Agro-Cultura: Uma Fórmula Mágica da Paz Meu nome é Otávio Ferreira. Tenho 40 anos e carrego comigo a vivência de quem passou 38 deles em ocupações e favelas como a Providência e o Morro do Pinto. Em 2014, fui contemplado com um apartamento pelo Programa Minha Casa Minha Vida, no Conjunto Habitacional Haroldo de Andrade IV, em Barros Filho — hoje conhecido como Bairro 13, uma das regiões com menor Índice de Desenvolvimento Humano da capital fluminense. Em 2019, fui demitido do meu trabalho após faltar por conta de uma invasão armada da facção rival à que domina a comunidade. A justificativa foi clara e cruel: “não podemos manter um funcionário que vive sob esse tipo de risco”. A violência urbana, que para muitos é estatística, para nós é rotina. Sem emprego, comecei a vender salgados árabes na praia da Barra da Tijuca. Com esse trabalho, consegui sustentar minha família e pagar parte do curso de Direito na Estácio, mesmo com o FIES cobrindo apenas metade do valor. Mas então veio a pandemia. O lockdown me impediu de trabalhar, perdi a bolsa da faculdade e vi meus sonhos escorrerem pelas mãos. Foi nesse momento, ouvindo o rap dos Racionais MC’s — especialmente a música Fórmula Mágica da Paz — que nasceu uma ideia transformadora: criar um coletivo para revitalizar um terreno baldio atrás da comunidade e transformá-lo em uma horta agroecológica comunitária. Um espaço de vida, resistência e esperança. Durante dois anos e meio, trabalhamos com recursos próprios, fazendo serviços como retirada de entulho e poda de árvores para manter o projeto vivo. Protocolamos um ofício na Prefeitura do Rio e, com muita luta, conseguimos entrar no Programa Hortas Cariocas. Recebemos assistência técnica e sete bolsas, destinadas a jovens que estavam conosco desde o início. Mas não paramos por aí. Um ano depois, iniciamos um pré-vestibular comunitário, entramos para o Fórum Nacional de Educação Popular e passamos a dar aulas aos sábados para quem sonha com o ensino superior. Mais um ano se passou e nasceu a Cozinha Solidária, que distribui gratuitamente entre 200 e 250 refeições às segundas, quartas e sextas-feiras. Hoje, após cinco anos de trabalho incansável, enfrentamos novos desafios. A Secretaria de Meio Ambiente cortou três das seis bolsas que mantínhamos, prejudicando diretamente três famílias da comunidade. Mesmo assim, seguimos firmes, confiantes na força do nosso trabalho, combatendo a insegurança alimentar e promovendo cidadania, dignidade e educação. Fazemos parte da Rede Carioca de Agroecologia, do SPG (Segurança, Participação e Garantia), certificamos nossa produção com a Associação de Produtores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro e realizamos feiras para compartilhar o que cultivamos — com as mãos, com o coração e com a esperança. Esse é o projeto que batizamos de Agro-Cultura: Uma Fórmula Mágica da Paz. Porque acreditamos que a paz se planta, se rega e se colhe — todos os dias. Se você chegou até aqui, saiba que qualquer apoio — seja financeiro, voluntário ou institucional — pode transformar vidas. Junte-se a nós. Ajude a semear um futuro mais justo, mais verde e mais humano.