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OCA TERRAVILA GLOCAL - Ocupação Cocriativa ArtFloresta

Sitio Bom Jesus - Rua Quilombo LT 56 - PA Quilombo - Lago do Manso - Chapada dos Guimarães-MT Brasil
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Categorias
Associação, Centro Cultural, DAO
Actividades
Acomodação, Agrofloresta, Aromáticas, Compostagem, Frutas, Grãos, Medicinais, Mudas, Orgânico, PANCs, Permacultura, Pesquisa, Preservação, Reciclagem, Sementes Crioulas, Voluntariado
Fone: +5569999556403
Facebook: brazdyvinnuh
Twitter: @Brazdv
Sobre
OCA - Terravila Glocal             "Alegria, fruto da Liberdade c/ Confiança!" OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA >>Manter um Polo Produtivo utilizando o conceito Agroecológico e da permacultura. Horta c/ alimentos convencionais; cultivo de ervas aromáticas, medicinais, fitoterápicas e PANCs-(Plantas Alimentícias não Convencionais); meliponicultura; manejo extrativista; canteiro de mudas de espécies nativas e/ou  ornamentais para reflorestamento local; Artfloresta (Arte como ferramenta pedagógica); turismo rural; resgate cultural; artesanato e artes em geral. >>Criar um ambiente de convivência e experimentação laboral que dialogue com liberdade a respeito de planejamento consciente e inteligente de geração de riquezas para a sustentação do Polo, com vistas para a regeneração do homem, a fim de dar visibilidade à regeneração do ambiente integral; onde o bem comum (terra, água, ar, fauna e flora) esteja além da geração de conteúdos que estimule a troca de saberes. >>TEATRO CIRCULAR REGENERATIVISTA URUCUMACUÃ - será uma edificação para marcar a presença da OCA OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA neste ambiente como inspiração ao Grande Público (Local e visitante). >>Longe do estereótipo de ações com viés de “cuidados ambientais”, o projeto recebe colaboradores para alavancar esse processo imediato, onde é oferecida hospedagem e alimentação para participação no projeto pelo período acordado entre o interessado e o projeto. O candidato oferece 4(quaro) horas de mão-de-obra diárias por semana, com dois dias de folga.  O tempo restante os colaboradores são incentivados a produzirem para conquista de seus retornos fiduciários. >>Esse sistema de “Terravila” Glocal é um conceito que vem dando certo, por oferecer aos experimentadores a liberdade de produzir o seu próprio sustento. Sem ter um mandatário centralizador. Os modelos comuns existentes, deixam um hiato que não pode ser preenchido. A proposta apresentada é de acesso e não de posse. Os colaboradores podem ser transitórios , temporários e "permanentes" pois é fato a transitoriedade da vida.  Com o processo em andamento para os trabalhos, vem ficando mais clara a proposta de uma “rede de ocupação produtiva e não de um grupo. >>A proposta “Terravila” Glocal existe em três dimensões, LOCAL, com os  colaboradores que a partir do pertencimento, se tornam moradores, por sua vez, locais; VIVENCIAIS são os colaboradores que fazem uma imersão local, por um período de tempo; GLOCAIS são os colaboradores que conhecem a proposta e participam de qualquer lugar do mundo, inclusive localmente. >>Nesta “Terravila” Glocal OCA os trabalhos de infraestrutura estão sendo inicializados. Os colaboradores dessa primeira fase terão a oportunidade de  conhecer de perto o mecanismo de se criar recursos para gerir uma ocupação que vai além da moradia e da propriedade para o plantio, onde se busca a regeneração do ser humano para que ele compreenda e se torne regenerador de sua própria natureza. Em uma rede que vem se espalhando pelo mundo, agregando pessoas que se identificam, principalmente deixando clara a importância da Alegria, Liberdade e da Confiança. Juntos somos mais fortes sem perdermos nossa pessoalidade.  § - O Projeto OCA terravila Glocal - Ocupação Cocriativa Artfloresta está sendo reconfigurado quanto ao formato das atividades locais, para deixar fluir com mais vigor tudo que vier para fortalecer nossa Ocupação. NOVA FASE. <<O que faria a equipe do Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL, estar na plataforma?>> època de chuva - Forestando <<<A PRÓXIMA ETAPA É VIABILIZAR RECURSOS PARA FAZER CAPTAÇÃO DE ÁGUA POR GRAVIDADE PARA IRRIGAÇÃO DE BERÇÁRIO DE PLANTAS>>> <<<A OUTRA AÇÃO PARA MELHORIAS É A IMPANTAÇÃO DO BERÇÁRIO DE PLANTAS +++ PARA ATENDER AO VIVEIRO DE MUDAS>>> Confirmada a proposta de multiplicação do VETIVER para substituição do capim Brachiara, em toda pastagem do sitio Marcada a iniciação da poda do VETIVER - na próxima 4a feira dia 29 de janeiro de 2025 O Projeto OCA Terravila Glocal, firma parceria com a Associação do PA Quilombo, no Lago do Manso para desenvolvimento de novas propostas. Tendência a se tornar o carro chefe das ações da OCA para suprir o campo. ***210 mudas de vetiver replantadas e o Campo de Vetiver Regenerativo começa a crescer. Será dada continuidade ao projeto do Campo em junho, quando as matrizes completam um(1) ano. Hoje 245 mudas de vetiver. O Campo terá inicialmente 10 linhas com 100 mudas. Trabalho prazeroso. Em breve nova demanda será apresentada para o deleite de todos que defendem a regeneração. O planejamento para breve é de 500 mudas de Vetiver, até o final do ano. No máximo inicio do ano que vem.
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URUCUMACUÃ - H.H.ENTRINGER PEREIRA - LIRO 2 CAPITULO 53
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A MULA SEM CABEÇA Todos os archotes e as tochas dos corredores e das escadarias do Palácio das Esmeraldas foram apagadas. Além da guarda noturna, nada mais se movimentava em volta do edifício que não fossem pássaros ou insetos. Embora a lua cheia estivesse radiante, o céu, aos poucos, cumulava nuvens espessas, e as rarefeitas estrelas iam vagarosamente se ocultando. Súbito, uma ventania indomável parecia invadir os pátios, passando com fúria pelos corredores externos, dobrando os arbustos que respondiam à ação do vendaval, com assovios semelhantes a pungentes gemidos compridos e clamorosos. Encostada nas almofadas, à cabeceira de sua cama, Rainha Alzira ainda não havia dormido. Algo a inquietava além do aviso da tempestade próxima. Atraída pelo ruído do vento na cobertura dos seus aposentos, chegou à janela, cuja vista permitia vislumbrar qualquer movimentação além do portal de entrada. Uma sombra negra se movimentava rápido, como se fosse um grande animal solto que, por descuido dos tratadores, havia fugido dos estábulos. Focalizando melhor sua visão no vulto distante, um temor inesperado abalou seu coração. A menina Alba Esmeralda começou a chorar muito alto, ao mesmo tempo em que um grande burburinho, misturado ao zurrar dos cavalos e das mulas estabuladas despertou, fazendo levantar-se a maioria dos palacianos, para saber o que se passava. A guarda anunciou com o toque dos sinos que havia intrusos nas imediações, e um corre-corre inevitável da guarda logo cerrou fileiras, colocando-se em posição de alerta para defender o palácio de qualquer eventualidade. Agasalhada, com um lume aceso às mãos, a rainha buscou o apoio da Senhora Babá, para que cuidasse da criança que não parava de chorar, e continuou até o final do grande corredor, para saber se o Mago Natu estava desperto. Ao tocar à porta de seus aposentos, ele mesmo a atendeu, enquanto seus quatro cavaleiros saíram, colocando-se ao dispor da rainha para proceder uma ligeira ronda e notificá-la sobre o que acontecia. Mago Natu falou em voz baixa ao seu ouvido, tranquilizando-a: — Não se assuste. É o fantasma da Mula Tá. Veio visitar sua criança. Pegue imediatamente o sabre do Senhor Dugo com que a decapitaram. É o único instrumento capaz de afugentá-la. — Se o Senhor for ao encontro dela, quero ir também – solicitou Rainha Alzira. — Acompanhe-me, então. Mas cuide-se para que o fantasma não se aproxime de ti. Poderá feri-la ou até mesmo matá-la. — Proteja-me, então, Mago Natu. — Enquanto eu estiver por aqui, estarás segura. Avisaremos aos sentinelas para que não façam qualquer tipo de ataque ao vulto – disse Mago Natu, já abrindo o portal para se direcionar às baias, de onde vinham gritos dos tropeiros, relinchos e zurrados. A ventania se acalmara. Mago Natu, com o sabre do Senhor Dugo na mão esquerda e sua espada Kalibur na mão direita, guarnecia a rainha que, ainda amedrontada, queria ver a visagem mais de perto. Inesperadamente, uma grande tocha 207H. H. Entringer Pereira flamejante, irradiando um clarão vermelho-alaranjado, movimentava-se suspensa na altura da cabeça de um animal, permitindo ver atrás de si o vulto da besta que lhe seguia, como se estivesse ainda viva. Era daquela forma que a Mula Sem Cabeça começava sua sequência assustadora de aparições. Mago Natu, num ímpeto, apontou para a fantasmagórica aparição o sabre do Senhor Dugo, ordenando-lhe: — Vade retro, Mula Sem Cabeça! O que procuras morreu com teu rei. Cada cabeça, uma sentença... F.G.H.I.J.L. F.uja G.alopando H.etera I.lusão J.á L.iquidada! Com o mago brandindo sua espada e o sabre cruzados à frente da miragem assustadora, ouviram-se estrondos como o estalido de muitas chicotadas, e a incandescente tocha flutuante esvaneceu-se, desintegrando no ar a silhueta do fantasmagórico animal. — Desta feita, estamos livres. Porém acautele-se. É sujeito que ela ainda apareça nas noites de lua cheia, todas as vezes que a Sacerdotisa das Sombras se utilizar daquele mesmo bridão com que fez o encantamento em alguma outra de suas façanhas – advertiu Mago Natu. — Devo mandar que busquem o bridão para destruí-lo? — Jamais. O que está feito, está feito. Voltemos ao nosso repouso. Rainha Alzira e o Mago Natu acalmaram os palacianos, contando-lhes que era apenas um animal, que fugitivo das estrebarias se assustou e aos demais com objetos que havia atropelado ... Uns acreditaram e voltaram a dormir, despreocupados. Outros viram a fantasmagórica imagem e sabiam que se tratava de algo sobrenatural. Logo a ventania também passara e uma chuva copiosa abençoou aquela noite com o frescor de uma madrugada calma e promissora. Não tardou a anunciar-se a aurora. Os serviçais do palácio já se movimentavam nos seus postos de trabalho, uma coluna de fumaça logo se erguia do pavilhão da cozinha, e a rotina no Palácio das Esmeraldas parecia a de sempre. Na cama com a mãe, o Príncipe Calico acordou, sentou-se e perguntou: — Cadê meu pai? — Já te falei ontem, teu pai escorregou no galho de uma árvore, ficou pendurado pelo pé e morreu. De agora em diante, só tens mãe. Teu pai nunca mais voltará para casa... Nunca mais! Bateram à porta dos aposentos da rainha. Era a Senhora Babá que vinha com a ama de leite para amamentar a menina Alba Esmeralda, para auxiliar a Rainha a vestir-se e arrumar o Príncipe Calico.
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A Natureza em toda sua diversidade é isso. Resiliência e Resistência! Coloco o Vetiver (Chrysopogon zizanioides), como protagonista, para configurar a minha tomada de decisão, em relação ao meu interesse pela vida não urbana. Quando idealizei o Projeto Regenerativo OCA Terravila Glocal - Ocupação CoCriativa ArtFloresta - Inicio de 2021, trouxe comigo anseios e frustrações, de minha imersão em uma Ecovila que mudaria minha vida 180° graus. Eu já era um ponto fora da curva. Com a chegada do COVID-19, a coisa avolumou de tal forma, que eu não cabia mais nos antigos lugares. Um hiato - Viver no cerrado, com experiências bem diferentes, estava sendo mais que um desafio. Outro hiato - O Vetiver me mostrou com muita propriedade o que é ser resiliente. Das raízes às ramagens, do visível ao impercebível - Eu fico com Sagrado, depois de o profano não me abandonar nem mesmo na velhice. Para meu consolo, se não molesta a mãe, nem deseja o mau para outrem, o profano não existe. Como não registrar essa possibilidade de melhorar a terra desgastada? <<"PS" - Se entre nós, tiver alguém disposto a fazer uma imersão no cerrado, numa proposta experimental, em Mato Grosso, às margens do Lago do Manso, em Chapada dos Guimarães, entre em contato com Brazzdyvinnuh 65 98170-9882(WhatsApp)
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA - LIVRO 2 -CAP. 52
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A MALDIÇÃO DA FEITICEIRA Nos dias anteriores à fase da lua cheia, Rainha Alzira conclamou o Feitor, Senhor Dugo, e arquitetou seu plano audacioso e derradeiro: — Preciso ver pra crer – disse, irresoluta, Rainha Alzira. – Ainda que me custe a própria vida... Prepare-se, não deixando ninguém, nem sua mulher, saber que sairás comigo na próxima noite de lua cheia. Também farei o mesmo. Deixarei Calico dois dias antes na casa da ama de leite, sob o pretexto de desmamá-lo. Deveremos nos encontrar bem antes da meia-noite no entroncamento da estrada que desce para o Vale Apertado. Tu sairás sob o pretexto de caçar. Eu não preciso justificar ao rei minha ausência porque ele nem perceberá, desde que esteja de volta antes dele. Na calada da noite da lua cheia, Rainha Alzira compactuara com o Senhor Dugo, o Feitor, que sairiam juntos, pois que também precisava ver de que maneira acontecia, lá na clareira da Figueira-do-inferno, o encantamento da Mula Tá na mulher extraordinária. O Senhor Dugo, por todos os meios, tentou convencê-la a não cometer tal imprudência. Não deveria sujeitar-se a testemunhar aquela visão misteriosa, perturbadora, imprópria a olhos tão pudicos e virtuosos. Julgava que, quando visse o Rei Albe, o Rico, entregue àquela devassidão, àquelas práticas imorais e libertinas, a Rainha certamente não suportaria. Era demais para uma senhora de tão alta honradez e pudicícia. Desconsiderando toda a argumentação usada para demovê-la da ideia de ir ao local do encantamento, Rainha Alzira mandou que o Senhor Dugo lhe arreasse um outro zaino ágil e discreto, de galope bem cômodo, para que ninguém notasse a ausência nas baias de sua favorita e contumaz montaria. Ao tempo e local combinados, haveriam de se encontrar. Escolhendo um ponto de observação seguro, Rainha Alzira se acomodou entre as ramagens de uma moita de sororocas, que lhe permitiram visão direta na extensão da área sombreada pelos galhos da encorpada figueira-do-inferno. Por sua vez, o Senhor Dugo postou-se mais à esquerda, distante suficiente para atendê-la e perceber seus comandos, caso solicitado. Deixaram as montarias numa pastagem próxima, estrategicamente preparadas para utilizá-las rapidamente, conforme necessário. A lua cheia já ia alta no céu. Quebravam o silêncio que parecia morar naquele santuário natural de pedras, areia e vegetação esparsa, os trinados dos grilos e o coaxar de sapos, numa espécie de monótona e soturna sinfonia de uma nota só. Um ruído rasteiro por entre as folhas secas chamou atenção da rainha. Certificou-se de que em sua volta nenhum animal peçonhento poderia se ocultar. Por entre as ramagens que permitiam o clarão da lua se projetar no solo arenoso e quase limpo, observou uma enorme cascavel serpenteando em sua direção. Imediatamente postou-se imóvel, fixando o olhar nos movimentos sinuosos da serpente. Tirou lenta e vagarosamente de seu alforje um punhal de prata que sempre trazia, e aguardou a aproximação do perigoso réptil. À distância de uma braça, a serpente colocou-se em posição de ataque, 195H. H. Entringer Pereira enrodilhando-se. Rainha Alzira sentiu um calafrio lhe gelar os ossos, puxou seu manto fechando-o ao colo e conteve a respiração para desacelerar os batimentos cardíacos. Próximo de seus pés, havia um galho seco no formato de forquilha rasa. Tomou-o e o mais rápido que pode, imprensou a cabeça da cobra entre a bifurcação do galho, afundando-o com a cabeça do venenoso réptil espremida de encontro ao solo, impossibilitado de projetar o bote. Com o punhal de prata seguro, firme pelo cabo incrustado de pedras verdes, cravou-o num golpe certeiro no meio da cabeça da cobra. Debatendo-se, a serpente agitou uma nuvem de areia e poeira, arrefecendo-se aos poucos, estertorando-se numa derradeira convulsão. Surpresa com o seu próprio desempenho e a facilidade para eliminar a cascavel sem desesperar-se diante do perigo iminente, Rainha Alzira por breves instantes se esqueceu de que estava naquele local, àquela hora, esperando confirmar as informações de seu vassalo sobre os resultados da magia que transformava a Mula Tá numa fascinante mulher, que satisfazia os caprichos depravados e a lassidão do Rei Albe, o Rico. Sem se dar conta, chamou seu criado: — Vem cá. Venha ver, Dugo! De pronto o Senhor Dugo deslocou-se sorrateiramente de seu esconderijo, indo até o local onde a rainha se encolhia quieta, ao lado de uma grande serpente estirada, cujas escamas negras reluziam à luz prateada do luar. Quando se movimentou na intenção de livrar a rainha da presença daquele réptil sacrificado como tributo à sua curiosidade e astúcia, ouviram um tropel se aproximando. A Rainha Alzira, percebendo o perigo que corriam caso quebrassem o silêncio reinante no local, ordenou em voz baixa: — Fique e ponha a cobra aí mesmo. Não há mais tempo para voltares. O coração da Rainha Alzira disparou só de passar pelo pensamento a possibilidade de o marido logo, logo mergulhar em devaneios fantasiosos, entregando-se à paixão sensual, tendo como parceira não uma mulher real, de carne e osso, mas um ser produzido pelos encantamentos das mandrágoras, criatura resultante da feitiçaria manipulada pelos poderes ocultos da Sacerdotisa das Sombras que ela, a Rainha Alzira, sabia ser impossível de desfazer. Só haveria um jeito de acabar com o encantamento: cortar a cabeça da Mula Tá. Ao acolher tal pensamento, Rainha Alzira viu o Rei Albe, o Rico, chegar, apeando-se da Mula Tá. Amarrou o animal ao tronco da figueira-do-inferno, soltou a barrigueira, tirou os arreios, desatou as fivelas da cabeçada, livrando-a das rédeas e do cabresto. Juntou todos aqueles acessórios sob o tronco da árvore e iniciou ritual correspondente com seus pertences e indumentárias. Desvencilhou-se da espada – uma Kalibur presenteada pelo seu irmão, Rei Pay, confeccionada na mesma época que a do sobrinho, Rei Médium – fincando-a no tronco da figueira, descalçando-se por derradeiro. De sua bruaca, tirou uma grande manta da Pérsia, estendendo-a sobre o chão, bem no centro da clareira onde a luz da lua iluminava diretamente, sem interferência de sombras. Por último, sacou da mesma bolsa uma rédea de fios de ouro trançados. A mesma que a Rainha Alzira percebera guardar no grande baú de prata uma vez, ao chegar em plena madrugada. O coração de Alzira batia tão forte e disparado, suas mãos estavam geladas e uma tremedeira arrefeceu-lhe os joelhos. Ela sentia que iria desmaiar, quando um 196H. H. Entringer Pereira estridente piado de Urutau cortou o silêncio funesto da clareira. Naquele instante, o Rei Albe, o Rico, completamente nu, atirou o bridão sobre o pescoço da Mula Tá, sem pronunciar qualquer palavra. Num piscar de olhos, estava enlaçado pelo bridão a encantadora mulher de compridos cabelos negros, olhos verdes e fascinantemente bela. Senhor Dugo, percebendo que Rainha Alzira parecia fora dos sentidos, apreciando calada, com os olhos fitos no chão sob a figueira, em cuja escabrosa sombra dois corpos dançavam num ritmo compassado, ora um por cima ora outro, estendeu sua capa próxima de onde a serpente jazia com o punhal ainda traspassado à cabeça ensanguentada. Acomodou a Rainha Alzira sobre ela, fitando-lhe o belo rosto, sentindo o perfume do seu harmonioso corpo maduro. Enlevado pelo prazer que sentia ao apreciar de tão perto os movimentos encenados naquele palco, onde a natureza permitia o desenrolar do jogo amoroso sem censura, sem reprovações, livre de qualquer reticência moral, tomou-se de incontrolável anseio de também envolvê-la, não obstante mantivesse por ela, até então, respeitoso desejo armazenado secretamente. Rainha Alzira, despertando, sentou-se rapidamente, recobrando a consciência do que acontecia ao seu redor e, sem que Senhor Dugo pronunciasse qualquer palavra, acomodou-se em seus braços, sentindo-se prontamente acolhida e protegida. Nunca havia reparado nos seus membros musculosos, no tórax rijo e espadaúdo, seu corpo forte, bem constituído e nos seus modos gentis. Por sua vez, Senhor Dugo, relutante em manifestar seu ardente desejo, temendo não ser correspondido pelos sentimentos da Rainha, esperou. Não tardou que ela mesma se livrasse de todas as suas roupas, entregando-se nua, sem objeções, sem bloqueios, sem lembranças dos mesmos traumas que a impediam tanto tempo de doar-se ao marido, nas incontáveis e angustiosas noites em que ele a desejara. Também os dois espectadores envolvidos pela encenação lasciva do Rei Albe com a mulher encantada estavam irremediavelmente atingidos pelo feitiço da besteira. As sombras projetadas pela luz do luar na copa da figueira-do-inferno começavam a atingir os dois amantes sobre a manta de lã colorida. A Rainha Alzira e o Senhor Dugo já não enxergavam tão nitidamente os contornos dos dois corpos. Súbito, ouviram o galo cantar. Quando olharam em redor, percebendo-se também nus e abraçados, a rainha removeu o punhal fincado na cabeça da serpente ao seu lado, colocou-o no peito do Senhor Dugo e ordenou-lhe seriamente: — Vá e mate a mula. Corte-lhe a cabeça. Depois aproveite que o rei está desarmado, xeque e mate-o! — Não posso matar meu rei, Senhora. — Mate-o ou ele te matará! A escolha é tua. Senhor Dugo, vacilante quanto à ordem da rainha, mas ainda sob eflúvios hipnotizantes da paixão que o enfeitiçara, cativo da euforia própria dos enamorados, com sua adaga de prata na mão esquerda e o pesado sabre de ferro à direita, sorrateiro, desferiu um golpe de força e precisão combinadas, decepando a cabeça da Mula Tá. O esguicho do sangue da besta atingiu-o no peito ainda nu, banhando-o daquele caldo viscoso e quente. Rei Albe, o Rico, surpreendido pelo efeito do ataque, ao ver Dugo reconheceu-o e, imediatamente, de espada em riste, iniciou encarniçado 197H. H. Entringer Pereira combate, cujo desfecho não deixou testemunhas, além do soturno Urutau e o clarão da lua cheia. O corpo da Mula Tá tombara exangue, e sua cabeça fora atirada distante pela brutalidade do sabre do Senhor Dugo. Diante da cena, Rainha Alzira mantinha-se estupefata como observadora, dominada e dividida entre o ódio do marido, prisioneiro de um feitiço, e o arrependimento de haver se entregado ao feitor. Já decidida a retirar-se daquele aterrorizante cenário antes que o Rei Albe, o Rico, a percebesse, colocando fim ao sentimento de culpa pela sua participação naquela tragédia e se antevendo do final que se desenhava, não conseguia recompor-se rapidamente. Ao sair do esconderijo sem que o rei reparasse, olhou ainda outra vez para certificar-se de que realmente a miragem da mulher encantada esvanecera-se por completo e o corpo do animal que estertorava no solo, em meio a uma grande poça de sangue, era mesmo o da Mula Tá. Horrorizada diante daquela visão macabra, chamou-lhe a atenção algo ainda mais aterrador: a barriga da besta não parava de mexer, como se o animal, mesmo decapitado, mantivesse a respiração ofegante e seu ventre recusasse a morte. A Rainha então esqueceu-se de que também poderia ser atingida pelo furioso tilintar das espadas que se atritavam, numa batalha que certamente resultaria em mortes, travada entre Rei Albe, o Rico, e o Senhor Dugo. Obstinada, querendo saber que mistério se abrigava nas profundezas do ventre da Mula Tá, apertou nas mãos seu punhal de prata e, habilmente, rasgou de um lado ao outro, a barriga estremecente do animal, arrancando-lhe das entranhas, uma criatura viva: uma bela e inexplicável criança, que ao corte do cordão umbilical, chorou como qualquer humano recém-nascido. Estarrecida, surpresa, desesperada, mas emocionada pelo inusitado e fantástico surgimento, Rainha Alzira envolveu rapidamente a indefesa criatura nas abas de seu rico manto. Deixando de imediato o local, alcançou sua montaria, deixada amarrada logo atrás, e regressou ao Palácio das Esmeraldas o mais rápido que pode, montada no zaino Ventania, com a menina recém-nascida nos braços, envolta e escondida como um grande pacote, sob suas vestes. Como ninguém lhe notara a ausência, tampouco notificaram a chegada. Subiu pelas escadarias secretas até seus aposentos. Diligentemente, cuidou da recém-nascida, envolveu-a em panos velhos, deitando-a numa cesta de cipó forrada de palhas secas. Cautelosamente, esgueirando-se pelos corredores mal iluminados e desertos, desceu até uma das entradas dos fundos do palácio, aninhando a cesta ao rés do portal, onde um sentinela displicentemente cochilava sobre um carroção de feno encostado à muralha. Tão silenciosamente quanto chegou, Rainha Alzira retornou aos seus aposentos. Da janela da galeria onde pintava seus quadros, podia ver a silhueta da pequena cesta com a criança dormindo, desenhada sob os pálidos resquícios da lua que declinava. Logo, logo, a aurora chamaria a atenção do restante da guarda. Rainha Alzira já se preparava para receber a notória surpresa do achado, como se fosse fruto do abandono de alguma mãe desnaturada que, na impossibilidade de criar o filho, ou 198H. H. Entringer Pereira livrá-lo da miséria e de outras desgraças, legara-o à Casa Real, onde haveria de ser criado com dignidade e conforto, ainda que fosse para prestar serviços. Com o coração constrangido de dor, prevendo o desfecho do embate que não pôde presenciar até o final, Rainha Alzira sabia que um dos dois, o marido ou o seu fiel criado e cúmplice, tombariam pela espada. Àquela hora, um deles estaria morto, certamente. Ou, quem sabe, os dois? Imaginando a dimensão do infortúnio que haveria de suportar, Rainha Alzira não conseguia dormir. O dia anunciava sua luz dourada, quando ela ouviu o distante choramingo faminto da criança recém-nascida. Assim que chegou à janela, presenciou um movimento diferente de criados e guardas em volta da cesta com algo. Do alto de sua janela, perguntou aos criados: — O que se passa? Por que não cuidam de seus afazeres? — Senhora Rainha, encontramos uma criança viva, abandonada dentro desta cesta! – responderam mostrando-lhe o objeto de cipó com os panos envolvendo o bebê. — Levem-no ao quarto de Calico. Já estou indo lá. Rainha Alzira mandou que buscassem a Senhora Babá, que logo a acompanhou até os aposentos do Príncipe Naldo, há dois dias separado da mãe, sob o pretexto de desmamar-se. Assim que fitou o rosto da recém-nascida sob a luz clara do dia, Rainha Alzira tomou-se de forte emoção: era a criatura mais encantadora que já vira. Tirou-lhe aqueles panos que, propositadamente havia pegado entre os pedaços de tecidos velhos, para que não pairassem dúvidas de que se tratava da filha de pobres camponeses, e mandou que buscassem uma de suas cozinheiras, que também estava amamentando. Pediu-lhe que fizesse a caridade de alimentar aquela criaturinha, pois se não estivesse a desmamar o próprio filho, não recusaria seu sagrado leite materno à desvalida e angelical criatura. Passadas as primeiras horas de surpresa e acolhimento ao novo habitante do Palácio das Esmeraldas, a Senhora Babá, que também se afeiçoara à recém-nascida, chamou a Rainha Alzira e disse-lhe em tom de segredo: — Senhora Rainha, meu marido saiu à caça ontem à noite e até agora não voltou. E o vosso rei, ainda está dormindo? Rainha Alzira sentiu um frio gélido percorrer seu sangue. Seu coração bateu descompassado. Respirou fundo, tentou manter a calma e disse com tom de preocupação: — Meu rei também não chegou ainda, Senhora Babá. Vejo que tanto meu marido quanto o teu estão a nos causar o mesmo tipo de inquietação... — Tenho um mau pressentimento, Senhora Rainha – contrapôs a ama do Príncipe Calico, mulher do Senhor Dugo. – Sonhei que um grande animal negro, sem cabeça, soltando labaredas de fogo pelo pescoço, atacava o meu marido, devorando-lhe a cabeça... um sonho medonho. Estou atemorizada pela visão que tive. — Não se perturbe, Senhora Babá. Também me sobressaltou uma visão parecida. Mas não acredito nesse tipo de fantasias. Não tardará seu marido e o meu voltarem! Temos agora mais uma criança para cuidar... olhe, que interessante! Ela não tem os dedinhos dos pés! Por este defeito decerto que foi rejeitada pelos pais. Mais uma boa razão para que cuidemos dela com carinho – concluiu a Rainha, externando seu sentimento de piedade maternal, ao mesmo tempo em que arregimentava a guarda 199H. H. Entringer Pereira palaciana, ordenando-lhe que saísse pelas cercanias de Avilhanas a investigar se alguma camponesa dera à luz recentemente, descobrindo os prováveis pais, ou pelo menos, a mãe daquela criaturinha. Rainha Alzira solicitou ainda à Senhora Babá que trouxesse seu filho, o pequeno Calico, de volta ao palácio. Já passara tempo suficiente para que o menino se esquecesse de mamar no peito. Sozinha em seus aposentos, Rainha Alzira não conseguia se livrar das cenas que repassava na memória – imagens impressionantes da noite anterior se fixaram como pesadelos. Pior, no entanto, porque ela tinha certeza de que não sonhara. A fim de esquecer tudo o que vivenciara, refugiou-se na galeria de quadros e continuou a pintura do personagem O Louco. Aguardava a volta dos seus guardas, que logo trariam as notícias que ela já supunha: por mais que buscassem, não descobririam os pais da criança deixada nos portões do palácio, mas, por certo, haveriam de encontrar o Rei Albe, o Rico, e o Senhor Dugo mortos, ou um morto e o outro gravemente ferido, junto ao cadáver da Mula Tá decapitado e dilacerado. Como não poderia compartilhar com ninguém o que presenciara, tampouco como procedera, decidiu ainda que, caso houvesse alguma testemunha sobrevivente ao tétrico episódio, necessariamente haveria de ser eliminada. O segredo da origem da criança retirada das entranhas da mula, depois de decapitada, jamais seria revelado. Pensou consigo: “segredo a três, só matando dois”. Absorta em angustiantes pensamentos, planejando astuciosamente suas próximas ações, no sentido de se livrar de uma só empreitada do sobrevivente da clareira do Bosque do Iludido, mesmo que fosse o próprio marido, Rainha Alzira decidiu que também iria junto com os guardas à procura do marido, que desde a noite anterior se ausentara para cavalgar e ainda não regressara. Pediu ao guardião das estrebarias que encilhasse o zaino Ventania: desejava cavalgar pelos arredores em busca do Rei Albe, o Rico. Momentos antes de montar seu cavalo, dois dos quatro emissários que haviam partido em busca da mãe da criança abandonada nos portões do Palácio aproximaram-se velozmente, estancando suas cavalgaduras e apeando tão rapidamente que, ao vê-los, Rainha Alzira preveniu-se para suportar a notícia que já aguardava: — Senhora Rainha, nem sei como vos dizer. Prepare-se para saber da pior notícia que podemos vos dar. Rainha Alzira fingiu que não estava ligando os fatos do aparecimento da criança à morte do Senhor Dugo ou do próprio rei e antecipou-se: — Já posso adivinhar. Não conseguiram encontrar a mãe da criança que abandonaram no Palácio... — Não, Senhora Rainha – disse um dos emissários. – Trata-se de algo terrivelmente trágico. É melhor que a senhora mesma nos acompanhe para ver, antes que anoiteça. Encontramos vosso marido num forcado da galha de uma figueira, pendurado pelo pé, e o Senhor Dugo morto, faltando-lhe a cabeça, junto à Mula Tá com a barriga rasgada de um lado a outro, também sem a cabeça. Algo medonho. Coisa de arrepiar. 200H. H. Entringer Pereira Sentindo-se desfalecer impactada pela notícia, a Rainha, amparada pelos seus criados, logo que recobrou os sentidos, prontificou-se a acompanhá-los até o local onde já previa o que a esperava. Sem fazer perguntas, nem procurando saber detalhes que lhe denunciassem conhecer de antemão alguma coisa do que pudesse encontrar, ou levantassem suspeitas de que ela própria houvesse concorrido com o desfecho daquela horrenda tragédia, conduziu-se até a clareira, como se desconhecesse ou ignorasse completamente as veredas que levavam ao Vale do Apertado. Ao se deparar com o trágico cenário, num misto de horror e curiosidade, Rainha Alzira interpretou exatamente o que havia sucedido: examinou o cadáver pendurado pelo pé, com marcas de múltiplos ferimentos pelo corpo nu, o bridão de fios de ouro amarrado à forquilha do galho da figueira-do-inferno, de onde pendia o corpo inerte e escandalosamente despido do Rei Albe, o Rico. Ao lado do animal decapitado, o corpo do Senhor Dugo, semivestido, reconhecido de imediato pelo anel de esmeralda que usava no dedo mínimo da mão esquerda, gravado com seu apelido, posto que seu verdadeiro nome de família apenas o Rei Albe, o Rico, conhecia, desde que o adotara enquanto criança e nunca a ninguém revelara. As cabeças do Senhor Dugo e da Mula Tá, não se avistavam pelos arredores, nem tampouco o sabre, que certamente teria provocado os ferimentos no Rei Albe, o Rico, enquanto esgrimia com seu valente e portentoso rival. Para todos os questionamentos formulados pela guarda palaciana, desde as incontáveis e cruéis hipóteses, até as prováveis razões que teriam levado o rei e seu feitor à sangrenta e sinistra peleja, determinantes da tamanha e imponderável tragédia, Rainha Alzira já encontrara respostas. Mantinha-se, no entanto, no mais absoluto silêncio, porque a única resposta que ela buscava, o rei havia levado para o silêncio perpétuo. Quebrando sua mudez, ordenou: — Guardas, cavem aqui. Parece-me que esta terra foi revolvida! Imediatamente, os serviçais iniciaram a retirada de uma terra solta, arenosa, que parecia ter sido remexida há menos de um dia. Quanto mais cavavam, mais facilidade encontravam, abrindo em poucos minutos uma cova com a profundidade de alguns palmos, quando um dos guardas proclamou: — Achei um objeto metálico. Parece a arma do Senhor Dugo – disse, limpando a terra da lâmina do sabre ainda manchado de sangue e, admirado, acrescentou: — Tem um nome, aqui, gravado na lâmina... Leu em voz alta, com um pouco de dificuldade: — Adul Thero. Humm, acho que era esse o nome verdadeiro do Senhor Dugo! Ao ouvir aquele nome, Rainha Alzira sentiu um inexplicável mal-estar, sua visão escureceu, sobreveio-lhe ânsia de vômito. Lembrou-se imediatamente da maldição que a Feiticeira Zuzu lhe impusera, e num átimo lhe passaram pela lembrança os fugazes momentos de volúpia intensamente vividos nos braços do Senhor Dugo, que agora faziam sentido: Adul Thero era o seu nome verdadeiro. Contendo sua respiração ofegante, pensou consigo: “Será que estou grávida? Este deve ser o fruto de Adul Thero que a Sacerdotisa das Sombras vaticinou!”. Quando concluiu o pensamento, um dos guardas anunciou: — Aqui estão. Encontrei as cabeças da Mula Tá e do Senhor Dugo. 201H. H. Entringer Pereira Sem se aproximar da cova onde jaziam as cabeças do feitor e da Mula Tá, Rainha Alzira dirigiu seu olhar para a árvore da figueira-do-inferno, onde a espada Kalibur do Rei Albe, o Rico, estava fincada no tronco. Era como o registro do último ato praticado por ele, antes de se precipitar no vazio, lançando-se com o pé esquerdo amarrado junto ao forcado do galho da figueira. Aproximando-se do tronco da árvore para retirá-la, Rainha Alzira observou uma inscrição insculpida recentemente na casca, produzida provavelmente com a ponta afiada de uma adaga. Julgou serem aquelas as últimas manifestações da vontade do rei ou algum código que desejou que fosse decifrado por quem o encontrasse. Leu em voz alta: “F.G.H.I.J.L.”, e abaixo desta sequência de letras, a frase “Cada cabeça, uma sentença”. Sem entender de imediato o significado daquele enigmático recado, sua memória trouxe à lembrança aquela mesma sequência de letras que o Louco lhe dissera quando se despediram no local conhecido como Estaca do Zero. Sem conseguir imaginar um significado que pudesse ligar os dois fatos tão diferentes e desconexos, forçou a retirada da espada Kalibur do Rei Albe, o Rico, do tronco da figueira, dirigindo-se aos guardas: — Pois que as cabeças continuem aí... neste mesmo buraco – disse a Rainha, determinada a sepultar naquele mesmo lugar todos os incômodos vestígios dos momentos de lascívia e dos tormentos que secretamente vivenciara ali. E continuou mandado: — Abram mais esta cova e sepultem nela também o corpo do Rei Albe, o Rico. Quanto aos corpos mutilados da Mula Tá e do Senhor Dugo, queimem-nos, até que se reduzam a cinzas. Como se procurasse algo inadvertidamente, a Rainha Alzira começou a andar a esmo pelos arredores, chegando ao local onde cravara seu punhal de prata na cabeça da peçonhenta serpente negra. Num jogo de faz de conta, como se de nada soubesse, emitiu grito assustado, chamando atenção dos guardas, que logo acorreram para livrá-la do perigo. — Vejam esta cobra horrível! Pensei que estivesse viva. Alguém que esteve antes por aqui a matou. Quem sabe o próprio Rei Albe, o Rico, ou o Senhor Dugo, talvez! Queimem-na com os corpos da mula e do feitor. Ao retirarem o corpo do Rei Albe, o Rico, pendurado de cabeça para baixo, laçado pelo pé, amarrado no forcado da galha da figueira-do-inferno, exatamente sobre o local onde jaziam sob o solo as cabeças e onde a Rainha Alzira determinara também sepultar o rei, ela pegou o bridão de fios de ouro, desfez o nó que atava o pé do marido suicida, ordenando ao seu criado: — Peguem-no e levem-no para longe daqui. Vá à casa da Feiticeira Zuzu, a Sacerdotisa das Sombras, entregue-lhe este objeto e diga apenas, sem outras explicações, que o Rei Albe, o Rico, mandou-lhe este presente, como pagamento pelos trabalhos prestados. Ordene-lhe, também em meu nome, que se mude, deixando o mais rápido que puder o Reino de Avilhanas. Quero-a fora destes domínios, sob pena de ser queimada viva. Preparando-se para deixar aquele cenário funesto, Rainha Alzira ouviu um tropel de cavalos se aproximando. Deu-se por conta, quando identificou entre os quatro cavaleiros visitantes o quinto elemento: Mago Natu. 202H. H. Entringer Pereira Parecia avisado da necessidade de sua presença naquele reinado, naquele dia, naquele lugar, àquela hora. Silenciosamente, os cavaleiros logo se prestaram a auxiliar os guardas da rainha a descerem o corpo do Rei Albe, o Rico, já envolto em suas majestosas vestes, até o fundo da sepultura. Mago Natu, após os cumprimentos e reverências de costume, procedeu um ritual de gestos, balbuciando algumas palavras. Fitou Rainha Alzira nos olhos e disse-lhe compungido: — Não poderia ser diferente. Cada cabeça, uma sentença! Ouvindo tais palavras, a Rainha Alzira entregou a espada Kalibur do Rei Albe, o Rico, nas mãos do Mago Natu, enquanto segurava, em sua mão esquerda, o sabre desenterrado junto às cabeças do feitor e da mula. Percebendo que o Mago Natu lhe interrogaria a respeito daquela arma, adiantou-se, chamando-o para que visse a inscrição e a frase que estavam gravadas no tronco da figueira, abaixo de onde retirou a espada do Rei Albe, o Rico: — Mago Natu, por favor, decifre esta inscrição. A frase eu já sei do que se trata... o Senhor mesmo a pronunciou ind’agora. — Sabes também o que significam estas letras. Vou dizer-vos e guardarás este segredo contigo: F.ilho G.erado H.oje, I.nfame J.az L.iquidado. Ao ouvir tais palavras, compreendeu imediatamente o significado. Apossou de si um medo angustiante, tão profundo que sentiu-se desfalecer. Mago Natu a amparou, confortando-a, e indagou-lhe para que voltasse à realidade: — É esta a arma de Adul Thero, ou do teu feitor, o Senhor Dugo? — Provavelmente – disse abrindo os olhos e recobrando os sentidos. – Tem este nome gravado na lâmina, eu mesma não sabia que seu nome verdadeiro era Adul Thero. — Guardai-a. Não a entregues a ninguém, nem mesmo a sua viúva, a Senhora Babá. Haverá apenas um homem que deverá usá-la: o próprio filho de Adul Thero. Somente vós devereis saber o que aconteceu entre tu e ele. Rainha Alzira não suportava o sentimento que lhe provocaram todas aquelas palavras, um nó lhe apertava a garganta; desatou a chorar copiosamente, enquanto o corpo do Rei Albe, o Rico, já desaparecia sob as porções de terra e areia. Mago Natu a acalentou: — É hora de te acalmares. Voltemos para casa. Deixe que meus cavaleiros terminem o trabalho. Amanhã, ao amanhecer, sereis sagrada Soberana e recebereis a espada do Rei Albe, para reinares sobre o Trono de Avilhanas. Também daremos nome à criança que acolhestes esta manhã em teu Palácio. Receberá o nome de Alba Esmeralda. — Como sabeis da criança? Quem lhe contou? Mago Natu esboçou um sorriso cúmplice, abraçou-a e segurou o loro do estribo para auxiliá-la a se montar. Agilmente, também se postou ereto e elegante como um jovem cavaleiro no seu corcel impecavelmente branco, dizendo aos seus quatro cavaleiros: — Concluam a cremação dos corpos, limpem o local e desfaçam todos os vestígios de sangue que ainda sobraram sobre as areais. Depois, voltem ao Palácio das Esmeraldas. Um dos cavaleiros limpando as areias voltou-se ao Mago Natu: 203H. H. Entringer Pereira — Mago Natu, encontrei uma pequena adaga de prata. Vão levá-la ou deveremos enterrá-la junto com o corpo do Rei Albe, o Rico? — De quem é a pequena adaga? – inquiriu o Mago à Rainha Alzira. – Era do vosso marido ou do vosso feitor? — Era do feitor – respondeu Rainha Alzira. — Então, leve-a e entregue-a à Senhora Babá. Montada no zaino Ventania, Rainha Alzira retornou com o Mago Natu, enquanto os quatro cavaleiros concluíam a cerimônia fúnebre ordenada pela Rainha e pelo Mago: depois que sepultaram o Rei Albe, o Rico, junto com as cabeças de Adul Thero e da Mula Tá, cremaram os corpos decapitados com a negra serpente numa fogueira acesa com lenha das árvores de Carvoeira, até que não restaram sequer vestígios de sua existência, além de uma cinza esbranquiçada que um vento impetuoso de final de tarde prestes a chover se incumbiu de espalhar. O Sol se despedia atrás de uma nuvem vermelho-escarlate, sanguíneo registro que o tempo fixou naquele crepúsculo aziago, anunciando não o final, mas o começo de outra herança ainda mais trágica — a semente de Adul Thero, o perverso filho que Rainha Alzira já trazia no ventre, ao qual daria à luz nove meses depois, escusando-se da infâmia de infidelidade, pois que ninguém suspeitaria de que o menino gerado naquela trágica noite fosse filho de outro pai que não o Rei Albe, o Rico — segredo que somente a Rainha Alzira e o Mago Natu guardaram dali por diante, por muitos e muitos anos. A volta da Rainha Alzira ao Palácio das Esmeraldas em companhia do Mago Natu foi cercada de grande curiosidade, com manifestações indiscretas de bisbilhotice entre os criados e o desejo de informar-se sobre os misteriosos acontecimentos que quebraram a rotina de toda a corte e seus vassalos. A mais aflita de todas as servas, a Senhora Babá, prostrou-se aos pés da Rainha Alzira em prantos, antes de perceber a presença notável do Mago Natu, e desabafou: — Senhora Rainha, por misericórdia, diga-me a verdade. Quem matou o Senhor Rei Albe, o Rico, foi o infame do meu marido? — Não, Senhora Babá. Console-se. O Rei é quem parece ter eliminado vosso marido. Acalme-se. Depois o Mago Natu lhes dirá o que precisam saber. – Retirando-se para os seus aposentos, pediu à Senhora Babá: — Por favor, leve Calico e a menina encontrada no portão do Palácio aos meus aposentos. Preciso ficar a sós com eles. Mago Natu, vossos aposentos são os de sempre, peça o que quiser aos criados. Se preferir, instale seus quatro cavaleiros próximos de vós, na mesma ala do Palácio. Ao cair da noite, cearemos juntos. – Subiu as escadarias que levavam ao piso superior, sem responder quaisquer dos questionamentos de seus vassalos. Antes de chegar aos seus aposentos, Rainha Alzira deteve-se no corredor, olhando a galeria de quadros onde estavam suas calic’aturas. Percebeu que faltavam poucas pinceladas para concluir o retrato do derradeiro personagem que desenhara. Pegou um pincel feito por ela mesma, de crina macia dos cavalos, e coloriu de vermelho-vivo o calçado do Louco. Pronto. O desenho estava pronto. 204H. H. Entringer Pereira Já não havia muita luz no grande corredor de pedras daquela ala do palácio, quando Rainha Alzira, prestes a entrar em sua alcova, ouviu o clarim do arauto real tocar a toda altura. — Quem será a esta hora? – admirou-se, indagando a si. Rainha Alzira foi até a janela para certificar-se de que visitante havia chegado, sem convite e sem prévio aviso, naquele dia trágico e àquela hora do entardecer. Teve uma grande surpresa, alegrando-se: era o Louco. Veio cumprir a visita que lhe prometera. “Que coincidência – pensou – bem no dia em que terminei de pintar sua figura... Parece até que o Louco e o Mago andam juntos... Preciso pintar o Mago Natu, desta feita.” Bateram à porta. Antes de abri-la, a Rainha ouviu os choramingos do Príncipe Calico. — Senhora Rainha, eis os infantes... Precisas de mim para algo? – quis saber a prestimosa ama. — Por favor, Senhora Babá, fique aqui comigo. Devo lhe contar tudo o que eu mesma vi e o que pude deduzir sobre o terrível acontecimento que enluta o reinado e nos privou dos maridos. Não me faça perguntas além do que lhe disser, porque também desconheço as razões que levaram o teu marido e o Rei a entrarem em combate. Quando cheguei ao Bosque do Iludido, deparei-me com o seguinte cenário... Após confortar a Senhora Babá, que chorava copiosamente, Rainha Alzira persuadiu-a de que não se sentisse culpada pela tragédia nem julgasse infame seu marido, porque até então não se conheciam os motivos que os levaram àquele lastimável infortúnio. Garantiu-lhe que teria todo o amparo necessário no Palácio das Esmeraldas e confidenciou-lhe, já preparando terreno para que a notícia de uma possível gravidez fosse recebida com naturalidade e tranquilidade: — Imagine, Senhora Babá, que na noite anterior, passados quase três anos, cedi aos apelos do Rei e consenti que dormíssemos juntos. Parece-me uma predestinação. Foi exatamente aquela a nossa última noite de amor. Custa-me entender por que Berico teria se matado. Já pensou se desta única e última vez eu tiver engravidado? A Senhora Babá, surpresa com aquele nível de confidência, não censurou a Rainha Alzira, comentando: — Tomara! Assim seja. Até que enfim Calico terá um irmão pra brincar e dividir toda essa fortuna. Com essa menina que apareceu, como mesmo haverá de se chamar? — Alba Esmeralda – respondeu Rainha Alzira, sem prestar atenção ao nome que falara. — Finalmente, teremos crianças brincando nestes jardins. Cuidarei do novo principezinho, ou nova princesinha, quem sabe? Como se fosse meu próprio filho. Tomara, Senhora Rainha, tomara! – Suspirou com alívio a Senhora Babá, já pressentindo que deveria deixar a rainha com as duas crianças. — Deixe-nos a sós, agora. Recepcione o visitante que chegou neste momento e o instale no quarto próximo da ala das Calic’aturas – pronunciou, sorrindo, enfatizando o novo nome que inventara para denominar suas pinturas. – Avise-o de que não me demoro a recebê-lo. 205H. H. Entringer Pereira Rainha Alzira, depois de conversar longamente com o Príncipe Calico, explicou-lhe em linguagem infantil toda a desventura ocorrida naqueles trágicos dois dias. O menino de três anos pouco se importava, por não compreender o infortúnio de sua orfandade, festejando a inusitada presença de uma bebezinha muito linda, de olhos verdes bem acesos, que sua mãe apresentou como sua irmãzinha de criação, convencendo-o facilmente a deixar de mamar. Logo, logo, as duas crianças adormeceram. Rainha Alzira acomodou-os em seu próprio leito, aprontou-se e desceu para o salão de jantar, onde os visitantes e os palacianos a aguardavam para a refeição da noite. Após o jantar, Rainha Alzira, um tanto estremecida pelo pavor que lhe provocara a insidiosa e inexplicável tragédia, solicitou ao Mago Natu que relatasse aos palacianos o que precisavam saber e lhes comunicasse sobre a cerimônia de sua sagração no alvorecer do dia seguinte. — Amanhã, ao nascer do Sol, na Sala do Trono deste Reino de Avilhanas, Rainha Alzira será sagrada Soberana Rainha Absoluta do Reinado de Avilhanas, Soberana RARA, a Senhora das Pedras Verdes. Boa noite a todos. Subiu imediatamente aos seus aposentos, deixando o grande salão de refeições imerso em confabulações e burburinhos, até quando o Louco pediu licença à Rainha Alzira para promover alguma diversão, justificando que aos momentos de tristeza devem suceder a alegria que pertence ao mundo dos vivos: — Rei morto, rei posto. Viva a rainha! Encorajou uma saudação seguida de entusiasmados aplausos, com apresentação de suas danças, trovas improvisadas, mímicas e malabarismos divertidos, parecendo a todos muito conveniente sua presença àquela hora, tão carente de distração e alegria. Rainha Alzira não demonstrava contentamento, além do pouco que lhe permitia a nobre recepção ao Mago Natu, seus quatro distintos e veneráveis cavaleiros e ao Louco. No íntimo, não lhe saíam da memória as letras F.G.H.I.J.L. — F.G.H.I.J.L. – disse o Louco, decodificando em seguida seu enigma, produzindo um alívio na Rainha Alzira: — F.ico G.rato H.ospedar I.nsignificante J.ucundo L.acaio! – curvou-se diante de Rainha Alzira, pronunciando a terrível e ambígua sequência de letras, dando-lhe desavisadamente outro significado, o que lhe modificou por completo o humor, fazendo-a descobrir que todos os enigmas da vida podem ser decifrados, no mínimo, de dois modos diferentes. — A.B.C.D.E. – respondeu ela, revelando também sua enigmática sequência, decodificando-a diversamente da que lhe dissera ao se despediram tempos passados – A.legria B.em C.abe D.e E.ncontrar-nos. Riram-se todos. O Mago Natu já não estava no salão. A rainha também se despediu, desejou uma boa-noite aos palacianos, a seus súditos e aos visitantes. Os quatro cavaleiros também a acompanharam até a ala do Palácio onde se instalariam próximos dos aposentos do Mago Natu. Os palacianos, pouco a pouco, buscaram igualmente suas acomodações, preparando-se para a solenidade anunciada ao raiar do dia seguinte.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA - Livro 2 capítulo 51
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VISITA À FEITICEIRA Feiticeira Zureta, a Sacerdotisa das Sombras, recebeu atemorizada a Rainha Alzira, o Príncipe Calico e o casal de criados. Em princípio, pela lealdade que jurara ao Rei Albe, o Rico, de manter-se calada, ainda que tivesse motivos de sobra para odiá-lo e expelir toda a verdade, relutou em admitir ter ido ao Palácio das Esmeraldas às escondidas, a chamado do próprio rei. Impacientando-se com a reticência da Sacerdotisa das Sombras e da sua má vontade de colaborar, posto que respondia monossilabicamente às perguntas que formulava, num conhecido movimento de cabeça combinado anteriormente com o Senhor Dugo, Rainha Alzira autorizou que ele abruptamente a tomasse pelos pulsos, amarrasse ao mastro de sua choupana e lhe aplicasse uma sequência de golpes com a vara de gurungumba. Antes mesmo que desferisse o terceiro golpe, ela se rendeu, prometendo revelar tudo o que fizera junto com o Rei Albe, o Rico, inclusive detalhes. Rainha Alzira, aproveitando-se da vulnerabilidade da feiticeira, percebendo seus cabelos tosados à nuca, conseguiu arrancar-lhe exagerada confissão sobre as rituais práticas da baixa magia que protagonizara. A Sacerdotisa das Sombras, todavia, fuzilando de ódio também Rainha Alzira, admitiu-se despojada em grande parte dos poderes mágicos – pelo menos enquanto não lhe crescessem novamente os cabelos – para desfazer o encantamento e mais ainda porque ela mesma não alcançara o resultado final de seu trabalho, interrompido abruptamente pelo comportamento inadequado e pela insubordinação do rei. — Não preciso que desfaças encantamento algum, porque não aconteceu encantamento – dissimulou a rainha, procedendo com fingimento para encobrir da feiticeira seu amor-próprio ferido, face às espantosas constatações já descritas pelo Senhor Dugo, cujo segredo ela manteria sob qualquer hipótese, até que pudesse ela mesma ver para acreditar. — Então, por que me procurastes? – indagou a feiticeira, com desdém. – Queres tão somente que retire as pragas que roguei ao rufião do teu marido? Rainha Alzira não suportou a ofensa. Esbofeteou Feiticeira Zuzu, ordenando-lhe que deixasse o Reino de Avilhanas o mais breve possível. Que se mudasse para os domínios do Rei Mor, no Reino da Trindade, ou para o Reino do Caxixi, que era para onde deveria acorrer a ralé, aquela laia de gentinha. Por sua vez, a Feiticeira Zureta, ainda que imobilizada pelo Senhor Dugo, proferiu insolente palavrório, sentenciando e provocando a Rainha Alzira com a maldição de um vaticínio: — Conceberás de Adul Thero e um filho gerarás desta hedionda infâmia, antes mesmo de ver teu rei pendurado de cabeça pra baixo. O fruto de Adul Thero trará abominação e ruína ao teu reinado! Ao ouvir tais palavras, o coração do Senhor Dugo quase saltou pela boca. Um grande calafrio lhe percorreu o corpo, turvando sua visão. Perdendo de súbito o ânimo, afrouxou seus punhos, permitindo que a Sacerdotisa das Sombras escapasse por entre as mãos. 193H. H. Entringer Pereira — Ela não sabe o que está dizendo, Senhora Rainha – objetou o feitor. — Não sabe mesmo. Quem é esse Adul Thero? – inquiriu Rainha Alzira, surpresa. O Senhor Dugo não respondeu. Manteve-se calado e instantaneamente solicitou à Rainha: — Senhora Rainha, é bom que voltemos. Já ouvistes tudo que pretendias confessado pela feiticeira. Nada mais poderá lhe acrescentar, além de insultos. Quereis que lhe corte o pescoço? — Não, Senhor Dugo, morrer assim seria muito digno para uma feiticeira. Haverá de sucumbir a seus próprios feitiços, levada pela própria insânia – disse, voltando-se para a ama de seu filho: — Senhora Babá, traga-me Calico para mamar, antes de partirmos. É hora de voltarmos. Feiticeira Zureta virou as costas, soltou uma estridente e sonora gargalhada, levantou as saias, mostrando-lhes despudoradamente o traseiro nu. Rainha Alzira, o Senhor Dugo e a Senhora Babá pouco se importaram com a insultuosa provocação. Montaram seus fogosos alazões e partiram, deixando uma nuvem de poeira avermelhada acrescida à expedição de uma ordem de despejo a ser cumprida sem prazo determinado, mas com brevidade, pela atrevida feiticeira. Levavam apenas algumas respostas definitivas às dúvidas que Rainha Alzira suscitara sobre a infidelidade do marido e, no bojo da visita, uma maldição que não tardaria a se concretizar.
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O Mutirão de hoje, se estenderá até a conclusão da <<sala de monitoramento por imagem de satélite>>, a internet não me permitiu postar hoje. A OCA Terravila Glocal soma com outras iniciativas.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA - LIVRO 2 CAP 50
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AS CARICATURAS Rainha Alzira sabia ler, escrever e fazer cálculos desde criança. Instruída pela Professora Plínia, além das poucas tarefas afeitas às princesas, tais como cantar, bordar, cozer e coser, aprendera ainda técnicas rudimentares de desenho, pintura e o modo de confeccionar suas próprias tinturas com pigmentos extraídos de flores e frutos. Numa tarde em que o Rei Albe, o Rico, reuniu seus peões para cortar as crinas das suas éguas de raça, além de tosar-lhes os longos rabichos, pediu que juntassem os fios mais compridos das caudas. Depois de fiá-los, estendendo-os sobre um cavaco de madeira leve, viu que a sonoridade das cordas tangidas mudava de conformidade com a quantidade e a espessura dos fios cardados e esticados. Utilizando-se de seis cordas, deu nome àquele rústico e primitivo instrumento cavaquinho e pôs-se a descobrir novos tons, que harmonizou compondo pequenos arranjos para acalentar o filho Calico. Divertia-se não menos elaborando retratos, ainda que toscos, dos parentes, ascendentes ou descendentes reais, dispondo-os pendurados lado a lado num corredor do Palácio das Esmeraldas. Visitar aquela ala do palácio constituía-se prazeroso atrativo para os eventuais hóspedes; mais ainda quando identificavam, entre os figurantes ilustrados naquelas tonalidades muito alegres e coloridas, os próprios rostos estampados nas peças de tecidos de seda emoldurados em formato geométrico: os quadros. Às vezes, enquanto Rainha Alzira se dedicava à pintura, a Senhora Babá, ama do Príncipe Calico, interrompia suas atividades, trazendo o pequeno príncipe em prantos, querendo mamar. Rainha Alzira o pegava carinhosamente, secava suas lágrimas e, para distraí-lo, mostrava seus quadros, identificando-os em voz alta pelos nomes: — Olhe, Calico, este é o tio Pay, esta é a tia Olinda; aquela é tia Ara. Este é o primo do papai, Rei Arnaldo... Aquele é o Rei Ofin... aquela é Rainha Tarope... este é o Sol, esta é a Lua, as estrelas... O pequeno infante, aos berros, irritava-se cada vez mais com a sequência dos desenhos que sua mãe ia identificando. Até que a ama, a prestativa e bondosa Senhora Babá, mulher do Senhor Dugo, impacientando-se, ralhava respeitosamente com a Rainha Alzira: — Senhora Rainha, Calico atura seus quadros, mas não atura a fome. Dá logo de mamar ao menino! Rainha Alzira ria da favorável intercessão da Senhora Babá. Troçando com o filho ao colo, dava-lhe o peito, ironizando: — Calico atura... calic’atura! Ah, essas minhas calicaturas! Pintar o Louco para não esquecer sua imagem era para a Rainha Alzira a melhor diversão naqueles dias. Trabalhava na conclusão do desenho, quando ouviu batidas à porta. A tarde já dava lugar ao anoitecer, quando ela se deu conta de que estavam à hora da ceia e que a luminosidade era insuficiente para distinguir tonalidades umas das outras. Guardou seus materiais às caixas e atendeu ao chamado à porta: — Quem sois? — Senhora Rainha, o Senhor Rei manda vos avisar que não o esperes para a ceia. Sairá a cavalgar, retornando mais tarde – avisou-lhe o Senhor Dugo, o Feitor. 190H. H. Entringer Pereira Rainha Alzira dirigiu-se à janela e perguntou ao Feitor: — Senhor Dugo, parece-me que hoje é noite de lua cheia. Conforme já combinamos, vá imediatamente às baias, oculte-se entre as pilhas de feno e acompanhe todos os movimentos do Rei. Quando sair montado, certifique-se de que não foi visto e siga-o. Descubra qual é o segredo que o Rei está tentando encobrir. — Senhora Rainha, temo por minha vida. Se for descoberto, o Rei Albe, o Rico, certamente haverá de matar-me. Que garantia terei de que esta deslealdade não me custará o pescoço? — Dirás que foste cumprir ordem minha, saindo para colher grumixamas à luz do luar, pois que necessito de fazer um bom licor... Aproveite e traga-me as mais maduras que encontrar. Acordando de madrugada, quando já cantavam os galos, Rainha Alzira ouviu o Rei Albe, o Rico, adentrando seus aposentos, sorrateiramente, pé ante pé. Fingindo dormir profundamente, ela acompanhou-lhe os movimentos e viu quando tirou da bruaca um objeto reluzente semelhante a uma corda, guardando-o no fundo de um grande baú de prata. Depois, veio deitar-se. Sequer a tocou. Virou-se de lado e adormeceu em seguida, tão exausto parecia. Pensamentos disparatados povoaram a cabeça curiosa da rainha: — Será que Berico tem uma amante? Se tem, quem será? Ou foi simplesmente vigiar as esmeraldas que ocultou, para se certificar de que ninguém as furtou? Será que...? Mas logo adormeceu também, na certeza de que o mistério haveria de ser desvendado, assim que o Senhor Dugo viesse com notícias e, dependendo de quem fosse a amante, ela nem se importaria, desde que o Rei continuasse mantendo o caso no mais recôndito sigilo. Só não estava disposta a tolerar a infidelidade, se a eleita fosse ninguém menos que a ambiciosa, voluptuosa e peituda Marquesa de Sonça, uma arquirrival que havia tentado algumas vezes envenená-la, para depois possivelmente seduzir seu marido e apoderar-se de suas preciosas esmeraldas. Não, não haveria de ser a Marquesa de Sonça. Além do que Berico tinha especial inclinação por mulheres mais maduras, e a jovem marquesa aparentava no máximo vinte anos. Concluído o retrato que Rainha Alzira fez do Louco e que, à parte sua modéstia, parecera-lhe bem fiel à fisionomia, decidiu-se por pintar o sobrinho-neto, Príncipe Médium, e o Príncipe Calico juntos, registrando os meses em que conviveram durante uma visita à Rainha Olinda e ao Rei Pay, quando os dois eram muito pequenos. Ao rabiscar as primeiras linhas sobre a peça de seda, tocaram à porta. O coração da Rainha inquietou-se, sentiu um calafrio percorrendo lhe o corpo. Respirou fundo e conteve-se, pensando consigo: “Calma, Alzira. Chegou a hora da verdade!”. — Entre, Senhor Dugo! Senhora Rainha – disse, fazendo reverência –, trago-lhe uma notícia tão excepcional e extravagante que certamente não me acreditareis. — Posso adivinhar... Berico tem mesmo uma amante?! — Tem, Senhora, mas não fazeis ideia de quem seja. — Não me diga que é a Marquesa de Sonça? — Não, é alguém que não imaginas... 191H. H. Entringer Pereira — Quem? Anda logo, quem é a mulher? — Não é uma mulher... quero dizer... É uma mulher e não é uma mulher! — Como assim? Estás divagando? — Não, Senhora. A amante do Rei é a Mula Tá. — Você disse mula? — Não propriamente a mula. A mula que se encanta numa mulher muito bela. Tomada de indizível surpresa, por alguns momentos sentiu que teria uma vertigem. Não conseguia imaginar seu leal criado mentindo, nem seu marido seduzido por uma ilusão da feitiçaria. Imediatamente, lembrou-se de que tudo poderia ser resultado da visita da Feiticeira Zuzu ao Palácio das Esmeraldas. — Senhor Dugo, iremos amanhã bem cedo à casa da Sacerdotisa das Sombras. Quero que aprontes minha montaria e a da tua mulher, pois terei de levar Calico. Ninguém mais deverá saber onde iremos. Providencie também uma boa vara de gurungumba. Zureta terá que me contar tudo o que sabe e até o que não sabe a respeito desse encantamento... Ah, é o feitiço com as mandrágoras, tenho certeza!
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A preparação o terreno continua.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA - LIVRO 2 CAPITULO 49
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A VOLTA DA RAINHA ALZIRA Seis meses passados a partir daquela noite, Rainha Alzira retornava com sua comitiva da longa viagem ao reinado do Elo Dourado. Trazia a notícia de que a Rainha Olinda, sua querida parenta, havia morrido após as complicações de um parto prematuro do segundo filho, no sexto mês de gestação. Fizera longo relatório de todos os sofridos acontecimentos no Reinado do Elo Dourado: das suspeitas do Rei Pay com relação aos feitiços do Bruxo Neno e de sua mulher, a feiticeira Taruga Quelônia, provavelmente amarrações encomendadas e pagas pelo seu odioso rival, o irascível e invejoso soberano do Reino de Trindade, Rei Barbo. Rainha Alzira contou, emocionada, que o formoso bebezinho, que se chamaria Príncipe Marmo, nasceu e respirou por algumas horas, sobrevivendo não mais que a própria mãe. Lembrou, chorando, o episódio comovente do sepultamento de ambos. Disse emocionada que o Rei Pay, quando sentiu que a Rainha Olinda já havia exalado o último suspiro, pegou nos braços o pequeno infante, mostrando-o ainda vivo à mãe num derradeiro esforço de trazê-la de volta à vida, como se pudesse buscar sua energia vital já desprendida, obrigando-a a animar a matéria que se recusava a recebê-la. Num desesperado gesto, bradou: — Aqui está tua cria. Fica para cuidar dela! – apelou desesperado. Com as palavras está tua cria, a vida também se foi, transformando imediatamente o corpo inerte do recém-nascido numa pedra muito branca e pesada, sob os olhos incrédulos dos que assistiam à cena. O corpo frio do pequeno nascituro logo se transmutou na estátua petrificada. Não foi sepultado nem cremado. Permaneceu sobre o túmulo e permaneceu para sempre a pedra Marmo morre. Com o passar dos dias, Marmorre. Mármore. O relato da Rainha Alzira comoveu o marido e os ouvintes. Enfatizando sempre que, por aquelas e outras razões pessoais, alimentava medo insano de engravidar. Não desejava correr os mesmos riscos que sua parenta, a Rainha Olinda, tão jovem e tão formosa, deixando sozinho seu marido Rei Pay: rei viúvo e o pequeno Príncipe Médium de apenas três aninhos, órfão. Rainha Alzira não perdia oportunidade de sinalizar ao marido sua perseverança no propósito de reservar-se, negando-se, terminantemente, o cumprimento dos deveres de alcova. De sua parte, plenamente farto com os resultados extraordinários colhidos dos feitiços miraculosos da Sacerdotisa das Sombras, arrebatado pelos secretíssimos encontros com a mulher encantada, nas incursões noite adentro de lua cheia, Rei Albe, o Rico, ouvia tudo alheio, meio desinteressado, ensimesmado, pouco se importando com a veracidade das proposições da Rainha Alzira para esquivar-se às suas prováveis investidas. Afinal, a Mulata Esmeralda – como denominava secretamente sua mulher encantada –, satisfazia-lhe todos os desejos. Inofensiva, não pronunciava uma palavra sequer, não lhe exigia qualquer coisa em troca dos prazeres que proporcionava; funcionava tão eficazmente que estar com ela três horas a cada período da lua cheia era o bastante para mantê-lo calmo e caprichosamente prazenteiro e realizado por dias seguidos. 185H. H. Entringer Pereira Achava mesmo que nem se interessaria mais pela própria ou por qualquer outra mulher, no tocante aos deleites deliberados na horizontal. Herdeiro por herdeiro, já tinha o seu, o belo e saudável filho, Príncipe Calico que, aos dezoito anos se casaria com a Princesa Araci, filha da Rainha Ara e do primo Rei Arnaldo, linda sobrinha da Rainha Tarope, já com dois anos de idade. Certamente teriam filhos igualmente belos e inteligentes que se tornariam bons e poderosos reis e rainhas. Tudo quanto lhe interessava naquela fase da vida: entregar-se incondicionalmente a viver por aquela besteira! Face ao oportuno desinteresse do marido pelas suas ocupações triviais, Rainha Alzira aproveitava-se das convenientes ausências do Rei Albe, o Rico, para dar vazão à sua arte. Empenhava-se em pintar com tonalidades fortes, em vibrantes azuis, vermelhos, amarelos e verdes, uma impressionante imagem retida na sua memória, pelas excêntricas peculiaridades: a figura de um andarilho de aproximadamente trinta anos, acompanhado de um cão fiel e anônimo, segurando um bastão de madeira na mão direita e um instrumento semelhante a uma flauta sobre o ombro esquerdo, em cuja extremidade conduzia pendurada uma pequena trouxa contendo seus mínimos pertences. Folgazão, durante os três dias dos quinze que duraram a longa e penosa viagem ao Reino do Elo Dourado, aquele homem contara-lhe incríveis experiências de suas jornadas, divertindo toda a comitiva, ora com músicas compostas de improviso, ora com trovas e poemas jocosos, mas inocentes, coreografados de cambalhotas e piruetas, à maneira dos palhaços e dos saltimbancos. O homem identificara-se simplesmente pelo apelido de “o Louco”. — Tenho nome, mas não lembro. Chamam-me apenas de “o Louco” – foi como se identificou à comitiva da Rainha Alzira, quando se encontraram no percurso de um trecho do cerrado até o verdejante vale do rio Aguaporé. Não parecia preocupar-se com o passado, o presente ou o futuro. Apreciava viver tempos numa corte, tempos noutra e assim prosseguia. Onde quer que chegasse, alegrava com sua engraçada presença, reis, rainhas, príncipes, princesas e quem mais o desejasse. Conhecia seus itinerários, embora ainda não os tivesse de todo percorrido: vinha do Reino de Trindade, passando pelo Reinado de Avilhanas, com destino ao Reinado de Caxixi. Encontrara-se, por coincidência, com a comitiva da Rainha Alzira, que se deslocava ao Reino do Elo Dourado. Rainha Alzira tentou persuadi-lo a mudar de trajeto para acompanhá-los. Desejava por companhia alguém com aquela coragem e espontaneidade. Recusou-se, no entanto, aliar-se àquela comitiva. Preferia seguir seu trajeto solitariamente. Caso não encontrasse outros companheiros na jornada, seguiria assim mesmo seu fadário. Dizia-se impelido à solidão, quando se comprazia ouvir cândidas vozes de anjos a partilhar de suas travessuras. — Anoitecendo, onde te resguardas, se não houver pousada nem abrigo nas proximidades? – indagou-lhe Rainha Alzira, curiosa. — Trago comigo boa rede e boa faca. Se chove, abrigo-me sob palhas! – respondeu, simplificando em dois objetos a solução despojada para suprir necessidades essenciais além de comer, beber e vestir-se: uma boa rede e uma faca de bom corte. 186H. H. Entringer Pereira Rainha Alzira simpatizou-se muito com “o Louco”. Convidou-o para seguir viagem junto com sua comitiva até o Elo Dourado, uma vez indiferente ao itinerário traçado. Alegremente, objetou: — Senhora Rainha, sou totalmente livre. Vou para onde quiser e volto de onde estiverem. Logo não saberás de mim, tampouco saberei de ti. Mas não te esquecerei e certamente não me esquecerás. Qualquer lugar pra mim é ponto de chegada. Qualquer lugar é ponto de partida. Caminho sempre pra frente, mesmo que olhando pra trás. — Não temeis precipitar-te num abismo? – indagou-lhe a Rainha, impressionada com a manifestação de liberdade motivada pela ousadia e pela apaixonante ingenuidade. — Não mesmo. Se o abismo fizer parte do caminho, não o procurarei, mas dele também não poderei me esquivar! – disse, resoluto e audaz. — Que me aconselhas, então, uma vez que já sabes para onde vou e o que pretendo fazer? – provocou-o, para assegurar-se de que não se contradizia. — Aja sem medo. Sua única busca deve ser a felicidade. Se não der certo na primeira vez, sempre haverá uma segunda. Não se deixe vencer pelo desânimo. Mas tenha cuidado! Sempre! — Como me aconselhas cuidado, se tu mesmo admites não temer o abismo? – ironizou Rainha Alzira. — Porque sigo meu caminho pela intuição. Tu pareces segui-lo pela razão. A mim, basta apenas viver. A ti, bastará não sofrer. Adeus! – despediu-se já pegando rumo à esquerda da estrada, que se bifurcava naquele ponto. Rainha Alzira respondeu-lhe em despedida. Pensou ainda em oferecer-lhe algumas peças de roupas novas. Notara-lhe na parte traseira das ceroulas um profundo rasgo, mostrando-lhe um naco de nádegas. Desistiu. Ele parecia feliz demais para se preocupar com aparências ou querer transportar mais peso na diminuta bagagem: — Adeus, Senhor Louco. Visite-nos quando quiser. Certamente, nos divertiremos bastante! — Adeus, Senhora Rainha! Quando quiser se divertir, basta se lembrar de mim. Quem sabe, até breve! A poeira levantada pelo tropel dos cavalos da comitiva da Rainha Alzira impedia que avistassem o excêntrico caminhante e seu cão fiel, que seguiram em direção oposta, na outra vertente da estrada. Subitamente, Rainha Alzira ordenou aos seus guardas: — Por obséquio, preciso que busquem o Louco. Tragam-no. Digam que será bem recompensado por isto. Apenas mais um dia conosco. Dois de seus escudeiros voltaram em cumprimento à ordem da rainha. Para que não se distanciassem tanto do local onde o anônimo amigo traçara seguir, desviando sua rota do restante da comitiva real, retrocederam até onde há pouco tinham partido. Rainha Alzira ordenou em poucas palavras: — Voltemos à estaca do Zero! Tornando ao ponto de onde partiram, encontraram-se todos. A Rainha ficou feliz, quando avistou o Louco saltando alegremente, tocando sua flautinha. Com uma 187H. H. Entringer Pereira sonora gargalhada e uma cambalhota irreverente, postou-se diante da Rainha Alzira, cumprimentando-a: — Senhora Rainha, quando digo “Até breve!” é deste jeito! Queres que vos fale sobre o “Nada” e o “Tudo”, não é mesmo? — Como sabeis, se “nada” lhe disse? – contrapôs a Rainha. — Exatamente por “nada” teres me dito que dizeis “tudo”! – retrucou. — O Senhor é muito bom em trocadilhos! – divertiu-se a Rainha. — E a Senhora é ótima em persuadir – assentiu o Louco –, mas sei que queres mais do que brincar com palavras... Queres que lhe aponte para um acontecimento futuro? — Como disseste... O que acontecia antes do Nada e o que acontecerá depois do Tudo? Conheces rumores? — Antes do Nada, aconteceu Tudo, e depois do Tudo acontecerá Nada. — E tudo voltará ao nada de antes? – indagou, com seriedade a Rainha Alzira, deixando os que estavam em sua volta sem compreender o que as enigmáticas palavras significavam. — Sim, quando compreendermos que o eterno é o Nada e o infinito é o Tudo. Sabeis o que é quanto? — Quanto é o vazio que contém todas as possibilidades – respondeu-lhe a Rainha. — Quase. Sabes, porventura, o que significa? — Para salvar vidas, realizar impossibilidades – respondeu a Rainha. — Sempre, para que serve? – quis saber o Louco. — Para voltarmos à estaca do Zero! — Quanto sabes da estaca do Zero? — Tanto quanto nada! Rainha Alzira titubeou. Sentia-se impelida pela satisfação proporcionada pelo Louco com seu aparente desapego a tudo que era estático, sua inusitada percepção do incomum, sua coragem pueril e ousada irreverência. Mas, ao mesmo tempo, seu coração sinalizava que ele facilmente poderia penetrar-lhe a intimidade, apontando-lhe esquisitices que ela cuidava em ocultar sob os mais finos e indevassáveis véus. Vencendo o medo de seu próprio ego, abriu-se espontaneamente para ouvir, pela boca do Louco, a voz que calava dentro de si: — Sinto que procurais pelo vosso verdadeiro tesouro – disse o Louco –, não aquele que esconderam fora de ti, mas o que está oculto dentro ti mesma e verdadeiramente te pertence. Não o encontrarás de uma só vez, numa única viagem, certamente. Mas já começas a farejá-lo, a partir de agora. Desta estaca do Zero. Todos os revezes, incertezas, sentimentos vis, inseguranças e infidelidades são os monstros que esconderão de ti vosso próprio tesouro... Rainha Alzira o interrompeu, observando: — Já não falas como o Louco. Falas como o Mago. Vós o conheceis? — Mago Natu? — Exatamente. 188H. H. Entringer Pereira — Ainda não nos encontramos, mas o Mago Natu a mim conhece, porque, na verdade, uma parte de mim está no Mago e uma parte do mago está no Louco. O Louco termina onde começa o Mago. Não é possível saber quem é o Mago, se não se conhecer o Louco... Tenho ainda a vos dizer: já sabeis sobre o Zero e a mim conheceste. Prossiga tua viagem. Ouvirás rumores. Aprenderás como prosseguir. Quando encontrares o Mago, na tua próxima jornada, lembrar-se-á de mim e continuarás descobrindo teu próprio tesouro! — Estás a se despedir? — Sim. Mas tornaremos a nos encontrar no teu próprio Palácio. Aguarde-me. Adeus, Senhora Rainha. — Estás certo de que não desejas mesmo vir conosco? Não queres nossa companhia? — Tereis minha companhia e terei vossa companhia. Basta apenas que nos lembremos. Adeus! — A.B.C.D.E. – disse a Rainha Alzira, intencionando confundi-lo. — Já sei o que dizes: A.deus, B.om C.ompanheiro D.e E.strada. – Sorriu e retrucou: — F.G.H.I.J.L. – respondeu-lhe, deixando-a com a memória presa na sua pronta e igualmente enigmática resposta. — Ei, por favor, revele-me o que disseste. Não sou assim tão perspicaz! – solicitou a Rainha Alzira. — Nem tampouco persuasiva... direis. Saberás, quando encontrares com o Mago Natu, debaixo da grande figueira-do-inferno, no Vale Apertado, no Bosque do Iludido, no Claro da Gemedeira. Dito isso, afastou-se, pegando a rota em direção oposta à da comitiva da Rainha Alzira, deixando-a pensativa, meditabunda: — F.G.H.I.J.L. – falava alto consigo –. Ainda vou encontrar a chave deste mistério!
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA - LIVRO 2 - CAPÍTULO 48
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O RITUAL Bem à hora combinada, Rei Albe, o Rico, conseguiu chegar à clareira do Bosque do Iludido, no Vale do Apertado. Compromisso igualmente cumprido pela Feiticeira Zuzu, poucos minutos depois. Não apeou da mula, permanecendo montado, segurando uma grande cesta de palha e cipós trançados cheia de frutas secas diversas, até ouvir pelo rangido que se aproximava uma carroça velha. “É ela”, pensou e logo avistou a Sacerdotisa das Sombras, exclamando: — Até que és uma feiticeira pontual! Cumprindo a hora combinada! Pensei que fosses ficar de graça com minhas esmeraldas, sem me dar em troca pelo pagamento! – gracejou, ironizando. — Senhor Rei, apeie logo de sua mula e faça o favor de descarregar o que eu trouxe na carroça. Preciso de tudo aquilo aqui, neste local, para executar o trabalho! Pela primeira vez, Rei Albe, o Rico, cumpriu, sem pestanejar, ordens de outra pessoa que não fosse a Rainha Alzira. Até ela, raras vezes, o mandava tomar banho; algumas vezes, trocar de roupas e muitas vezes, parar de comer. Meio irritado com a quantidade de trastes, cacarecos, bundás, quinquilharias, porcarias, buzugos e butucuns que já descarregara da carroça, sem saber para que serviriam, Rei Albe, o Rico, exasperou-se: — A Senhora veio fazer um feitiço ou está de mudança? Comece logo pela parte que me interessa, porque não quero sair daqui depois da meia-noite! — Garanto que meia-noite em ponto o serviço tará feito. Feit ’sso, o Senhor Rei espere só pra ver o resultado. Enquanto o rei descarregava os inumeráveis itens da carroça, a Sacerdotisa das Sombras cuidava pessoalmente da preparação do local, arrumando lenha para acender fogueira, pendurando pedaços de fitas vermelhas nos galhos ao redor das árvores, colocando cada coisa em lugar próprio. Quando a Lua despontou, incidindo luminosidade por entre as rareadas árvores da clareira no Bosque do Iludido, delimitou os contornos das sombras reveladas pelo clarão entre as ramagens da figueira-do-inferno. Quatro elementos, dois humanos e dois animais, movimentavam-se naquele soturno cenário. Antes que acendesse a fogueira sob a frondosa árvore, ouviu-se o piado lúgubre do pássaro Urutau – um quinto componente que não era esperado para a taciturna celebração. Sonoramente inadequado para o momento, soara aos ouvidos da Sacerdotisa das Sombras como um mau agouro, sinalizando que suas invocações ocultas e a intermediação das chamadas forças telúricas pressagiavam o pior, prognosticando resultado desfavorável. Diante daquela simbólica advertência, a feiticeira recuou, intencionada a adiar a sequência do ritual, resguardando-se de que o Rei Albe pudesse lhe aplicar alguma reprimenda se o resultado pretendido não fosse alcançado e o alertou: — Ouviste o chora-lua? É um mau agouro. Sinal de que nem tudo pode dar certo. Ainda assim, queres que eu continue? 178H. H. Entringer Pereira — Não acredito em mau agouro, senhora feiticeira, nem tenho medo do piado de um passarinho bobo. Afinal, viemos aqui pra quê? Além do mais, já vos paguei, não paguei? Então cumpra com o trato – asseverou o rei. — Não digas depois que não avisei. É preciso que me obedeças, ouviste? – Exortou-o, seriamente. Feiticeira Zuzu, mulher simetricamente volumosa, aparentava menos de 35 anos, embora já tivesse um filho nessa idade, de cabelos negros compridos, um tanto desalinhados, boca carnuda, bons dentes, fartos seios e grande traseiro, logo se desfez de suas andrajosas vestes, se comparadas às do rei, com a naturalidade de quem estivesse sozinha. Ordenou que Rei Albe também se despisse. O rei sentiu-se um tanto retraído. De início, pouco à vontade, não era acostumado a desnudar-se perante outros, a não ser diante da Rainha Alzira ou do seu alfaiate, ainda que não lhe assentasse o qualificativo de recatado ou pudico. Contudo, predispôs-se a obedecer. Também pressentira no piado sinistro do Urutau um aviso de cuidado. Precisava, no entanto, levar adiante seu intento, pago antecipado, ao custo, nada modesto, de algumas das suas mais preciosas esmeraldas. Sem dispensar os préstimos da Sacerdotisa das Sombras, despiu-se primeiramente do pudor e pouco se deu que ela reparasse no avantajado tamanho de seu falo, ainda que em estado de repouso. Parecendo de início pouco à vontade, quando começou a movimentar-se livremente, sem o incômodo das excessivas e excêntricas vestes reais, Rei Albe, o Rico, mostrando descontração, transgrediu o tom de solenidade que a feiticeira revestia à circunstância, questionando, meio gaiato: — E a minha Mula Tá, pode continuar vestida? Feiticeira Zuzu fingiu que não escutou, escarafunchando todos os cacaréus trazidos e empilhados ao lado do círculo que traçara no chão, com a ponta da sua adaga de prata. Não encontrando uma corda tecida especialmente para a ocasião, com embiras de bananeira, necessária à demarcação do espaço ritual para a efetiva função da cerimônia, ordenou ao Rei Albe, o Rico: — Vou precisar do bridão ou do cabresto da tua besta, seu Rei – disse, já mandando-o despojar a Mula Tá daquele rico acessório, parte indispensável do conjunto do arreamento, entremeado de reluzentes fios de ouro, ligado à cabeçada de couro com incrustação de preciosas esmeraldas. — Por que não pegas o do teu pangaré? – propôs Rei Albe, o Rico, ciumento. — Por que o trabalho não é pra mim... É pra tu! – contrapôs, resoluta, a feiticeira. Demarcando, com as rédeas da Mula Tá, o espaço circular para iniciar a sessão ritual de magia, bem debaixo da frondosa árvore da figueira-do-inferno, onde a besta, irrequieta, permanecia amarrada pelo cabresto, Feiticeira Zuzu, a Sacerdotisa das Sombras, desenhou no chão umas garatujas sobre outras, reproduzindo um emaranhado de riscos, sobre os quais cravou seu punhal de prata, deixando-o enterrado naquele chão de terra arenosa. Observando atentamente todos os movimentos da Sacerdotisa das Sombras, o rei percebeu que aquelas linhas traçadas com a ponta do punhal no centro do círculo eram familiares. Num gesto instintivo, olhou a palma da sua mão esquerda e viu 179H. H. Entringer Pereira traçadas, no chão, as mesmas linhas, com a mesma simetria, num desenho incrivelmente idêntico, às linhas das suas mãos. Rei Albe, o Rico, surpreendeu-se. Sentiu que não estava lidando apenas com uma amadora ou charlatã. Algo nela o inquietou. Atemorizado, resolveu obedecê-la. A carocha iniciou a cerimônia pronunciando palavras que o rei ainda não ouvira, numa espécie de cantilena soturna, monótona, por vezes melancólica, puxando-o com energia para dentro daquele imponderável espaço delimitado pelas rédeas da Mula Tá. Enquanto invocava cada vez mais alto a assistência e a presença de dezenas de entidades umbrosas, chamando-as pelos nomes com voz roufenha, balançando-se em espasmos ritmados, como numa cadência trêmula e vacilante, iniciou, na sequência, uma sessão defumatória, contorcendo-se, assoprando dentro de uma pequena caçoula para atiçar o braseiro, incinerando folhas secas de tabaco, açafrão, gengibre e... pó feito a partir das folhas secas das mandrágoras, produzindo densa fumaceira esbranquiçada, de odor quase agradável, levemente nauseabundo e sufocante. Soprando-lhe aquele fumo em todas as direções do corpo, a Sacerdotisa das Sombras, compenetrada na evolução sistemática do seu rito, tocou-lhe com uma das mãos as partes íntimas, quase encostando o turíbulo quente nos grãos, ao que entre hesitante e excitado com o toque, o rei, bem mais à vontade, não se acanhou nem se inibiu, impossibilitando a pronta exibição de sua masculinidade. A reação normal, já esperada pela feiticeira, não lhe obstaculou nem impediu o prosseguimento do trabalho. Pegou a pomada feita com a mandrágora fêmea e untou-lhe o entorno das partes. O Rei, não se contendo, deu vazão aos seus lascivos impulsos, instintivamente puxando contra si a cabeça da feiticeira, suplicando-lhe que prosseguisse. Sem se importar com o suplicatório do rei e resoluta nos seus procedimentos, a feiticeira iniciou a parte do ritual que mais agradou ao rei. Lambeu seu corpo de baixo a cima, passando a língua em todos os pontos besuntados com mel de abelhas e pomada de mandrágora. Quase a perder os sentidos com tamanha excitação, Rei Albe já não conseguia distinguir as linhas de fronteira entre realidade e fantasia, entre o ilusório e o concreto, constituídos naquele palco de infindáveis estranhezas e mistérios, em que nenhuma sensibilidade se esgotava, nenhum congresso de críticos conseguiria decifrar em definitivo. Emitindo sonoros e profundos gemidos, implorava langoroso à feiticeira: — Não para, não para, não para! Ao que a feiticeira interrompeu: — Não, para! Mudando de procedimento, atirou em seu rosto o líquido viscoso e esverdeado que deitara numa pequena terrina, como se precisasse trazê-lo de volta ao mundo dos objetos materiais captados pelo sujeito consciente, mais ou menos à maneira de uma máquina de transcender no tempo. O Rei conformou-se com a contradita porque também fazia parte do trato obedecer aos apelos e ordens da sacerdotisa. Assim, consumou-se o ritual do lambe-lambe. Pegando a cesta de palhas com as frutas secas, a Sacerdotisa das Sombras, toda arrepiada, visivelmente em transe, espalhou sobre elas o pó que fizera com a mandrágora macho seca e ralada, recitando em tom audível, palavras que lia 180H. H. Entringer Pereira escritas num retalho de fibras de folha de bananeira. O rei ouvia, mas não sabia o que significavam: — Autumnalis oficinarum, eukaryota archaeplastida, plantae angiosperms eudicots, core eudicots, asterids une, solanales, dues, solanaceae, trinus solanoideae, mandragoraeae, mandragora! Une, dune, trinis, perfectus perfunctoris, perfumatoriae. — A senhora aprendeu com quem essa ladainhazinha? – perguntou-lhe, ironizando, depois de passada a fase da excitação. – Parecem umas coisas que Alzira também diz quando está invocando... — Quieto! Objetou. A feiticeira deu de ombros, pegando aos punhados as frutas secas. Esfregava-as por todo o corpo e tanto mais vigorosamente nas suas partes íntimas, declamando palavras com rimas terminadas em ota, eta e ita retornando-as depois à cesta. O rei não ouvindo completamente o que ela balbuciava, interrompeu o ritual, indagando: — Por que passas nas tuas partes as frutas que Alzira deverá comer? — Não me interrompa, nem faça perguntas. Agora é a sua vez de me lamber dos pés ao pescoço. Vamos, comece logo! Rei Albe, o Rico, com o estômago repugnando pelo efeito narcotizante das poções que havia ingerido, refugou o cumprimento daquele apelo, para ele libidinoso, desobedecendo o mandamento da feiticeira. Pulou imediatamente fora do círculo delimitado no chão pelo bridão da Mula Tá. Tropeçou sobre algumas peças, chutou outras para bem longe, espalhando toda aquela parafernália, umas para dentro outras para fora do espaço dentro do bridão, até que se enroscou nele pelos pés e caiu. A Sacerdotisa, debochada, interrompeu a ritualística com uma estrepitosa e retumbante gargalhada, irônica demonstração de sua superioridade no comando daquela feitiçaria. O rei, enfurecido, descontrolado e contrariado, levantou-se, vociferando taxativo: — Acabou-se a brincadeira. O que está feito, está feito. O que não está feito, ficará por fazer. Dê cá minha cesta de frutas. Prefiro emprenhar minha Mula Tá do que lamber xana de feiticeira nojenta e arrogante! Num gesto rápido e preciso, Rei Albe, o Rico, sacou o punhal de prata cravado sobre o desenho das linhas de suas mãos, no cento do círculo, agarrou a feiticeira pelos longos cabelos, tosando-os de um golpe na altura das orelhas, atirando as aparas sobre as brasas da fogueira que crepitavam ao lado. Feiticeira Zuzu, humilhada, enraivecida com a injuriosa interrupção do seu trabalho pelo Rei Albe, o Rico, voltou-se contra ele com indignada fúria, bradando encolerizada, múltiplos impropérios de uma lista de esconjuros conhecida e desconhecida, rogando-lhe pragas horrendas. A título de fechamento dos feitiços inconclusos, sentenciou Rei Albe, amaldiçoando-o: — Farás a besteira que disseste e atado pelos pés ficarás até morrer, pendurado nas rédeas da tua própria Mula Tá! Ao pronunciar o agourento vaticínio, o soturno Urutau piou pela segunda vez. Ouvindo de novo o lúgubre e funesto arrulho do pássaro, Rei Albe, o Rico, contra-atacou para ofender e ultrajar ainda mais a Sacerdotisa das Sombras: — Sua feiticeira de merda, jamais terás o talento de tua mãe! 181H. H. Entringer Pereira Agarrando-a pelo que lhe restava de cabelos sacolejou, empurrando-a para longe. Sem forças para reagir, a indefesa carocha, sentada no chão, só sabia chorar. Catou os cacarecos, arremessando-os dentro da carroça com pouco cuidado. Jogou suas poucas peças de roupas também na fogueira e falou consigo mesma: — Meu filho haverá de me vingar. Vai acabar com tua maldita raça, seu insolente. — O que dizes, infeliz? – ameaçou-a. — Nada, Senhor Rei. Nada que seja da vossa conta. Pegando o relho de sua montaria, Rei Albe escorraçou-a debaixo de açoites. Assustada, profundamente insultada, a jovem feiticeira partiu seminua do local, praguejando, desejando que todas as esmeraldas do Rei Albe, o Rico, desaparecessem, que nem ele, nem a mulher, nem o filho Calico pudessem criar descendentes para usufruir daquele valioso tesouro; que o Rei Albe, o Rico, ainda fosse traído pela própria rainha e que toda a parentela do rei fosse amaldiçoada. Deixando o rei sozinho com sua besta, sua cesta de frutas passas e uma maldição em vias de se concretizar, esconjurou-o e a toda sua descendência. Virou as costas ao lugar, balançando as rédeas de seu pangaré, assoviando, deu o comando de partir. Nunca mais voltaria àquele local. Aproximava-se de meia-noite. O Rei Albe, em contrapartida, enfurecido com o atrevimento e a audácia da Feiticeira Zuzu, ficou por ali, lembrando-se das palavras da carocha, maldizendo toda a sua linhagem, dos antepassados aos futuros descendentes, após juntar de qualquer jeito seus ricos objetos e adereços, debaixo da figueira-do-inferno. Sozinho, despido, ainda sob efeito do transe provocado pelas poções de mandrágoras que ingerira, sentiu-se fraco, entorpecido, sem ânimo para recompor-se. Resolvido a passar o resto da noite ali mesmo, teve vontade de novamente olhar para suas preciosas esmeraldas, enterradas bem debaixo de seus pés, onde a feiticeira, sem desconfiar de nada, realizara o indecoroso ritual; mas faltavam-lhe forças e ferramentas adequadas para escavar o arenoso solo sob a frondosa figueira-do-inferno. Desistiu de desterrar as maravilhosas pedras verdes tão bem escondidas, quatorze palmos chão adentro, onde só ele, mais ninguém, sabia que estavam, pois que o servo que abrira o buraco para enterrar e ocultar o tesouro jazia sepultado no mesmo local. Em solitário estado de ânimo, sob a luz branca da Lua, no pino do firmamento, colocou a cesta de frutas secas no chão, ao lado da sua estimada Mula Tá. Encontrando-se meio zonzo, ainda confuso pelo efeito das poções e dos nauseantes unguentos e pomadas que a Feiticeira Zuzu lhe besuntara as partes, das repetidas inalações de fumaça das defumações a que se submetera, da prolongada sessão de magia, faltava-lhe ânimo até para se vestir. Súbito, animou-se, calculou que fosse meia-noite. Andou alguns passos, juntou suas vestes. Foi buscar as rédeas da besta que, ao engastalhar nos seus pés, chutou-as para longe. Com o bridão nas mãos, sentiu que o objeto estava magnetizado de uma energia diferente. Imediatamente percorreu-lhe o corpo um arrepio forte, uma grande excitação o dominou, estimulando-o. Abriu o bridão para colocá-lo na cabeça da mula. Ao lançá-lo sobre o pescoço do animal para ajustar-lhe a cabeçada e a embocadura, ouviu novamente o piar soturno do Urutau. Tomado de um frenesi, excitou-se mais ainda e, num abrir e fechar de olhos, flagrou-se com o bridão na mão, enlaçado a uma 182H. H. Entringer Pereira encantadora mulher morena, de longa cabeleira negra, olhos verdes tais como suas preciosas esmeraldas, nua em pelo, surgida do nada, pronta para realizar quaisquer dos seus mais lascivos desejos e caprichos... Atônito, incrédulo, mas extremamente agitado diante da inexplicada miragem irresistivelmente encantadora, procurou com os olhos sua mula e não a viu. Olhou para o lado, embaixo, a cesta com as frutas secas que a feiticeira passara esfregando-as no corpo, no chão, estava vazia. A besta havia comido todas as frutas passas. O feitiço do encantamento ao qual Rainha Alzira era destinatária, havia se materializado na Mula Tá! Aproveitando-se para extravasar toda sua lascívia, satisfazendo desejos contidos pela renúncia deliberada da esposa aos prazeres carnais e à prolongada abstinência sexual imposta pela viagem da rainha ao Elo Dourado, Rei Albe, o Rico, julgou que tivesse reencontrado o paraíso perdido. Arrependeu-se da forma rude e grosseira do tratamento que dispensara à Feiticeira Zuzu e demoveu-se da ideia de expulsá-la do Reino de Avilhanas. Poderia até pagá-la melhor, pensou. Mas, por prudência, não haveria de deixá-la saber que seu feitiço funcionara, porque se alguém mais soubesse daquela mulher encantadora, haveria de quebrar o encantamento, por pura inveja ou para destruir seus melhores momentos de felicidade. Era bom demais para acabar. Aquele segredo jamais seria compartilhado com quem quer que fosse. Além dele, a Mula Tá e o Urutau eram os únicos cúmplices do extraordinário e fantasioso devaneio. Ah, a Lua cheia igualmente testemunhara tudo. Mergulhado e absorto na percepção do tempo, já lhe parecendo uma eternidade, Rei Albe, o Rico, ouviu ao longe o cantar de um galo. Subitamente, deparou-se montado, ainda despido, sobre a Mula Tá. Acercou-se de cuidados, certificando-se de que estavam realmente a sós. Pegou suas vestes uma a uma, ajustou a barrigueira do arreio da besta, mas instintivamente retirou-lhe o bridão da cabeçada, deixando-a presa pelo cabresto apenas. Guardou as rédeas mágicas numa bruaca de couro atada à sela, porque acreditava no poder de encantamento daquele objeto magnetizado pelas magias das mandrágoras tão eficientemente calibradas pela Feiticeira Zuzu. Catou a cesta de frutas passas vazia e montou-se. Ouviu o derradeiro piado do soturno Urutau. Estava de madrugada. Voltou ao Palácio das Esmeraldas como se tivesse vivido um grande sonho. O Senhor Dugo, ainda de campana, percebeu quando o Rei Albe, o Rico, chegou. Certificou-se apenas de que estava tudo bem e continuou no posto, atento a todos os movimentos dentro e fora do palácio. O próprio rei, desarreando a besta, recolocou todos os acessórios à estaqueira de onde foram tirados. Soltou a Mula Tá no pasto. Dentre os objetos do arreamento só não voltou às estaqueiras o mágico bridão de fios de ouro. Residia nele o secreto e misterioso condão responsável pelo encantamento. Senhor Dugo, de longe, observara tudo. Quando o Rei Albe se retirou, voltou à baia e foi conferir os objetos do arreamento da mula. Notou falta do bridão de fios de ouro. Inspecionou de bem perto o animal. Não lhe constatou pisaduras, nem marcas que revelassem qualquer espécie de mau trato. Preferiu não fazer conjecturas, nem poderia 183H. H. Entringer Pereira fazer perguntas. Era melhor que o rei continuasse acreditando que ninguém o espionara. Permaneceu alerta no seu posto, cumprindo dever de sentinela.
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Eu jamais havia pensado em plantar capim. O retrogrado pensamento, povoou-me o pensamento, com a seguinte indagação: E o gado? O capim era para muito mais que gado. Gado era só uma ideia. Construção civil, arquitetura, arte, artesanato, design... E não para por aí. O Vetiver e eu, está sendo um amor para a vida toda.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA - LIVRO 2 - CAPÍTULO 47
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O FEITIÇO DA BESTEIRA Conforme estava combinado, chegara a tão esperada noite de lua cheia, em que Rei Albe, o Rico, e a Feiticeira Zuzu, a Sacerdotisa das Sombras, se encontrariam para celebrar o ritual de amarração, ou a magia da paixão, tão logo a lua cheia se apresentasse no céu. Antes de anoitecer, Rei Albe, o Rico, banhou, secou e escovou cuidadosamente sua admirável besta de montaria, para depois aparelhá-la. Cuidava ele mesmo de reunir todos os componentes do arreamento, retirando das estaqueiras um a um dos acessórios que, pela ordem, diligentemente dispunha no animal: baixeiro, sela com barrigueira, loros e estribos, peitoral, cabresto, cabeçada com rédeas e embocadura. O que não era de prata e ouro maciço continha elementos ornamentados e bordados em fios de ouro, incrustados de ricas esmeraldas. A Mula Tá seria sempre o animal mais bem ataviado entre todos os outros, figurando como predileta do Rei Albe, o Rico, para suas longas viagens. Era o orgulho de sua criação de muares. Aparelhava-a sempre com muito zelo, de quatro reluzentes ferraduras de prata, encomendadas sob medida ao ferreiro Kalibu, morador do Elo Dourado. Naquela tarde, especialmente, acautelara-se em lograr seus guardas, dispensando-os mais cedo do serviço pessoal, cumulando-os de outros misteres, pela precisão de ludibriá-los para sair do Palácio das Esmeraldas, secretamente, sem ser notado, importunado ou vigiado. Cantarolava baixinho uma canção que usualmente dedicava à Mula Tá, no momento em que assentava a derradeira peça do arreamento. Certificou-se de que havia se lembrado de todos os acessórios, incluindo um felpudo pelego de lã de carneiro, uma grande manta tingida de vermelho, macia e aconchegante, com a qual forrava a sela, no momento de se montar. Enquanto cantava: “... eu tenho uma mula preta, com sete palmos de altura, ai, ai, ai ... / mula “Tá”é enfeitada, pisa firme as ferraduras, ai, ai, ai ... / Eu não vendo a mula preta / nem por prata, nem por ouro, ai, ai, ai ... / só eu monto a Mula Tá / seu galope é meu tesouro, ai, ai, ai ... / eu tenho uma mula preta ...” Foi bruscamente interrompido pelo diligente feitor, o Senhor Dugo, vassalo de confiança da Rainha Alzira, já alisando o pelego sobre o arreio, pronto para montar-se e ir ao encontro marcado. Sem antecipar explicações nem deixar que transparecessem suas intenções, não interrompeu seus planos. Ordenou de pronto ao Senhor Dugo que ficasse ele mesmo, ali, de sentinela, vigilante toda a noite, no lado oposto do Palácio das Esmeraldas, contrário à direção em que tencionava sair, usando como pretexto para o disfarce, acontecimento da noite anterior, quando um grupo de bandoleiros tentara invadir sorrateiramente as baias para furtar alguns dos valiosos rebentos da invejável criação de muares, recentemente paridos. O Senhor Dugo, fiel e obediente, despediu-se do Rei Albe, o Rico, com uma reverência respeitosa, mas desconfiando de que o rei andava a dissimular seus verdadeiros propósitos. Pela sua têmpera de feitor, julgou que se tratasse de algo além de uma corriqueira e inofensiva cavalgada vespertina. Não se sentiu com o direito de 176H. H. Entringer Pereira escoltá-lo ou vigiá-lo, porém permaneceu em campana, espreitando, até que reparou Rei Albe, o Rico, retornando ao palácio pouco antes de clarear o dia.
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Paulatinamente, materializa propósitos. VETIVER
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A vida é um desafio. Encarar isso com leveza é o melhor jeito de continuar vivendo.
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Oficina de Sistema de Informação Geográfica (SIG) –
27/03/202527/03/2025
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A OCA Terravila Glocal tem a honra de informar, que vem aí a primeira Oficina de Sistema de Informação Geográfica (SIG) – Brigada Voluntária PA Quilombo 📅 Data: 01 e 02 de abril de 2025 📍 Local: Residência do Amorim - Comunidade PA Quilombo, Chapada dos Guimarães/MT 📌 Endereço: Rua Quilombo, Lote 36 - Zona Rural, Sítio Real Verde – CEP 78195-000 🛰 A comunidade está convidada a participar da Oficina de Sistema de Informações Geográficas (SIG), um componente do projeto Rede Floresta. Por meio do mapeamento participativo, monitoramento comunitário e vigilância remota, a oficina oferecerá treinamento teórico-prático para capacitar os participantes no uso de imagens de satélite e ferramentas SIG. 🌱 Junte-se a nós e aprenda como utilizar tecnologias para proteger nossas florestas, prevenir incêndios e promover o uso sustentável do solo e dos recursos naturais! 📌 Evento gratuito. Inscrições através do link: https://www.sympla.com.br/evento/oficina-de-sistema-de-informacao-georreferenciada-sig-brigada-voluntaria-gleba-quilombo/2879319?referrer=statics.teams.cdn.office.net&share_id=whatsapp
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ReRe conVERSA inLOCO c/ OCA TERRAVILA GLOCAL
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O Projeto OCA Terravila Glocal está recebendo a visita de Vinicius Braz e Vania Trindade, para falar da web3 e suas vantagens para a Agricultura Familiar. Os visitantes estarão dando uma prévia do que vem ser a CARAVANA 2025, pelos interiores mais distintos do Brasil
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OCA::ReRe CONversa IN LOCO no LAGO DO MANSO - MT
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OCA::ReRe CONversa IN LOCO no LAGO DO MANSO - Chapada dos Guimarães-MT No dia 06 de dezembro de 2024, o Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL recebe a presença de Vinicius Braz e Vânia Trindade (Rio de Janeiro-RJ) em sua sede (PA Quilombo/Lago do Manso), para dialogar com a comunidade, sobre a importância da web3 nas comunidades mais remotas e que utilizam os métodos tradicionais em seus cultivos na agricultura familiar.
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