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OCA TERRAVILA GLOCAL - Ocupação Cocriativa ArtFloresta

Sitio Bom Jesus - Rua Quilombo LT 56 - PA Quilombo - Lago do Manso - Chapada dos Guimarães-MT Brasil
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Categorias
Associação, Centro Cultural, DAO
Actividades
Acomodação, Agrofloresta, Aromáticas, Compostagem, Frutas, Grãos, Medicinais, Mudas, Orgânico, PANCs, Permacultura, Pesquisa, Preservação, Reciclagem, Sementes Crioulas, Voluntariado
Fone: +5569999556403
Facebook: brazdyvinnuh
Twitter: @Brazdv
Sobre
OCA - Terravila Glocal             "Alegria, fruto da Liberdade c/ Confiança!" OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA >>Manter um Polo Produtivo utilizando o conceito Agroecológico e da permacultura. Horta c/ alimentos convencionais; cultivo de ervas aromáticas, medicinais, fitoterápicas e PANCs-(Plantas Alimentícias não Convencionais); meliponicultura; manejo extrativista; canteiro de mudas de espécies nativas e/ou  ornamentais para reflorestamento local; Artfloresta (Arte como ferramenta pedagógica); turismo rural; resgate cultural; artesanato e artes em geral. >>Criar um ambiente de convivência e experimentação laboral que dialogue com liberdade a respeito de planejamento consciente e inteligente de geração de riquezas para a sustentação do Polo, com vistas para a regeneração do homem, a fim de dar visibilidade à regeneração do ambiente integral; onde o bem comum (terra, água, ar, fauna e flora) esteja além da geração de conteúdos que estimule a troca de saberes. >>TEATRO CIRCULAR REGENERATIVISTA URUCUMACUÃ - será uma edificação para marcar a presença da OCA OCUPAÇÃO COCRIATIVA ARTFLORESTA neste ambiente como inspiração ao Grande Público (Local e visitante). >>Longe do estereótipo de ações com viés de “cuidados ambientais”, o projeto recebe colaboradores para alavancar esse processo imediato, onde é oferecida hospedagem e alimentação para participação no projeto pelo período acordado entre o interessado e o projeto. O candidato oferece 4(quaro) horas de mão-de-obra diárias por semana, com dois dias de folga.  O tempo restante os colaboradores são incentivados a produzirem para conquista de seus retornos fiduciários. >>Esse sistema de “Terravila” Glocal é um conceito que vem dando certo, por oferecer aos experimentadores a liberdade de produzir o seu próprio sustento. Sem ter um mandatário centralizador. Os modelos comuns existentes, deixam um hiato que não pode ser preenchido. A proposta apresentada é de acesso e não de posse. Os colaboradores podem ser transitórios , temporários e "permanentes" pois é fato a transitoriedade da vida.  Com o processo em andamento para os trabalhos, vem ficando mais clara a proposta de uma “rede de ocupação produtiva e não de um grupo. >>A proposta “Terravila” Glocal existe em três dimensões, LOCAL, com os  colaboradores que a partir do pertencimento, se tornam moradores, por sua vez, locais; VIVENCIAIS são os colaboradores que fazem uma imersão local, por um período de tempo; GLOCAIS são os colaboradores que conhecem a proposta e participam de qualquer lugar do mundo, inclusive localmente. >>Nesta “Terravila” Glocal OCA os trabalhos de infraestrutura estão sendo inicializados. Os colaboradores dessa primeira fase terão a oportunidade de  conhecer de perto o mecanismo de se criar recursos para gerir uma ocupação que vai além da moradia e da propriedade para o plantio, onde se busca a regeneração do ser humano para que ele compreenda e se torne regenerador de sua própria natureza. Em uma rede que vem se espalhando pelo mundo, agregando pessoas que se identificam, principalmente deixando clara a importância da Alegria, Liberdade e da Confiança. Juntos somos mais fortes sem perdermos nossa pessoalidade.  § - O Projeto OCA terravila Glocal - Ocupação Cocriativa Artfloresta está sendo reconfigurado quanto ao formato das atividades locais, para deixar fluir com mais vigor tudo que vier para fortalecer nossa Ocupação. NOVA FASE. <<O que faria a equipe do Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL, estar na plataforma?>> època de chuva - Forestando <<<A PRÓXIMA ETAPA É VIABILIZAR RECURSOS PARA FAZER CAPTAÇÃO DE ÁGUA POR GRAVIDADE PARA IRRIGAÇÃO DE BERÇÁRIO DE PLANTAS>>> <<<A OUTRA AÇÃO PARA MELHORIAS É A IMPANTAÇÃO DO BERÇÁRIO DE PLANTAS +++ PARA ATENDER AO VIVEIRO DE MUDAS>>> Confirmada a proposta de multiplicação do VETIVER para substituição do capim Brachiara, em toda pastagem do sitio Marcada a iniciação da poda do VETIVER - na próxima 4a feira dia 29 de janeiro de 2025 O Projeto OCA Terravila Glocal, firma parceria com a Associação do PA Quilombo, no Lago do Manso para desenvolvimento de novas propostas. Tendência a se tornar o carro chefe das ações da OCA para suprir o campo. ***210 mudas de vetiver replantadas e o Campo de Vetiver Regenerativo começa a crescer. Será dada continuidade ao projeto do Campo em junho, quando as matrizes completam um(1) ano. Hoje 245 mudas de vetiver. O Campo terá inicialmente 10 linhas com 100 mudas. Trabalho prazeroso. Em breve nova demanda será apresentada para o deleite de todos que defendem a regeneração. O planejamento para breve é de 500 mudas de Vetiver, até o final do ano. No máximo inicio do ano que vêm. Terra pronta para começar a Agroflorest(inh)a. Importante registrar que está florestando a OCA LAB 2 - Exatamente onde surgiu a presente Ocupação. Brevemente mais notícias. Viva! A OCA - Ocupação CoCriativa artFLORESTA tem um tempo, que está parceira da Associação do PA Quilombo, no Lago do Manso - Chapada dos Guimarães-MT, mas só agora me ocorreu de tornar isso público. Vacilei, mas vamos aos poucos corrigindo esses lapsos. Como o planejado, estou trabalhando, para dedicar meu tempo ao cultivo de espécies menos comuns. Como forma de incentivar a agricultura familiar a ter uma diversidade maior de cultivares.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA - LIVRO 3 CAP. 68
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A VOLTA DO SANTUÁRIO Desde que voltaram do Santuário do Mago, no primeiro período de sua iniciação nos mistérios e nas ciências naturais, letras e números, Príncipe Urucumacuã e Príncipe Kurokuru manifestavam diferentes formas de compreender fatos e acontecimentos. Um se dedicava com afinco e devoção às elevações espirituais, artísticas e ciências ocultas. Outro importava-se em aplicar métodos práticos na pesquisa de fórmulas com vegetais e receitas perfeitas para conhecer e curar os males do corpo. Mago Natu apreciava as aptidões individuais e gostava de passar grande parte de seu tempo alimentando de desafios a inteligência de ambos, para que desenvolvessem sempre mais seus dons inatos, talentos morais, intelectuais e espirituais. Surpreendiam, não raro, seus pais com lembranças de episódios passados em épocas de tenra idade, quando nem falavam, nem andavam, mas relatavam com detalhes ocorrências que poucos se davam conta ou recordavam, porque não estavam registradas nos manuscritos da Professora Plínia. Uma noite, depois de jantarem, Príncipe Urucumacuã aguardou sua vez de animar a conversa que se prolongara até a hora de dormir e perguntou ao pai: — Meu pai, tivestes notícia do que aconteceu ao Rei Inci, depois que se enamorou da Princesa Zônia e a pediu em casamento, tirando-a da Casa da Tolerância? Rei Médium olhou para o Mago Natu, como se dependesse de seu consentimento para responder à pergunta do filho. Mago Natu, esboçando um sorriso maroto, antecipou a resposta: — Essa parte não fui eu quem contou. Tampouco consta nos registros da Professora Plínia, que leram enquanto internos no Santuário. Todavia, tenho para mim que ele sabe exatamente tudo o que aconteceu. — O que te lembras a esse respeito, meu filho? Ou melhor, a pergunta deve ser outra: quem te falou a respeito disso? — Meu pai, gostaria que me falasse sobre a Casa da Tolerância, porque me vêm à memória recordações dos rostos das quatro damas que por lá permaneceram algum tempo. — Lembras-te dos nomes delas? — Penso que sim: Princesa Zônia, Princesa Arraia, Princesa Pir Anhá e Princesa Ariranhá. — Exatamente. As outras duas, Princesa Putha e Princesa Ti, se encantaram antes mesmo de ir para a Casa da Tolerância; e as princesas Arraia, Pir Anhá e Ariranhá também se encantaram tempos depois. A única delas que vive atualmente numa região muito distante deste reinado é a Princesa Zônia. Quando Rei Inci declarou amar Zônia, tirou-a daquele lugar e mudou-se com ela para muito longe. Dizem que estão criando cavalos e que têm seis filhas, todas muito valentes, excelentes cavalgadoras, belas como a mãe e bravas como o pai! — Ufa! – exclamou Kurokuru. – Acho que depois dessa vou dormir. Boa noite a todos. — Amanhã, então, continuaremos com a história – interveio Mago Natu, para que o Príncipe Kurokuru também pudesse apreciá-la.
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URUCUMACUÃ BY H.H.ENTRINGER PEREIRA LIVRO 3 CAP. 67
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AS BODAS DO BRUXO Às vésperas do casamento, Rei Mor ordenara que todo o Palácio de Trindade fosse ornamentado, nos moldes do que presenciara no casamento do Rei Médium e da Rainha Gônia, no Palácio Fortaleza, no Reino do Elo Dourado. Que não se poupassem trabalho, nem ouro, nem sedas, nem flores, nem os mais finos manjares para celebrar as bodas de sua mais bela serva e de seu mais recente e poderoso vassalo, o intrépido e enigmático Bruxo Neno. Embora a movimentação no palácio fosse intensa, não havia clima de alegria no ar. Os serviçais amigos de Murmur, notavam sua fisionomia tristonha, melancólica, como se a ela tivesse sido imposto um grande sacrifício ou anunciada uma eminente desgraça. Sua condição de serva não lhe permitia desacatar as ordens do rei, tampouco externar descontentamento, nem revelar que guardava em segredo o verdadeiro amor que nutria pelo jovem cuidador de cavalos, o coudel Jóque. Um moço bonito, educado e respeitoso, que a tratava com mimos e atenção nas raras vezes em que fortuitamente se encontravam. Jóque creditava à bela e bondosa Murmur ter escapado dos severos castigos que o Rei Mor aplicava aos criados negligentes, porque uma vez esquecera aberto o portão do cercado dos quadrados dos catetos e os animais invadiram o quadrado da Hípica Tenusa, ocasionando grande dano aos gramados, deixando-os em polvorosa. Murmur assumiu a culpa do incidente perante o rei e este, pela admirável beleza e lealdade da serva, absolveu-a da falta, mas não isentou de subjugá-la, ficando a seu talante escolher o homem com quem ela deveria se casar... ao cair da tarde, dois dias antes da realização do casamento, chegaram grandes comitivas de reis, rainhas, príncipes e princesas, além de muitos nobres convidados. Quase todos haviam participado, recentemente, do casamento do Rei Médium e da Rainha Gônia. À exceção de uns poucos que não puderam comparecer e daqueles que se transformaram, encantados em seres das águas pelas artimanhas do próprio Bruxo Neno, o Imperador, Rei Médium e a Imperatriz, Rainha Gônia, enviaram seus mensageiros com luxuosos e valiosos presentes, justificando suas ausências. Rainha Gônia e o Rei Médium passeavam, em temporada, pelo Reino da Madeira, onde aguardariam a chegada do Mago Natu para, então, retornarem ao Reino do Elo Dourado; e Rainha Gônia não se dispunha a viajar tão longas distâncias seguidamente. Ao abrir a mensagem selada com a marca do Império do Elo Dourado, Rei Mor disfarçou sua ira. Havia despendido grande fortuna para celebrar um casamento com pompa e circunstância, que em nada ficasse devendo ao casamento do seu eleito rival, Rei Médium, para mostrar que no Reino de Trindade também havia luxo e civilidade. Recepcionadas as comitivas, o Rei Mor ainda aguardava os derradeiros convidados que honrariam aquela Casa Real: Rei Naldo, do Reino de Avilhanas e seu belo irmão, o temível sedutor Conde Rasku. Já anoitecendo, movimento incomum nos portões do Palácio de Trindade fez com que o arauto real tocasse mais uma vez sua trombeta. O recepcionista do Palácio, Senhor Domo, acompanhou os recém-chegados à presença do Rei Mor. 274H. H. Entringer Pereira O primeiro a ser recebido, o Conde Rasku, com a noiva, a exuberante e fogosa Marquesa de Sonça e suas comitivas, também traziam mensagem do Reino de Avilhanas, muitos presentes e mais uma justificativa: o Reino de Avilhanas igualmente festejava o nascimento recente de seu herdeiro, o Príncipe Gesu Aldo. Desculpando-se pelo não comparecimento, Rei Naldo e sua Rainha Araci sequer mencionaram a indiferença da soberana RARA, Rainha Alzira, àquela pomposa celebração: na qualidade de avó do príncipe recém-nascido não convinha que se ausentasse do Palácio das Esmeraldas. Além do que, somente ela conhecia os esconjuros apropriados para afastar a fantasmagórica Mula Sem Cabeça, caso aparecesse para assustar a parturiente ou causar danos à criança. Não sairia do palácio até o dia em que fosse celebrada a consagração e registro do nome do príncipe infante, assim que o Mago Natu, que estava viajando para além-mar, regressasse. E ainda que não houvessem todas aquelas justificativas, por motivos pessoais, tais como sua figadal inimizade com a Feiticeira Zureta e antipatia incurável pelo Bruxo Neno, jamais se permitiria servir de alvo aos comentários jocosos de ambos ou da curiosidade irônica dos que atribuíam a ela o surgimento do aterrorizante fantasma da Mula Sem Cabeça. Conde Rasku explicou ainda que o Palácio das Esmeraldas passava por reformas, visando ao embelezamento para a próxima grandiosa comemoração – seu casamento, cuja data ele viria marcar e anunciar aos presentes naquela grande festividade, depois que combinasse com o celebrante, o Bruxo Neno, mesmo a contragosto de sua mãe, que não o abençoava pela escolha a nenhuma das duas coisas: nem a noiva e nem o celebrante do ritual. Rei Mor ouviu as escusas do Conde Rasku um pouco desgostoso porque, dentre os convidados, ainda que nobres e reis e rainhas e príncipes e princesas, era o comparecimento dos que não vieram, Rei Médium e Rei Naldo, que mais o deixaria lisonjeado pelo grande prestígio de que gozavam os dois mais importantes senhores daqueles esplendorosos reinados. Para dissimular a contrariedade, vangloriava-se junto aos pares de ter organizado empolgante corrida de cavalos; a melhor, jamais vista. Não perdia oportunidade também de encorajar os reis vizinhos a adotar o jus primae noctis, sua inusitada lei e recente distração: o direito de passar as primeiras horas da noite no leito de núpcias das donzelas que se casassem com seus súditos, enquanto estes, os legítimos maridos, obrigavam-se a escafeder-se para não serem passados a fio de espada, coisa que o divertia bastante. Rei Boio e Rei Kornio, os que mais se interessaram pela novidade, haviam perdido seus primogênitos e futuros herdeiros durante os festejos do casamento do Rei Médium quando, encantados pelas ações mágicas do Bruxo Neno, ficaram transformados em seres viventes nas águas: os peixes Surubim e Pintado. Rei Boio, o que mais se mostrou interessado em esmiuçar os procedimentos, parecia simpático à nova lei, inquiriu: — Quanto aos possíveis filhos, gerados nestas circunstâncias, como sabereis de sua verdadeira paternidade? — Se os maridos conseguirem se safar da espada dos Caçadores de Cornos, haverão de criá-los como legítimos. 275H. H. Entringer Pereira — Caso não tenham esta sorte, tal como sucedeu ao infeliz Chupinguaia, quem haverá de assumir a paternidade? O próprio rei? — Amigo Boio, trata-se de uma lei extravagante. Quem pode o mais, pode o menos. O rei não é obrigado a cumpri-la, se não quiser. Além do que, se a donzela não me interessar, nem satisfizer meus próprios caprichos, que o Bruxo Neno jamais ouça isto, revogo o dispositivo ao meu gosto. — Não é esta a questão, amigo Rei Mor. Quero saber sobre o direito de primogenitura... no vosso caso, por exemplo: não tens filhos ainda. Se a viúva de Chupinguaia, à época, houvesse engravidado, que farias com relação ao filho gerado dela? Poderia ser vosso sucessor, caso vossa rainha não vos desse um herdeiro legítimo? — Hum, bem... Sabes que não pensei a esse respeito! — E, suponhamos, se desta vez vossa bela serva Murmur engravidar, como sabereis de quem é o filho ou filha? Tanto pode ser vosso, quanto do Bruxo Neno, concordas? — Rei Boio, não me agradam suposições. Se até hoje ainda não fiz um filho, não será desta única vez, ainda que logo se concretize o vaticínio da Feiticeira Zuzu. Rei Kornio ainda não havia se imiscuído no assunto. Apenas prestava atenção às indagações do amigo, Rei Boio. Confuso quanto aos efeitos práticos daquele costume recém-implantado no Reinado de Trindade, Rei Kornio pensava contrário à adoção em seus domínios. Se a lei de Trindade fosse adotada em outros reinados, em pouco mais de quinze anos haveria combates, intrigas e até guerras entre os pretendentes aos tronos. — Eu não teria tantas certezas. A primeira parte da vossa lei parece razoável... Mas as consequências podem fazer com que se criem nos reinados problemas que ainda não existem. — Estás a se esquecer de que Rei Naldo fez um filho antes de se casar com Araci e nem por isso o bastardo terá direito ao trono de Avilhanas? — Sim, mas neste caso o menino Mulato sabe de quem é filho e, quando nasceu, seu pai, Calico, ainda não era rei. — Deveras, Rei Boio. Problemas de outros reinados também não nos interessam, concordas? Quero apenas cumprir uma lei que neste Reinado de Trindade estará em vigor, enquanto eu quiser. Que tal irmos andando até a Hípica Tenusa para encontrar com o Conde Rasku e o Bruxo Neno? — Uma pergunta mais, Rei Mor: como foi o “acerto” que fizestes com Bruxo Neno para deixar o Elo Dourado e vir morar em vosso palácio? Rei Boio também se interessou por saber outros itens do “acordo”. Parecia notório que o Bruxo Neno em qualquer lugar que morasse era passivo de causar problemas ao invés de resolvê-los: — Aceitei a mudança do bruxo para os meus domínios porque a mãe dele, a Feiticeira Zuzu, já estava morando em minhas terras há alguns anos. Senti que os dois atuando em meu favor poderiam me fazer grandes obséquios e, por enquanto... não tenho motivos para me arrepender. Se me causarem problemas, elimino os dois. Tenho meus próprios recursos para lidar com feiticeiras e xamãs! — Bem, amigos, vamos para a hípica. Nossos cavalos precisam nos ver e temos também que massagear nossas éguas – brincou Rei Kornio. 276H. H. Entringer Pereira Caminhando pelas alamedas floridas e sombreadas, prosseguiram a conversa, os três, até a Hípica Tenusa. — Onde estão o Conde Rasku e o Bruxo Neno? – quis saber o anfitrião, indagando ao coudel Jóque, que escovava a égua Tempestade. — Saíram agorinha e, pelo rumo que tomaram, foram ao Bosque da Solidão. Os três reis separaram-se e cada um se movimentou em direção às baias onde estavam seus próprios animais. Os coudéis, tratadores e domadores das admiráveis éguas, organizavam os preparativos para o “fabuloso” turfe, anunciado como parte da programação comemorativa no dia seguinte ao casamento do Bruxo Neno com a bela criada Murmur.
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Mesmo com a estiagem, que deixa as plantas muito estressadas, ainda dá para dizer vale a pena todo esforço, ao ter que baldear água, para garantir a sobrevivência de qualquer produção. Aqui, as primeiras fotos são de plantas regadas manualmente, plantas novas ainda. As duas últimas são plantas adultas, que carecem inclusive de poda, no início das chuvas receberão todo cuidado. Neste caso estou falando mais uma vez, do Vetiver.
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Os leitores vão dizer que eu não tenho outro assunto. Acontece que eu não sou criador de conteúdo. Eu registro aquilo que é necessário. Venho aprendendo, com o capim VETIVER, a ser resiliente. Neste período do ano, quando a estiagem é implacável, apenas a vegetação com perfil que se identifica com o cerrado, permanece por aqui. E exuberante. Elegi oVetiver, meu preferido e o carro chefe dessa nova fase da OCA OCUPAÇÃO CoCOCRIATIVA ARTFLORESTA TERRAVILA GLOCAL.
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A memória foi bem melhor, agora registrar é necessário. Para não perdermos a emoção de ver como tudo evolui. Aprendemos muito conosco, mesmos.
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URUCUMACUÃ By H.H.Entringer Pereira LIVRO 3 CAP 66
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A CHEGADA DA SACERDOTISA DAS SOMBRAS Logo que a Feiticeira Zureta chegou ao Palácio de Trindade, recebida com esfuziante alegria e entusiasmo pela Rainha Sissu, que a ela dedicava especial consideração de cortesã, dispensando-lhe tratamento de fidalga, Rei Mor providenciou para que mãe e filho pudessem conversar e combinar os detalhes para a realização da cerimônia nupcial. O encontro do Bruxo Neno com a Feiticeira Zureta foi estrepitoso e emblemático. No momento em que se abraçaram, mãe e filho emitiram sonora gargalhada, juntaram-se de costas um para o outro, como convinha as suas tradições, depois viraram-se de frente e tocaram as palmas das mãos, invertendo os movimentos sequencialmente de cima para baixo e de baixo para cima. Coincidentemente, um corisco riscou os céus enegrecidos de nuvens carregadas para chover, precipitando-se com grande estrondo, próximo do pátio onde os dois se confraternizavam. Alguns cortesãos ficaram assustados e outros admirados com o inusitado daquele encontro, julgaram que os poderes sobrenaturais dos feiticeiros eram manifestos sob a forma de raios e trovoadas que eles próprios desencadeavam. Rainha Sissu logo tratou de convidar a Feiticeira Zuzu para a refeição da tarde, já servida em homenagem à visitante, dando ordens à criadagem para que acomodasse a bagagem da ilustre hóspede dos reis de Trindade nos aposentos localizados numa das quatro Torres de Vigia, na Ala Sul do Palácio. Ao Bruxo Neno não agradou a maneira festiva pela qual Feiticeira Zuzu foi acolhida no Palácio de Trindade, por ser muito mais eufórica e cerimoniosa do que a ele. O próprio Rei Mor, rotineiramente de modos reservados, glaciais e protocolares, desmanchou-se em rapapés, rasgando escancarados elogios à presença espalhafatosa da Sacerdotisa das Sombras, bajulando-a como se fosse apenas ela dotada de poderes extraordinários, superiores aos que o Bruxo Neno também ousara demonstrar. Passada a euforia pela recepção da Feiticeira Zuzu, Bruxo Neno solicitou ao Rei Mor que melhor o acomodasse, transferindo seus pertences aos aposentos da Torre de Vigia da Ala Sul do Palácio de Trindade, para que pudesse estar mais próximo de sua mãe e, assim, tratarem dos assuntos de interesse do reinado, sem a importunação da distância entre os locais onde os dois estivessem instalados. Bruxo Neno justificou ainda que havia assuntos de secretíssimo interesse dos bruxos e feiticeiros que somente a eles era pertinente conversar. Além do mais, não se encontrava com a mãe desde o episódio da morte da Bruxa Bizarra, aquela que conforme todos sabiam morreu no grito. Ao Rei Mor, pouco importava que os dois visitantes ficassem naquele ou noutro cômodo do Palácio. Interessava-o somente o desfecho do casamento da serva Murmur com o Bruxo Neno e que, no ensejo da visita da mãe feiticeira ao filho bruxo, conforme o vaticínio da própria carocha, finalmente a Rainha Sissu engravidasse. Rei Mor assentiu com o pedido, mas fez uma exigência: — Bruxo Neno, sabes que na Ala Sul, próxima à Torre de Vigia do Palácio, há um compartimento reservado à rainha enquanto esperará pelo retorno do rei do leito nupcial de seus súditos? A rainha ali aguardará minha volta, para depois tornarmos aos aposentos reais... O Senhor compreendeu? 269H. H. Entringer Pereira — Perfeitamente, majestoso Rei Mor. Já estou ciente das regras do jogo. — Saiba também que todos os aposentos do Palácio serão vasculhados pelos Caçadores de Cornos, incluindo o vosso e o da vossa mãe. — Nada mais justo, Senhor Rei, nada mais justo. Senhor, permita-me dirigir-vos um pedido para que me autorizeis proceder uma magia que muito alegrará vossa rainha? — Convém que estejas bem certo do que quereis, Bruxo Neno. Achas mesmo que a rainha gostará do que intencionas? — Majestoso Rei Mor, caso não a agrade, possa vossa realeza me aprisionar ou expulsar-me de vossos domínios. — Se é assim, diga o que pretendeis. — Senhor Rei, bem sabeis que a Feiticeira Zuzu é possuidora do bridão mágico, que nas nossas mãos converte em realidade todos os nossos desejos, por mais absurdos que pareçam... Pois bem, posso usar o bridão produzindo um encantamento que fará vossa rainha sentir a vossa presença sempre ao lado dela, como se Vossa Realeza não estivesses na cama com vossa serva, quero dizer, com minha esposa... Os olhos da Rainha Sissu acenderam-se num brilho de satisfação. Desgostava-lhe imensamente o comportamento lúbrico do marido, disfarçado numa tradição imposta por ele mesmo, para satisfazer-lhe a lascívia acobertada pelo manto de suposta honraria. Antes que o Rei Mor entendesse exatamente do que se tratava a magia, a rainha antecipou-se num gritinho de exultação e manifestou-se: — Ah, que felicidade! Bem que me agrada esta proposta. Que boa sorte este encontro de mãe e filho! Rei Mor não compreendera exatamente a proposta de Bruxo Neno, mas diante da assertiva da Rainha Sissu, para que ninguém percebesse a lentidão de seu raciocínio, autorizou: — Bruxo Neno, já te certificastes de que a Feiticeira Zuzu trouxe consigo o bridão encantado? Antes que dirigisse a palavra a sua mãe, a Sacerdotisa das Sombras, pressentindo a embaraçosa situação que poderia colocar seu filho, caso se negasse a colaborar com ele na concretização de seu plano, adiantou-se, explicando: — Majestoso Rei Mor, Boníssima Rainha Sissu, para vosso bem, trabalharei junto com meu filho para concretizar o que anda dizendo – olhou para o Bruxo Neno, piscou o olho e compreendeu que o filho arquitetava mais do que uma simples magia ou um inofensivo feitiço. — Neste caso, asseverou Rei Mor, terás meu inescusável apoio. Como haverás de proceder? Bruxo Neno, pego de surpresa pela pergunta do Rei Mor, uma vez que ainda não combinara com a Feiticeira Zureta sua vindita contra o direito imposto naquele reinado, em que ao rei somente era dado o privilégio de gozar a primeira noite de núpcias com as jovens esposas ainda virgens, evadiu-se da pergunta, tangenciando: — Majestoso Rei Mor, preciso que me autorizes celebrar, junto de minha mãe, um novo ritual na hora do meu casamento com Murmur. Não vou, nem ouso, modificar vosso costumeiro direito de primeiramente deitar-se com a noiva, até a meia-noite. Não 270H. H. Entringer Pereira se trata disso. Ficai tranquilo que trará satisfação à noiva e muito mais a vossa rainha, porquanto durante o tempo em que estiveres em outro leito, não sentirá vossa ausência, como se em vosso leito estivesses! — Explique-se melhor. Como fará isto, Bruxo Neno? Senhor Rei Mor, usarei os poderes de encantamento do bridão mágico que está com minha mãe, para que a vossa rainha sinta como se vós estivésseis em carne e osso, ao lado dela, na vossa cama. Ela sequer sentirá sua ausência. E vós sentireis estar somente e apenas com a jovem noiva, Murmur, até que seja a meia-noite. Também não podereis passar deste horário... — Hummm... saiba que a Rainha Sissu permanecerá fechada em seus aposentos, na Torre de Vigia... Com dois Caçadores de Corno à entrada do quarto, trancada à chave, que levarei comigo!!! Rei Mor retirou-se para a Hípica Tenusa, onde os coudéis, tratadores e domadores de suas admiráveis éguas organizavam preparativos para o fabuloso turfe, parte da programação comemorativa do casamento do Bruxo Neno com a bela serva Murmur. O próprio rei cuidava daquelas preliminares porque o hipismo era seu mais favorito e predileto lazer. Seu hipódromo era modelar e atraía outros diletantes do mesmo esporte, tanto quanto as Corridas Numpéssó fascinavam os habitantes do Elo Dourado. Os grandes rivais nas disputas pelos primeiros lugares na Hípica Tenusa eram os corcéis Água Doce e Temperado, de propriedade da criação do Rei Médium, versus as éguas Tempestade e Sombreada, do haras do Rei Mor. Outros animais também pontuavam entre os favoritos, mas estes elevavam as apostas ao paroxismo. Feiticeira Zuzu e o Bruxo Neno aproveitaram a retirada do Rei Mor e da Rainha Sissu, instalando-se nos aposentos próximos um do outro, na Torre de Vigia da Ala Sul. O aposento no qual a rainha permaneceria até que o marido voltasse do leito nupcial, a sua própria cama, após a meia-noite, localizava-se entre o cômodo que a feiticeira ocupara e o outro requisitado pelo bruxo, sob alegação de que convinha aproximar-se de sua mãe para executar melhor as mandingas que necessariamente fariam juntos. O Bruxo Neno andava pensativo com o desenrolar dos acontecimentos porque recebera do Rei Mor uma advertência seguida de uma sentença. Precisava urgente dos préstimos da Sacerdotisa das Sombras, pois que, se após o encontro dos dois, nada acontecesse com relação à gravidez da Rainha Sissu, não só o Bruxo Neno seria expulso do Reinado de Trindade, como a Feiticeira Zuzu teria também de se mudar de residência. A ineficácia de seu desempenho quanto ao encantamento da tiara o preocupava. Sua esperança de concretizar o feitiço de engravidar a rainha ganhava reforço no ritual utilizando o bridão encantado. Este sim, haveria de surtir o efeito desejado. A conversa entre mãe e filho parecia mútua prestação de contas. Feiticeira Zuzu relatava suas proezas, desfiando contas e contas de um colar de inumeráveis feitos mágicos. Por sua vez, Bruxo Neno esmiuçava suas façanhas, contando também as mais ousadas, cujas consequências nem mesmo o Mago Natu, com toda sabedoria e argúcia, impediu. Esqueceu-se de relatar sobre a trágica transformação de Quelônia Taruga na Tal Taruga; o desaparecimento, diante dos seus olhos, da Joia da Tia Ara na areia; e o 271H. H. Entringer Pereira fantástico surgimento das bagas da “Mãe do ‘Y’”. Feiticeira Zureta nem parecia satisfeita nem indiferente ao desempenho do filho. Apenas salientou sua capacidade de transformar pessoas em peixes, estando de posse de uma joia que nem chegara a ser propriamente um instrumento de encantamento. — Se é do jeito que me dizes, para quê queres o meu bridão? – indagou-lhe a Feiticeira Zuzu, ressabiada de entregar seu mais precioso acessório ao bruxo e perdê-lo para sempre, porque o filho, certamente, se lembrava das artimanhas e ardis que ela própria lhe ensinara. — Minha mãe, preciso do seu bridão porque tu te confundistes quando vendestes a cópia para a Marquesa de Sonça. — Do que estás me acusando? Que eu entreguei o bridão errado? — Exatamente, Feiticeira Zuzu. Se o bridão que está contigo fosse o verdadeiro, o ritual de magia que celebraste com o Rei Mor e a Rainha Sissu teria resultado. A rainha, com certeza, já teria engravidado, o filho nascido e eu hoje não estaria tão preocupado... — Hum, parece que tens razão. Quem mais sabe que eu mandei fazer uma cópia do bridão de ouro para vender? — Tu, o ourives e eu. Bem... quero dizer, não muito bem. Eu mesmo só desconfio. — Então só tu e eu sabemos, porque, logo que o ourives me entregou o bridão copiado, eu cuidei de encantá-lo num corvo, para ter certeza de que ele não me lograria, triplicando o bridão e me passando o falso como verdadeiro. — Esperta, tu. Mas acho que a Sonça foi mais esperta ainda. Feiticeira Zuzu sentiu que o filho falava com alguma razão. Relembrou nebulosos acontecimentos da noite de lua crescente em que celebrou com a Marquesa de Sonça, na clareira do florestal, o ritual para que sua cliente encontrasse a grande paixão de sua vida e afastasse de vez a misteriosa e ignorada rival que ameaçava colocar sua fortuna por água abaixo. Recapitulando o sucedido, reconstituiu na memória todos os ingredientes que usara e o passo a passo para atingir o propiciatório. Começou a falar sozinha, como se fizesse a recomposição da lista de ingredientes que a Marquesa de Sonça levara, a seu pedido, recitando em voz baixa: Um dente de alho, um lume branco, uma pedra ônix, uma cumbuca de barro com sal grosso, um incenso de jasmim e um palito de dentes. Bruxo Neno ouviu e ficou em silêncio. Adivinhava onde sua mãe queria chegar. Indiferente ao que o filho estava pensando, a Sacerdotisa das Sombras continuou falando consigo: Toda inveja que sentem de ti, Eu ordeno que suma daqui! — Foi nessa hora, foi nessa hora – disse, soltando uma sonora gargalhada, voltando-se para o Bruxo Neno. – Viste? Tens razão. Eu mesma troquei os bridões. O que vamos fazer agora? – perguntou ao filho. — Temos uma chance de recuperar o bridão encantado. Vou celebrar, em breve, o casamento do Conde Rasku, o bonitão, com a Marquesa de Sonça, sua amiga. Dê-me o bridão que está contigo que eu dou o jeito de passá-lo pelo verdadeiro. — E quando a Marquesa de Sonça descobrir que foi lograda e ficou com o bridão falso? 272H. H. Entringer Pereira — Não tem problema, ela nem sabe que existe uma cópia do original! – tranquilizou-a. Feiticeira Zuzu, contudo, não acreditava no Bruxo Neno. Apesar de não manifestar ao filho o que pensava a respeito dele, sua maternal intuição, adicionada à astúcia adquirida com anos de prática nas atividades da feitiçaria, alertavam-na da sagacidade do bruxo e da possibilidade de ser ludibriada facilmente por ele. Ela também sabia que, às vezes, era presa fácil de sua própria desídia. Mais de uma vez, sua desatenção pesou desfavoravelmente, resultando em prejuízo financeiro, e suas mandingas voltaram-se contra si, trazendo-lhe resultados irrecuperáveis para sua capacidade e fama de Sacerdotisa das Sombras. Ponderando sobre o real valor do bridão encantado em contraponto ao acessório falsificado, Feiticeira Zuzu resolveu entregá-lo ao Bruxo Neno. Afinal, se o que tinha era mesmo a réplica, o metal não era ouro puro, as pedras eram contas de vidro coloridas e, até então, não possuía referências que atestassem a validade da peça na consumação dos feitiços intentados. Precisava correr o risco de ter de volta o verdadeiro bridão. Quanto a isso, ela confiava na sagacidade do filho.
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Teria um? Ou seriam todos eles? Fugir às convenções, pode nos levar além!
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Se para alguns é, ou ao menos parece irrelevante, sinto muito em dizer que não. Já quebrei cabo de enxada, martelo, machado, foice? Aproveitar o momento e deleitar-se com o imprevisto. Sem como improvisar. Não tem outra foice. Agora eu entendi...
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URUCUMACUÃ By H.H.Entringer Pereira Livro 3 CAP. 65
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O DILEMA DO BRIDÃO No Reinado de Trindade, a notícia das bodas do Bruxo Neno com a serva Murmur espalhou-se rapidamente, transformando-se em assunto de todas as conversas. A exclusividade dos convites para aquele casamento estendia-se aos reis, rainhas, príncipes, princesas e outros nobres, como se o Bruxo Neno fizesse parte da realeza como legítimo fidalgo da Corte do Rei Mor. O empenho do rei em proporcionar ao bruxo e a sua serva cerimônia nupcial com a presença de tão grande número de convidados ilustres não só realçou a soberba do bruxo, como contribuiu para aumentar o prestígio que já conquistara entre os palacianos. A empáfia característica dos oportunistas guindou-o à condição, sem paralelos, de primeiro colocado na lista dos aduladores, baba-ovos, cheira-cheiras, escova-botas, lambe-cus, lambe-esporas, louvaminheiros, puxa-sacos, sabujos e xeleléus do Rei Mor. Com livre acesso a todos os salões e alas do Palácio de Trindade, Bruxo Neno circulava impávido, impressionando a criadagem com seus cabelos totalmente raspados e modos esdrúxulos, desfilando vestes exageradamente ornamentadas, mas de corte vulgar, arremedos de mau gosto, copiados à maneira dos trajes do Rei Mor – tentativa invejosa de apresentar-se semelhantemente ao soberano, favorecido que era pela aparência física de ambos. Para ostentar prestígio, angariar fama e forçar o reconhecimento de sua superioridade e poder pessoais, baseado no bom êxito de seu desempenho nas práticas de magias e feitiços, Bruxo Neno não poupava inventar novos rituais e celebrações extravagantes com o propósito de ser admitido e admirado não apenas como bruxo, mas como honorável cortesão do Rei Mor. Tornou-se uma eminência parda, obrigatoriamente requisitado para emitir pareceres que abrangiam desde assuntos financeiros aos sentimentais dos palacianos. A maior parte do tempo posava ao lado do Rei Mor, suscitando ciumeiras que facilmente descambavam em obscuras disputas no espaço das considerações reais. Rei Mor não escondia nem disfarçava a precedência do bruxo sobre os demais súditos, distribuindo simpatias e favores à custa da inimizade e do despeito provocados nos desafetos. Corria à boca miúda que o Rei Mor planejava uma festa como nunca vista no Palácio de Trindade, para celebrar as bodas do Bruxo Neno com sua bela e cândida serva, Murmur. Além de bela, Murmur era trabalhadeira, dedicada e fiel, empenhada nos afazeres que garantiam comodidades não só ao rei como à sua intratável e insatisfeita mulher, a Rainha Sissu. Murmur era uma donzela órfã desde criança, pudica e inefável, diferente de todas as outras servas, amas e mucamas pelos modos gentis, comportamento recatado e submissão total às ordens das governantas, da Rainha Sissu e do Rei Mor. Quando o burburinho do cogitado casamento se alastrou pelo Palácio de Trindade, as colegas de Murmur, invejosas da posição a que ela ascenderia no alto escalão da nobreza, inventaram incontáveis lorotas, na tentativa de impedir a consumação daquelas núpcias. Mesmo atacada em sua honra pelas mais torpes e abjetas críticas, a indefesa Murmur se calava diante dos insidiosos comentários, porque no 262H. H. Entringer Pereira íntimo, não sentia pelo Bruxo Neno qualquer admiração que lhe motivasse querê-lo por marido. Tampouco lhe agradava o costume imposto pelo Rei Mor, o jus primae noctis, consistente no direito de o rei se deitar na primeira noite das núpcias junto à jovem esposa, se ainda virgem, enquanto o marido se mantivesse ausente, ocupando-se de permanecer oculto até a meia-noite, proibido, sob pena de morte, de se aproximar de seu próprio leito nupcial até que se esgotasse o derradeiro minuto do dia do casamento. O tradicional costume do jus primae noctis vigorava apenas no Reinado de Trindade, invenção ímpar de Rei Mor. Não havia se alastrado pelos reinados vizinhos porque a liberalidade imposta sofreu críticas contundentes dos outros soberanos. Havia um perigo iminente de gerar filhos ilegítimos naquelas relações espúrias e licenciosas, cuja ameaça aos direitos sucessórios dos herdeiros reais os deixava vulneráveis a revoltas e rebeliões dos bastardos. Além do que, configurava-se professo sacrilégio ao ritual da fidelidade sagrada no matrimônio. Reticentes, as esposas pouco se manifestavam a respeito da despudorada libertinagem do Rei Mor, atribuindo como resultado daquela prática abusiva e repugnante o castigo da sua esterilidade crônica. Aproximando-se a fase da lua propícia à realização de casamentos, Rei Mor tencionava cumprir, de uma vez por todas, o pacto celebrado com o Bruxo Neno, entregando-lhe por esposa a meiga e bela Murmur, para que o encantamento da tiara, pactuado desde o casamento do Rei Médium com a Rainha Gônia, finalmente se concretizasse, resultando na ansiada gravidez da Rainha Sissu. Convocando o Bruxo Neno em audiência, Rei Mor o informaria de suas intenções. Ao adentrar o Salão do Rei, encenou sua cordial saudação, diferenciada dos outros vassalos, que ajoelhados, tocavam com as mãos postas os joelhos do rei. Bruxo Neno preferia tocar-lhe diretamente nos testículos, pelo que lhe valeu o cognome de Bruxo Neno, o Puxa-Saco. Rei Mor cultivava a esperança, acreditando que os resultados dos feitiços encadeados pelo bruxo estariam prestes a acontecer. Reforçado pela confiança depositada nos poderes extraordinários do bridão encantado, também utilizado nos rituais orquestrados pela Feiticeira Zureta, mãe do Bruxo Neno, moradora do Reinado de Trindade há algum tempo, desta vez, acreditava o Rei Mor, o feitiço haveria de funcionar: conseguiria finalmente engravidar a Rainha Sissu. À época em que a Feiticeira Zuzu, a Sacerdotisa das Sombras, colocou-se à disposição do Rei Mor para formalizar o encantamento que propiciaria a gravidez da Rainha Sissu, concluindo o ritual, ela vaticinou: “Assim que mãe e filho habitarem num só Reino, duas crianças nascerão. Uma será concebida com fausto e riqueza, no leito da rainha. A outra, em modesto leito de servos. A beleza, a bondade e a formosura apenas a uma delas assistirá. A maldade, a pestilência e a feiura da outra em serpente se converterá e, antes que se casem, ambas se precipitarão ao encontro de um grande amor, uma na água e outra no fogo.” A derradeira parte daquele presságio deixou Rei Mor confuso, atordoado. Pediu que a Feiticeira Zuzu lhe explicasse o significado daquele presságio. Todavia, encerrado o ritual, a Sacerdotisa das Sombras não lembrava uma palavra sequer do que havia dito, tampouco saberia decifrar suas próprias previsões. A necessidade de compreender o enigmático vaticínio motivou Rei Mor requisitar Bruxo Neno em 263H. H. Entringer Pereira audiência especial para que traduzisse aquela sentença. Era conveniente também aproveitar a oportunidade para cientificá-lo dos costumes vigentes naquele reinado, quanto ao direito personalizado pelo soberano de dormir a primeira noite com a nubente de qualquer um dos seus súditos, principalmente sendo o noivo viúvo e a noiva virgem. Tão logo notificado da convocação do Rei Mor, o bruxo prontificou-se, adentrando o salão de audiências. Prostrou-se em reverência, conforme seu costumeiro modo, tocando-o nas intimidades e saudando-o, à semelhança do Mago Natu, quando se dirigia ao Grande Rei: — T.U.V.X.Z.! Respondendo à saudação, Rei Mor também repetia a sequência de letras, ainda que não soubesse o que elas significavam para o bruxo, nem o bruxo soubesse o que elas significavam para o rei. Indo diretamente à parte que lhe interessava, Rei Mor indagou: — Bruxo Neno, já aprendeste sobre as tradições do Reino de Trindade quanto ao direito de o rei deitar-se a primeira noite com as virgens casadouras? — Ora, ora, Senhor Rei. Não só aprendi como estou de acordo e considero muito justo. Vossa realeza bem sabe o que faz. Em vosso lugar, faria o mesmo. Rei Mor não manifestou muito interesse pela opinião do Bruxo Neno, esmiuçando a explicação sobre o costume para que ele não incorresse em engano, alegando insatisfação ou contrariedade com a determinação: — No entardecer do dia da próxima lua nova, tua mãe, a Sacerdotisa das Sombras, estará no Palácio de Trindade para celebrar teu casamento com minha serva Murmur. — Pelo que muito vos honro e agradeço, obsequiado e submisso à vossa real magnanimidade! — Hum, vamos ao que nos interessa: após a cerimônia, é prudente que desapareças, sumas do Palácio, porque meus guardas vão se pôr a procurar-te. São oito procuradores que usam na cabeça um capacete de chifres e, por isso, conhecidos como os Caçadores de Cornos. Saem aos pares, nas quatro direções do Palácio. Oculte-se muito bem, para que não o encontrem. No teu caso, não será difícil, pois conheces, pelo que me dizes, a arte de ficar invisível. Ainda assim, certifique-se antes de que tens mesmo esse poder. Caso os guardas te encontrem ou descubram onde te metestes, serás passado a fio de espada. Cuide afastar-se para um local onde meus Caçadores de Cornos nem sintam teu cheiro. Para que tua esposa não amargue o infortúnio nem lamente ser abandonada, sentindo a solidão da primeira noite de núpcias. Fique sossegado, pois terá ao seu lado a honrosa companhia de ninguém menos que o próprio Rei de Trindade, mas só, o que é uma pena, até a meia-noite... Depois disso, poderás voltar ao teu leito. Assim reza o nosso costume. — Assim será, amado Rei Mor. — Bruxo Neno, melhor que sejas conformado. Já que quanto a isto estamos concordes, há uma questão da qual necessito ouvir teu entendimento e pedir-lhe um palpite: decifra-me o enigma proposto pela Sacerdotisa das Sombras, tua mãe, quando celebrou aquele ritual para engravidar a Rainha Sissu, que já te relatei. 264H. H. Entringer Pereira — Repita-me as palavras que ela pronunciou, magnificente e justíssimo Rei Mor. — Já te disse, não lembras? — Sim, sim, meu Rei. Apenas desejaria ouvi-las de vossa real boca... — Diga-me o que significa aquela parte do presságio “A beleza, a bondade e a formosura apenas uma assistirá. A maldade, a pestilência e a feiura da outra em serpente se converterá, e antes que se casem, ambas se precipitarão ao encontro de um grande amor, uma na água e outra no fogo”. — Meu Rei, muito fácil entender o que determina este enigma. Diz que vossa filha será a mais bela e formosa dentre todas as mulheres. A outra criança será gerada na cama de servos, então só pode que seja diferente da que vai nascer na cama da rainha; ambas, ambas... bem... hum... hum... Ambas... O que será mesmo ambas? Deixe-me ver. Rei Mor, ansioso para ouvir o restante da explicação, julgou que o Bruxo Neno tencionava esconder-lhe o verdadeiro sentido da predição. — Não me poupes a verdade. Ambas quer dizer as duas... — Ah, sim, sim, as duas... bem... devem ser ambas... — Vamos, fale de uma vez, o que acontecerá com ambas? — A que não é a vossa filha se transformará numa grande serpente e se precipitará nas águas e vossa filha se jogará no fogo... sim é isso! — Não, não é isso! Não pode ser isso! Como condenaria eu minha própria filha à fogueira? Como poderia a filha de um rei desejar se queimar? Também tu tampouco soubestes decifrar este enigma. — Que vos parece, então, Senhor Rei Mor, esta predição? Julgas que a Sacerdotisa das Sombras mentiu? — Não, não. Isto é que me intriga. Algo que eu não consigo compreender; no fundo, no meu íntimo, parece-me lógico, muito lógico... Sinto que serei enganado pelo meu próprio engano. — Não vos incomodeis, Senhor Rei. Poderei modificar esta predição, com melhor resultado. Se vossa realeza bem recorda, o encantamento que fiz naquela joia da mãe do “Y” há de vos trazer um filho homem em breve, eis que vossa rainha logo, logo se encontrará grávida. — Assim espero, Bruxo Neno. Então, era isso. Prepare-se para desposar Murmur. Terás uma esposa terna, amorosa, fiel, obediente e devotada ao lar. Em troca, já sabes os favores que me deves... Lembre-se: não revele a Murmur vossas feitiçarias. É mais seguro que ela nem desconfie das tuas proezas. — Senhor Rei Mor, não sou apenas um bruxo. Entendo também das artes do amor. Já fiz para Murmur belos poemas. Ela nem desconfia que no meu peito de feiticeiro bate acelerado e inteiro um coração apaixonado e verdadeiro. — Sabes fazer poemas? — Dos mais belos que Vossa realeza imaginar. Não sei escrever, mas sei declamar! — Verdade? Então recita-me um deles, para ver se és talentoso, como dizes, nesta arte. 265H. H. Entringer Pereira Bruxo Neno sentiu-se por demais lisonjeado, estufou o peito e para impressionar, como se dirigisse a uma grande plateia, recitou: “Bela Murmur, Dos segredos de minh ’alma, guardo apenas um na vida: Ardente paixão, amor sem fim, que num momento em mim nasceu. Mal sem cura, dor escondida. E quem me enfeitiçou, nem sabe o que sou eu. A seu lado sou um nada, sombra perdida Pobre homem que nem eu reconheci, pois esse amor hei de tratar como ferida, Sabedor que tudo dei e nada recebi. Essa deusa tão pura, terna e distante, que passa por mim é Murmur, a flor da fonte do amor que é meu, a acompanhar-lhe constante. À natureza que a fez assim serena e bela, Pergunto: Por que a quero, se nem a mim percebe? Meu coração é quem responde: ame-a apenas e será bastante.” Rei Mor, impressionado com a declamação, não conseguia crer no que ouvira. Bruxo Neno não parecia possuir talento, nem instrução suficiente para ser autor daquela composição. Menos ainda porque o próprio rei havia escrito alguns sonetos inspirados na beleza singela de Murmur, e havia um com aquele título que era semelhante ao que o bruxo declamara. Desconfiou de que ele havia mexido nos seus secretíssimos guardados e... copiado exatamente aquele dentre os papiros que escondia no escritório. Contudo, até onde conhecia de suas habilidades, Bruxo Neno não aprendera a ler, nem a escrever. Convencendo-se de que qualquer coração apaixonado seria capaz de semelhante inspiração romântica, sugeriu ao Bruxo Neno, para disfarçar o ciúme que sentira, que o declamasse a Murmur como confissão de amor, quando terminasse o cerimonial de suas núpcias. O bruxo, com uma pitada de ironia, contra-argumentou, ressentido: — Não poderei recitá-lo, porque sois vós quem tereis o direito de ser o primeiro a se deitar com Murmur... — É verdade, é verdade... terás tempo de sobra para lhe dizer quantos poemas quiseres depois... depois, Bruxo Neno. A inflexibilidade do Rei Mor e sua resoluta firmeza quanto ao cumprimento do costume que havia imposto – o jus primae noctis – deixara o bruxo profundamente insatisfeito, desgostoso e aborrecido. Não podia manifestar seu descontentamento diante do que considerava o maior abuso do poder do rei, nem poderia reclamar para que Rei Mor revogasse a norma, porque ouvira claramente o tipo de punição impiedosa reservada aos insatisfeitos. Era melhor fazer de conta que se sentia honrado com a participação do soberano na sua noite nupcial. No entendimento do bruxo, a paixão avassaladora que sentira por Murmur, seu devotado e secreto romantismo, poderiam ser levados em consideração, abrindo-se exceção ao costume. Todavia, julgando pelas assertivas do rei, nenhum arrazoado poético, nenhuma paixão febril explícita, seriam capazes de demovê-lo da ideia para 266H. H. Entringer Pereira revogar a imposição, principalmente porque Murmur além de bela, era casta, obediente e submissa. Uma gigantesca onda de ciúme brotou no coração do Bruxo Neno e turvou-lhe a razão. Tal como furacão de rancores, planejou sua vindita arquitetando, com velocidade de corisco, sua maligna trama: enquanto o rei estivesse na cama com Murmur, iria, em contrapartida, dar um jeito de meter-se sob os lençóis do próprio rei, na cama da Rainha Sissu. Não poderia se vingar de modo melhor. Enquanto o rei desfrutasse as primícias com Murmur, ele iria se ocultar dos Caçadores de Cornos nos lençóis macios e cheirosos da Rainha. Não sentia por ela o mesmo desejo que sentia por Murmur, porque era feia e tinha olhos vesgos, mas àquela ocasião não haveria, por certo, local mais seguro a salvo dos sanguinários guardas mascarados com capacetes de chifres. Feliz com a ideia que lhe ocorreu, evitou transparecer ao Rei Mor seu bem planejado contra-ataque. Uma derradeira coisa, entretanto, sentiu vontade de perguntar ao Rei Mor, antes de sair da audiência: — Bondoso e magnificente Rei Mor, qual foi o derradeiro casamento que vossa realeza celebrou no Reinado de Trindade? — Por que perguntas? Acaso já soubestes do que aconteceu a Chupinguaia? — Sim, majestoso rei. Perguntei porque ouvi vossa realeza dizer que, se for encontrado pelos Caçadores de Cornos, serei passado a fio de espada, não é isto? — Perfeitamente. — Mas, me desculpando o atrevimento, não foi este o castigo que destes ao derradeiro marido encontrado pelos caçadores de cornos? — Refere-te ao que se precipitou na cachoeira? — Esse mesmo. Mudais a sentença de morte conforme vossa volúpia? — Cabe somente ao rei, Bruxo Neno, decidir o que fazer com o marido apanhado pelos Caçadores de Cornos. No caso que mencionaste, o infeliz Chupinguaia escondeu-se no alto da Cachoeira dos Namorados. Encontrado pelos guardas, antes que o agarrassem, preferiu ele mesmo sentenciar-se à morte, jogando-se penhasco abaixo. Certamente queres chegar no nome que colocaram naquele lugar, depois do lamentável episódio. — Por causa daquele acontecimento é que deram nome ao local de Chupinguaia? — Exatamente, Bruxo Neno. O idiota do Chupinguaia se matou, ao se jogar sobre as pedras, espatifando-se. Tingiu de sangue, então, as águas daquele rio. Por isso é que Chupinguaia virou sinônimo de rio de sangue. Também denominaram a Cachoeira dos Namorados de Rio de Chupinguaia... A propósito, estás planejando te meteres lá para as bandas da Cachoeira de Chupinguaia? O Bruxo Neno deu um sorrisinho irônico e respondeu sarcástico: — Não, majestoso Rei Mor. Não vou me enfiar em maus lençóis. Tenho lugar melhor pra me meter! — Sorte tua, Bruxo Neno. Sorte tua e azar o meu se não te pegarem! — T.U.V.X.Z.! – exclamou o Bruxo, ensaiando uma reverência. Bruxo Neno saudou-o cortesmente a sua maneira, achando engraçado que na saudação enigmática ao 267H. H. Entringer Pereira Rei Mor, ele gostaria mesmo de ter dito: “T.erás U.m V.ingador, X.avecado Z.umbaieiro”. Rei Mor respondeu à saudação com trejeitos de desprezo: — T.U.V.X.Z.! Também o Rei Mor gostaria de ter dito ao Bruxo Neno: “T.ua U.biquidade V.ai X.aropar Z.ureta”, porque já se arrependera do que havia pactuado com o bruxo, meses antes, lá no Império do Elo Dourado. Além de estupidamente vaidoso, gabola, prepotente e invejoso, a mania do bruxo, desde que chegara ao Reinado de Trindade, de imitá-lo no jeito de se trajar, no modo de andar, de falar e de usar a cabeça raspada, que a nenhum outro vassalo o rei permitia, desagradava-o sobremodo, e tanto pior: em qualquer lugar do Palácio de Trindade a que o Rei Mor se dirigia, à exceção de seus próprios aposentos, encontrava sempre o Bruxo Neno fazendo firulas com os subalternos. Parecia que o bruxo estava em todos os lugares ao mesmo tempo. O rei sentia invadida sua privacidade, como se estivesse constantemente vigiado e perseguido pelo bruxo. Rei Mor estava prestes a arranjar boas desculpas para convencê-lo a se mudar depois do casamento com Murmur para as proximidades do local onde morava a mãe dele, a Feiticeira Zureta. Precisava de muito tato e uma boa quantidade de paciência, porque indispor-se àquela altura contra a pessoa do Bruxo Neno, era cutucar, sem dúvidas, o diabo com vara curta. Pela demonstração de poderes que Rei Mor já havia presenciado e pelas abomináveis proezas que o bruxo realizara, era imprudência sem conserto colocar-se no raio da mira de sua vingança maligna. Rei Mor conformando-se, cumprimentou-o respondendo secamente a sua saudação e ponderou sua precedência sobre o presunçoso bruxo, regozijando-se intimamente, pela primeira noite de núpcias que logo, logo haveria de desfrutar com a futura mulher, a bela esposa do inconveniente bruxo!
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Resistindo a escassez de água, a terra e seu milagre a olho nu. Agora é continuar a fazer a cobertura do solo, matéria orgânica disponível.
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Quando criança, minha mãe fazia polvilho de araruta. Com este, bolinhos maravilhosos. Me lembro também, que meu pai ia para a roça e voltava com um balaio de Jacatupé. Uma trepadeira da familia dos feijões, mas, segundo informações, não se utiliza as sementes como alimento. Apenas para propagação. Jacatupe - o feijão que se come a batata - Lembra a batata Yacon. Ganhei do Senhor Mario Fernandes Magalhães de Ubá - MG.
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URUCUMACUÃ By H.H.Entringer Pereira - LIVRO 3 - CAP. 64
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DEPOIS DO CASAMENTO DO REI Professora Plínia prosseguia suas narrativas, aguçando a curiosidade do Príncipe Urucumacuã, que se mostrava cada vez mais interessado que ela contasse logo, não deixando para depois, o que havia acontecido nos dias da festa de seu nascimento e de seu irmão, Príncipe Kurokuru. Com muito tato e paciência, ela explicara que todas aquelas narrativas, ainda que paralelas aos acontecimentos durante e depois do casamento do Imperador, Rei Médium, com a Imperatriz Rainha Gônia, eram importantes. Precisava conhecer não só o que se passara no reinado de seu pai, como também nos reinados vizinhos. — Um dia, haverás de exercer também teu direito ao Trono e à Coroa deste fabuloso império. Príncipe Urucumacuã ouviu quieto, mas de vez em quando interrompia as narrativas, perguntando sobre alguns personagens que já conhecia e por outros cujas histórias despertavam-lhe especial interesse. Queria saber tudo sobre Rainha Alzira, Rei Naldo, Conde Rasku e, principalmente, Rei Mor e Bruxo Neno. — Calma, Urucum. Temos muita coisa para lhe revelar. Vou primeiro, falar tudo sobre o que aconteceu antes que tu nascentes... porque sobre o que aconteceu nos primeiros tempos de teu nascimento, saberás mesmo, quando regressares do Santuário do Mago Natu, após as quatro estações de tua iniciação. — Quanto tempo terei de ficar com o Mago Natu? — Exatamente quatro estações: um outono, um inverno, uma primavera e um verão. — Por que meu irmão não irá comigo? — Por que vossos caminhos são diferentes. Um andará pelo Caminho do Fogo e o outro pelo Caminho da Água. Ainda sem entender o que aquela profecia significava, o Príncipe Urucumacuã pediu à Professora Plínia: — Podes me contar a história do encantamento da Marquesa de Sonça na Onça Pintada? — Primeiramente, vamos concluir alguns acontecimentos de quando nasceu o Príncipe Gesu Aldo, este que deverá se casar com a tua irmã, esta que nasceu na semana passada; depois saberás do casamento do Bruxo Neno com a serva do Rei Mor, a bela Murmur e vamos concluir então com o que estás me pedindo. A história do teu nascimento contarei quando voltares do Santuário do Mago. No Palácio das Esmeraldas, a Rainha Alzira aguardava, ansiosa, a chegada do filho Calico e da nora, Rainha Araci, para se inteirar das novidades registradas no casamento do Rei Médium com Rainha Gônia, agora Imperador e Imperatriz. Um sonho na noite anterior muito a inquietara. Acordou chorando, porque vira participando de uma outra festa de casamento seu outro filho, o Conde Rasku, e sua odiosa rival, a viúva Pan Thera, Marquesa de Sonça, vizinha das terras do Condado de Rasku, dançando numa frenética orgia ritual, celebrada por sua arqui-inimiga, a Feiticeira das Sombras. A viúva Pan Thera, subitamente, por artes de encantamentos que a Rainha Alzira sabia como funcionavam, transformava-se numa fera ao mesmo tempo terrível e 252H. H. Entringer Pereira encantadora, ameaçando devorá-la. As imagens muito vívidas daquele sonho deixaram Rainha Alzira apreensiva, já que detestava a Marquesa de Sonça com todas as forças do seu coração, porque em épocas passadas, durante uma festa no solar da marquesa, esta lhe servira intragável bebida que lhe causou grande mal-estar e quase a matara. Julgou que fora vítima de tentativa de envenenamento porque a marquesa não disfarçava sua desmedida cobiça pelas famosas e perfeitas esmeraldas que lhe pertenciam. Muito mais lhe odiava ainda porque soube pelo honrado Intendente das Finanças e Justiça, o Marquês de Contagem, que o pai fora aprisionado porque se escusara de obedecer ordem do Rei Albe, o Rico, para levar um mimo à marquesa, Senhorita Pan Thera, consistente numa caixa de prata cheia de esmeraldas, tão logo Rainha Alzira se ausentara numa demorada viagem em visita a sua já falecida prima, a Rainha Olinda, mãe do Rei Médium. Rainha Alzira também sabia que, antes de a Feiticeira Zuzu, a Sacerdotisa das Sombras, se mudar para o Reinado de Trindade, negociara por alto preço com a Marquesa de Sonça o maldito bridão encantado, que ela mesma ordenara entregar à feiticeira, logo depois da tragédia que culminou no enforcamento de seu marido, o Rei Albe, o Rico. Conde Rasku, desde a época do casamento e da coroação do irmão Calico como Rei de Avilhanas, mudou-se para as terras que ganhara de sua mãe, a Rainha Alzira, num jogo de dados, denominando-as de Condado de Rasku, e não mais a visitara. Quase três anos se passaram sem que o Conde Rasku viesse ao Palácio das Esmeraldas. Rainha Alzira sabia notícias esparsas de seu filho porque, além de ser o homem mais belo entre todos os nobres que circulavam por aquelas regiões, tinha fama inigualável de perverso, cruel e sedutor incorrigível. As notícias do filho, geralmente ligadas a acontecimentos pouco edificantes e honrosos, traziam mais desgosto do que alegria à rainha. Para distrair-se e espairecer suas angústias, Rainha Alzira subiu à galeria onde pintava seus quadros — as calic’aturas. Ficou olhando e apreciando-os, admirada de como sua coleção aumentara: havia acrescido algumas outras, além de seus antepassados: o Louco, o Mago Natu, o Imperador Médium, a Imperatriz Gônia e o rei enforcado. Do sonho que tivera, sentindo-se saudosa e aflita pelo filho desnaturado, que não via desde o casamento de Calico, pôs-se a pintá-lo, retratando-o como sonhara: vacilante entre a pretensa noiva e ela própria, sua mãe, alvo certeiro da flechada do implacável Cupido. Deu ao quadro o nome O Enamorado. Nas derradeiras pinceladas em recente obra de arte, ouviu o troar da trombeta do Arauto Real. Pelo tropel da Guarda palaciana, deduziu que a comitiva do Rei Naldo chegara. Guardou rapidamente todo o material espalhado sobre mesas e cavaletes, descendo as escadarias com o coração mais tranquilo. Para sua surpresa, não só a carruagem do Rei Naldo com a Rainha Araci adentrava o pátio do Palácio das Esmeraldas como também o garboso alazão negro do filho temperamental e intratável, mas impressionantemente belo, o Conde Rasku. O primeiro a abraçá-la, desculpando-se pelo longo tempo de ausência, Conde Rasku, de coruscantes olhos azuis, barba crescida e cabeleira selvagemente desalinhada, podia não ser o melhor dos filhos, de caráter dócil e amável igual ao irmão, mas 253H. H. Entringer Pereira inegavelmente era o homem mais belo que já existira, o mais bonito de todos os outros príncipes daquela época. Esquecendo-se das amarguras e sofrimentos que o belo filho, ao longo da infância até a juventude lhe proporcionara, em razão de seus comportamentos cruéis com os animais, temperamentos irascíveis com os serviçais e atitudes odiosas para com seu único irmão, Rainha Alzira o abraçou ternamente, emocionou-se ao ouvir-lhe as batidas do coração e, num relâmpago de lembranças, o pensamento lhe trouxe à memória o mágico momento e a dramática situação em que ele havia sido concebido. Rasku percebeu a fragilidade emocional de sua mãe, fitando-lhe friamente o rosto já sulcado pelo tempo, mas ainda belo, indagando-lhe: — Já sabes que estou noivo e pretendo me casar? — Como saberia, se a notícia ainda não chegou por aqui? – respondeu-lhe a mãe, acrescentando – Mas não me custa adivinhar com quem... — Ah, duvido que acertarias – interrompeu-a. — Antes que me possas revelar, asseguro-te que não faço gosto, tampouco teu irmão aprovará – disse, com firmeza, Rainha Alzira. – Conversaremos depois. Preciso abraçar Calico e Araci. Vamos, entre! À hora do jantar, sob a luz bruxuleante dos archotes e dos castiçais sobre a mesa, o lugar costumeiro da Rainha Araci permaneceu vazio. Rei Naldo justificara a ausência dela alegando excessivo cansaço pela longa e penosa viagem, agravado pela adiantada gravidez. Conde Rasku, sentado à frente de sua mãe, desdenhou da forma como Calico expressara suas desculpas pela ausência da Rainha Araci e provocou: — Diga a tua maravilhosa e barriguda rainha que não precisa mais ter medo de mim. Agora sou um homem comprometido. Além do mais, as unhas da marquesa são bem mais afiadas que as dela. — Rasku, por favor – interrompeu Rainha Alzira – respeite a mulher do seu irmão e não se esqueça de que estás diante do Rei de Avilhanas! O menino Mulato, filho que Calico teve na sua adolescência com a moça Alba, também se sentava à mesa, ao lado de Rainha Alzira. Ainda que não falasse, Mulato sentia pela expressão do rosto que o conde não lhe dirigia olhares de simpatia, porém, na qualidade de mudo que era, apenas observava o clima de animosidade transparente entre os dois irmãos. Fitando Mulato com severidade e desprezo, Rasku prosseguiu em tom provocativo: — Mudemos de assunto. Rei Naldo, como permitis que o bastardinho mudo coma a tua mesa? Não seria o estábulo o lugar mais adequado a ele? Antes que Rei Naldo abrisse a boca para responder ao insulto, Rainha Alzira adiantou-se e, no rompante, posicionou-se em defesa do neto, a quem muito amava: — Conde Rasku, um bastardo a mais ou a menos nesta mesa, não fará diferença ... Também tu poderias ser tratado como tal, não fosse a benevolência do teu irmão Calico. Houve silêncio. O Senhor Louco, que resolvera morar definitivamente no Palácio das Esmeraldas a convite da Rainha Alzira, desde os tempos da tragédia do enforcamento do Rei Albe, o Rico, distante da cabeceira da mesa onde Rei Naldo e Conde Rasku estavam, até então não prestara atenção no que conversavam porque não 254H. H. Entringer Pereira ouvia os diálogos, dada a extensão da mesa e a conversa animada dos outros cortesãos. Percebendo que o clima entre eles modificara e a descontração inicial daquele jantar não era a mesma, adiantou-se, levantando-se como de costume, e iniciou um número na tentativa de distrai-los até a hora da sobremesa. Usando um jogo de palavras que lembrava uma brincadeira de crianças, o Louco cumpriu sua tarefa, começando pelo nobre visitante Conde Rasku: — Meu nobre, o que és? És conde? Onde escondes? Escondes o Conde? Ou és Conde que esconde? Se escondes, não és Conde! Então, nobre Conde, escondes... Se és Conde, não escondes! A maioria dos comensais se divertia. Conde Rasku apenas esboçou um sorriso pouco à vontade, tentando disfarçar o estranho sentimento que brotara pelas palavras de sua mãe. Rainha Alzira pouco se importou com a falta de educação e o sarcasmo do filho, gargalhando com a engenhosidade e a malícia interpretada nos trocadilhos do Louco. — Amigos – dirigiu-se a Rainha Alzira aos cortesãos – poucos dentre vós sabeis o que o Conde Rasku tem para anunciar. Diga, formoso Conde, qual é a novidade que nos trazes? Aparentemente desconcertado com a brincadeira do Louco e pensativo sobre o que ouvira de sua própria mãe, para não perder a pose, Conde Rasku manifestou-se arrogantemente: — Senhoras, senhores, bem sabeis que também tenho um coração, ainda que minha fama de desalmado percorra o mundo. Quero anunciar-vos que pretendo me casar com a Marquesa de Sonça, aqui mesmo, no Palácio das Esmeraldas, ou no Solar da Marquesa. Daqui a sete luas cheias, irei ao casamento do Bruxo Neno, no Palácio de Trindade, e quando voltar, direi a todos qual a data marcada para as minhas bodas. Aguardem, portanto, meu regresso e preparem-se para a maior e melhor festa de casamento de todos os tempos. — És tu, então, nobre Rasku, quem usará o bridão encantado? – perguntou o Louco, em tom de zombaria. — Já passas de insolente, amigo Louco. Vou me casar porque estou apaixonado. – justificou-se. — Contenha-se, Rasku. Ele está apenas brincando. No mais, a história daquele bridão já causou sofrimento bastante a todos nós – ponderou Rainha Alzira. – A mim, custa admitir que alguém tenha interesse na posse de um objeto que serviu de instrumento à morte do próprio pai. O clima do jantar não se apresentara propriamente festivo pela chegada do Rei Naldo e da Rainha Araci, pois o contraponto do aparecimento do Conde Rasku inquietara a todos, principalmente aos pais das donzelas de Avilhanas. A beleza sedutora de Rasku era perigosamente temperada por suas práticas pervertidas e comportamentos abertamente depravados. Ainda que estivesse comprometido a se casar, era pouco confiável e ardiloso por excelência para seduzir e desonrar mulheres jovens ou matronas, casadas, solteiras ou viúvas. 255H. H. Entringer Pereira Causara surpresa o anúncio do casamento do Conde Rasku com a Marquesa de Sonsa porque, embora apetrechada de grande beleza e sensualidade, era o dobro da idade mais velha do que o noivo, e circulavam rumores de que o primeiro marido da marquesa teria morrido com menos de um ano de casado, por esgotamento físico, face às incontroláveis exigências e ao insaciável apetite de alcova da mulher. Nas conversas entre servos e plebeus, o comportamento indomável da Marquesa de Sonça era assunto pontual. Dizia-se que entre suas predileções sexuais, além de homens jovens e bonitos, também se incluíam algumas belas jovens, e não eram incomuns reuniões em que as orgias duravam dias seguidos, quando a marquesa achava por bem festejar suas datas de aniversário. O próprio Conde Rasku frequentara vez por outra o mal afamado Solar da Marquesa e se jactava de já ter passado por lá semanas na esbórnia, entre efebos e belezuras que se davam aos prazeres sensuais, sem limites e sem censuras. Rainha Alzira sabia de alguns dos desregramentos do filho, mas cultivou por algum tempo a esperança de que Conde Rasku viesse a se casar com uma nobre dama, de fino trato, pudica e prendada para compensar e equilibrar-lhe o temperamento cruel e libertino. Ainda que seu caráter se lhe afigurasse, às vezes, tão sórdido, a beleza do rosto e do corpo eram predicativos que, certamente, serviriam como recompensa ao resgate de alguma nobre virtude que nele ainda estaria incógnita – o que uma mulher verdadeiramente amorosa, virtuosa, fiel e paciente poderia tornar à superfície. De outra parte, Rainha Alzira reconhecia no caráter do filho o temperamento sagaz e impetuoso, concordando que fosse ele o marido ideal, talhado sob medida, para impingir toda sorte de sofrimentos e provações à despudorada, astuta, ambiciosa e depravada, mas certamente apaixonada Marquesa de Sonça. Haveriam de formar um belo par. Ele, belo, sórdido e cruel. Ela, linda, sensual e pervertida. A despeito das insanáveis destemperanças de ambos, ele era o que de melhor poderia ocorrer para transformar a vida da marquesa num inimaginável e prolongado martírio. E ela, astuta e libertina o suficiente para fazê-lo viver um constante inferno. Algo, no entanto, ocupava mais o pensamento da mãe do que as vicissitudes pessoais do filho e da Marquesa de Sonça naquele momento. Chegara a hora de revelar o segredo ao Conde Rasku de sua misteriosa paternidade. Somente a Rainha Alzira e o Mago Natu compartilhavam tal segredo a todos ocultado: o menino Rasku não era filho legítimo do Rei Albe, o Rico. Era filho de Adul Thero, conhecido por toda a Corte pelo apelido de Senhor Dugo — o dileto e fiel feitor da Rainha Alzira, assassinado pelo Rei Albe, o Rico, sem motivos aparentes, dadas às circunstâncias misteriosas em que foi encontrado, na mesma noite em que o rei também se suicidara. A dessemelhança entre o Conde Rasku e seu meio-irmão, Rei Naldo, dizia mais respeito ao temperamento do que ao porte físico. Ambos eram notáveis cavaleiros, belos e saudáveis. Rei Naldo, mais introspectivo e sério, pouco conversava, mas, amiúde, dava provas de sua bondade, nobreza e equidade. A beleza do Conde Rasku, todavia, se notabilizava, pois além dos coruscantes olhos azuis e dos anelados cabelos castanho-dourado, seu sorriso perfeito, seduzia e, ao mesmo tempo, ocultava o que possuía de pior no seu caráter: era malicioso e cruel, além de pérfido e egoísta. 256H. H. Entringer Pereira Não havia mais razões, porém, para postergar a revelação de sua origem ao Conde Rasku. O Reinado de Avilhanas já tinha seu rei e prosperava em paz. E o anunciado casamento conferia ao conde o direito de conhecer toda sua estirpe, para que pudesse construir a própria árvore genealógica, inaugurando por conseguinte nova linhagem. Face à maneira sempre correta com que se conduzira e sua devotada fidelidade à memória do marido falecido, Rainha Alzira não dava margem às especulações nem aos mexericos a respeito de sua última gravidez. Pela contagem do tempo, desde que Rei Albe, o Rico, fora encontrado enforcado até o nascimento do menino Rasku, passaram-se exatamente as nove luas cheias: para todos os efeitos, a última coisa que Rei Albe, o Rico, teria feito por derradeiro na sua vida, antes do suicídio, fora um filho. E este filho era Rasku. Disposta a enfrentar o gênio indômito, arrebatado e irascível de Conde Rasku, procurou apoio no filho Calico, o Rei Naldo, de ânimo mais generoso e pacífico, solicitando-lhe o conselho que até então evitara pedir por lhe faltar coragem de compartilhar com ele sua própria infâmia e ignomínia. Não havia alternativas. Chegara a hora, afinal. A sós com Rei Naldo, Rainha Alzira abriu o coração: — Calico, meu filho, não imaginas quanto me custa confessar-te, neste momento, o segredo mais bem guardado de toda a minha vida. — Se vais me contar que Rasku não é meu irmão por parte de pai, não te aflijas. Desde que nos disseste sobre o feitiço da besteira e da aparição da Mula Sem Cabeça, já o imaginava. — E teu irmão, também desconfia? – indagou-lhe preocupada. — Não que eu saiba. Afinal, somos fisicamente muito parecidos. Nossas principais diferenças residem tão somente no caráter. — Tanto melhor. Achas que Rasku já pode saber que não é filho do teu pai? — Minha mãe, ainda que estejas confirmando que Rasku é meio-irmão meu, não revelastes quem é seu pai verdadeiro. Permite-me o atrevimento? — Evidente. Queres que eu mesma diga ou preferes me dizer? — Se eu não acertar, confias em me dizer? — Sim. Quem tu achas que pode ser o pai de Rasku? — O Senhor Dugo, certamente. E, talvez por isso, meu pai o tenha assassinado. Rainha Alzira começou a chorar. Abraçou-se ao filho, balbuciando, entre soluços, a pergunta cuja resposta precisava ouvir do Rei de Avilhanas: — Tu me perdoas? — Ora, minha mãe. Quem sou eu para vos repreender? Nada sinto contra vós e bem compreendo os motivos que vos levaram a tão grave despautério, àquela asneira desmedida. — Quanto a Rasku, não posso mais ocultar-lhe a verdade, mesmo temendo sua odiosa fúria... Pelo que o conheço, será capaz de matar-me ou me odiar, desejando vingar-se pelo resto dos meus dias. — Poupe-se, então. Melhor que não saiba. Nem a Araci vou revelar o que a mim confiastes. Guardarei vosso segredo. 257H. H. Entringer Pereira — Seria mais confortável... Mas não conseguirei ocultar de Rasku a realidade, porque no dia de seu casamento terei de lhe entregar a arma paterna, o sabre de Adul Thero. — Nesse caso, todos ficarão sabendo quem é o pai do Conde Rasku – contrapôs o Rei Naldo. — Ele vai me odiar. Tenho receio de sua impetuosidade. Conheço suas inclinações para a vingança – conjeturou Rainha Alzira. – Achas que Rasku seria capaz de odiar ao ponto de querer me matar? — Que ele vos odiará, não duvido. Mas não vos mataria antes que descobrisse onde estão os vossos 144 quilos das esmeraldas que meu pai ocultou, enterrando em algum lugar. É melhor que não procureis, nem mesmo encontreis este tesouro... se quereis viver depois de contar a Rasku quem é seu pai – falou Rei Naldo, em tom de brincadeira. — Estou pensando: Rasku jamais conhecerá seu pai, tampouco a Adul Thero foi dado o direito de conhecer o filho... Estranhas armadilhas do destino. Sinceramente, ainda não decidi. Pensando melhor, já nem sei se devo revelar... Se Mago Natu estivesse aqui, pediria a ele para que contasse. — Mãe, vós me pedistes um conselho. Na cerimônia, quando Rasku se casar, entregue-lhe o sabre do Senhor Dugo, sem alardes, nem muito palavreado. Simplesmente como tributo póstumo e devida homenagem à memória daquele que foi seu fiel servo. Assim como o Rei Albe, o Rico, morreu levando consigo o segredo de onde enterrou vosso grande e precioso tesouro, assim também morreu com o Senhor Dugo o segredo de Adul Thero, pai do Conde Rasku. — Faremos então um pacto: quando eu descobrir onde estão minhas esmeraldas, direi ao Conde Rasku de quem ele é filho. Rainha Alzira saiu do Salão do Trono e, ao abrir a porta, deparou-se com Conde Rasku. Surpresa com a presença do filho naquela hora, passou-lhe pela cabeça a possibilidade de que já estivesse ali há alguns minutos, ouvindo certamente seu diálogo com o Rei Naldo, atrás da porta. Todavia, não percebeu mudanças no seu semblante, e pela forma com que a abraçou, saudando-a, certificou-se de que ele havia chegado naquele momento. — Salve, salve, Mãe Rainha. Viestes confabular com Calico sobre o meu casamento? — Não exatamente, meu filho! Conversávamos sobre as minhas esmeraldas que o Rei Albe escondeu... Tens algum palpite a respeito? — Por que não mandas cavar no local onde ele se enforcou? — Já o fiz. No exato lugar onde havia sinais de terra revolvida, acharam enterradas as cabeças do Senhor Dugo e da Mula Tá. Ah, e antes de encontrarem as duas cabeças, retiraram da cova um sabre com o nome de Adul Thero gravado na lâmina. Queres portar aquela arma no dia do teu casamento e com ela permanecer, como homenagem ao mais fiel de todos os servos reais? — É da forja de Kalibur? — Certamente. Pela têmpera e beleza, não poderia ter sido de outro artífice. — Então considere-a minha. E do meu pai, o que dar-me-ás? 258H. H. Entringer Pereira — A porção de terras que pertenceu ao Senhor Dugo, contíguas às do teu Condado, para que acrescenteis ainda mais às tuas posses algo do teu pai. Conde Rasku não compreendeu que a porção de terras a que sua mãe se referia, que acrescentaria àquelas que já possuía, era, de fato, a herdade de seu legítimo pai. Naturalmente satisfeito pelo quinhão prometido, imaginou que talvez pudesse estar escondido naquelas plagas do reinado o tão cobiçado e precioso tesouro da Rainha Alzira: as maravilhosas e valiosíssimas pedras verdes. Adentrando sem cerimônia o Salão do Trono, Conde Rasku negou-se observar o protocolo para falar com o Rei de Avilhanas. Enquanto Rei Naldo anotava em finas lâminas de ouro mensagens para convidar os reis vizinhos, seus filhos e outros amigos nobres para festejarem o nascimento de seu primogênito, o príncipe herdeiro, prestes a acontecer, o irmão o interceptou com uma saudação que usavam desde os tempos de adolescentes. Levantando os olhos das folhas de ouro, sem interromper seu trabalho, respondeu à saudação do irmão, perguntando: — O que desejas, Conde Rasku? – voltando os olhos ao que fazia, continuando a tarefa. — Vim saudá-lo, primeiramente, majestoso Rei Naldo, Senhor de Avilhanas. Na qualidade de vosso irmão, penso que agradaria muito à nossa mãe que tivéssemos um relacionamento mais cordial e amigável. — Nunca fui teu inimigo, em princípio... — Mas ainda não me perdoastes pela infelicidade do flagrante na cama com Alba. — Coisas passadas, meu caro irmão... O amor do meu filho Mulato, hoje me recompensa da vergonha que me fizestes sofrer; e pela verdadeira paixão de Alba por mim. Não fosse o trágico final que resultou no sutil encantamento dela naquele pássaro, a Albatroz, teria me casado com ela e não com Araci, arcando com o castigo de perder o direito ao trono deste Reinado. — Neste caso, seria eu o rei de Avilhanas? — Serias. O que farias, fosses tu rei de Avilhanas? Porventura encontrarias o tesouro escondido pelo Rei Albe, o Rico? — Certamente. Não dormiria até descobri-lo. Onde achas que estão as misteriosas pedras verdes? Não tens gana de possuí-las? — Conde Rasku... como és ingênuo, apesar da tua insidiosa malícia... — Por que assim me julgas, Rei Naldo? Achas incorreto alguém pretender o que lhe é de direito? — Nem tanto. Parece-me incorreto, meu nobre irmão, pleitear o que por direito não lhe é pertinente. — Reputa-me indigno do meu quinhão? — Em absoluto. Discordo da irrefletida ânsia e desta aflição desvelada por te assenhorear daquele tesouro, cismando em fazer-te rico. Não te esqueças de que antes de nós dois, as preciosas pedras verdes pertencem de fato à nossa mãe, cabendo a ela querer ou não as encontrar. 259H. H. Entringer Pereira — Calico, nossa mãe já desistiu de seus sonhos. Mesmo porque nada lhe interessa mais, nem se ocupa atualmente de outra coisa que não pintar quadros de mau gosto e tocar cavaquinho. — Rasku, Rainha Alzira é a mulher mais inteligente que conheço. Lutou e continua pelejando com forças potencialmente misteriosas, sem temer nem se dominar pelo medo. Desafia poderes ocultos inferiores, não por abuso, mas por sua superioridade, benevolência e equidade. Nossa mãe fez por merecer seu cognome de soberana RARA, tanto por mérito quanto por honradez. — Vejo que meu irmão é um ardoroso defensor dos afetos filiais... com justa razão. Afinal, da Rainha Alzira recebeste o glorioso trono de um reinado rico e pujante apenas por seres primogênito e beijar-lhe as mãos, submisso e dócil... Quanto a mim, não me aquinhoou o destino com tanta candura e sujeição. Não me deu a natureza ânimo de afetada humildade e servil rebaixamento. — Conde Rasku, insinuas que recebi o trono de Avilhanas de mão beijada? Ofende-me tua insolência e irreconhecida ingratidão. Não somente és ingrato à Rainha Alzira, que te aquinhoou com as belas terras do teu Condado, como o sois à figura da nossa venerada mãe, que desacatais na minha pessoa. — Desculpe-me, Senhor Rei Naldo, se vos ofendo. Apenas manifesto com sinceridade meu sentimento de que na balança do coração da Rainha Alzira um prato é teu, o outro da Rainha Araci. Sinto que me excluem e que me ocultam alguma verdade inconveniente. — E tu também nos oculta algo que teu coração sonega? Por acaso pretendes casar-vos com uma mulher tão mais velha, ainda que bonita, só por amor? A pergunta deixou Conde Rasku encabulado. Era preciso sair do assunto, sem transparecer que havia algo oculto no interesse repentino do Conde Rasku pela Marquesa de Sonça, a Senhora Pan Thera. — Rei Naldo, Senhor de Avilhanas, ocupo-me agora exclusivamente do meu casamento. Vou preveni-lo de que, até antes de casar-me, escavarei por todos os locais que suspeito ocultar o tesouro do Rei Albe, o Rico, quer dizer... da Rainha Alzira, a Soberana RARA. Até mais vê-lo. Salve, salve. — Escave à vontade, Conde Rasku. Dentro dos limites do teu território. Se o fizerdes onde não vos pertence, tenho autoridade o bastante para mandar matar-vos. Dando de ombros, como se não tivesse ouvido a advertência do Rei Naldo, deixando o Salão do Trono, o belo Conde Rasku, antes de bater a porta atrás de si, ainda falou a ele: — Estou me preparando para viajar ao Reinado de Trindade. Vou ao casamento do Bruxo Neno. Não irás? — Estou aguardando o nascimento do meu filho. Aproveite e leve à Corte do Rei Mor o convite para a festa do nascimento de Gesu Aldo. Creio que as datas vão coincidir: a da festa de nascimento com a data do casamento. Apresente minhas desculpas. Conde Rasku bateu a porta meio irritado, enquanto o rei prosseguiu gravando suas placas de ouro, formulando o restante dos convites para a festa da natividade do esperado Príncipe Gesu Aldo. 260H. H. Entringer Pereira Pensando sobre o comportamento astucioso de seu meio-irmão, o rei de Avilhanas concluiu que, por direito, era também honesto revelar a Rasku sua filiação, porém não era prudente intentá-lo naquele momento. A vingança e o ódio de Rasku seriam implacáveis. Não obstante o provável revide, não descartava a possibilidade de ele, por vingança e revolta, tramar a morte não só da rainha-mãe como de sua mulher, Rainha Araci, ou dos filhos que porventura viessem ter. Que Rasku era perigoso e pérfido não havia dúvidas. Era preciso vigiar-lhe os passos, mantê-lo sob controle e, na medida do possível, evitar contrariá-lo. O arauto real anunciou com sua trombeta a chegada de um visitante. Rainha Alzira abriu a janela de seus confortáveis aposentos e viu a caravana se aproximando. Além dos fornecedores de provisões para o Palácio das Esmeraldas, junto dos mercadores, uma mulher com suas damas de companhia e servos desceram das carruagens. Facilmente identificou a primeira delas: era Professora Plínia. Em meio a uma festiva algazarra, viu também descarregar dos animais uma canastra de cobre e madeira marchetada, com o desenho de um pássaro, trazendo ao bico um bebê: era a bagagem da Senhora Natividade da Luz, a parteira das rainhas. O coração da Rainha Alzira acelerou-se e ela, por breves instantes, lembrou-se das duas últimas vezes em que a parteira veio ao palácio: por ocasião do nascimento do menino Mulato e, anteriormente, no nascimento de seu filho Rasku. Lembranças que lhe traziam secretos sofrimentos, pois evocavam recordações que Rainha Alzira preferia não trazer ao presente. Arrumou-se, penteou sua longa cabeleira já agrisalhada, desceu as escadarias e veio ao pórtico principal receber suas nobres e queridas visitantes. Rainha Araci também estava na recepção, segurando carinhosamente sua barriga com muita expectativa, feliz por saber que teria a assistência da competente profissional, Senhora Natividade da Luz, além da assessoria impecável da Professora Plínia, que entendia como ninguém de todas as arrumações necessárias para uma grande e inesquecível comemoração. Rei Naldo não economizou gentilezas, providenciando as melhores acomodações, os mais saborosos acepipes, engalanando o Palácio das Esmeraldas com os adornos e emblemas próprios daquela Casa Real, exibidos pela derradeira vez na festa de sua coroação como Soberano de Avilhanas e casamento com a Rainha Araci
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Festa de Nossa Senhora de Santana
12/07/202512/07/2025
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Comunidade do PA Quilombo no Lago do Manso em Chapada dos Guimarães MT Brasil. Uma iniciativa que soma .
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Oficina de Sistema de Informação Geográfica (SIG) –
27/03/202527/03/2025
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A OCA Terravila Glocal tem a honra de informar, que vem aí a primeira Oficina de Sistema de Informação Geográfica (SIG) – Brigada Voluntária PA Quilombo 📅 Data: 01 e 02 de abril de 2025 📍 Local: Residência do Amorim - Comunidade PA Quilombo, Chapada dos Guimarães/MT 📌 Endereço: Rua Quilombo, Lote 36 - Zona Rural, Sítio Real Verde – CEP 78195-000 🛰 A comunidade está convidada a participar da Oficina de Sistema de Informações Geográficas (SIG), um componente do projeto Rede Floresta. Por meio do mapeamento participativo, monitoramento comunitário e vigilância remota, a oficina oferecerá treinamento teórico-prático para capacitar os participantes no uso de imagens de satélite e ferramentas SIG. 🌱 Junte-se a nós e aprenda como utilizar tecnologias para proteger nossas florestas, prevenir incêndios e promover o uso sustentável do solo e dos recursos naturais! 📌 Evento gratuito. Inscrições através do link: https://www.sympla.com.br/evento/oficina-de-sistema-de-informacao-georreferenciada-sig-brigada-voluntaria-gleba-quilombo/2879319?referrer=statics.teams.cdn.office.net&share_id=whatsapp
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ReRe conVERSA inLOCO c/ OCA TERRAVILA GLOCAL
30/11/202430/11/2024
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O Projeto OCA Terravila Glocal está recebendo a visita de Vinicius Braz e Vania Trindade, para falar da web3 e suas vantagens para a Agricultura Familiar. Os visitantes estarão dando uma prévia do que vem ser a CARAVANA 2025, pelos interiores mais distintos do Brasil
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OCA::ReRe CONversa IN LOCO no LAGO DO MANSO - MT
15/11/202415/11/2024
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OCA::ReRe CONversa IN LOCO no LAGO DO MANSO - Chapada dos Guimarães-MT No dia 06 de dezembro de 2024, o Projeto OCA TERRAVILA GLOCAL recebe a presença de Vinicius Braz e Vânia Trindade (Rio de Janeiro-RJ) em sua sede (PA Quilombo/Lago do Manso), para dialogar com a comunidade, sobre a importância da web3 nas comunidades mais remotas e que utilizam os métodos tradicionais em seus cultivos na agricultura familiar.
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