa rede posso encontrar mudas de VETIVER. Pois o que encontrei no mercado comum é quase que impraticável, pois além das mudas ainda me cabe o frete. Se alguém puder iluminar meu horizonte, desde já eu agradeço. [email protected]
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Buscar uma atividade para regenerar o homem para o meio ambiental é um desafio. Mas a vida de qualquer pessoa já é um desafio. Imagine para um artista desassossegado? A natureza não dá saltos, mas eu me permito saltar para qualquer lugar. Isso me trouxe para o Lago do Manso, o que muito me alegra. Tudo muito pitoresco. E brincar de ser feliz é muito bom. Sem data pra estreia, comecei a trabalhar o texto RITO DO MITO de ALEJANDRO BEDOTTI, que nos deixou em 2020. Esse texto escrito para eu atuar em 1995 – o mesmo continua inédito na acepção da palavra, apenas ventilei anteriormente a possibilidade fazer essa montagem. O texto é um ensaio curto à cerca da solidão. Na galeria de personagens temos o “Autor”, o Ator, o Pai, o Preso, Deus, a Mãe, a Avó, e a Solidão para nos fazer pensar num jeito delicado de levar a vida. Um poema para homenagear meu Mestre Bedotti, exímio mímico e bonequeiro. O momento é ideal para isso, pois tudo contribui para falar de coisas fortes e profundas sem perder a leveza. Espero inaugurar o Teatro URUCUMACUÃ com esse espetáculo que entra em processo produção. Brazzdyvinuh – OCA Terravila Glocal Quero compartilhar com os leitores, mnhas intenções em relação ao fazer teatral e minhas práticas agrícolas. Com a idade me carregando para o amadurecimento necessário, depois de um esforço físico nada melhor que vijar na ludicidade que regenera tanto o homem quanto a terra. Não pelo texto em sí, mas pela proposta. Falar de tema tão recorrente tanto na vida urbana quanto rural. No momento sou exemplo vivo disso.
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webVARALoca - Encantatória - BrazzdyvinnuhXXIV
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Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 1 “Não fosse minha Mãe, a Sra. Aucidina Ferreira., E meu Pai, o Sr. Braz Ribeiro da Silva, Eu não existiria, Nem encantatória encantaria. Gratidão infinda pela oportunidade do Amor Maior”. Encantatória é encantar a cantoria da história de volta ao tempo em que eu era grande e nem sabia sentia-me um menino velho e só, abandonado ao desconhecido à espera de encontrar o amigo prometido em outro tempo. O que não fora salutar resultará mais tarde, no guerreiro sem combates, onde seus adversários eram seus medos encaixotados no sino da igreja – No sal da purificação – No vinho que não se transformou em sangue, mas converteu o ateu em crédulo convicto, de que seria necessário mais que reza para compreender a essência do poder que é sagrado. O vento traz o infante do ventre aconchegante para experimentar a oscilação das intempéries que dominam a contento... No pensamento que adolesce com o tempo que perpassa pelas zonas baixas do sentimento e se ergue diante do perrengue de um irmão de sangue ou de alma ou na própria dor, ao ver outrem se perder no deserto de si, por não conhecer o tamanho do temporal. Tudo transita em habilidosas naves quânticas, falando idiomas impronunciáveis do principio ao fim. Porque o que prevalece é o melhor do homem, que trafega em linha reta mesmo pisando em lâminas de vidro quase sempre impossível de não vê-las transformadas em nobres fractais... Resultados da matemática humana nunca Geométrica cósmica. O início do oitavo ciclo, onde só é preciso aceitar-se para manter a chama acesa até o fim de mais um ato desse grande espetáculo chamado vida. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 2 Muito Prazer, Encantatória! Apresentar “Encantatória” é colocar literalmente o pé na estrada e percorrer quilômetros, distantes em anos-luz. Não se caminha impunemente, mas a recompensa oferecida por jornada multicolorida de estilhaços caleidoscópicos, autoriza penetrar a intimidade madura do menino-poeta-moleque-escritor Braz Divino. Altar de fartas oferendas, frutos ceifados maduros nas colheitas da cinquentanidade, a explosão sincera do amor ausente/dolente/intransigente/presente contracena com a placidez bucólica dos lugares-amigos, dos ventos de calmaria e paz, sorvidos nos momentos de gratidão fluida dos pássaros em voo. Expressões singulares de cadência verbal pronunciada com ciência (consciência), não é tão fácil desentranhar dos estranhos desígnios do poeta místicos revelações comuns, palavras bandejadamente servidas na pressa de saciar instintos, mas sim veladas, esculpidas adereçadas para exaltar desejos sublimes de sentimentos elaborados. São muitos os caminhos horizontais e verticais de Encantatória. Por terra, por mar, ar e fogo, encontra-se em cada círculo mágico destas trajetórias, a linha invisível que conduz ao elemento planejado. Nem sempre chegar é um porto seguro, porém. por vezes, a rota é alternativa facultando outros destinos, viagens ousadas às periferias do nada e ao absurdo de tudo. Metáfora da conformidade ganham companhia dos sentidos, insinuam-se em nuvens de estratégias próprias a desmistificar conceitos, preconceitos, pretéritos imperfeitos e futuros mais que perfeitos. Num universo de profundidade oceânica ou altitudes estrelares, em Encantatória quase tudo é alimentado pelo pão fraternal, saboreado em consórcio desprendido, aberto a quem quiser sentar-se à mesa a banquetear-se com pratos de multisabores e gostos de multisabores. Não se precisa de licença para entrar em Encantatória. É bastante que se tenha por prêmio um coração amigo e agradecido, tal como é, tal como quer Bràz DY Vinnuh. Um grande abraço, meu Bràz Divino AMIGO Heloiza Helena E. Pereira Jornalista e Escritora Vilhena – Rondônia Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 3 Doce ou amargo? Gosto de poesias, desde pequenino cresci ouvindo poesias gaúchas, mas peguei gosto pelos livros das poesias de todos os cantos do Brasil. No começo, poesia era aquela que tinha rima e só depois entendi, e está é minha explicação para poesia, todo texto que me leve à euforia na leitura, aquela história que não precisa pé nem cabeça, mas tem que ser fluída, pra ser lida com velocidade, pra ser mais sentida do que entendida. Gosto do desenfreio, gosto de deixar a mente voar junto com as palavras. Deve ser a forma mais pura da expressão do escritor, é quando ele imprime seu sentimento com ou sem um contexto. Tanto que escritor de poesia tem nome próprio: Poeta! Tinha preferência para os poetas com humor até com pitadas de romantismo. Os leves. Aquela leitura para tirar o peso do dia a dia. Daí conheci o Bràz Dy Vinnuh. Figuraça, artista na concepção, faz de um tudo em artes e ótimo de “escrivinhação”. Pela amizade e tal, sabe como é a gente experimenta até comida de amigo, imagina ler os textos e livros dele. E eu conheci então a definição de “denso”. Gostei de cara da forma como ele desenvolve suas estórias e histórias e admiro a paixão com que se entrega aos textos. Quando me pediu pra prefaciar seu livro de poesias feito para marcar seu meio século neste mundo, fiquei muito honrado e digo amedrontado, o homem também é poeta e eu, um escritor, vou dizer o que? Então ao ler Encantatória o fiz da mesma maneira que sempre li poesias. Aconteceu a fluidez, a euforia. Ainda me encantei com o floreio das palavras e frases que criaram uma sutil máscara de leveza que não quer esconder a profundidade do sentimento que se quer passar, mas mostrar sua amplitude. Denso como próprio Bràz! Pura sensibilidade de um garoto de meio século, de quem já conhece a maioria dos sentimentos e suas causas e efeitos. Algo natural pra quem sabe expressar com palavras o que sente pelo outro, pela vida, por si mesmo e pelo amor nas várias formas em que se pode apresentar. Acredito de quem vá ler o livro também identifiquem em alguns momentos suas próprias histórias, principalmente aqueles que já viveram um bom tempo de anos. E os que não viveram esse tanto também podem entender um pouco mais sobre dores, amores e tudo o que a vida presenteia, seja doce ou amargo. Uma coisa que sempre acreditei é que poucos podem ter 50 anos e dizer que viveu os 50. Muitos, de nós passam boa parte do tempo só repetindo os anos, não vivendo nada diferente. Não é o caso do Bràz, com nenhum medo de tentar algo novo, de novo. Que tem muita história pra contar em prosa, verso e tanto conteúdo no seu poetizar. Uma última dica aos que se embrenharão nesta densa floresta poética do Bràz: Não tentem entende-lo, não sei se isso é possível, mas apreciem, sem moderação, estes 50 poemas e tentem viajar sentindo toda emoção possível, vale a pena. Boa leitura a todos. Cezar A. Simão - Publicitário Americana – SP Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 4 Abra a porta de tua vida siga ou traga-a de volta. O grande segredo Dela é saber morrer bonita não morrer no grito. nem se atirar no precipício. Que desperdício de tempo seria viver por algum tempo e se matar por preguiça... De lutar contra a injustiça que cometemos a nós mesmos nos agarrando a tantos vícios. A grande revolução da pessoa que está aqui na luta agora, mesmo no presente é morrer sem se apegar a ilusão. e matar em si, tudo o que suicida (...). é deixar de ter apenas vida e passar a existir não para outrem, mas para si. Quando o ser se dá conta que a vida é (também) além de aqui não haverá dor que o faça morrer de chorar sem aprender o poder de sorrir. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 5 Bem agora, sara essa tara senão dispara para não parar. Coração... Cura essa arritmia, sutura esse rasgo costura esse talho largo e profundo. Afunda em mim, mergulha n’alma. A calma não vai, não sai, não fica. Tropeça... Insista. Não rogue. Provoque – Prove que amar igual não é impossível - Se não for verdade me diga. Semente planta-se, se rega, se cuida. Para se prosperar na labuta da vida... Sê... Gente querendo ser feliz. Mentira não pode fazer uma pessoa, saudante sentir antes de ir ou de ficar... Não dói, nem rói a unha para ver chegar aquele amor... aquela flor tão rara no cabelo que faz ficar inteira a bela Prima Donna primavera, prima Vera irmã do outono e do verão irmãos de Saturno guardião. Olho no olho, mão na mão, coração que cabe o fim da solidão, rosa quando rosa original... Mente não. Rosa vermelha e amarela na janela de dentro, na alma da gente amare ela – Amarela – Ama ele – amarele: Amarelo da flor imponente grudada no céu da boca do firmamento. Firmar o homem na direção do tempo aquilo que se sente no barco dos amantes amentes (...). Amarílis. Iris. Amaranto. Amar tanto. Amar tento. Amar quanto. Amor... Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 6 Chego a pensar que aquilo que sinto não encontra feedback contigo ouso a duvidar de tudo que dissemos talvez por dizer, para não (nos) perder de vista. Alto lá, nem pensas em abrir mão coração de conquista maior do que a nossa união. Sem pressa saberemos esperar com um riso no olhar o momento exato do consumo, não do ato pelo fato da posse exemplar do herói... Mas, da presença discreta, constante, em festa apesar do dissabor que o passo errado, dantes dando, insista em trazer para cá o retrato real para lembrar-nos que o melhor é ser, do que ter que ocultar sentimentos sutis e nobre valores gentis... Diferentes eu sei, tu o sabes tão bem do que eu falo. Nesse amor, por favor, vamos nós, a nos desatarmos entre nós, cultivando esse acesso ainda que demore bem mais do que se imagina noutra hora talvez acender a fogueira de fato, não de caso pensado. Pensando em tudo que há de se ter, por levar a correr pelo campo inóspito para crescer aprendendo a conversar no Solar do Imperathor todo sonho do amor de iguais sentimentos. Não um mero contato, tato a tato... Fazer do desvario um rio que leve a barca da paz, levemente ao mar, de mais que um... Mesmo que permitir-se seja duro como a rocha que se ensina a deixar se contornar pelas águas do verdadeiro desenvolver-se do medo de ser Uníssono. Quase que absolutamente. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 7 Como querer viver no futuro estando vivendo hoje numa zona semi-costeira, possível de atuar sem medo daquela reviravolta inesperada? Agora quero ficar assim rente ao batente por muito tempo indiferente, não posso no momento ser, porque vivo como todos. Talvez tivesse a vontade... de ter esse jeito de viver sabiamente um dia de cada vez, sem sofrimento. Sem mal dizer a dor no peito, nem insistir em provocar um brusco movimento em dó maior ou menor dor, que o ato de imprimir aos quatro cantos o pensamento de firme ser, que se queira. Tendo ainda que lidar, com doçura mais suave do que dura onde ao amor e a razão se permite para caminhar com mãos juntas de irmãos. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 8 Não quero combater Eu quero ser displicente... Displicentemente... Ser, me quero, simplesmente, aprender que se ensina com a humildade idade... Falar sem “ga-ga-gue-jar”... Gaguejar propositalmente como um “gentleman”. Humana criatura reticente... Falo, eu aceito todo respeito que refuta o medo... A mente vacilante diante o que se ensina e depois aprende que aprender é arte... - Se inverte os expoentes as equações, os poemas, e cantos – nós dois frente a frente – lado a lado mente a mente, compreende-se aquilo que sente na alma... O que faz o corpo físico, o que de imprime na memória se lê com o tato. Experimenta com o braile uma nova cena para o próximo ato. Cara a cara, ombro a ombro, mão na mão de “amirmão” corpo a corpo fraternal. Felizes no passado no presente, tecnicamente invioláveis testáveis de propósito, “Imperathoriamente” silentes. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 9 Eu me preparo, como a mulher, Que se prepara por nove meses para parir a ser mãe; Eu me preparo, como a mãe que prepara o lanche do filho para seu primeiro dia na escola; Eu me preparo, como a mãe que se prepara para ver seu filho cumprir as (suas) obrigações com a pátria; Eu me preparo como a mãe que prepara o seu filho para o dia de sua formatura; Eu me preparo, como a pessoa que prepara o morto, para a cerimônia fúnebre; Eu me preparo sem querer, para desacostumar-me com a presença física da pessoa que amo em minha vida; Eu me preparo para resguardar esse amor profundo em amizade pura de qualquer mal que possa machuca-lo; Eu me preparo para preservar a nossa intimidade mais bela e inconfessável de especulações indesejadas e maléficas; Entre você e eu, apenas o Criador tem o poder de condenar ou de nos absolver de um delito (para os humanos) que não praticamos e que nem delito chega a ser por assim dizer, perante a grandeza da Criação. Não estamos infringindo nenhuma lei moral de nossas consciências. Eu continuo me preparando para receber o veredicto do responsável pela nossa existência no Universo. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 10 Felicito enormemente por tua saúde agradecendo por escolheres minha figura desnaturada para compor o nosso futuro. Sei que nem sou tão virtuoso pouco prendado, mas atento a cada detalhe aparentemente tolo, mas a qualquer gesto brusco... A cada palavra dita que reflete o pensamento: Do complexo ao trivial, do comum ao cheio de incremento. No modo de ser, no jeito de se deitar pedindo “acarinhamento” Em tudo que representa um pouco da boa presença que vem animar o homem que enfrenta a tarefa da sobrevivência com a serenidade do vento. Talvez pelo discernimento. Sabermos escrever uma história antiga Fazendo com que se acredite em um novo mundo de portento. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 11 Gira o sol, gira a terra Eu sinto parecer de modo distinto Sinto que ultrapasso a trapaça mais escassa, Olho-me no espelho e distinguir o menino do homem, nem o homem do menino não consigo ainda. Colho na menina do olho todo o ouro do artista principal de todos os astros. Espirais imagináveis de beleza exemplar e nobreza inigualável com instinto mais discreto e fidelidade tão explícita. Segue seu amo o servo sem reclamo... Eu o chamo – Gira/sol segue encantado o alado Rei do Espaço. O sol que gira no azul reflete na terra (in) puramente verde sob forma de estrela amarela. Que girassol mais perfeito que eu trago no peito, coração. De irmão do mesmo modo não fica a solidão tão bem... Torna o coração tão bom o girassol e eu na mão de Deus o Bem Toda vez que o novo dia vir... Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 12 Dois meninos velhos mas ainda em crescimento igualmente diferentes em idade, em nada e em tudo um ao norte e o outro ao sul seguramente destinados a existirem fraternalmente dois homens com dois destinos distintos, em caminhos convergentes. Se se encontram pelo vinho que lhes corre pela veia pelos gatos dos telhados e pelo brilho da lua cheia de seus encantos e cantos de seres não mais que humanos... Guardiões, sempre seremos do próprio culto da gente, com rito dos ancestrais heróis, imperadores e reis vassalos ou criadagem antigos, novos ou atemporais Um mais, ou menos iguais no trato que se entende sê homens viventes crentes nos seres que a gente pensa. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 13 Se da mulher não contasse com a graça. Graça, o mundo não teria nem hoje, nem outro dia – Talvez, nunca a saberíamos, nem a cor do dia de hoje em dia. Disfarça de frágil criatura, guardando em si a coragem, a força e o poder da vida apesar de todas as lidas aqui sifridas... Enquanto se disfarça o homem de pura fortaleza para escutar sua fragilidade de toda gente. As dores do dia a dia e a alegria desse mesmo dia... Chamo de perto e consciente ao Grande Rei da sabedoria para fazer-se presente no meio de tanta gente carente de luz, paz, amor - saúde para lidar com as dificuldades prementes – que ignora agora e em outros momentos a presença e o valor da mulher em nossa vida às vezes tensa – poeticamente densa e por demais penosa, sofrida principalmente para a gente que não reconhece o valor que a ela pertence – o de ser uma das causas mais importantes para a nossa existência, ontem, hoje, quase sempre que me lembro do homem que busca verdadeiramente pela inteligência valorizar a mulher, por ela Ser Presente de Deus Sempre. Sem ela não haveria gente – esse respeito e gratidão ao Ser Supremo pelo o auspício de ter a alma feminina na alma da gente e deixar a vida da mãe, da filha, da avó... Mais feliz que contente – concedendo sempre para esse espírito de luz, o discernimento. Com consciência sabemos que a divina Presença concede à todos, mas percebe em essência aquele que de verdade sente gratidão pela presença feminina na vida de cada um e na vida de toda gente Valioso presente – Não Hoje. SEMPRE! Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 14 Se houver tempo para eu fazer tudo Que não fiz ainda neste mundo Mas que gostaria de fazer ou de ter feito Talvez meus defeitos fossem embora E sobrassem apenas as virtudes – caso existam Atitudes que tive me levaram a paraísos Esquecidos, findos, amores lindos Sem rimas – paixões sedentas Encharcadas de mentiras – ira Mau tempo o tempo todo, ausente Ateu nunca, crente que pudesse Acreditar em palavras tão reais... Se houver tempo quero cuidar do meu jardim, regar minhas flores Brincar com meus animais imaginários Que em meus sonhos me visitam de quando em vez... Talvez se houver tempo eu vá ao parque Brincar com as crianças do abrigo – um perigo! Encontrei caminhos ásperos, duros, Díspares, solitários, sem ares, sem mares... O mais ameno me fazia arder a alma em chamas... Que não acalmava outras estradas abandonadas Um tanto quanto ígremes, dificultavam Minha subida – antes do topo morria a força Acabava o fôlego – expirava a esperança Da criança que crescia só – sem mão alguma Para afagar nem afoga-la no colo Sem outra boca para beijar sem sono Para sonhar como se sonha gente grande. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 15 De “um” outro modo de amar (Ou) do mesmo jeito, te querer, Por perto quase virou defeito Do peito, o jeito de sentir Tua presença me lança A uma distância milenar Dum passado remoto Seus modos mudos Alcança a minha memória Agora um filho, um pai, Um irmão, uma mãe, Um marido, uma paixão, Um mocinho, um bandido Não importa o ter sido, nem estado Ausente tanto tempo, o presente, Em que te tornas, entorna na gente Lampejos d’outros tempos idos No momento de contentos. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 16 Um amor “psicopata” começa na feira Prossegue na rua, Durante meses ignora os fatos. Nem sinal de vida. De repente Tudo de novo começa. Novamente espera Que a pessoa Viva Mais intensamente tudo Outra vez diferente. Aprenda e ensina, Em menos de cinco: dez dias. Um tempo de ausência física. Mente... porém sempre presente Com data e hora em pensamento Marcada no estacionamento. Na tragédia que reconhece O verdadeiro intento No shopping o sal, o creme dental... Nem de igreja precisa o casamento Em casa o ser é contente Na permissão do agrado No cuidado de um e de outro Todo o tempo. Ainda que um lá e outro cá Pensa-se sempre nos dois De algum modo Todo o tempo existente. Assim é pelo menos aparenta. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 17 O sol rompeu o dia Lambendo a minha cara Depois de invadir-me o quarto A varanda, a cozinha, a sala. Procurei por todos os lugares Gavetas, criados, cabides, armários, Não te encontrei, nem o dicionário Traduz o que me conta o imaginário. (Não) Tem vestígios seu pela casa Na cama sem você o choro se prepara Eu olho para o retrato, seu riso me ampara. Na rua, no carro ouvimos o que nos agrada. Falamos de tudo com todo cuidado Você me encanta com a habilidade De um Lorde Inglês... de um Xeique Árabe. Pelo nome de Vossa Majestade, impera. Sobre o seu vassalo, Fidel amigo, irmão amado. Amor sem condição paixão sem pecado Tamanha gratidão nos faz abençoados. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 18 Essa cria divina e abençoada iria transformar minhas noites. Dias aperreados, em suaves dias iluminados – pela luz que a mim foi enviada, como presente, pelo aprendizado... De que nesse mundo, tudo que se pode ter – não é nada e nada que parece não ser, tudo pode ser que se salva da frieza de um coração, da solidão que maltrata, fazendo nascer então, essa divina fortuna... Riqueza além do coração humano na alma da transformação, no espírito da natureza, etéreo – verdadeiro – puro. Juro, fala-se que jurar é pecado juro que não é errado amar assim às vezes exagerado é bom sentir que o bem maior é saber de cor amar calado o que é melhor não (ser) falado ao mundo de quem não sabe o quanto é bom ser encantado. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 19 O que der e vier deu, dá, dará dei o primeiro passo sem recuar dá pra eu crer que querer não basta mas pode auxiliar... Se cabemos nos mesmos sonhos que planejamos alcançar se sabemos dos riscos que corremos sem cansar. Dará bem lá na frente para se olhar no espelho cara a cara companheiro e perceber que o medo deixou o “eis-me aqui” no passado nem presente. O que der, do que deu daqui para frente garante o que vier. Se confiantes confidentes cada um no amor que dá cada um no amor que sentiu, sente... Não quando vier – agora. Não importa que não sempre. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 20 Com o cheiro da resposta dantes Eu me vesti de você depois de lhe responder como fiz um pouco antes – Ficou claro como o dia (que) alguém para se resguardar do amor que sentia e que hoje se sente realmente – Ao tentar confundir o outro para descobrir se o que sente existe mesmo de fato ou se o homem só mente... Pela experiência do verbo maduro no pé da palavra de repente a muito tempo doce apraz ao paladar da gente. Disse um dia frente a frente o Imperador do vassalo para não usas tanto sentimento que a autoridade não tem tempo para dar atenção, àquele que for cultivar a ilusão criada pelo coração de pessoa igual a gente... Caso desertasse em tempo genuíno, sem sequelas de guerras gigantes nem tanto por fora, mas por dentro – Agora compreendo o que sentes e desse pormenor relembrado saúdo, tão nobre comportamento. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 21 Nada sobre isso, antes fora escrito, em qualquer oráculo que seja porque tudo que existe veio depois da vida, com a necessidade contida em cada um, em forma de cor, cor, sabor, que a pessoa não e boa escolhe sem ser proibida... A amabilidade é o segredo para preparar nosso caráter Através de pequenas ações refreados e flexíveis na vida. Por isso é preciso uma firme vontade interior associada a uma suave Adaptação exterior bem desejada, àqueles que não tinha passam a ter – irmãos para segurarem as mãos na hora da chegada, não mais da partida. Hoje e sempre a sua presença em minha história e eu na tua por nós é bem acolhida – sou grato a velha Infância por ter-lhe feito crescido e hoje de verdade podemos nos chamar um ao outro mais que amigos – Irmãos! A mim e a ti – contigo e comigo! Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 22 Já que eu não posso contar com outro alguém no presente (aqui agora comigo ou im/presente) me darei por contente em poder contar comigo mesmo no momento atual e noutro nem tão distante – ainda que não o Suficientemente. O futuro ao Dono dele pertence (rá) – viver bem o agora, deixando todo o ser vivente em paz e de bem consigo... Algo maior que ter o domínio das coisas é ser um com o outro (sem querer anular a nenhum) sem medo de que tudo pode vir a dar certo em qualquer Lugar – Tempo – Espaço – Direção... Se (não) fosse a sabedoria do tempo não teria eu, tido o tempo necessário para entender que com o tempo se começa e aprende a ser prudente e disso apreende-se que o domínio do equipamento não depende só da vontade da gente mas, do consentimento, do Conhecimento. Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 23 O PODER “Amor não é amar: amar é sentimento, Amor é devoção; amar pode ser casual, Amor é perene”. (Guydo Castaño) Inesperadamente em um tempo exato manifestou-se O Amor, simplesmente. Em sua magnitude, do modo que deveria para seguir sem medo, o curso da vida. O amar que foi um dia o mais bonito, pode ser o mais belo que se cogita e será, sem que se perca de vista, para toda a vida.# O Amor é Eterno e nunca se acaba Ele existe e sempre existiu, a gente que nunca viu, disso nunca se duvide, nem na outra nem nesta vida - no máximo – se muda de endereço, porque equivocara o que ama, em logradouro mais que antigo.# O Amor que a gente pensa que se tem não é, e nem nunca foi de ninguém nesta vida; nesta vida, o amar que agente pensa que se sente, só vem a ser da gente de verdade, por sublime descuido da armadilha que inventamos com cuidado.# No dia a dia o Amor não nos pertence, O Amor, a gente não o tem: É o amor que tem agente! Se serenamente não mente. Damos somente aquilo que por si só se faz da gente. E de fora para dentro que se toca o dentro, que de dentro para fora se faz presente Encantatória – Brazz Dy Vinnuh 24 ¿Que sentimento bravo e forte é esse que nos dói aos dois, em sentimento um pelo outro, assim tão de repente? Aparentemente do nada - Tudo se instaura na sutileza da risada amiga pela manhã ou em alta madrugada. Planetas distintos com energias semelhantes, cósmicas e siderais – considera aqui o tônus da vitalidade de nossa espécie, o que em cada um de nós apetece aquilo que não encontramos a olho nu... Naquele ser que não nos vê diferente... Naquela pessoa que de nós depende de um modo ou de outro... Naquele espírito que com ele se aprende. ¿ Que dor é essa que devassa nossa alma sem anestesia? ¿Por que conosco, algo tão intenso, tão cheio de lembranças quentes, vulcânicas, desconcertantes? ¿Será que nos entendemos desde antes, ou é só de agora esse balanço na memória de quem pensa? Estamos um no outro. Perpassamos por todos os poros e bem mais intimamente ligados estamos, por um sentimento diferente de tudo que é frequentemente 1 Encantatória – Brazz Dy Vinnuh comum na vida de toda gente. Queremos entender como é que isso funciona na prática diariamente. Por que de nos colocar à prova de fogo, ferro, gelo e fermento – aço – cobre – ouro metal reluzente e imperecível? Mais a frente. Nada pode contra as almas gigantes que amam imensuravelmente sem impor condições... Sem obrigar rendição à benção, sem maldizer ao tempo ruim reconhecendo o que é bom no atualmente – no agora, assim, ainda que não tenham que viver e reviver novamente, para um novo reencontrar, quem sabe em condição diferente? – livres (por dentro, mesmo que o fora aprisiona) – pássaros “xamânicos” em pleno voo sobre a aridez do deserto e no alongamento de cada mente. O que eu sinto e o que sentimos não é igual nem diferente ao que outros seres viventes sentem – sem dúvida contundente o que eu sinto é insistente, é uma carência de algo dentro da gente que não se consegue traduzir ontem, nem daqui para frente. Penso: não basta sentir o que a gente sem planejar sente, 2 Encantatória – Brazz Dy Vinnuh mas, para desse tesouro tirarmos proveito é necessária a coragem a determinação diante do touro valente – enfurecido com a timidez de quem nos deixa diferentes. para aceitar a nossa condição humana espiritualmente é desconcertante e desfazer átomo por átomo molécula por molécula sem nada querer compreender materialmente, porém sentir... É gratificante. Sentir profundamente aquilo que a alma pode apreender de nós mesmos, e mais a diante aceitarmos um ao outro sem débeis questionamentos impostos por uma mediocridade latente em lares excludentes, avessos ao amor de caminhada amor recorrente de tantos outros experimentos desatentos... Bondosa alma, companheira minha de hoje até qualquer dia... Diamante reluzente, é essa união transcendente que nos liberta de compromissos não findos antigamente. Agora oportunamente nos cabe lembrar que daqui para frente só resta zelar com cuidado de você e de mim e das dores da gente diferente do que a humanidade pensa; justamente para não 3 Encantatória – Brazz Dy Vinnuh explicar o que não é tangente. Que flua de nós, mais amor do que mente diletante, mais proximidade sem culpa, sem contrato que desmancha. Na chuva que lava a alma – edifiquemos juntos por nosso cósmico sentimento, um altar na memória, para nossos cultos, Benevolentes. Onde se entra com temor e sai iluminado, bastando ficar ligado ao lado bom de tudo quanto há enfrentado, suportando dores e desencantamentos com a nobreza contagiante de um sorriso no rosto e um olhar sempre para frente. Um aperto de mão, um abraço demorado onde os nossos corações batem sincronizados em um mesmo tempo – executando todas as notas da escala musical do arco-íris feliz com o toque da pele e o roçar dos lábios na rosa... na rosa que em nós se faz presente sempre que carecemos de luz... quando o caminho de estreita bem a nossa frente. Buscando ainda a paz profunda em nós mesmos, sem arrependimento de ter feito conforme o mestre tem ensinado, em primeiro lugar o que se sente... Parece que não cabemos, dentro de nós novamente. É o amor que edifica que fica cravado na memória da gente. 4 Encantatória – Bràz Dy Vinnuh Penso ser pertinente deixar aqui os textos do webVARAL físico - conteúdo extraído de Encantatória/2015/Aracaju-SE Editora O Capital - Ilma Fontes (In Memorian)
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Teria tudo para me estender, mas não o farei. No ano passado ganhei umas mudas de Citronela. Meu amigo Mario Fernandes de Magalhães, de Ubá-MG. As lágrimas de Nossa Senhora, não foram pra frente. Não sei o que foi que eu fiz de errado. Mas o importante é que a Citronella tá muito linda. Ou o capim citronela está lindo. Já posso plantar. Ainda continuo procurando por CAPIM VETIVER e LÁGRIMA DE NOSSA SENHORA. CONTATO [email protected]
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DA MULHER É TODO DIA Ninguém esquece que nasceu um dia, se de noite se de dia não importa a hora, “se diria” prazer, dor, tristeza ou alegria. É costume “errado” normatizar, que é obrigação da mulher, servir ao homem. Ao ponto de “servidão” Quando o correto é que o homem sirva a mulher de coração, sem hipocrisia. Feminina é a vida que só vai, não fica o tempo todo menina e segue a lida branca preta colorida nova velha do asfalto da favela, “sem ela ninguém tem vida – Mulher, seu direito maior é o direito de escolher que destino podes dar a própria vida. Não se obrigue a ser guerreira, você merece ser princesa, ser alteza todo dia. Guerrear se for o caso, ... pelos seus ideais pelas suas conquistas, pelo que você achar que for preciso – sem que isso seja imposto para lhe conferir um dia – porque Estes são tosdos seus, todos os dias, o tempo todo. Não reconhecer a mulher como tal – por sua delicadeza, formosura, beleza e simpatia – tão poucou pela sua fortaleza que impera é negar a própria existência sobre a terra. Uma grande covardia. Mulher, salve tua rebeldia! BrazzdyvinnuhXXIV [email protected]
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TODO MUNDO PODE(?) _Será que pode mesmo? _Ter coragem? _Esperança? _Ser feliz? _Lutar para isso? _Viver ao invés de sobreviver? Eu penso – Cada um ao seu modo, todo mundo pode – A base pra tudo é o respeito que se nutre pelos iguais e pelos diferentes, a diversidade é o que deixa a humanidade exuberante. Possível. Ninguém precisa de autorização para sonhar. A menos que a pessoa prefira ficar atrelada ao pesadelo dos mesmos modos arcaicos de sobrevivêcia, impostos num passado nem tão longínquo. _Migrei da vida urbana para a rural, graças ao Corona vírus e a pandemia da COVID-19 – males que chegaram para sacolejar a HUMANIDADE que parece não ter dado conta do acontecido. Mas marcou profundamente as vítimas conscientes. Não sou mais o mesmo. De algum modo essa mudança será mostrada “in loco” no Assentamento PA Quilombo (formado por assentados remanejados das margens do Rio Quilombo por causa da inundação da região, hoje Lago do Manso, um dos maiores lagos artificiais do país, com 470km de extensão, formado à partir do represemento dos rios Manso, Quilombo e Rio da Casca, para a construção da Usina Hidroéletrica de responsabilidade de FURNAS – Um Oásis no semi-árido do cerrado de Chapada dos Guimarães, no estado de Mato Grosso. _Depois de uma imersão profunda em terras mineiras, precisamente em Juíz de Fora, num projeto até aquele momento de “Ecovila”, não me sentindo mais tão à vontade em ambiente urbano, instalei-me aqui no Sítio Bom Jesus – Rua Quilombo LT 56 – PA Quilombo – Lago do Manso – Chapada do Guimarães, com a ideia de materializar a OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA – OCA – TERRAVILA GLOCAL - “ALEGRIA, fruto da LIBERDADE C/ CONFIANÇA!!!”. Vejo todas as possibilidades para pôr em prática a regeneração humana e ambiental de modo exemplar, em uma região atípica, com um grande potencial a ser trabalhado, porém, carente em vários aspéctos, econômico, social, cultural, histórico, artístico, ambiental, talvez por falta de iniciativas que estimule a população a reagir e sair desse estado torpôr. _É possível viver, pelo menos, um pouco mais desatrelado desse sistema esmagador, das grandes potências, com melhor qualidade de vida, em ambiente saudável. Principalmente com esse oportuno acesso a WEB3 e as Criptomoedas. Que se abram as cortinas de um horizonte promissor. Nada sobrevive sem um ambiente salutar.
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A intenção é registrar as primeiras impressões do webVARALoca "Encantatória". Exposto ao relento, entre palmeiras de Guarirobas, passando pela ação do tempo, com as mais diferentes intempéries. A instalação é permanente e aberta cotidianamente ao público interessado em visitar. O webVARAL ficará disponível online em breve. Uma das primeiras atividades da OCA Terravila Glocal - Ocupação Cocriativa Artfloresta com apelo de manifesto, chamando a atenção para o destino e "coisas" simples do dia a dia e que nem sempre se tem a orientação do que fazer com esses objetos. BrazzdyvinnuhXXIV
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OCA::ReRe CONversa IN LOCO no LAGO DO MANSO - MT
15/11/2024 — 15/11/2024
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OCA::ReRe CONversa IN LOCO no LAGO DO MANSO - Chapada dos Guimarães-MT No dia 06 de dezembro de 2024, o Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL recebe a presença de Vinicius Braz e Vânia Trindade (Rio de Janeiro-RJ) em sua sede (PA Quilombo/Lago do Manso), para dialogar com a comunidade, sobre a importância da web3 nas comunidades mais remotas e que utilizam os métodos tradicionais em seus cultivos na agricultura familiar.
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