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OCA TERRAVILA GLOCAL - Ocupação Cocriativa ArtFloresta

Sitio Bom Jesus - Rua Quilombo LT 56 - PA Quilombo - Lago do Manso - Chapada dos Guimarães-MT Brasil
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Categorias
Associação, Centro Cultural, DAO
Actividades
Acomodação, Agrofloresta, Aromáticas, Compostagem, Frutas, Grãos, Medicinais, Mudas, Orgânico, PANCs, Permacultura, Pesquisa, Preservação, Reciclagem, Sementes Crioulas, Voluntariado
Fone: +5569999556403
Facebook: brazdyvinnuh
Twitter: @Brazdv
Sobre
OCA - Terravila Glocal             "Alegria, fruto da Liberdade c/ Confiança!" OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA >>Manter um Polo Produtivo utilizando o conceito Agroecológico e da permacultura. Horta c/ alimentos convencionais; cultivo de ervas aromáticas, medicinais, fitoterápicas e PANCs-(Plantas Alimentícias não Convencionais); meliponicultura; manejo extrativista; canteiro de mudas de espécies nativas e/ou  ornamentais para reflorestamento local; Artfloresta (Arte como ferramenta pedagógica); turismo rural; resgate cultural; artesanato e artes em geral. >>Criar um ambiente de convivência e experimentação laboral que dialogue com liberdade a respeito de planejamento consciente e inteligente de geração de riquezas para a sustentação do Polo, com vistas para a regeneração do homem, a fim de dar visibilidade à regeneração do ambiente integral; onde o bem comum (terra, água, ar, fauna e flora) esteja além da geração de conteúdos que estimule a troca de saberes. >>TEATRO CIRCULAR REGENERATIVISTA URUCUMACUÃ - será uma edificação para marcar a presença da OCA OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA neste ambiente como inspiração ao Grande Público (Local e visitante). >>Longe do estereótipo de ações com viés de “cuidados ambientais”, o projeto recebe colaboradores para alavancar esse processo imediato, onde é oferecida hospedagem e alimentação para participação no projeto pelo período acordado entre o interessado e o projeto. O candidato oferece 4(quaro) horas de mão-de-obra diárias por semana, com dois dias de folga.  O tempo restante os colaboradores são incentivados a produzirem para conquista de seus retornos fiduciários. >>Esse sistema de “Terravila” Glocal é um conceito que vem dando certo, por oferecer aos experimentadores a liberdade de produzir o seu próprio sustento. Sem ter um mandatário centralizador. Os modelos comuns existentes, deixam um hiato que não pode ser preenchido. A proposta apresentada é de acesso e não de posse. Os colaboradores podem ser transitórios , temporários e "permanentes" pois é fato a transitoriedade da vida.  Com o processo em andamento para os trabalhos, vem ficando mais clara a proposta de uma “rede de ocupação produtiva e não de um grupo. >>A proposta “Terravila” Glocal existe em três dimensões, LOCAL, com os  colaboradores que a partir do pertencimento, se tornam moradores, por sua vez, locais; VIVENCIAIS são os colaboradores que fazem uma imersão local, por um período de tempo; GLOCAIS são os colaboradores que conhecem a proposta e participam de qualquer lugar do mundo, inclusive localmente. >>Nesta “Terravila” Glocal OCA os trabalhos de infraestrutura estão sendo inicializados. Os colaboradores dessa primeira fase terão a oportunidade de  conhecer de perto o mecanismo de se criar recursos para gerir uma ocupação que vai além da moradia e da propriedade para o plantio, onde se busca a regeneração do ser humano para que ele compreenda e se torne regenerador de sua própria natureza. Em uma rede que vem se espalhando pelo mundo, agregando pessoas que se identificam, principalmente deixando clara a importância da Alegria, Liberdade e da Confiança. Juntos somos mais fortes sem perdermos nossa pessoalidade.  § - O Projeto OCA terravila Glocal - Ocupação Cocriativa Artfloresta está sendo reconfigurado quanto ao formato das atividades locais, para deixar fluir com mais vigor tudo que vier para fortalecer nossa Ocupação. NOVA FASE. <<O que faria a equipe do Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL, estar na plataforma?>> època de chuva - Forestando <<<A PRÓXIMA ETAPA É VIABILIZAR RECURSOS PARA FAZER CAPTAÇÃO DE ÁGUA POR GRAVIDADE PARA IRRIGAÇÃO DE BERÇÁRIO DE PLANTAS>>> <<<A OUTRA AÇÃO PARA MELHORIAS É A IMPANTAÇÃO DO BERÇÁRIO DE PLANTAS +++ PARA ATENDER AO VIVEIRO DE MUDAS>>> Confirmada a proposta de multiplicação do VETIVER para substituição do capim Brachiara, em toda pastagem do sitio Marcada a iniciação da poda do VETIVER - na próxima 4a feira dia 29 de janeiro de 2025 O Projeto OCA Terravila Glocal, firma parceria com a Associação do PA Quilombo, no Lago do Manso para desenvolvimento de novas propostas. Tendência a se tornar o carro chefe das ações da OCA para suprir o campo. ***210 mudas de vetiver replantadas e o Campo de Vetiver Regenerativo começa a crescer. Será dada continuidade ao projeto do Campo em junho, quando as matrizes completam um(1) ano. Hoje 245 mudas de vetiver. O Campo terá inicialmente 10 linhas com 100 mudas. Trabalho prazeroso. Em breve nova demanda será apresentada para o deleite de todos que defendem a regeneração. O planejamento para breve é de 500 mudas de Vetiver, até o final do ano. No máximo inicio do ano que vêm. Terra pronta para começar a Agroflorest(inh)a. Importante registrar que está florestando a OCA LAB 2 - Exatamente onde surgiu a presente Ocupação. Brevemente mais notícias. Viva! A OCA - Ocupação CoCriativa artFLORESTA tem um tempo, que está parceira da Associação do PA Quilombo, no Lago do Manso - Chapada dos Guimarães-MT, mas só agora me ocorreu de tornar isso público. Vacilei, mas vamos aos poucos corrigindo esses lapsos. Como o planejado, estou trabalhando, para dedicar meu tempo ao cultivo de espécies menos comuns. Como forma de incentivar a agricultura familiar a ter uma diversidade maior de cultivares.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA LIVRO 3 CAPITULO 72
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RAINHA ALZIRA REENCONTRA RAINHA ÁLIA Alguns anos havia que Rainha Alzira e Rainha Ália não se encontravam. A surpresa de ambas ao rever-se foi ainda mais agradável, porque andavam saudosas dos tempos em que, muito jovens, selaram um curioso pacto de amizade. Combinaram, durante a realização de um cerimonial de magia, cuidar uma da outra quando estivessem bem idosas ou quando uma ou outra enviuvasse. Rainha Ália não estava propriamente viúva, mas o episódio do encantamento de seu ex-marido, Rei Boio, no Peixe-Boio e de seu novo casamento com o Rei Kórnio, davam à Rainha Alzira o direito de requerer a companhia e os cuidados da amiga, quando bem entendesse. Fazia algum tempo que o marido da Rainha Alzira, Rei Albe, o Rico, havia se suicidado, deixando-a com um filho de três anos e grávida de outro, naquele mesmo dia. Ainda que não lhe faltassem nobres pretendentes, inclusive o Barão de Corumbi, que também ficara viúvo mais ou menos àquela época, Rainha Alzira dedicara-se exclusivamente aos dois filhos, aos interesses de seu reinado e à pintura de retratos e caricaturas. Muito divertidas e risonhas, as duas logo se entrosaram com a Rainha Alimpa, que também viera na comitiva do Grande Rei, desta vez intencionada a estender sua viagem até o Reino de Avilhanas, no intuito de conhecer o propalado e encantado Reino das Pedras Verdes. Encontrar-se com Rainha Alzira no Elo Dourado antecipava a realização de seu desejo, descartando, se assim resolvesse, a necessidade de prolongar por mais tempo a jornada por água e terra, até aquele distante reinado. De temperamentos parecidos, logo as três rainhas trocavam conhecimentos de magia e espiritualidade, além de produtos de beleza e obras de arte. Rainha Alzira mostrou à Rainha Alimpa alguns de seus mais recentes quadros e retratos, as caricaturas, revelando suas fórmulas secretas de pigmentação para elaborar tintas. Rainha Alimpa possuía um vasto conhecimento de fórmulas químicas, empregadas com muito êxito nos sabonetes, as Barra Alimpa, e não escondeu de Alzira sua mais recente invenção: a tinta em gel. Encantada com a variedade de tons e a qualidade dos produtos, Rainha Alzira pediu-lhe delicadamente: — Alimpa, tu me ensinas a fazer tinta gel? — Agora mesmo, desde que me apresentes teu formoso filho Rasku. Ao que a Rainha Ália, pouco mordaz, interpôs: — É melhor que fiques sem fazer tinta gel, minha cara! — Por que dizeis isso, Ália? – perguntou Rainha Alimpa. Pouco desconfortável, mas completamente franca, Rainha Alzira antecipou a resposta: — É uma longa história, minha amiga. Todavia, Ália tem razão... é melhor para ti que eu fique sem fazer tinta gel. — Que pode haver de tão perigoso ou ameaçador num homem soberbamente belo e fascinante, Alzira? — Minha amiga, ensine-me antes a fazer as tintas. Depois falar-te-ei sobre o “belo e fascinante” Conde Rasku... Logo, logo, mudareis de conceito. 295H. H. Entringer Pereira — Hum, então vamos... comecemos pelos tons de cinza... As três sorriram e Rainha Ália, separando-se, deixou-as no laboratório do Palácio Fortaleza, onde encontraram o Príncipe Kurokuru, concentrado e absorto, ligando com fios de ouro as folhas de seu livro, anotando num calhamaço de páginas de couro de vitelo, com caprichosas letras ornamentais que aprendera com o primo Calico, as calicografias, particularidades e desenhos das mais recentes folhas que catara. Caminhando sozinha para o porto do Elo Dourado, Rainha Ália encontrou-se com o marido, pensativo e cabisbaixo. Ao avistá-la, Rei Kórnio disse melancólico, olhando alguns peixes que se movimentavam lenta e mansamente nas águas límpidas do rio Aguaporé: — Ália, por acaso lembrais do dia em que nossos filhos se encantaram? — Parece que foi ontem, sim... — Não sentis vontade de ver Ur gente? — Quem sabe? Conheceis a magia para desencantá-lo? — Não, mas conheço quem conhece. A sombra de uma pessoa se projetou entre o casal. Rei Kornio imediatamente olhou para trás. Deu de cara com Mago Natu: — Falavas de mim, Rei Kórnio? Pasmado com a súbita aparição de Mago Natu, quase gaguejando, explicou: — Sim, ia mesmo pro-pronunciar vo-vosso nome. Diria a Ália que só vós sabeis as palavras mágicas e poderosas, capazes de desencantar nossos filhos que viraram peixes... não é verdade? — Ainda que as soubesse, Rei Kórnio, não as pronunciaria. Contudo, vejo que gostaria muito de ter vosso filho Ur gente. — Ah, Mago Natu, é o que eu mais desejo... — E eu também – Atalhou Rainha Ália. — Então, aproveitem esta bela noite de lua cheia, enquanto estais a desejar a companhia de filhos e podeis, vós mesmos, praticar a magia de fazer um Ur gente ... Tenham bons momentos. Até mais tarde! Os dois entenderam a sugestão do mago e, naquela noite, Rainha Ália sentiu que, apesar da idade, algo maravilhoso haveria de acontecer. A ninguém mencionou seu pressentimento, mas no dia seguinte seu segredo foi proclamado pela Rainha Vidência: Rainha Ália estava grávida. A notícia logo se espalhou. Imperatriz Gônia organizou uma comemoração especial para a novidade, com um ritual próprio, e no mesmo ensejo o Imperador anunciou a viagem do Príncipe Urucumacuã ao reinado do Grande Rei, onde passaria três anos se preparando para receber instruções nas ciências sagradas e na prática da alquimia. A festa ainda não acabara quando Rainha Alzira sentiu a ausência do Conde Rasku. Discretamente, saiu do grande salão e encaminhou-se à ala do palácio onde ficavam os aposentos do filho, esperançosa de encontrá-lo, talvez, se divertindo com alguma moçoila buliçosa e saliente. Encontrou a porta trancada, nenhum ruído que denunciasse a presença de alguém dentro do quarto. Ao final do comprido corredor, avistou um serviçal que trazia uma bandeja com quitutes, ainda fumegando e bebidas. Vindo ao seu encontro, o criado perguntou: 296H. H. Entringer Pereira — A quem procurais, nobre senhora? — Acaso vistes meu filho, Conde Rasku? — Vi-o há algum tempo. Saiu com alguns alforjes e parecia munido de materiais para caçar... — Oh, céus! Esqueci-me de que hoje é noite de lua cheia... — Desculpe-me, nobre senhora, mas que tem a ver a noite de lua cheia com a ausência de vosso filho? — Não sabeis? Todas as noites de lua cheia, meu filho à meia-noite vira um lobo-homem... feroz e horripilante! — Não brinques! Sempre achei que essa fosse mais uma esquisitice, uma dessas bobagens que os pais e maridos falam para suas filhas e mulheres no intuito de assustá-las, evitando assim, que se deixem seduzir pelo belo e irresistível conde. — Vistes em que direção ele saiu? — Não, senhora. Sei que estava sozinho. — Desculpe-me, mas para quem levais esses quitutes? — Perdoe-me, já estou atrasado. São para os vossos netos, Príncipe Gesu Aldo, Princesa Irina e o bastardo Mulato, que estão na outra ala, no salão de jogos. — Vá, apresse-se. Por favor, vigie para que nenhum dos três saia sozinho por aí. Se puderes, fique de sentinela na porta do quarto do Conde Rasku. Cuide para que ele não o veja. Diga-me, amanhã, a que horas ele chegou e em que condições estava. Não conte a ninguém que me viu por aqui. — Sim, senhora! Boa noite. Não tardou e as luminárias do Palácio foram apagadas com os galos cantando. Uma cortina de silêncio desceu sobre a imponente construção de pedras, madeira e ouro. Tudo parecia calmo e tranquilo. Na cama, angustiada e insone, Princesa Irina, noiva do Príncipe Urucumacuã, virava-se para um lado e outro. Não conseguia pensar noutra coisa: algo de muito ruim continuava a lhe afligir. Não era só pela ausência do noivo que se preparava para a grande viagem..
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA LIVRO 3 CAPÍTULO 71
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A CHEGADA DOS VISITANTES O ARAUTO real mais uma vez anunciava, num comprido megafone de chifres de búfalo, a aproximação visível no horizonte da esquadra do Grande Rei. Ao toque das trombetas, os serviçais deixaram seus afazeres, os vigias postaram-se nas torres e baluartes do palácio e a família real ocupou as melhores carruagens que dispunham para descer as rampas até o cais do porto no rio Aguaporé. Tudo estava conforme solicitado pelo Rei Médium e pela Rainha Gônia. Além do casal real e dos três filhos, Mago Natu e sua irmã, Professora Plínia, também iam à frente do cortejo, seguidos dos garbosos cavaleiros da guarda real, montados nos lustrosos corcéis brancos, arreados e ornamentados com finos acessórios azuis e dourados, em homenagem ao honorável visitante. À medida que as três embarcações se aproximavam, crescendo na linha do horizonte, uma quarta nau e depois uma quinta também surgiram. A quarta nau era esperada, pois a Rainha Alimpa havia prometido ao Mago Natu, quando se encontraram na última visita ao Reino da Perfeição, que acompanharia novamente o Grande Rei em sua próxima vinda para as terras do Ocidente. Então era aquela a oportunidade de cumprir o compromisso. A quinta embarcação, no entanto, não era aguardada. Curiosos de saber quem eram os visitantes da quinta embarcação, alguns lacaios se posicionaram no atracadouro mais distante, ansiosos de recepcionar aqueles que não eram esperados. A quinta e última embarcação a aportar tinha dois mastros com bandeiras que os súditos do Elo Dourado conheciam: um portando uma bandeira com o unicórnio branco sobre fundo verde; e o outro, uma bandeira com a cabeça de um touro vermelho sobre fundo branco. Logo desvendaram o mistério: tratava-se do Rei Kornio e da Rainha Ália. Ele, ex-marido da Rainha Bisca, e ela, ex-mulher do Rei Boio, aquele casal que enfeitiçado pelo Bruxo Neno copulou na água e se transformou ele no Peixe-boi, e ela no Peixe-mulher. Passados alguns anos que haviam partido para as terras nórdicas, Kornio e Ália vinham em comitiva visitar os amigos do Elo Dourado e participar dos ritos de passagem dos príncipes Urucumacuã e Kurokuru, que inteiravam 18 anos de idade. Paralelamente à ritualística da maioridade, uma outra cerimônia programada com bastante antecedência estava para acontecer também naquela data: o noivado do Príncipe Urucumacuã com a Princesa Irina e do Príncipe Gesu Aldo com a Princesa Hévea. Gesu Aldo e Irina, filhos do Rei Naldo e da Rainha Araci, eram esperados com muita alegria. Rainha Alzira também viria e, independentemente de convite, o belo e sedutor Conde Rasku. Os mais ilustres convidados foram os derradeiros a chegar. Depois do Grande Rei e sua majestosa esquadra, Rei Naldo de Avilhanas foi recepcionado com a mãe, mulher e filhos, incluindo o bastardo Mulato, pela primeira vez conhecendo outros territórios, assim como a maioria dos serviçais que os acompanhavam. Alguns lembravam de já ter visto o “Príncipe da Beira do Rio” e sua irmã Hévea, a “Princesa dos Cabelos de Ouro”, quando passeavam visitando parentes e amigos de outros reinados. A formosura dos casais de noivos encantava a todos, ainda que a beleza do Príncipe Urucumacuã, com seus cabelos vermelhos e olhos verdes, e os cabelos dourados e olhos castanhos de sua irmã não passavam despercebidos. 286 H. H. Entringer Pereira Muitos acontecimentos estranhos foram relatados ao Grande Rei antes das celebrações rituais dos noivados. Em conversa privativa entre o Mago Natu e o digníssimo visitante, Rei Médium descreveu algumas das dificuldades que o Império do Elo Dourado enfrentava pela falta do Espelho Universal – seu mais importante instrumento de consulta e orientação –, destruído num ataque de fúria e quase desespero, no sexto dia das comemorações do nascimento dos príncipes gêmeos. — Pior que isso, Grande Rei, os fragmentos do Espelho Universal recolhidos e colocados pelo Mago Natu dentro das sete caixas de metal desapareceram. Suspeitei que o Bruxo Neno os tenha furtado e levado consigo para Trindade, onde certamente contou vantagens, proclamando e apregoando algum feito prodigioso sob os auspícios dos estilhaços do espelho. — Muito provavelmente – interrompeu Mago Natu –, deve ter vendido por bom preço as caixas mágicas de metal ao Rei Mor, sob alguma promessa... Ainda que nem um nem outro saibam para que servirão e qual o destino terrível que a elas se reserva. Os três ficaram um minuto em silêncio. Rei Médium quebrou o pacto involuntário, continuando o assunto: — Fiquei sem o Espelho Universal, mas em compensação tenho o Mago Natu, que não me deixa alheio aos acontecimentos futuros, e a Rainha Vidência, que me alerta quanto às providências para melhor administrar meu reinado! Portanto, não posso me lastimar. Assim, apesar de tantos entraves e percalços, continuamos relativamente prósperos e felizes! — Assim é. Assim será, até tudo virar cinzas e as terras do Rei Pay se transformar em brasa, acabarem num grande brasil! — Grande Rei, se possível, afaste de mim este cálice! — O que tiver de ser, será! Depois do voo do grande Pássaro de Fogo, um outro pássaro voará com dor. Muito distante irá, até se encontrar com a Pata Gônia! Juntos voarão para mais longe ainda, e no alto das cordilheiras edificarão novo reino encantado de esplendor e beleza. Ninguém jamais lembrará que o Elo Dourado se sepultou entre cinzas e brasas, até ressurgir em colossal e exuberante floresta e o fabuloso tesouro oculto se desencantar. Igne Natura Renovarum Integra! — Igne Natura Renovatur Integrat! — Igne Nitrum Roris Invenitur! Mago Natu imediatamente curvou-se e recitou: — M.N.O.P.Q.R.S.! Rei Médium encheu os olhos de lágrimas, em voz baixa perguntou: — Que poderei vos dizer? O Grande Rei respondeu: — Cálice. Cale-se. Apenas isto! Príncipe Urucumacuã, mesmo sem convite, bateu à porta da Câmara do GRAU. Seu pai o recebeu e acenou para os dois amigos, solicitando com os olhos autorização para o jovem participar daquele conciliábulo. Dado o sinal com um meneio de cabeça, com a mão direita fechada e o dedo polegar para cima, autorizaram a entrada 287 H. H. Entringer Pereira do jovem. Afinal, no dia anterior ele assumira o compromisso de noivado e passara pelo ritual de jovem-adulto. — O que o traz aqui, jovem Príncipe da Beira do Rio? – interrogou o Grande Rei. — Procuras algo, Urucumacuã? – quis saber o pai. — Posso responder-lhes as perguntas, Urucum? – resumiu Mago Natu. Meio desconcertado com a maneira de recebê-lo, desconfiado que interrompera, talvez, assuntos herméticos sob mistério e segredos, Príncipe Urucumacuã venceu a timidez inicial e explicou: — Preciso contar-vos algo. Aproveitei a oportunidade de estarem reunidos. Algo que me inquieta e atemoriza... — Conte-nos, logo, então... quem sabe poderemos amenizar vossa angústia! – confortou-o Mago Natu. — Do que se trata, Urucum? – Rei Médium sentiu que o filho precisava de orientação. Mago Natu buscou uma cadeira confortável, posicionou-a diante deles, deixando-o mais à vontade: — Vamos, Urucum, conte-nos tudo... com calma e tranquilidade! — Esta noite tive um sonho confuso e inquietante. Nada me perturba sem que eu busque um meio de conhecer ou entender. Já ouvi todas as histórias fantásticas acontecidas neste reinado, desde o tempo dos meus avós, meu tio-avô, Rei Albe, o Rico, durante o casamento dos meus pais e depois, na festa do nosso nascimento. Mas desta vez, o sonho parecia uma realidade e não apenas efeitos de magia, bruxaria ou feitiçaria. Vi minha noiva, Princesa Irina, assassinada, nos braços do seu meio-irmão, Mulato, e também o Príncipe Gesu Aldo. Toda a corte do primo Rei Naldo em grande sofrimento, lamentando, em desespero, chorando o trágico desfecho de uma festa que não aconteceu... Seria o nosso casamento? Depois vi Rei Naldo e a Rainha Araci se mudando com a maioria de seus súditos para os distantes territórios sem dono, nas terras Centrais, onde dizem que as esmeraldas são melhores e maiores que as daqui, enquanto a Rainha Alzira zarpava para além-mar, onde atualmente é o próspero Reinado de Kornio e Ália. — Vistes os assassinos? – inquiriu Mago Natu. — Não. É bem isso que me deixou aflito... — Urucum, meu filho, não vos preocupeis com perigos imaginários... Estamos em festa, sonhos podem ou não acontecer. Ainda estais sob os efeitos do chá que bebestes ontem, durante a celebração de tua maioridade! Aquiete-se. Além desta, tivestes outras visões que vos afligiram? — Não, exatamente. Tive uma visão interessante, mas não parecia sonho. Aquela não me preocupou, porque me pareceu registrada na memória do tempo. Nem sei se consegui compreendê-la... de tão inquietante. — Diga-nos, o que vistes de tão preocupante? — Grande Rei, vi um lugar parecido a um paraíso na Terra. Enquanto me encontrava sozinho meditando, sentado sob os freixos à beira do rio Aguaporé, abri os olhos e repentinamente percebi-me noutro local. Tudo mudara à minha volta. Entre os 288 H. H. Entringer Pereira mais belos jardins e encantamentos que nunca pensei existirem, avistei uma morada, única e imponente, em toda a vastidão alcançada pelos meus olhos. Sem mais, nem menos, senti-me dentro daquela mansarda. Eu era um dos sete filhos que lá habitavam com pai e mãe. Chamei-os Grande Pai e Grande Mãe. Posso ainda, se quereis ouvir, descrever-vos com detalhes suas fisionomias. O Grande Pai, de corpo perfeito e alongado, tinha olhos imensos, copiosa barba e onde quer que dirigisse seu olhar coruscante, penetrava tão profundamente o âmago essencial das coisas, como se nada pudesse ficar oculto à sua total percepção e sabedoria. Emanava dele tal clareza e amorosidade que me sentia despido, inteiramente nu, diante de sua aura radiante de virtudes e serenidade. A Grande Mãe possuía cabelos sedosos e brilhantes, como os da Rainha Gônia, e seu olhar era o mais meigo, terno e complacente que jamais verei. Em tudo havia ares de perfeição, harmonia e serenidade, que neste momento lembra-me o santuário do Mago Natu. Nos arredores, um amplo e generoso pomar, com frutos de todas as espécies, qualidades e sabores. Daqueles frutos nos fartávamos, felizes e inocentes. Nada nos era proibido, nem restrito. A lei do amor era a única que conhecíamos e não havia maldade, nem malícia em nossos corações. Príncipe Urucumacuã pigarreou. A voz trêmula impediu por alguns segundos que continuasse seus relatos. Mago Natu buscou um cálice de cristal, encheu-o numa ânfora de ouro com água da Fonte das Transformações, entregou-o ao Grande Rei que, reverentemente, passou-o ao príncipe. Rei Médium, em profundo silêncio, compenetrado, acompanhava com o olhar toda a movimentação que a narrativa do filho suscitava na Câmara do GRAU: — Beba, meu filho, prossiga vossa visão. — Num outro tempo – voltou à palavra o Príncipe Urucumacuã – , o Grande Pai e a Grande Mãe reuniram os filhos, e com plena serenidade, pediram que nenhum sequer se aproximasse de uma árvore diferente das que já conheciam, recentemente aparecida nos confins daquele maravilhoso pomar. Explicou que um diabólico ente solitário, sanguinário e odioso habitante de uma enorme caverna escura e fumegante, localizada muitos e muitos pés debaixo do chão, no centro da terra, andara sorrateiramente na parte mais afastada daquele paraíso, no distante Vale da Tristeza, e plantara entre as outras uma perigosa árvore, cuja semente ele mesmo alimentara com as más águas da desobediência, do orgulho, da discórdia e da malícia, para que produzissem frutos atraentes e abundantes, mas perigosos e venenosos, porque quem os comesse estaria para sempre aprisionado às ilusões dos sentidos, escravizado ao vício da concupiscência, danado pela perda da inocência, banido daquele paraíso e condenado à morte. — Comestes tu também daqueles frutos? – inquiriu Mago Natu, interrompendo de propósito a extensa narrativa. — Não. Não eu. Mas dois dos irmãos comeram. — E então, o que lhes aconteceu? — Algo terrível, muito terrível... mataram um irmão por causa deles... Certo dia, num dos passeios que rotineiramente faziam pelo pomar, os filhos do Grande Pai e da Grande Mãe seguiram cada um em direção oposta. Tomaram rumos diferentes, sendo que o filho Kani, e sua irmã predileta Ave, saíram na direção oeste. Divertiram-se, 289 H. H. Entringer Pereira atravessaram córregos de águas cristalinas, pisaram a relva orvalhada e fresca, alimentaram-se de apetitosas frutas maduras e suculentas, brincaram com os pequenos animais que compartilhavam aquele paraíso mágico. No entanto, sem perceberem, se afastaram muitos e muitos passos da casa dos pais, até adentrarem no Vale da Tristeza, uma parte escura, erma e quase inacessível. Lugar completamente desterrado, onde nenhum deles jamais tinha ido, cujas árvores não produziam frutos comestíveis, nem as plantas ornamentavam-se de flores. Já cansados e sem ânimo para voltar, caminharam um pouco mais para dentro daquele bosque deserto, na expectativa de encontrarem alguma nascente de água cristalina ou algo do qual pudessem se alimentar. Famintos, com sede, Ave olhou à sua esquerda e viu uma única árvore coberta de frutas vermelhas, carnudas, cheirosas e aparentemente apetitosas. Não resistindo à tentação de pegá-las, lembrou-se da advertência do Grande Pai e do conselho da Grande Mãe: “não a comereis, porque primeiro conhecereis o prazer de se deitar e depois de estar de pé com a dor!”. Ainda assim, Ave se aproximou mais ainda da fruteira, assustando-se com a visão de uma serpente enroscada nos galhos carregados de frutas. Num movimento de retrocesso, quis afastar-se, temendo o perigo da serpente. Antes de mostrar a cobra ao irmão, olhou-a nos olhos e ouviu sua voz a encorajá-la: “Estás com medo? Não temas. Comei desta fruta e sabereis porque vos proibiram. Vamos, pegue-as e coma ...” Kani, observando o que se passava, chamou a atenção da irmã: — Esqueceste o que o Grande Pai nos alertou? Não vês que essa serpente é o ser diabólico que o Grande Pai falou e que essa é a árvore má que foi plantada aqui? — Não. Quem garante que seja essa exatamente a árvore má? Não comerias a fruta da árvore má, sendo ela sã? — Fico com fome, mas não como... — Pois nada me custa prová-la, de vez que parece madura... — Evita, evita! Acaso quereis morrer? — O que é morrer? Sabeis? Quem sabe... morrer seja tão bom, que é proibido! Ainda que o irmão quisesse se afastar daquela árvore e impedir a irmã de comer seu fruto tentador, num bocado ela devorou uma e mais uma fruta da árvore má sã. Saboreando-a com sofreguidão, descobriu-lhe o amargo e doce gosto. Ao mesmo tempo em que a engolia, diferente impressão apoderou-se de seus sentidos, dominando-a: — Hum, que delícia! Acho que agora sei o que é morrer! Que vontade, que desejo delirante começo a sentir... Toma, coma também... nada que conhecemos até aqui é tão arrebatador... sinto um desejo incontinente, indescritível... parece que meu corpo quer que o seu entre nele! Prova, não te arrependerás. Oferecendo o fruto, com um olhar langoroso, o irmão, também trespassado de fome, não resistiu. Comeu apressadamente. De imediato, um calafrio percorreu suas veias, seguido de uma onda de calor dos pés à cabeça. Todas as sensações que a irmã descrevera também as sentira, até que uma parte de seu corpo reagiu, intumescendo, inchando, aumentado de tamanho e espessura. Observando-se modificar a anatomia, dominado pela força que o inebriava num incontrolável desejo de juntar-se à irmã, abraçou-a, perguntando: — Sabeis o que é isto? 290 H. H. Entringer Pereira — Sei. Eras são. Abraçaram-se, rolaram no chão, sem se dar conta do tempo a passar. Permaneceram horas e horas entregues totalmente aos prazeres dos sentidos, despertados pelo efeito excitante do fruto da árvore má sã, alheios ao cansaço, à fome e à sede. Até que um grito agudo ecoou pelo Vale da Tristeza. Assustados, imediatamente separaram-se. Calados, buscaram esconderijo sob a árvore má sã. Os gritos aumentaram, vindo em sua direção, retumbando por todo o vale. Trêmulos, mas ainda desejosos de continuar, comeram mais dos frutos e novamente entregaram-se ardentemente ao império dos sentidos. A voz que lhes chamava, agora mais perto, pedia que respondessem. As respostas foram gemidos lúbricos, suspiros lascivos e concupiscentes, emitidos de seus corpos, que dançavam unidos em movimentos ritmados. O irmão que os procurava, ao se deparar com as cenas, nada entendeu. Sem malícia, sem temor, aproximou-se e tocando-os, percebeu que estavam sob efeitos de alguma poção misteriosa, provavelmente oferecida pelo ente demoníaco que plantara a árvore má. Olhando para cima, avistou as frutas sedutoras que brilhavam sob a opaca luminosidade do bosque. Sem saber o que fazer, o irmão procurador, Leab, empenhou-se em separá-los, na intenção de trazê-los de volta à realidade, para que chegassem novamente à casa paterna e recebessem o castigo necessário àquela desobediência. Revoltados, desejosos de obter a cumplicidade do irmão, forçaram-no a comer da mesma fruta. Esquivando-se e repreendendo-os pela atitude violenta, Leab conseguiu desvencilhar-se do ataque e abriu carreira em direção à mansão. Como não conseguissem mais alcançá-lo, temendo pelo que relataria quando chegasse diante do Grande Pai e da Grande Mãe, lançaram atrás dele o primeiro objeto que acharam por ali, no formato de um pesado dardo, atingindo-o fatalmente no dorso. Ferido, prostrou-se. Alcançando-o, Kani e Ave golpearam-no fortemente. Não suportando as pancadas, Leab agonizou até morrer. Imediatamente, escureceu. Nuvens de chuva esconderam o Sol e a Câmara do GRAU foi mergulhada numa atmosfera sombria e taciturna. Raios coruscantes precipitavam-se em todas as direções, seguidos de trovões ameaçadores que ribombavam pelos corredores do Palácio Fortaleza. Concentrados, os quatro homens silentes apenas se olhavam. Príncipe Urucumacuã não aparentava nenhum temor, e quando o clarão momentâneo dos coriscos iluminava seu rosto, sua fisionomia transfigurava-se numa máscara de luz. Mago Natu e o Grande Rei, conhecedores dos profundos mistérios da natureza, mantinham-se quietos em contemplativa observação. Rei Médium quebrou o silêncio respeitoso e com a voz de pai amoroso, complacente solicitou: — Conclui o que contavas, meu filho... ou teu sonho termina assim? — Não, meu pai, ainda tenho algo mais a dizer. — Onde está teu irmão? – interrogou-o Mago Natu. — Foi exatamente o que o Grande Pai perguntou a Kani e a Grande Mãe a Ave, quando chegaram em casa, muito tempo depois. — E o que responderam? — quis saber Rei Médium. Três dias depois, ao retornarem para casa e se apresentarem diante do Grande Pai, envergonhados, arrependidos pelo que fizeram, não conseguiram explicar. 291 H. H. Entringer Pereira Faltavam-lhes palavras para relatar o que haviam feito. O Grande Pai, com voz de turbilhão e olhar penetrante como raio na rocha, inquiriu pela segunda vez. Eles responderam: — Nós o abandonamos. — E por que estais envergonhados? — Porque comemos do fruto da árvore má que o senhor nos proibiu. — O que é isto em vossas mãos? — Derramamos isso de Leab. Não sabemos o que é! — Malditos sereis... Isto é o sangue, a vida, que derramaram de vosso irmão. Já não tereis parte comigo! Afastai-vos para bem longe daqui! O Grande Pai os amaldiçoou, ordenando que se retirassem para bem distante, além do Vale da Tristeza nas terras dos abismos, dos montes e das feras. A Grande Mãe igualmente amaldiçoou Ave, condenando-a ao sofrimento de sangrar três dias a cada ciclo de trinta dias e parir seus rebentos entre dores e tormentos. Tocando-os com seu cajado poderoso, Grande Pai transformou os dois em seres completamente peludos, para que ocultassem suas vergonhas. Transformados, expulsos da grande família, retiraram-se. O ser maligno que se travestira na serpente e tentara Ave a comer a fruta proibida acompanhou de longe, quando o Grande Pai os baniu de sua presença. No momento em que foram expulsos daquele paraíso, o tentador, então, transformou-se num furioso monstro alado, diferente dos pássaros que voavam pelo espaço entre os jardins e pomares. De aspecto monstruoso e enorme, o animal voador, com cauda de serpente, garras de tigre e cabeça de crocodilo, revestido de grossa carapaça, expelindo gases que incandesciam em contato com a atmosfera, acolheu e aninhou em seu dorso os dois proscritos, condenados ao degredo, servindo-lhes de montaria. Transportou-os voando para as longínquas terras de trás dos montes, levando-os e deixando-os nos confins do Vale das Lágrimas, onde buscaram abrigo numa caverna para se proteger dos ataques dos animais ferozes que ali existiam. Não encontrando nas adjacências nenhuma fruta ou vegetais para se alimentar, saíram à caça de algo. Deparando-se com um porco gigante e feroz, travaram ferrenha luta com a fera até conseguir abatê-la. Devoraram, então, sua carne crua, passando a sobreviver daí por diante como carnívoros, alimentando-se exclusivamente dos animais que conseguiam predar. O ventre de Ave começou a estufar e alguma coisa dentro a se mexer. Nove ciclos depois, atormentada por dores lancinantes, em meio a grande sofrimento, entre gemidos e soluços pungentes, desesperadores, pariu uma criatura semelhante a si mesma, à qual deram o nome de AURA. Ao primeiro choro de AURA, Ave instintivamente aninhou-a em seu colo para amamentá-la. O monstruoso animal alado que sempre rondara pelas proximidades, ouvindo os vagidos de Aura, enfureceu-se, ainda mais, atacou Ave, arrancou AURA de seus braços e tragou-a. Por ter engolido num só trago a recém-nascida de Ave, o monstro até então, sem nome, foi chamado de Tragão. Desesperada por ter sofrido tanto e, no final, ficado sem sua cria, Ave, aos gritos, implorava ao Tragão: — Tragão, devolve minha Aura, seu maldito! Devolve minha Aura! Não demorou muito, também o Tragão se inquietou. Sem sossego, emitindo urros 292 H. H. Entringer Pereira aterradores, contorcendo-se da mesma forma que Ave, quando estava em ânsias de parir, já sem forças para movimentar-se, expeliu finalmente pela cloaca um gigantesco ovo redondo. Ave, aproveitando-se da fraqueza e do entorpecimento, fez com o Tragão a mesma coisa que ele havia feito com sua cria: tomou aquele ovo e o levou consigo, escondendo-o no fundo da caverna. Ao despertar e recobrar suas forças, o monstro enfurecido quis de volta seu ovo, forçando a entrada da caverna. Kani, vendo que o Tragão novamente despertara, afugentou o com sua comprida lança e bateu na casca do ovo com uma pedra, até fazê-lo eclodir, libertando de seu interior uma criatura alada, igualmente monstruosa, semelhante ao tragão. Ave acreditou que a criatura saída do ovo era a mesma Aura, sua filha. Admirada, disse: — Gerou de nossa Aura! Criou de noss’Aura! Kani não duvidou de Ave: — Essa cria Tragão tirou de nossa Aura. É, Tirounoss’aura! O Tragão, de tempos em tempos, depois daquele episódio, continuou botando ovos e gerando outras criaturas como as de nossa Aura. A Tiranossaura também começou a botar ovos, proliferando rapidamente, ferozes animais alados que se espalharam sobre a terra. As crias da Tiranossaura voavam, enquanto as crias do Tragão, as Dinossauras, andavam sobre o chão. Todos se alimentavam exclusivamente de carne. Pelo seu porte monstruoso e agressivo, travavam grandes batalhas com a igualmente numerosa e selvagem descendência de Kani e Ave, na concorrência por alimentos, servindo eles mesmos às vezes de presas uns dos outros. Assim aconteceu durante séculos até que um dos descendentes de Kani e Ave, valente guerreiro e destemido caçador, chamado Jorge, conseguiu matar o Tragão ancestral, ficando ainda muitos de seus descendentes. Tempos e tempos depois, uma grande inundação submergiu todas as formas de vida sobre a face da Terra, extinguindo não só a descendência dos dinossauros como também dos tiranossauros, juntamente às populações da Terra, poupando somente alguns exemplares de animais e pássaros, escolhidos por um casal de humanos com seus três filhos e respectivas noras, que se salvaram da catástrofe numa grande embarcação. Concluindo essa extensa narrativa, Príncipe Urucumacuã, angustiado com as visões desse sonho, que pareciam demais com a realidade para não o impressionar, cerrando os olhos, silenciou-se por alguns minutos. Como ninguém ousasse quebrar o silêncio, questionou ao Grande Rei: — Grande Rei, o que significa este sonho, que faço agora? — Tudo ao tempo certo. Viajarás comigo, para o Reino da Perfeição, onde serás instruído nas Ciências Sagradas e iniciado nos Mistérios do Fogo, como Cavaleiro do Grande Templo, Príncipe da Beira do Rio! Rei Médium ouviu, mas não se conteve. Interpelou o Grande Rei: — Mais uma vez terei de suportar a ausência prolongada dos meus filhos? Acaso não foi suficiente a iniciação no Santuário do Mago? — Desta vez, apenas o Príncipe Urucumacuã seguirá com o Grande Rei. Príncipe Kurokuru continuará catando folhas junto de vós –, atalhou Mago Natu. — Exatamente. Prepare-se, Urucum, em sete dias partiremos. O convite e a convocação de viajar à terra do Grande Rei deixaram o Príncipe Urucumacuã pensativo. Era tudo o que mais desejava, mas também o que mais temia. 293 H. H. Entringer Pereira Leal e obediente aos princípios da sagrada ordem à qual fora consagrado naqueles dias, fizera juramento solene de respeito, lealdade e obediência. Inclinando-se humildemente, proclamou: — Assim seja. Fechando as cortinas da Câmara do GRAU, Rei Médium e os três homens desceram as escadarias secretas e vieram juntar-se aos demais convidados que festejavam e jogavam na Sala de Visitantes, ouvindo instrumentos que executavam canções alegres e melodiosas. Princesa Irina, sentada numa longa cadeira estofada ao lado da Princesa Hévea, contemplava, admirada e com olhar radiante, a bela joia que o Príncipe Urucumacuã havia colocado no dedo anular da sua mão direita, durante a cerimônia do noivado, na noite anterior: o cobiçado anel de pérola negra, o mesmo que a Rainha Gônia recebera do Rei Médium quando também ficaram noivos. Aproximando-se da jovem noiva, tomou-a pela mão em que estava o precioso anel, beijou-a, dizendo-lhe ao ouvido: — É esta realmente uma bela joia. Porém não mais valiosa nem mais bela do que tu. Tens as mãos mais belas que já vi. A princesa enrubesceu, sentindo o coração disparar. Uma emoção confusa e ambígua proporcionou-lhe aflição incomum. Seu coração queria avisá-la de que, embora nutrisse pelo príncipe um amor profundo, não conseguia se imaginar casada com ele, vivendo naquele palácio seu sonho de felicidade. Algo que não compreendia, completamente alheio ao que realmente desejava que acontecesse, parecia prepará-la para a inexplicável tragédia que rondava aqueles maravilhosos reinados e seus habitantes encantadores.
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PREPARANDO OS BERÇOS PARA PLANTAR CÍTRICAS
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Em tempos de chegada das chuvas, que venham mansas. Plantar é uma atividade esperada opor um bom tempo.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA LIVRO 3 CAPITULO 70
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A VIAGEM DO PRÍNCIPE Havia uma década que o Palácio Fortaleza não se engalanava daquele jeito. A criadagem movimentava-se com inexplicável alegria. Preparar-se para a visita do Grande Rei, depois de tantos anos, trazia vigor, promessas de evocação dos tempos áureos, quando a prosperidade e a boa fortuna andavam de parelha espargindo felicidade a toda cidadela do Elo Dourado. Príncipe Urucumacuã e o irmão Kurokuru esperavam ávidos por aquela visita. Quando souberam das inovações que a comitiva do Grande Rei sempre trazia em suas três fabulosas naus, dos exóticos e luxuosos presentes originários de reinados distantes, dos novos instrumentos musicais e das invenções inusitadas capazes de transformar a rotina do Elo Dourado, alimentaram a esperança de que o benfazejo e sábio visitante lhes ensinasse novas ciências e habilidades, além de aprender se expressar em idiomas diferentes. Príncipe Kurokuru não demonstrava o mesmo interesse que o irmão pela aprendizagem de novidades instrumentais: bastavam para ele lições de botânica aliadas ao conhecimento de ervas raras para confecção de chás e infusões capazes de curar enfermidades ainda não relacionadas nos livros de cata-logo. Além do Grande Rei, era aguardada com alarido a volta da Rainha Alimpa, personagem marcante, de traços fisionômicos fortes e exóticos, que deixara impressões inesquecíveis pela habilidade no trato da estética feminina, além de suas amalucadas invenções cosméticas que agradaram em cheio rainhas e princesas. Que traria ela desta vez? Perguntavam, curiosas, as damas de companhia das rainhas e as criadas das senhoras de prestígio. Rei Médium e Rainha Gônia haviam mandado, com alguma antecedência, mensageiros aos reinados vizinhos para convidar seus soberanos ao Elo Dourado para prestigiar a visita da nobilíssima Corte. Cuidando de restringir os convites, entretanto, excluíram do rol o soberano do Reino de Trindade, Rei Mor e seus cortesãos, por dois motivos: não desejavam a presença do Bruxo Neno e do próprio Rei Mor no território do Elo Dourado. O primeiro, pelas atitudes insanas, quando utilizou largamente seus conhecimentos de magia e encantamentos, deixando um rastro irreversível de confusão e sofrimento; além disso, recaíam sobre ele suspeitas de furtar não só as mandrágoras do Mago Natu, como as misteriosas caixas de metais e os estilhaços do Espelho Universal, desaparecendo sorrateiro, sem se despedir. O segundo porque promovera a circulação de rumores de que andava planejando invadir com seu exército de Caçadores de Cornos as terras deixadas pelo falecido Barão de Corumbi, cujos limites confrontavam-se tanto com as terras do Império do Elo Dourado, quanto do Reinado de Avilhanas e de Trindade. O Barão de Corumbi, falecido há pouco tempo, era dono de uma grande extensão de terras agricultáveis, de excelente qualidade, encravadas na divisa entre os três maiores reinados: Elo Dourado, Avilhanas e Trindade. Anualmente, o barão arava e plantava as fecundas sementes que o Grande Rei outrora lhe presenteara, trazidas das terras longínquas do Baixo Nilo, no Egito, ao tempo de sua primeira viagem àquela região, quando o pai do Rei Médium, Rei Pay, ainda era vivo e o Imperador Médium era solteiro. Ao entregar as sementes, o Grande Rei disse ao barão: 282 H. H. Entringer Pereira — Cultivai estas sementes em vossas terras, Corumbi! Plante, pois, algo dão! Já viúvo, Barão de Corumbi dedicou-se com afinco ao plantio das sementes, colhendo safras e mais safras do algo dão, fornecendo para todos os reinados vizinhos matéria-prima à feitura de tecidos e outras serventias. Prosperou e enriqueceu rapidamente, porém se manteve pelo resto de seus dias em celibatária viuvez, tributada ao extremo devotamento à memória de sua fiel e adorável esposa, a quem dedicou incondicional amor pelo curto espaço de tempo em que estiveram casados. A morte de sua jovem companheira, grávida de poucos meses, num acidente de cavalo, causou-lhe tanta dor e tão incurável sofrimento que até o dia de sua própria morte, quase quarenta anos depois, na sepultura da esposa ainda havia flores frescas trazidas por ele, na visita do dia anterior. Diariamente, o Barão de Corumbi cumpria religioso e estranho ritual: arava mais e mais terras para o cultivo dos algo dão e, ao pôr do sol, antes de escurecer, dirigia-se ao cemitério, onde permanecia por alguns minutos em monótono solilóquio, sentado sobre a lápide do túmulo da mulher. Suspeitavam de sua sanidade mental, mas nenhum outro comportamento extravagante se somava a este, além do hábito rotineiro do trabalho, comandando com generosidade e bondade a dezenas de servos e empregados. A notícia da morte súbita do barão abalou sobremaneira o Rei Médium e açodou no Rei Mor a ganância pela posse das terras que Corumbi ara. Rei Médium esperava entrar em negociações com o Rei Mor, propondo que repartissem toda a propriedade entre os leais servidores do barão, dividindo-a em parcelas de iguais tamanhos, por entender que era essa a única medida de justiça, dado ao fato de que ele não havia deixado herdeiros, nem possuía parentes conhecidos. A ambição do Rei Mor impedia que aceitasse a proposta do Rei Médium para concretizar o acordo. Mais de uma vez, os andarilhos de Trindade chegaram ao Palácio Fortaleza com rumores de que o Rei Mor se preparava para invadir as terras e se apoderar de tudo pela força, porquanto suas forjas funcionavam incessantemente na produção de lanças, espadas e outros instrumentos bélicos. A visita do Grande Rei, em tão boa ocasião, traria certamente a solução para selar acordo sobre a tempestiva questão e colocar ponto final nos inquietantes rumores. Pela disposição do Rei Médium de orientar-se primeiramente com o Grande Rei, para depois enviar emissários ao reino de Trindade com novas propostas capazes de satisfazer a ambos, desatendeu aos conselhos do Mago Natu, mantendo suspenso o convite aos vizinhos do Reino de Trindade para as festividades do insigne visitante. Tal atitude, no entanto, chegou ao conhecimento do Rei Mor e contribuiu para incitar ainda mais rivalidade ao desafeto e atiçar o ódio do Bruxo Neno ao Mago Natu. Rei Médium também não se esquecera de que na última vez em que seus cavaleiros foram a Trindade para os torneios na Hípica Tenusa, durante as festividades do casamento do Bruxo Neno com a bela serva Murmur, o desfecho da corrida deixou um saldo lastimável, convenientemente não elucidado: seus dois melhores animais de corrida, o cavalo Temperado e a égua Ventania, assim como a égua do Rei Boio, a Boa Bisca, tiveram os olhos perfurados e as patas quebradas, além do coudel Jóke, o tratador 283 H. H. Entringer Pereira dos cavalos estabulados, encontrado morto e sem ferimentos aparentes, mas com a língua enegrecida, sintomática de envenenamento por estramônio. — Temperado foi um inigualável vencedor – disse, como se precisasse refazer o episódio para que Mago Natu o compreendesse. – Há quem acredite que um dos motivos que contribuíram para intensificar a rivalidade do Rei Mor comigo reside no fato de ele ter apostado muito ouro e perdido tudo naquela corrida. A égua Tempestade derrotada não só por Temperado, mas também pela égua Boa Bisca, do Rei Kornio, era a favorita da criação do Rei Mor, até eu entrar nas corridas com o corcel Temperado e a égua Ventania. Tempestade foi uma boa corredora, mas naquela oportunidade, em meio à raia, Temperado levou de atropelada outros dez rivais e na transposição do disco, abriu 3 1/2 de vantagem sobre Tempestade. A égua Boa Bisca, do Rei Kornio, chegou em segundo, com desvantagem de 1 ¼. — Por que Temperado não correu mais depois daquela vez, meu pai? Surpreso com a pergunta, Rei Médium se deu conta de que o Príncipe Urucumacuã estava por perto, enquanto evocava lembranças para justificar sua decisão de não mandar convites ao Rei Mor e a seus vassalos para a temporada da visita do Grande Rei ao Elo Dourado. Entretanto, quem respondeu foi Mago Natu, pois aquele assunto já havia sido falado tanto a um quanto ao outro príncipe no período em que passaram reclusos no Santuário do Mago, na primeira fase de iniciação: — Porque no dia seguinte à corrida, Temperado estava cego, com um olho perfurado, as éguas Boa Bisca e Ventania com as patas dianteiras quebradas tiveram de ser sacrificadas e o coudel Jóque, que montara Tempestade, fora morto por envenenamento. — Rei Mor que mandou fazer aquelas maldades, Mago Natu? — Não podemos afirmar. Ninguém viu nada. A única pessoa que poderia ter visto estava morta. — Meu pai não se interessou por apurar a verdade? — Aconselhei-o a não fazer retaliações. Apenas lhe disse que não participasse mais das corridas na Hípica Tenusa, nem fosse ao Reinado de Trindade. — O Rei Kornio e outros também fizeram a mesma coisa – acrescentou o Imperador. – Por isso, até hoje, dos doze reinos que prestigiavam as corridas, somente três ou quatro, os de menor expressão, continuam atendendo aos convites do Rei Mor. — Eu sinto, Mago Natu, que um dia vou descobrir toda a verdade. — Verdade, Urucum, um dia! Os três saíram do salão, quando ouviram o tinir de uma sineta. Príncipe Urucumacuã avistou Professora Plínia ensinando algo à sua irmã. Gentilmente convidou-as para que fizessem juntos a refeição da tarde. Príncipe Kurokuru, que há algum tempo não participava das lições com a professora, sem demonstrar muito interesse por todas aquelas histórias, havia saído sob o pretexto de que precisava lavar-se antes de ir ao salão de refeições. Professora Plínia guardou seus preciosos manuscritos, com o zelo de sempre, dizendo: — Urucum, creio que amanhã conversaremos a respeito da festa de casamento do Conde Rasku, o tio da sua futura noiva, para que saibas como a senhorita Pan Thera, 284 H. H. Entringer Pereira a Marquesa de Sonça, transformou-se na fera encantada: aquela que vagueia nas florestas pelas noites de lua cheia, enfeitiçando os homens com sua beleza e ferocidade. — Professora Plínia, a tia Alzira já me contou algumas coisas. É ela mesma a Sonça Pintada, de olhar agateado, que deixa apaixonado o coração de quem olha em seus olhos? — Humm, vejo que já te interessastes... mas, cuidado! Além de sedutora, ela é extremamente feroz e vingativa. Um verdadeiro perigo, porque é traiçoeira. Creio que esta história só podereis conhecer depois que voltares da grande viagem. — Sim, bem sei. Além disso, a senhora também revelará como o menino Sacipe Ererê ficou invisível, depois de vencer a maior corrida Numpessó, quando eu e Kururu nascemos e ... Ao ouvir o chamado do irmão, Professora Plínia antecipou-se: — Sim, Urucum, saberás disto e muito mais... peça ao Mago Natu para vos contar o que aconteceu quando o Bruxo Neno se casou com a bela serva Murmur. Ele conhece a história completa. Vamos, penso que vossos pais estão nos aguardando para a ceia. No dia seguinte, enquanto Príncipe Kurokuru se preparava para sair com o pai à cata de mais folhas, para enriquecer as coleções de cata-logo, Príncipe Urucumacuã esperava pelo Mago Natu na sala de reuniões, para saber mais histórias do Bruxo Neno. Com muita objetividade, a descrição dos acontecimentos foi assim resumida:
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA LIVRO 3 CAPÍTULO 69
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A CASA DA TOLERÂNCIA Desagradava ao Rei Médium relembrar os sinistros episódios que, por alguns tempos, mergulharam a atmosfera do Império do Elo Dourado em nostalgia e pesar. Retomar lembranças da época em que a Casa da Tolerância abrigara as quatro princesas deserdadas e desprezadas, condenadas ao exílio e abandonadas pelas próprias famílias, consternava o Imperador e afligia profundamente Rainha Gônia. Ambos preferiam conversar amenidades, que não provocavam tanto desalento. Mas entendiam também que, como parte da história daquele reinado, tudo de ruim e de bom que se registrara durante o período das duas maiores festas já comemoradas deveria ser conhecido e apreciado indistintamente pelos membros da família real. Era bom também que se aproveitasse a oportunidade da visita da Rainha Alzira, antes que ela regressasse, dado ao tempo que ficavam sem notícias ou visitantes entre um e outro reinado. Pediram, assim, ao Mago Natu que prosseguisse com o assunto, cuidando que os príncipes não se assustassem, nem se escandalizassem, a despeito de sua pouca idade. Sem entrelaçar os episódios do sexto dia com os outros, Mago Natu contornou com maestria os aspectos obscenos dos fatos, deixando em segundo plano as intervenções sombrias, provocadas e evidenciadas pelo Bruxo Neno: — Ao fim do sétimo dia dos festejos, quando fizemos a conferência geral, os pais das princesas Zônia, Pir Anhá e Ariranhá decidiram que não voltariam aos seus reinados com as filhas. A Princesa Arraia já tinha sido abandonada pela mãe, Rainha Tapera, que preferiu retornar ao seu reinado sozinha, na qualidade de pobre viúva. Não restava ao Rei Médium outra opção senão acolher as quatro rejeitadas. Permaneceram, então, sob a responsabilidade do Imperador. A rotina deste reinado, então, modificou-se. As princesas ganharam cada uma um corcel branco, e para cumprir tarefas, passavam horas e horas cavalgando durante o dia. Auxiliavam os peões do Imperador na lida de juntar o rebanho de búfalos espalhado pelo menino Sacipe Ererê, no dia em que venceu a corrida Numpessó e desapareceu, continuando invisível, até quando não se sabe, galopando seu indomável corcel negro. — Mago Natu, quanto tempo as quatro princesas moraram na Casa da Tolerância? — Meu prezado Urucum, das quatro, a única que saiu da Casa da Tolerância para levar a vida igual a nós foi a Princesa Zônia. Rei Inci, que também ficara neste reinado, apaixonou-se por ela irremediavelmente. Ao declarar que amava Zônia, pediu ao Rei Médium licença para levá-la daquele local, indo com ela habitar as terras bem distantes daqui, nos altos montes e prados, propícios à criação de cavalos. Desejava ter muitos filhos, fundar um novo reinado a setentrião, depois da travessia do grande rio. Rei Médium abençoou a união dos dois, porque Rei Inci também não possuía outros herdeiros: seus dois filhos foram encantados; a Princesa Putha transformara-se na mãe d´água, a sereia Iara; o Príncipe Putho, no Botô ; a mulher, Rainha Régia, na flor Vitória-Régia; e o neto, filho da Putha, encarnou-se no peixe vermelho que tem esqueleto ósseo, o Pirarucu. Rei Médium presenteou o casal, então, com um dos melhores lotes de éguas puro-sangue, dois garanhões de alta linhagem, doando ao casal 279 H. H. Entringer Pereira os búfalos que a própria Princesa Zônia havia auxiliado a recuperar e ajuntar nos campos alagados do reinado. Supriu-lhes de considerável carregamento de ouro e pedras preciosas. Foi muito comovente a festa de casamento dos dois. Até hoje, ouve-se contar esta história, que se espalhou pelas terras longínquas. Sabemos notícias de que já possuem sete filhas, sendo três pares delas gêmeas, e que o Rei Inci, de fato, é tão devotado à esposa Zônia, que denominou toda a extensão de seu novo reinado Amazônia. — E as terras de seu antigo reinado, para quem ficaram? À pergunta do Príncipe Kurokuru, Mago Natu continuou contando: — Negociou, trocando-as por ouro e prata com o Imperador, vosso pai, para aumentar ainda mais a extensão do Império do Elo Dourado! — As outras três para onde foram? — Ah, essa também é uma história interessante. Quando as princesas Pir Anhá, Arraia e Ariranhá ficaram solitárias, depois que cumpriam suas cotidianas tarefas de campear o rebanho de búfalos do Imperador, para não se entregar à tristeza e ao desengano, realizavam festinhas com apresentação de músicas, danças e números teatrais, que elas lembravam do tempo em que moravam em seus palácios. Em pouco tempo, os rapazes solteiros do reinado iam às dúzias para a Casa da Tolerância, participar das comemorações das mera atrizes. Elas se divertiam e os moços também. Até que numa noite de lua cheia, próximo à meia-noite, quando as mera atrizes já se preparavam para fechar a casa, um jovem muito formoso, de roupa cor-de-rosa e um chapéu coco preto, adentrou o salão e causou um frenesi jamais visto no ambiente. As três moçoilas ficaram totalmente fascinadas pelo forasteiro. Sem mais dar atenção aos poucos frequentadores que restavam na casa, desvelaram-se em atenção ao desconhecido, que executava com maestria canções amorosas nunca ouvidas, dedilhando um instrumento desconhecido, dançando extraordinariamente bem. Não levou muito tempo, as beldades entregaram-se a ele sem restrições. Permitiram-se todos os tipos de libertinagem, escandalizando os jovens pudicos que ainda aguardavam receber de alguma delas um olhar mais afetuoso ou a honra de um número de dança. Desalentados pela falta de atenção, os moços contentaram-se em divertir-se com o espetáculo lascivo e voluptuoso que gratuitamente lhes foi oferecido. Até que, abruptamente, ao cantar do primeiro galo, o galanteador licencioso e luxuriante deixou-as sem se despedir e partiu veloz em direção ao rio, deixando para trás suas vestes cor-de-rosa e seu chapeuzinho preto! — Sim, Mago Natu, mas as princesas... — Ah, as princesas! Pois bem. Saíram alucinadas, em completo desvario, perseguindo como caçador à caça o cavalheiro galanteador. O guapo mancebo esquivara-se para evitar o frenético assédio das moçoilas e atirou-se nas águas do rio Aguaporé, desparecendo de suas vistas. Inconsoladas, jogaram-se também atrás dele, na esperança de capturar o príncipe encantado. Atraídas pelo jovem enfeitiçado, Arraia e Pir Anhá nunca mais voltaram à terra firme. Continuam vivendo n’água, contaminadas pelo enfeitiçamento com as minhas mandrágoras, furtadas pelo Bruxo Neno e usadas indevidamente em poções e pós na noite do grande baile. Princesa Ariranhá também se transformou num ser meio aquático, meio terrestre. Vive um pouco na água e um pouco 280 H. H. Entringer Pereira fora, passeando pelas barrancas, onde se alimenta devorando peixes pequenos. O Botô, por sua vez, continua habitando com elas no rio. Quando em vez, dependendo das conjunções astrais, nas noites de plenilúnio, quando o perfume das flores de primavera enche os campos de aromas sutis, Botô sai da água, volta ao seu formato de gente por algumas horas e vem até as barrancas, onde beiradeiros e pescadores costumam fazer festas. Algumas moças ainda se encantam com ele. Não raro, as desavisadas desaparecem para sempre nas águas do rio, na tentativa de segui-lo. Despertado o interesse da Rainha Alzira em saber como o Bruxo Neno se envolvera em todos aqueles episódios depois que furtou as mandrágoras, perguntou ao Mago Natu: — O Senhor acredita que, antes da Feiticeira Zureta morrer, ela contou ao Bruxo Neno de quem ele era filho? — Certamente que não. Se ela tivesse feito isso, ele a teria matado logo em seguida. Não suportaria saber que tanto a mãe quanto a avó ocultaram esse segredo por tanto tempo. Bruxo Neno é filho legítimo do Rei Barbo, irmão gêmeo do Rei Mor, por isso tão semelhantes fisicamente! O que é pior: o herdeiro legítimo do trono de Trindade é o Bruxo Neno, porque foi o que nasceu primeiro! Todavia, o Rei Barbo só concordou em assumir e criar o segundo dos filhos, porque aparentemente era mais saudável e graúdo, abandonando o outro com a mãe, a Feiticeira Zureta, sob pena de morte se ela ou a avó, Bruxa Bizarra, revelassem que haviam nascido dois meninos. Nem mesmo o Rei Mor sabe que é filho da Feiticeira Zuzu, neto da Bruxa Bizarra, que fez o parto e levou pessoalmente o bebê ao palácio de Trindade para ser “adotado” pelo Rei Barbo. Nem Bruxo Neno sabe que é filho de Barbo... Um não conheceu o nome de sua mãe porque, quando Rei Barbo engravidou a Feiticeira Zuzu, já estava viúvo, sua esposa morreu sem deixar herdeiros. O outro não conheceu o pai porque fora gerado num ritual de iniciação em magia sexual. Nesses casos, não se costuma investigar paternidade quando a neófita engravida. Resumindo, nem um, nem outro desconfia que são irmãos e gêmeos. — Ah, tenho certeza então de que nem Bruxo Neno nem Rei Mor jamais saberão disso – arrematou Rainha Alzira. — Tia Alzira, um dia alguém terá de contar para eles... – interveio Príncipe Kurokuru. — É. Tenho certeza de que vai sobrar para mim – concluiu Príncipe Urucumacuã. — Exatamente – confirmou Mago Natu – mas deixemos que o tempo cuide de tudo isto...
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA - LIVRO 3 CAP. 68
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A VOLTA DO SANTUÁRIO Desde que voltaram do Santuário do Mago, no primeiro período de sua iniciação nos mistérios e nas ciências naturais, letras e números, Príncipe Urucumacuã e Príncipe Kurokuru manifestavam diferentes formas de compreender fatos e acontecimentos. Um se dedicava com afinco e devoção às elevações espirituais, artísticas e ciências ocultas. Outro importava-se em aplicar métodos práticos na pesquisa de fórmulas com vegetais e receitas perfeitas para conhecer e curar os males do corpo. Mago Natu apreciava as aptidões individuais e gostava de passar grande parte de seu tempo alimentando de desafios a inteligência de ambos, para que desenvolvessem sempre mais seus dons inatos, talentos morais, intelectuais e espirituais. Surpreendiam, não raro, seus pais com lembranças de episódios passados em épocas de tenra idade, quando nem falavam, nem andavam, mas relatavam com detalhes ocorrências que poucos se davam conta ou recordavam, porque não estavam registradas nos manuscritos da Professora Plínia. Uma noite, depois de jantarem, Príncipe Urucumacuã aguardou sua vez de animar a conversa que se prolongara até a hora de dormir e perguntou ao pai: — Meu pai, tivestes notícia do que aconteceu ao Rei Inci, depois que se enamorou da Princesa Zônia e a pediu em casamento, tirando-a da Casa da Tolerância? Rei Médium olhou para o Mago Natu, como se dependesse de seu consentimento para responder à pergunta do filho. Mago Natu, esboçando um sorriso maroto, antecipou a resposta: — Essa parte não fui eu quem contou. Tampouco consta nos registros da Professora Plínia, que leram enquanto internos no Santuário. Todavia, tenho para mim que ele sabe exatamente tudo o que aconteceu. — O que te lembras a esse respeito, meu filho? Ou melhor, a pergunta deve ser outra: quem te falou a respeito disso? — Meu pai, gostaria que me falasse sobre a Casa da Tolerância, porque me vêm à memória recordações dos rostos das quatro damas que por lá permaneceram algum tempo. — Lembras-te dos nomes delas? — Penso que sim: Princesa Zônia, Princesa Arraia, Princesa Pir Anhá e Princesa Ariranhá. — Exatamente. As outras duas, Princesa Putha e Princesa Ti, se encantaram antes mesmo de ir para a Casa da Tolerância; e as princesas Arraia, Pir Anhá e Ariranhá também se encantaram tempos depois. A única delas que vive atualmente numa região muito distante deste reinado é a Princesa Zônia. Quando Rei Inci declarou amar Zônia, tirou-a daquele lugar e mudou-se com ela para muito longe. Dizem que estão criando cavalos e que têm seis filhas, todas muito valentes, excelentes cavalgadoras, belas como a mãe e bravas como o pai! — Ufa! – exclamou Kurokuru. – Acho que depois dessa vou dormir. Boa noite a todos. — Amanhã, então, continuaremos com a história – interveio Mago Natu, para que o Príncipe Kurokuru também pudesse apreciá-la.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA LIVRO 3 CAP. 67
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AS BODAS DO BRUXO Às vésperas do casamento, Rei Mor ordenara que todo o Palácio de Trindade fosse ornamentado, nos moldes do que presenciara no casamento do Rei Médium e da Rainha Gônia, no Palácio Fortaleza, no Reino do Elo Dourado. Que não se poupassem trabalho, nem ouro, nem sedas, nem flores, nem os mais finos manjares para celebrar as bodas de sua mais bela serva e de seu mais recente e poderoso vassalo, o intrépido e enigmático Bruxo Neno. Embora a movimentação no palácio fosse intensa, não havia clima de alegria no ar. Os serviçais amigos de Murmur, notavam sua fisionomia tristonha, melancólica, como se a ela tivesse sido imposto um grande sacrifício ou anunciada uma eminente desgraça. Sua condição de serva não lhe permitia desacatar as ordens do rei, tampouco externar descontentamento, nem revelar que guardava em segredo o verdadeiro amor que nutria pelo jovem cuidador de cavalos, o coudel Jóque. Um moço bonito, educado e respeitoso, que a tratava com mimos e atenção nas raras vezes em que fortuitamente se encontravam. Jóque creditava à bela e bondosa Murmur ter escapado dos severos castigos que o Rei Mor aplicava aos criados negligentes, porque uma vez esquecera aberto o portão do cercado dos quadrados dos catetos e os animais invadiram o quadrado da Hípica Tenusa, ocasionando grande dano aos gramados, deixando-os em polvorosa. Murmur assumiu a culpa do incidente perante o rei e este, pela admirável beleza e lealdade da serva, absolveu-a da falta, mas não isentou de subjugá-la, ficando a seu talante escolher o homem com quem ela deveria se casar... ao cair da tarde, dois dias antes da realização do casamento, chegaram grandes comitivas de reis, rainhas, príncipes e princesas, além de muitos nobres convidados. Quase todos haviam participado, recentemente, do casamento do Rei Médium e da Rainha Gônia. À exceção de uns poucos que não puderam comparecer e daqueles que se transformaram, encantados em seres das águas pelas artimanhas do próprio Bruxo Neno, o Imperador, Rei Médium e a Imperatriz, Rainha Gônia, enviaram seus mensageiros com luxuosos e valiosos presentes, justificando suas ausências. Rainha Gônia e o Rei Médium passeavam, em temporada, pelo Reino da Madeira, onde aguardariam a chegada do Mago Natu para, então, retornarem ao Reino do Elo Dourado; e Rainha Gônia não se dispunha a viajar tão longas distâncias seguidamente. Ao abrir a mensagem selada com a marca do Império do Elo Dourado, Rei Mor disfarçou sua ira. Havia despendido grande fortuna para celebrar um casamento com pompa e circunstância, que em nada ficasse devendo ao casamento do seu eleito rival, Rei Médium, para mostrar que no Reino de Trindade também havia luxo e civilidade. Recepcionadas as comitivas, o Rei Mor ainda aguardava os derradeiros convidados que honrariam aquela Casa Real: Rei Naldo, do Reino de Avilhanas e seu belo irmão, o temível sedutor Conde Rasku. Já anoitecendo, movimento incomum nos portões do Palácio de Trindade fez com que o arauto real tocasse mais uma vez sua trombeta. O recepcionista do Palácio, Senhor Domo, acompanhou os recém-chegados à presença do Rei Mor. 274H. H. Entringer Pereira O primeiro a ser recebido, o Conde Rasku, com a noiva, a exuberante e fogosa Marquesa de Sonça e suas comitivas, também traziam mensagem do Reino de Avilhanas, muitos presentes e mais uma justificativa: o Reino de Avilhanas igualmente festejava o nascimento recente de seu herdeiro, o Príncipe Gesu Aldo. Desculpando-se pelo não comparecimento, Rei Naldo e sua Rainha Araci sequer mencionaram a indiferença da soberana RARA, Rainha Alzira, àquela pomposa celebração: na qualidade de avó do príncipe recém-nascido não convinha que se ausentasse do Palácio das Esmeraldas. Além do que, somente ela conhecia os esconjuros apropriados para afastar a fantasmagórica Mula Sem Cabeça, caso aparecesse para assustar a parturiente ou causar danos à criança. Não sairia do palácio até o dia em que fosse celebrada a consagração e registro do nome do príncipe infante, assim que o Mago Natu, que estava viajando para além-mar, regressasse. E ainda que não houvessem todas aquelas justificativas, por motivos pessoais, tais como sua figadal inimizade com a Feiticeira Zureta e antipatia incurável pelo Bruxo Neno, jamais se permitiria servir de alvo aos comentários jocosos de ambos ou da curiosidade irônica dos que atribuíam a ela o surgimento do aterrorizante fantasma da Mula Sem Cabeça. Conde Rasku explicou ainda que o Palácio das Esmeraldas passava por reformas, visando ao embelezamento para a próxima grandiosa comemoração – seu casamento, cuja data ele viria marcar e anunciar aos presentes naquela grande festividade, depois que combinasse com o celebrante, o Bruxo Neno, mesmo a contragosto de sua mãe, que não o abençoava pela escolha a nenhuma das duas coisas: nem a noiva e nem o celebrante do ritual. Rei Mor ouviu as escusas do Conde Rasku um pouco desgostoso porque, dentre os convidados, ainda que nobres e reis e rainhas e príncipes e princesas, era o comparecimento dos que não vieram, Rei Médium e Rei Naldo, que mais o deixaria lisonjeado pelo grande prestígio de que gozavam os dois mais importantes senhores daqueles esplendorosos reinados. Para dissimular a contrariedade, vangloriava-se junto aos pares de ter organizado empolgante corrida de cavalos; a melhor, jamais vista. Não perdia oportunidade também de encorajar os reis vizinhos a adotar o jus primae noctis, sua inusitada lei e recente distração: o direito de passar as primeiras horas da noite no leito de núpcias das donzelas que se casassem com seus súditos, enquanto estes, os legítimos maridos, obrigavam-se a escafeder-se para não serem passados a fio de espada, coisa que o divertia bastante. Rei Boio e Rei Kornio, os que mais se interessaram pela novidade, haviam perdido seus primogênitos e futuros herdeiros durante os festejos do casamento do Rei Médium quando, encantados pelas ações mágicas do Bruxo Neno, ficaram transformados em seres viventes nas águas: os peixes Surubim e Pintado. Rei Boio, o que mais se mostrou interessado em esmiuçar os procedimentos, parecia simpático à nova lei, inquiriu: — Quanto aos possíveis filhos, gerados nestas circunstâncias, como sabereis de sua verdadeira paternidade? — Se os maridos conseguirem se safar da espada dos Caçadores de Cornos, haverão de criá-los como legítimos. 275H. H. Entringer Pereira — Caso não tenham esta sorte, tal como sucedeu ao infeliz Chupinguaia, quem haverá de assumir a paternidade? O próprio rei? — Amigo Boio, trata-se de uma lei extravagante. Quem pode o mais, pode o menos. O rei não é obrigado a cumpri-la, se não quiser. Além do que, se a donzela não me interessar, nem satisfizer meus próprios caprichos, que o Bruxo Neno jamais ouça isto, revogo o dispositivo ao meu gosto. — Não é esta a questão, amigo Rei Mor. Quero saber sobre o direito de primogenitura... no vosso caso, por exemplo: não tens filhos ainda. Se a viúva de Chupinguaia, à época, houvesse engravidado, que farias com relação ao filho gerado dela? Poderia ser vosso sucessor, caso vossa rainha não vos desse um herdeiro legítimo? — Hum, bem... Sabes que não pensei a esse respeito! — E, suponhamos, se desta vez vossa bela serva Murmur engravidar, como sabereis de quem é o filho ou filha? Tanto pode ser vosso, quanto do Bruxo Neno, concordas? — Rei Boio, não me agradam suposições. Se até hoje ainda não fiz um filho, não será desta única vez, ainda que logo se concretize o vaticínio da Feiticeira Zuzu. Rei Kornio ainda não havia se imiscuído no assunto. Apenas prestava atenção às indagações do amigo, Rei Boio. Confuso quanto aos efeitos práticos daquele costume recém-implantado no Reinado de Trindade, Rei Kornio pensava contrário à adoção em seus domínios. Se a lei de Trindade fosse adotada em outros reinados, em pouco mais de quinze anos haveria combates, intrigas e até guerras entre os pretendentes aos tronos. — Eu não teria tantas certezas. A primeira parte da vossa lei parece razoável... Mas as consequências podem fazer com que se criem nos reinados problemas que ainda não existem. — Estás a se esquecer de que Rei Naldo fez um filho antes de se casar com Araci e nem por isso o bastardo terá direito ao trono de Avilhanas? — Sim, mas neste caso o menino Mulato sabe de quem é filho e, quando nasceu, seu pai, Calico, ainda não era rei. — Deveras, Rei Boio. Problemas de outros reinados também não nos interessam, concordas? Quero apenas cumprir uma lei que neste Reinado de Trindade estará em vigor, enquanto eu quiser. Que tal irmos andando até a Hípica Tenusa para encontrar com o Conde Rasku e o Bruxo Neno? — Uma pergunta mais, Rei Mor: como foi o “acerto” que fizestes com Bruxo Neno para deixar o Elo Dourado e vir morar em vosso palácio? Rei Boio também se interessou por saber outros itens do “acordo”. Parecia notório que o Bruxo Neno em qualquer lugar que morasse era passivo de causar problemas ao invés de resolvê-los: — Aceitei a mudança do bruxo para os meus domínios porque a mãe dele, a Feiticeira Zuzu, já estava morando em minhas terras há alguns anos. Senti que os dois atuando em meu favor poderiam me fazer grandes obséquios e, por enquanto... não tenho motivos para me arrepender. Se me causarem problemas, elimino os dois. Tenho meus próprios recursos para lidar com feiticeiras e xamãs! — Bem, amigos, vamos para a hípica. Nossos cavalos precisam nos ver e temos também que massagear nossas éguas – brincou Rei Kornio. 276H. H. Entringer Pereira Caminhando pelas alamedas floridas e sombreadas, prosseguiram a conversa, os três, até a Hípica Tenusa. — Onde estão o Conde Rasku e o Bruxo Neno? – quis saber o anfitrião, indagando ao coudel Jóque, que escovava a égua Tempestade. — Saíram agorinha e, pelo rumo que tomaram, foram ao Bosque da Solidão. Os três reis separaram-se e cada um se movimentou em direção às baias onde estavam seus próprios animais. Os coudéis, tratadores e domadores das admiráveis éguas, organizavam os preparativos para o “fabuloso” turfe, anunciado como parte da programação comemorativa no dia seguinte ao casamento do Bruxo Neno com a bela criada Murmur.
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Mesmo com a estiagem, que deixa as plantas muito estressadas, ainda dá para dizer vale a pena todo esforço, ao ter que baldear água, para garantir a sobrevivência de qualquer produção. Aqui, as primeiras fotos são de plantas regadas manualmente, plantas novas ainda. As duas últimas são plantas adultas, que carecem inclusive de poda, no início das chuvas receberão todo cuidado. Neste caso estou falando mais uma vez, do Vetiver.
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Os leitores vão dizer que eu não tenho outro assunto. Acontece que eu não sou criador de conteúdo. Eu registro aquilo que é necessário. Venho aprendendo, com o capim VETIVER, a ser resiliente. Neste período do ano, quando a estiagem é implacável, apenas a vegetação com perfil que se identifica com o cerrado, permanece por aqui. E exuberante. Elegi oVetiver, meu preferido e o carro chefe dessa nova fase da OCA OCUPAÇÃO CoCOCRIATIVA ARTFLORESTA TERRAVILA GLOCAL.
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A memória foi bem melhor, agora registrar é necessário. Para não perdermos a emoção de ver como tudo evolui. Aprendemos muito conosco, mesmos.
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URUCUMACUÃ By H.H.Entringer Pereira LIVRO 3 CAP 66
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A CHEGADA DA SACERDOTISA DAS SOMBRAS Logo que a Feiticeira Zureta chegou ao Palácio de Trindade, recebida com esfuziante alegria e entusiasmo pela Rainha Sissu, que a ela dedicava especial consideração de cortesã, dispensando-lhe tratamento de fidalga, Rei Mor providenciou para que mãe e filho pudessem conversar e combinar os detalhes para a realização da cerimônia nupcial. O encontro do Bruxo Neno com a Feiticeira Zureta foi estrepitoso e emblemático. No momento em que se abraçaram, mãe e filho emitiram sonora gargalhada, juntaram-se de costas um para o outro, como convinha as suas tradições, depois viraram-se de frente e tocaram as palmas das mãos, invertendo os movimentos sequencialmente de cima para baixo e de baixo para cima. Coincidentemente, um corisco riscou os céus enegrecidos de nuvens carregadas para chover, precipitando-se com grande estrondo, próximo do pátio onde os dois se confraternizavam. Alguns cortesãos ficaram assustados e outros admirados com o inusitado daquele encontro, julgaram que os poderes sobrenaturais dos feiticeiros eram manifestos sob a forma de raios e trovoadas que eles próprios desencadeavam. Rainha Sissu logo tratou de convidar a Feiticeira Zuzu para a refeição da tarde, já servida em homenagem à visitante, dando ordens à criadagem para que acomodasse a bagagem da ilustre hóspede dos reis de Trindade nos aposentos localizados numa das quatro Torres de Vigia, na Ala Sul do Palácio. Ao Bruxo Neno não agradou a maneira festiva pela qual Feiticeira Zuzu foi acolhida no Palácio de Trindade, por ser muito mais eufórica e cerimoniosa do que a ele. O próprio Rei Mor, rotineiramente de modos reservados, glaciais e protocolares, desmanchou-se em rapapés, rasgando escancarados elogios à presença espalhafatosa da Sacerdotisa das Sombras, bajulando-a como se fosse apenas ela dotada de poderes extraordinários, superiores aos que o Bruxo Neno também ousara demonstrar. Passada a euforia pela recepção da Feiticeira Zuzu, Bruxo Neno solicitou ao Rei Mor que melhor o acomodasse, transferindo seus pertences aos aposentos da Torre de Vigia da Ala Sul do Palácio de Trindade, para que pudesse estar mais próximo de sua mãe e, assim, tratarem dos assuntos de interesse do reinado, sem a importunação da distância entre os locais onde os dois estivessem instalados. Bruxo Neno justificou ainda que havia assuntos de secretíssimo interesse dos bruxos e feiticeiros que somente a eles era pertinente conversar. Além do mais, não se encontrava com a mãe desde o episódio da morte da Bruxa Bizarra, aquela que conforme todos sabiam morreu no grito. Ao Rei Mor, pouco importava que os dois visitantes ficassem naquele ou noutro cômodo do Palácio. Interessava-o somente o desfecho do casamento da serva Murmur com o Bruxo Neno e que, no ensejo da visita da mãe feiticeira ao filho bruxo, conforme o vaticínio da própria carocha, finalmente a Rainha Sissu engravidasse. Rei Mor assentiu com o pedido, mas fez uma exigência: — Bruxo Neno, sabes que na Ala Sul, próxima à Torre de Vigia do Palácio, há um compartimento reservado à rainha enquanto esperará pelo retorno do rei do leito nupcial de seus súditos? A rainha ali aguardará minha volta, para depois tornarmos aos aposentos reais... O Senhor compreendeu? 269H. H. Entringer Pereira — Perfeitamente, majestoso Rei Mor. Já estou ciente das regras do jogo. — Saiba também que todos os aposentos do Palácio serão vasculhados pelos Caçadores de Cornos, incluindo o vosso e o da vossa mãe. — Nada mais justo, Senhor Rei, nada mais justo. Senhor, permita-me dirigir-vos um pedido para que me autorizeis proceder uma magia que muito alegrará vossa rainha? — Convém que estejas bem certo do que quereis, Bruxo Neno. Achas mesmo que a rainha gostará do que intencionas? — Majestoso Rei Mor, caso não a agrade, possa vossa realeza me aprisionar ou expulsar-me de vossos domínios. — Se é assim, diga o que pretendeis. — Senhor Rei, bem sabeis que a Feiticeira Zuzu é possuidora do bridão mágico, que nas nossas mãos converte em realidade todos os nossos desejos, por mais absurdos que pareçam... Pois bem, posso usar o bridão produzindo um encantamento que fará vossa rainha sentir a vossa presença sempre ao lado dela, como se Vossa Realeza não estivesses na cama com vossa serva, quero dizer, com minha esposa... Os olhos da Rainha Sissu acenderam-se num brilho de satisfação. Desgostava-lhe imensamente o comportamento lúbrico do marido, disfarçado numa tradição imposta por ele mesmo, para satisfazer-lhe a lascívia acobertada pelo manto de suposta honraria. Antes que o Rei Mor entendesse exatamente do que se tratava a magia, a rainha antecipou-se num gritinho de exultação e manifestou-se: — Ah, que felicidade! Bem que me agrada esta proposta. Que boa sorte este encontro de mãe e filho! Rei Mor não compreendera exatamente a proposta de Bruxo Neno, mas diante da assertiva da Rainha Sissu, para que ninguém percebesse a lentidão de seu raciocínio, autorizou: — Bruxo Neno, já te certificastes de que a Feiticeira Zuzu trouxe consigo o bridão encantado? Antes que dirigisse a palavra a sua mãe, a Sacerdotisa das Sombras, pressentindo a embaraçosa situação que poderia colocar seu filho, caso se negasse a colaborar com ele na concretização de seu plano, adiantou-se, explicando: — Majestoso Rei Mor, Boníssima Rainha Sissu, para vosso bem, trabalharei junto com meu filho para concretizar o que anda dizendo – olhou para o Bruxo Neno, piscou o olho e compreendeu que o filho arquitetava mais do que uma simples magia ou um inofensivo feitiço. — Neste caso, asseverou Rei Mor, terás meu inescusável apoio. Como haverás de proceder? Bruxo Neno, pego de surpresa pela pergunta do Rei Mor, uma vez que ainda não combinara com a Feiticeira Zureta sua vindita contra o direito imposto naquele reinado, em que ao rei somente era dado o privilégio de gozar a primeira noite de núpcias com as jovens esposas ainda virgens, evadiu-se da pergunta, tangenciando: — Majestoso Rei Mor, preciso que me autorizes celebrar, junto de minha mãe, um novo ritual na hora do meu casamento com Murmur. Não vou, nem ouso, modificar vosso costumeiro direito de primeiramente deitar-se com a noiva, até a meia-noite. Não 270H. H. Entringer Pereira se trata disso. Ficai tranquilo que trará satisfação à noiva e muito mais a vossa rainha, porquanto durante o tempo em que estiveres em outro leito, não sentirá vossa ausência, como se em vosso leito estivesses! — Explique-se melhor. Como fará isto, Bruxo Neno? Senhor Rei Mor, usarei os poderes de encantamento do bridão mágico que está com minha mãe, para que a vossa rainha sinta como se vós estivésseis em carne e osso, ao lado dela, na vossa cama. Ela sequer sentirá sua ausência. E vós sentireis estar somente e apenas com a jovem noiva, Murmur, até que seja a meia-noite. Também não podereis passar deste horário... — Hummm... saiba que a Rainha Sissu permanecerá fechada em seus aposentos, na Torre de Vigia... Com dois Caçadores de Corno à entrada do quarto, trancada à chave, que levarei comigo!!! Rei Mor retirou-se para a Hípica Tenusa, onde os coudéis, tratadores e domadores de suas admiráveis éguas organizavam preparativos para o fabuloso turfe, parte da programação comemorativa do casamento do Bruxo Neno com a bela serva Murmur. O próprio rei cuidava daquelas preliminares porque o hipismo era seu mais favorito e predileto lazer. Seu hipódromo era modelar e atraía outros diletantes do mesmo esporte, tanto quanto as Corridas Numpéssó fascinavam os habitantes do Elo Dourado. Os grandes rivais nas disputas pelos primeiros lugares na Hípica Tenusa eram os corcéis Água Doce e Temperado, de propriedade da criação do Rei Médium, versus as éguas Tempestade e Sombreada, do haras do Rei Mor. Outros animais também pontuavam entre os favoritos, mas estes elevavam as apostas ao paroxismo. Feiticeira Zuzu e o Bruxo Neno aproveitaram a retirada do Rei Mor e da Rainha Sissu, instalando-se nos aposentos próximos um do outro, na Torre de Vigia da Ala Sul. O aposento no qual a rainha permaneceria até que o marido voltasse do leito nupcial, a sua própria cama, após a meia-noite, localizava-se entre o cômodo que a feiticeira ocupara e o outro requisitado pelo bruxo, sob alegação de que convinha aproximar-se de sua mãe para executar melhor as mandingas que necessariamente fariam juntos. O Bruxo Neno andava pensativo com o desenrolar dos acontecimentos porque recebera do Rei Mor uma advertência seguida de uma sentença. Precisava urgente dos préstimos da Sacerdotisa das Sombras, pois que, se após o encontro dos dois, nada acontecesse com relação à gravidez da Rainha Sissu, não só o Bruxo Neno seria expulso do Reinado de Trindade, como a Feiticeira Zuzu teria também de se mudar de residência. A ineficácia de seu desempenho quanto ao encantamento da tiara o preocupava. Sua esperança de concretizar o feitiço de engravidar a rainha ganhava reforço no ritual utilizando o bridão encantado. Este sim, haveria de surtir o efeito desejado. A conversa entre mãe e filho parecia mútua prestação de contas. Feiticeira Zuzu relatava suas proezas, desfiando contas e contas de um colar de inumeráveis feitos mágicos. Por sua vez, Bruxo Neno esmiuçava suas façanhas, contando também as mais ousadas, cujas consequências nem mesmo o Mago Natu, com toda sabedoria e argúcia, impediu. Esqueceu-se de relatar sobre a trágica transformação de Quelônia Taruga na Tal Taruga; o desaparecimento, diante dos seus olhos, da Joia da Tia Ara na areia; e o 271H. H. Entringer Pereira fantástico surgimento das bagas da “Mãe do ‘Y’”. Feiticeira Zureta nem parecia satisfeita nem indiferente ao desempenho do filho. Apenas salientou sua capacidade de transformar pessoas em peixes, estando de posse de uma joia que nem chegara a ser propriamente um instrumento de encantamento. — Se é do jeito que me dizes, para quê queres o meu bridão? – indagou-lhe a Feiticeira Zuzu, ressabiada de entregar seu mais precioso acessório ao bruxo e perdê-lo para sempre, porque o filho, certamente, se lembrava das artimanhas e ardis que ela própria lhe ensinara. — Minha mãe, preciso do seu bridão porque tu te confundistes quando vendestes a cópia para a Marquesa de Sonça. — Do que estás me acusando? Que eu entreguei o bridão errado? — Exatamente, Feiticeira Zuzu. Se o bridão que está contigo fosse o verdadeiro, o ritual de magia que celebraste com o Rei Mor e a Rainha Sissu teria resultado. A rainha, com certeza, já teria engravidado, o filho nascido e eu hoje não estaria tão preocupado... — Hum, parece que tens razão. Quem mais sabe que eu mandei fazer uma cópia do bridão de ouro para vender? — Tu, o ourives e eu. Bem... quero dizer, não muito bem. Eu mesmo só desconfio. — Então só tu e eu sabemos, porque, logo que o ourives me entregou o bridão copiado, eu cuidei de encantá-lo num corvo, para ter certeza de que ele não me lograria, triplicando o bridão e me passando o falso como verdadeiro. — Esperta, tu. Mas acho que a Sonça foi mais esperta ainda. Feiticeira Zuzu sentiu que o filho falava com alguma razão. Relembrou nebulosos acontecimentos da noite de lua crescente em que celebrou com a Marquesa de Sonça, na clareira do florestal, o ritual para que sua cliente encontrasse a grande paixão de sua vida e afastasse de vez a misteriosa e ignorada rival que ameaçava colocar sua fortuna por água abaixo. Recapitulando o sucedido, reconstituiu na memória todos os ingredientes que usara e o passo a passo para atingir o propiciatório. Começou a falar sozinha, como se fizesse a recomposição da lista de ingredientes que a Marquesa de Sonça levara, a seu pedido, recitando em voz baixa: Um dente de alho, um lume branco, uma pedra ônix, uma cumbuca de barro com sal grosso, um incenso de jasmim e um palito de dentes. Bruxo Neno ouviu e ficou em silêncio. Adivinhava onde sua mãe queria chegar. Indiferente ao que o filho estava pensando, a Sacerdotisa das Sombras continuou falando consigo: Toda inveja que sentem de ti, Eu ordeno que suma daqui! — Foi nessa hora, foi nessa hora – disse, soltando uma sonora gargalhada, voltando-se para o Bruxo Neno. – Viste? Tens razão. Eu mesma troquei os bridões. O que vamos fazer agora? – perguntou ao filho. — Temos uma chance de recuperar o bridão encantado. Vou celebrar, em breve, o casamento do Conde Rasku, o bonitão, com a Marquesa de Sonça, sua amiga. Dê-me o bridão que está contigo que eu dou o jeito de passá-lo pelo verdadeiro. — E quando a Marquesa de Sonça descobrir que foi lograda e ficou com o bridão falso? 272H. H. Entringer Pereira — Não tem problema, ela nem sabe que existe uma cópia do original! – tranquilizou-a. Feiticeira Zuzu, contudo, não acreditava no Bruxo Neno. Apesar de não manifestar ao filho o que pensava a respeito dele, sua maternal intuição, adicionada à astúcia adquirida com anos de prática nas atividades da feitiçaria, alertavam-na da sagacidade do bruxo e da possibilidade de ser ludibriada facilmente por ele. Ela também sabia que, às vezes, era presa fácil de sua própria desídia. Mais de uma vez, sua desatenção pesou desfavoravelmente, resultando em prejuízo financeiro, e suas mandingas voltaram-se contra si, trazendo-lhe resultados irrecuperáveis para sua capacidade e fama de Sacerdotisa das Sombras. Ponderando sobre o real valor do bridão encantado em contraponto ao acessório falsificado, Feiticeira Zuzu resolveu entregá-lo ao Bruxo Neno. Afinal, se o que tinha era mesmo a réplica, o metal não era ouro puro, as pedras eram contas de vidro coloridas e, até então, não possuía referências que atestassem a validade da peça na consumação dos feitiços intentados. Precisava correr o risco de ter de volta o verdadeiro bridão. Quanto a isso, ela confiava na sagacidade do filho.
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Teria um? Ou seriam todos eles? Fugir às convenções, pode nos levar além!
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Festa de Nossa Senhora de Santana
12/07/202512/07/2025
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Comunidade do PA Quilombo no Lago do Manso em Chapada dos Guimarães MT Brasil. Uma iniciativa que soma .
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Oficina de Sistema de Informação Geográfica (SIG) –
27/03/202527/03/2025
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A OCA Terravila Glocal tem a honra de informar, que vem aí a primeira Oficina de Sistema de Informação Geográfica (SIG) – Brigada Voluntária PA Quilombo 📅 Data: 01 e 02 de abril de 2025 📍 Local: Residência do Amorim - Comunidade PA Quilombo, Chapada dos Guimarães/MT 📌 Endereço: Rua Quilombo, Lote 36 - Zona Rural, Sítio Real Verde – CEP 78195-000 🛰 A comunidade está convidada a participar da Oficina de Sistema de Informações Geográficas (SIG), um componente do projeto Rede Floresta. Por meio do mapeamento participativo, monitoramento comunitário e vigilância remota, a oficina oferecerá treinamento teórico-prático para capacitar os participantes no uso de imagens de satélite e ferramentas SIG. 🌱 Junte-se a nós e aprenda como utilizar tecnologias para proteger nossas florestas, prevenir incêndios e promover o uso sustentável do solo e dos recursos naturais! 📌 Evento gratuito. Inscrições através do link: https://www.sympla.com.br/evento/oficina-de-sistema-de-informacao-georreferenciada-sig-brigada-voluntaria-gleba-quilombo/2879319?referrer=statics.teams.cdn.office.net&share_id=whatsapp
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ReRe conVERSA inLOCO c/ OCA TERRAVILA GLOCAL
30/11/202430/11/2024
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O Projeto OCA Terravila Glocal está recebendo a visita de Vinicius Braz e Vania Trindade, para falar da web3 e suas vantagens para a Agricultura Familiar. Os visitantes estarão dando uma prévia do que vem ser a CARAVANA 2025, pelos interiores mais distintos do Brasil
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OCA::ReRe CONversa IN LOCO no LAGO DO MANSO - MT
15/11/202415/11/2024
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OCA::ReRe CONversa IN LOCO no LAGO DO MANSO - Chapada dos Guimarães-MT No dia 06 de dezembro de 2024, o Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL recebe a presença de Vinicius Braz e Vânia Trindade (Rio de Janeiro-RJ) em sua sede (PA Quilombo/Lago do Manso), para dialogar com a comunidade, sobre a importância da web3 nas comunidades mais remotas e que utilizam os métodos tradicionais em seus cultivos na agricultura familiar.
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