Publicações
2252 Resultados
Filtrar
ASA Agroflorestal 🌿🐜
ASA - Agricultura Sintrópica e Agroflorestal 🌳🌱🌳
#saf
#Itatinga
#agricultura
#agrofloresta
#agroecologia
#agroecossistema
#agriculturasintropica
Comentar
Ganhei o ano, além do valor ambiental que toda espécie tem, o preço do metro cúbico é de aproximadamente R$ 3 mil "cruzeiros"
Comentar
Por onde passamos percebemos as muitas iniciativas que buscam melhorar o lugar onde vivemos. Isso é uma das coisas que mais me deixa feliz. Ver que a maioria das pessoas buscam o bem 💚
Comentar
Por onde passamos percebemos as muitas iniciativas que buscam melhorar o lugar onde vivemos. Isso é uma das coisas que mais me deixa feliz. Ver que a maioria das pessoas buscam o bem 💚 Nessa última semana plantamos mudas de bambu, com o objetivo de colher bons frutos no futuro ✳️
Comentar
Participamos do 13º Congresso de Agroecologia na UNIVASF em Juazeiro/BA e apresentamos dois trabalhos intitulados "Impactos econômicos na produção agroecológica em áreas periurbanas" e "A gestão de resíduos orgânicos da Rede Consumo Consciente ABC". O evento estava lotado com muitas atividades, focamos nos trabalhos que estavam relacionados com o nosso, foi bem legal poder encontrar pessoas que estão na mesma sintonia teórica e prática, vamos apresentar o trabalho também em nossa vivência do dia 6 dez.
Comentar
A ocupação do sítio está sendo uma experiência incrível. Estamos construíndo uma cabana para poder ficar e trabalhar na terra. A cabana é uma construção sagrada.
Comentar
Comentar
Já pensou na quantidade de coisas que dá pra fazer com o bambu. Na Bioconstrução, casas, mobiliários, estruturas. Na agricultura, canteiros, estacas... Esses serão estacas para pitaias subirem até o arame. Mas conta pra gente o que mais você faz com o bambu por aí ☺️
Comentar
No Balaio dos Saberes, em sua 9ª edição, a Mesa da Partilha trouxe o Banquete dos Saberes, uma celebração dos sabores e dos biomas do Brasil. A mesa reuniu alimentos que representam os seis biomas brasileiros — Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa — combinados com a base da culinária tradicional do nosso povo: milho, mandioca e banana. “São alimentos do nosso território, que consumimos ancestralmente há muitos anos e que representam o nosso Brasil”, conta Ohanna Akeny, uma das organizadoras do Balaio. Para Ohanna, o ato de banquetear é sagrado — é partilhar o alimento e também partilhar a alma. “Quando preparo um banquete, não estou apenas cozinhando. Estou compartilhando minha energia e minha alma com vocês.” O Banquete dos Saberes é sobre isso: celebrar o alimento como cultura, afeto e resistência. Porque comer junto é, também, um gesto de reparação, de memória e de amor."
Comentar
Hoje o núcleo de aprendizagem livre e natural em parceria com a escola popular de agroecológia Ana primavessi vamos fazer a oficina de recuperação da nascente com a técnica Caxambu ontem estivemos encontrando os olhos d'água. E incrível como onde tem árvores sempre haverá uma aquinha. E e incrível como um morro pelado atrapalha nossas águas. Acompanhe esse processo. Água limpa e boa e fundamental pra autonomia
Comentar
Comentar
URUCMACUÃ H.H.ENTRINGER PEREIRA LIVRO 3 CPITULO 73
@
VOLTANDO PARA CASA Dentro de três dias, a fabulosa comitiva do Grande Rei zarparia para as Terras de Além Mar, rumo ao Reino da Perfeição. Vassalos e serviçais da comitiva do Grande Rei intensificaram os trabalhos a bordo das naus Patientia, Sapientia e Humilitas, abastecendo-as de víveres, limpando e arrumando camarotes e compartimentos visando à grande travessia. Um camarote ao lado do majestoso camarote real era solenemente preparado para o nobre e especial convidado do Grande Rei: o Príncipe Urucumacuã. A anunciada presença a bordo do jovem fidalgo para a viagem despertou nos serviçais interesse incomum. Todos falavam com entusiasmo e curiosidade a respeito do emblemático Príncipe da Beira do Rio, de cabelos vermelhos como fogo e olhos verdes como esmeraldas, tecendo especiais conjecturas a respeito do virtuosismo da ilustre companhia. O Imperador cuidou pessoalmente da arrumação da bagagem e dos baús do filho, entregando-lhe uma expressiva quantidade de ouro de sua reserva especial, roupas novas e calçados feitos sob medida, porque também o primeiro dos gêmeos nascera com os pés semelhantes aos da mãe, segredo somente compartilhado entre os membros da família, Mago Natu, Professora Plínia e a parteira, Senhora Natividade da Luz. Ao receber o baú com o ouro, Príncipe Urucumacuã, sorrindo, confidenciou ao pai: — Meu querido pai, não necessito de tanto ouro. Preciso mais é do ouro do conhecimento. É este que buscarei tão longe... — Meu filho, este é o ouro que posso te ofertar. Saiba que ambos são importantes, pois formam juntos o verdadeiro e completo tesouro que um ser humano precisa conquistar. Faça bom uso do ouro material, mas dele não te apegues pela avareza ou cobiça, para que alcances a graça de conquistar também o ouro espiritual, que malfeitores não tomam nem ladrões pilham. O clima no Palácio Fortaleza era de despedida. Todas as doze casas de hóspedes no pátio interno do palácio apresentavam movimentação de arrumar bagagens; no porto, preparavam-se dezenas de embarcações; nas baias, dezenas de carruagens e nos estábulos, centenas de animais cargueiros. Havia evocações de suave nostalgia e vibrações de saudades antecipadas que irradiavam sobre os que ficariam e mais fortemente sobre os que partiriam. Rainha Alimpa e sua comitiva de navegadores, no entanto, preparavam-se para prosseguir viagem. Ela era a única que não planejava naquela oportunidade retornar ao próprio reinado. Depois que conhecera Rainha Alzira e seus dois netos, decidira estender sua programação a convite da amiga até o fabuloso reino das pedras verdes, o Reinado de Avilhanas, tamanha afeição sentira pela mãe de Rei Naldo, sua nora, a Rainha Araci, e seus netos, Príncipe Gesu Aldo e Princesa Irina. Rainha Araci ela conhecera grávida do primeiro filho durante a festa de casamento do Rei Médium com a Rainha Gônia. Nem Rei Naldo nem Rainha Araci puderam vir à festa do noivado da filha com o Príncipe Urucumacuã. Mesmo sendo a mãe da noiva, Rainha Araci recuperava-se de uma queda na escadaria do palácio das Esmeraldas que resultara na perda de um bebê extemporâneo que esperava há aproximadamente cinco meses. Rei Naldo preferiu mandar a mãe representá-lo com os 298 H. H. Entringer Pereira filhos e ficar em companhia da mulher, que passava por um período delicado de convalescença. Rainha Alimpa se afeiçoara sobremaneira à Rainha Araci depois que ouviu dela algumas estórias interessantes e fantásticas sobre a origem da Mula Sem Cabeça. Saudosa da amiga, com vontade de revê-la, resolveu colocar-se a caminho, aproveitando a companhia da Rainha Alzira, por quem muito se afeiçoou, e sua comitiva até o Reino de Avilhanas. Era uma longa viagem, mas o percurso incluía a parte maior dos trechos pelo rio Aguaporé e um percurso menor por terra, a partir do Porto de Pimentas, até a sede do reinado, cerca de duzentos quilômetros do exuberante lago de águas verdes cristalinas, em cuja margem se erguia, majestoso e imponente, o Palácio das Esmeraldas. Rainha Alzira alimentava dois sentimentos opostos: feliz pela companhia da Rainha Alimpa para uma temporada em seu próprio reinado e triste pela prolongada ausência de seu adorado sobrinho-neto, Príncipe Urucumacuã. Rainha Alimpa também tinha um segredo oculto no mais profundo do seu coração, habilmente disfarçado sob o pretexto de se afeiçoar às novas amizades: apaixonara-se irremediavelmente por Conde Rasku, desde a primeira vez que o vira, quando o ouviu anunciar que iria se casar com a Marquesa de Sonça. Alguns anos passados, agora que o Conde Rasku estava desimpedido e solteiro novamente, a despeito de todas as escabrosas histórias de crueldade e perversão que contavam a seu respeito, não conseguia tirá-lo do pensamento nem o ver como um exemplar masculino de perfídia e malvadeza, apesar de tão bonito. A força penetrante de seu olhar azul, frio e sedutor, seu porte elegante, adicionado a um quê de maturidade sedutora e apaixonante, deixavam-na com o sangue em efervescência. Daria, se ele quisesse, a metade de seu próprio reinado para tê-lo por marido. Conde Rasku também percebera que Rainha Alimpa correspondia aos seus olhares cúpidos, sequiosos de luxúria e cobiça. Também passara pela sua cabeça o desejo de seduzi-la, fazê-la apaixonar-se por ele, desde que a conhecera. À época do casamento do Imperador e, depois, apropriar-se de um bom naco de seus tesouros. Depois que conseguisse o que estava querendo, se preciso fosse, livrar-se-ia dela para sempre, sem suspeitas, como já fizera com tantas outras donzelas desaparecidas misteriosamente. Rainha Alimpa era uma mulher extremamente inteligente e sensual, mas era dada à fraqueza de se apaixonar por homens de péssimo caráter. Lembrava, na aparência, a não menos sensual esposa, do Conde Rasku, Senhora Pan Thera, a Marquesa de Sonça, que continuava vivendo nas florestas, encantada numa fera perigosa e indomada. Essa coincidência instigava mais ainda no Conde Rasku o desejo de investir para conquistá-la como mulher, ao mesmo tempo em que suscitava incontrolável sentimento de vingança e ódio profundo pela esposa que o traiu com o Bruxo Neno, no dia do casamento, em seu próprio leito nupcial. Conde Rasku voltara recentemente do Reinado de Trindade, onde passara uma temporada, porque tencionava encontrar-se para um acerto de contas com seu rival e desafeto, Bruxo Neno. No entanto, o bruxo também estivera fora de Trindade, em local que ninguém soubera informar ao certo já há alguns dias. Apesar de hospedado no Palácio do Rei Mor, não chegou a ver nem a esposa, Murmur, nem a filha, Angelin, nas 299 H. H. Entringer Pereira lidas palacianas, deduzindo, assim, que ambas estariam fora com o Bruxo Neno. Não ousou perguntar por elas, pois jamais um nobre poderia manifestar interesse pelo paradeiro de criadas e menos ainda por filho de criadas. Há mais de vinte anos, Bruxo Neno se mudara para aquele reinado, onde casara-se com uma serva do Rei Mor, a cândida Murmur, cuja única filha, a moça Angelin, era considerada a mulher mais bela que já pisara sobre o chão, apesar de ser filha de uma criada com um bruxo. A beleza pura de Angelin era propalada e exaltada por todos os recantos, nos mais distantes reinados. Embora se comentasse sobre a notável graciosidade de outras princesas, a graça e donaire de Angelin não tinham precedentes, nem concorrentes. Todos que a viam, tanto homens quanto mulheres, eram unânimes: não existia naquelas paragens beleza que lhe fizesse sombras ou suplantasse. À parte seu maravilhoso e jovial semblante, Angelin era altiva, mas humilde, recatada, delicada e trabalhadeira. Uma raridade. Quem ia ao reinado do Rei Mor, invariavelmente, comentava suspirando: “Vi lá a Bela de Trindade ”. De tanto repetirem e comentarem, a sede do reinado ficou conhecida de uns tempos em diante como Vila Bela de Trindade. Era por Angelin, portanto, que o coração do sedutor e não menos belo Conde Rasku agora batia. Todavia, era com o pai dela, Bruxo Neno, que haveria de fazer um acerto de contas. Precisava ultrajá-lo, afrontá-lo, desmoralizá-lo, desmascará-lo. Para conseguir tudo isso de uma só vez, demorasse o quanto demorasse, a vingança mais fácil e cruel seria desonrar a bela filha, sem pudor e sem piedade, para que nenhum homem digno jamais a desposasse, apesar de todas as suas incontáveis virtudes e incomparável beleza. Sim, para o Conde Rasku, seria a melhor forma de saborear a vingança. Precisava arquitetar um plano de ação. Quem sabe, o envolvimento amoroso com a Rainha Alimpa servisse de pano de fundo para dissimular suas intenções, mudar o foco das atenções e, assim, vingar em Angelin o ódio que alimentava por seu pai? Não se constituía em sacrifício conquistar o coração e os favores de uma rainha igualmente sedutora, para depois tomar-lhe a fortuna, fazendo dela sua principal e insuspeitada cúmplice. FA hora da despedida do Príncipe Urucumacuã foi para a Princesa Irina um dos momentos mais tristes que havia vivido até então. Sufocada por uma grande angústia, a jovem princesa vertia lágrimas pungentes e, inconsolável, buscava nos braços da avó e da futura sogra o conforto de que carecia. Rainha Gônia, carinhosa e afetuosa, nutria pela futura nora muito amor e consideração. Também compartilhava de sua tristeza, abraçando-a e amparando-a, pois a separação prolongada de seu próprio filho por um período de, no mínimo, três anos, apertava-lhe igualmente o coração, deixando-a melancólica e abatida. Houve muitas lágrimas naquela despedida. Muitos abraços prolongados, muitos desejos de breves regressos, acompanhados de um discurso emblemático e profético pronunciado com ênfase pelo Mago Natu. Aparentemente deprimido pela longa ausência de seu amado filho, o Imperador, após abraçá-lo fortemente, juntou-se ao outro filho, Príncipe Kurokuru, depois de despedir-se do Grande Rei, concluindo sua oratória de anfitrião com uma frase cujo significado oculto permaneceria obscura para a maioria: — Sinto que não mais verei alguns de vós, até ganhar asas e com dor voar para as cordilheiras em busca da eterna pata Gônia! 300 H. H. Entringer Pereira Mago Natu cruzou seu olhar com o Grande Rei. Os dois igualmente se abraçaram e finalmente, saudaram-se à maneira dos sábios, pronunciando ao mesmo tempo seus enigmáticos códigos: “M.N.O.P.Q.R.S.”. O Grande Rei foi o último a embarcar na nau Sapientia, das três, a única que ele comandava pessoalmente. Ao entrar na embarcação, o assistente de ordens desatou a corda junto do portaló, ajustou alguns panos de velas à direção do vento e em alguns minutos a grande roda d’água, que também impelia a engenhosa embarcação, começava a girar, sinalizando às outras naus para movimentarem-se no porto. Momentos depois, os que acompanhavam os embarques e as despedidas olhavam distante o mais alto dos mastros de todas as embarcações desaparecer completamente na linha do horizonte, dobrando a curva do rio denominada Curva do Rei. Manso. Era a penúltima vez que o Grande Rei navegava naquela região, levando contêineres do fino ouro do Elo Dourado, esmeraldas preciosas e diamantes de Avilhanas, madeiras aromáticas do antigo reino da Madeira, pássaros coloridos e macacos dourados das terras do Barão de Corumbi. FRestabelecida a rotina no Palácio Fortaleza, Mago Natu notou a Rainha Gônia saudosa e tristonha, chorando amiúde as lembranças do filho ausente. Compreendendo a melancolia da virtuosa amiga e amada esposa do Rei Médium, aconselhou que o casal fosse à tardinha até o Poço das Transformações. A bela cascata que descia límpida e borbulhante sobre pedras brancas, revestidas de fino limo nas bordas e a exuberante vegetação de exóticas palmeiras e folhagens tropicais escondiam o local dos curiosos e o preservavam da invasão de estranhos. Além da beleza ímpar do Poço das Transformações, como era chamado, aquela fonte tinha também algumas características que a distinguiam das outras naquelas cercanias. O barulho das águas escorrendo pedra abaixo parecia cantarolar algo como mantras harmoniosos e suaves que facilitavam estados de êxtase ou introspecção. Era o local predileto do Mago Natu nos longos períodos que se dedicava à meditação depois que o Rei Médium, num momento de descontrole, quando nasceram seus filhos gêmeos, quebrou o Espelho Universal, privando-se daí em diante de seu magno oráculo encantado. Sempre que o Imperador, a Imperatriz ou o mago sentiam necessidade de desabafar sentimentos inferiores, curar-se de alguma dor emocional ou de algo que os afligisse ou atormentasse espiritualmente iam sozinhos, ou o casal, ao cair da tarde ou nos primeiros alvores, sem que os outros cortesãos percebessem, passear pelas cercanias do palácio, chegando até o Poço das Transformações. Menos de meia hora submersos naquelas águas encantadas parecia bastante para revigorar, restaurar energias e rejuvenescer, trazendo calma, tranquilidade e restabelecendo a harmonia própria. Atendendo ao pedido do Mago Natu, Rainha Gônia convidou o marido para passear. Seu coração estava profundamente entristecido e conflitado, ainda que compreendesse a necessidade de o filho Urucumacuã ausentar-se em busca de conhecimento e sabedoria. Precisava, no entanto, limpar-se daqueles sentimentos, lavando-se nas restauradoras águas frias da sagrada fonte, para que sua saúde não se afetasse pelo desespero e melancolia. O Imperador prontamente lhe satisfez o desejo. Descendo às baias, ordenou que encilhassem dois dos mais garbosos e bem adestrados 301 H. H. Entringer Pereira corcéis. Sairia a passear com a Imperatriz. Chegando ao Poço das Transformações, Rei Médium despiu-se com a esposa, que ainda conservava alguma resistência a descalçar as sapatas perto do marido: — Também me sinto com dor, minha querida. Não precisas envergonhar-se de suas patas, Gônia! Ela enrubesceu, mesmo sabendo que o marido estava a brincar. Deu um mergulho profundo, permaneceu durante alguns minutos sob a superfície do poço cristalino. Rei Médium mergulhou em seguida e alcançou-a, trazendo-a abraçada, à tona: — Não me fugirás, minha pata Gônia! Ambos riram, ela se sentiu melhor. Lembraram algumas das cenas do dia de seu casamento, pareciam se repetir, principalmente quando à noite foram até aquela fonte para selar o compromisso de matrimônio e jurar amor eterno entre si, perante a Lua. Choraram, riram e ambos esconderam um do outro o sentimento estranho que os apossou. Estavam certos de que o destino não permitiria que o filho, Príncipe Urucumacuã, se casasse com a Princesa Irina, conforme ficara marcado para daquela data três anos em diante, quando o príncipe estivesse de volta da grande viagem. Não sabiam o motivo. Mas, com certeza, Mago Natu saberia. Sem se preocupar, todavia, com as adversidades pressagiadas, o Imperador saiu da água e a chamou: — Venha, Gônia. Com certeza já estão à nossa procura... — Sim, também Kururu deve estar à nossa espera para o jantar. Logo anoiteceu. A lua nova desenhou seu arco de luz como a vela de um barquinho nos céus. Confortados, sentindo-se extremamente bem, voltaram a galope nos corcéis brancos, cujas crinas esvoaçando, muito leves e bem escovadas, roçavam levemente as mãos dos cavaleiros a segurar as rédeas, tal qual propositado gesto de carinho e gratidão por tão belos, alinhados e gentis cavalgadores. Havia tempos que o Imperador e a Imperatriz não passavam uma noite tão restauradora. No clarear do dia, levantaram-se dispostos e saíram a apreciar as gotas de orvalho sobre os botões de rosa entreabertos, com os pequenos pingos de cristal reluzente grudados sobre as pétalas tenras e macias. O esvoaçar dos colibris, o canto dos rouxinóis e o alarido dos pintassilgos nas fruteiras tornavam mais encantadores ainda os jardins e o pomar que circundavam o Palácio Fortaleza, seus pátios internos e suas alamedas. As águas plácidas do rio Aguaporé refletiam os primeiros raios do sol e a orla de floresta do outro lado do cais do porto estava tão dourada quanto a ornamentação de ouro que reluzia nas paredes, cúpulas e capitéis do palácio. No salão de refeições matinais, a família do Imperador, à mesa, foi interrompida pelo mensageiro real. As trombetas haviam tocado, a guarda real perfilada abria passagem para adentrar uma centena de cavaleiros vestidos de preto, montando portentosos alazões negros, como se formassem uma única peça o conjunto cavalo e cavaleiro. Outros, portando lanças pontiagudas de estanho reluzente, escudos de latão muito polidos, mostrando as insígnias e emblemas do Reinado de Trindade, com seus elmos de chifres na cabeça, não careciam de identificação. Eram os temíveis soldados, conhecidos como Caçadores de Cornos, do Rei Mor. Vinham escoltando a comitiva, 302 H. H. Entringer Pereira trazendo mensagem com proposta de negociação da partilha das terras devolutas do Barão de Corumbi, que morreu sem herdeiros, deixando grandes extensões férteis e aradas para o cultivo dos “algo dão ”: terras onde “Corumbi ara ”. N Imperador, diplomático e pacífico, recebeu-os com honras da realeza, ordenou acomodações compatíveis com seus misteres e fez providenciar farta alimentação matinal de frutas, grãos integrais, quinoa, broas de milho, chocolate e coalhada de leite de búfala. Designou audiência com o chefe da comitiva para depois do meio-dia, quando, descansados da longa viagem, estivessem em condições de conversar e negociar pacificamente, defendendo cada um seus próprios interesses. À hora aprazada, o chefe da comitiva e seis escudeiros de elite da guarda do Rei Mor se apresentaram à porta do Salão do Trono. Quatro vassalos do Rei Médium abriram a porta, dois de cada lado, sinalizando a entrada dos forasteiros até defronte ao trono, onde o Imperador assentado, já os aguardava. Solicitou que também se sentassem, apontando as cadeiras semelhantes ao imponente trono, porém menores no espaldar e estofadas de tecidos em tons pastéis, contrastando vivamente com o tom de púrpura brilhante do trono real. Cumpridas as saudações e apresentações protocolares, a escriba do Imperador, Professora Plínia, leu solenemente a ordem do dia, dirigindo, em seguida, a palavra ao Imperador. De posse do rolo de pergaminho em couro de vitelo, entregue pelo chefe da comitiva, Senhor Uru, abriu o lacre, iniciando a leitura do documento remetido pelo Rei Mor. À medida que passava os olhos e desenrolava o pergaminho, a fisionomia do Imperador se agravava, modificando-se, franzindo o cenho, tornando indisfarçável seu desagrado ao conteúdo das proposições do Rei Mor. Concluída a leitura, o Imperador fechou os olhos, respirou suave, mas profundo, repassando silencioso às mãos da Professora Plínia a inconveniente e pouco alvissareira missiva. Entre os doze elementos presentes no majestoso Salão do Trono, nenhum ousava quebrar o silêncio. Todos esperavam, tensos, a manifestação do Rei Médium. Levantando-se do trono, desceu o degrau da plataforma sobre a qual se colocava e, dirigindo-se a um dos seus vassalos solicitou, num tom de voz calmo: — Por favor, buscai o Mago Natu. Precisamos de sua orientação. Caso não o encontreis, trazei-me a Rainha Vidência. Voltando-se para os demais, aumentou um pouco a tonalidade da voz e educadamente se pronunciou: — Senhor Uru, por gentileza, sem abusar de vossa paciência, aguardemos a chegada do Mago Natu. Preciso que saiba do conteúdo desta mensagem. Quando o Imperador concluiu, Mago Natu entrou com a Imperatriz, Rainha Gônia, pela porta oposta àquela que o vassalo saiu para cumprir a determinação. Pela mesma porta, passados dez minutos, o vassalo entrou com a Rainha Vidência, justificando-se: — Senhor Imperador, não consegui encontrar Mago Natu... Antes que falasse mais alguma coisa, o Imperador, fazendo ar de riso, desculpou-o: — Não vos incomodeis! 303 H. H. Entringer Pereira Todos sorriram. Menos o Senhor Uru, que se mantinha carrancudo, externando impaciência, pouco à vontade com o intervalo criado estrategicamente pelo Rei Médium, tanto para ganhar tempo como para ouvir o conselho do Mago Natu e as dicas da Rainha Vidência, sempre bem-vindos, principalmente quando se tratavam de negócios que afetariam profundamente as relações diplomáticas entre os dois reinados. Feitas as apresentações e saudações, Rei Médium explanou brevemente as razões pelas quais solicitara a presença dos outros convidados, determinando que Professora Plínia lesse, agora em voz alta para todos o conteúdo da missiva do Rei Mor. Com eloquência e ênfase, ela obedeceu. Quando puxou fôlego para continuar a segunda parte da missiva, tratando das condições propostas para negociar a partilha da vasta extensão das terras deixadas pelo Barão de Corumbi, Mago Natu, educadamente, interrompeu e se manifestou: — Prezados Senhores, se somente a mim falta dar conhecimento do restante da missiva, peço-vos que passemos adiante. Posso dizer-vos que os seis itens seguintes não precisam ser lidos, pois que tratam das condições impostas pelo Rei Mor para negociar a partilha das terras de Corumbi. Os sete emissários do Rei Mor se olharam, mostrando surpresa. O Senhor Uru solicitou a palavra: — Senhor Imperador, se tanto poder e sabedoria demonstram vosso leal vassalo, solicito que recite pelo menos um dos seis itens alinhados nesta missiva, posto que eu mesmo os ignoro. Tenho certeza de que vos entreguei o pergaminho lacrado. Vós mesmos podeis dar testemunho disto... O Imperador ficou na dúvida se a atitude do Mago Natu se tratava de um ardil ou de simples estratégia. Embora não duvidasse de sua capacidade de decifrar enigmas ou de conhecer coisas ocultas, temendo cair ele mesmo numa armadilha, preferiu falar com Mago Natu: — Se vos convier, Mago Natu, diga-nos apenas o item de número seis. Mago Natu abaixou ligeiramente a cabeça, juntou as mãos em frente ao rosto e, pressionando o ponto entre as sobrancelhas com os dois indicadores, declamou: — Mor Obriga Responder Toda Epístola. Diante da incredulidade dos presentes e da certeza do Imperador de que aquele era mesmo o conteúdo do sexto item, pediu à Professora Plínia que o confirmasse, lendo em voz alta, pois que não pairassem dúvidas sobre a capacidade de o Mago adivinhar e revelar o que parecia segredo. Sem titubear, ela recitou solene: — Item seis. M.O.R.T.E. M.or o.briga r.esponder t.oda e.pístola. Rainha Vidência mantinha-se calada, de olhos fechados. Tão logo Professora Plínia repassou o documento às mãos do Imperador, Vidência se levantou, virou-se de costas para os expectantes. De frente ao Imperador e Mago Natu, proclamou, continuando com os olhos fechados, a seguinte predição: — A morte deixará muitas terras indivisas. (Pausa) Quando a lua cheia do quarto ano, coberta por nuvens negras de fumaça, tornar-se em sangue, então o Pássaro de Fogo alçará voo com sua amada. (Pausa) Das cinzas de seu corpo brotará o pau mito, cujos frutos roxos herdarão sua força, sua coragem e seu coração; do seu misterioso pé também nascerá o arbusto de pequenos ouriços vermelhos como sangue e dos seus 304 H. H. Entringer Pereira verdes olhos duas grandes pedras preciosas se encantarão num cobiçado tesouro. (Pausa) A mão da virgem frutificará como fartos seios que alimentarão aves e homens. (Pausa) Sob um grande braseiro tudo findará; encobertas de cinzas, as ruínas de suntuosos palácios permanecerão mais de mil anos ocultas, mas serão desterradas quando a outra árvore der leite para restaurar a glória adormecida debaixo do brasil. Não havendo quem rememore o passado, a rainha das pedras verdes encontrará seu tes... tesou... tesouro... nas folhas de um ... um ... livro ... escr... Não concluiu seu presságio, baixou o tom da voz, balbuciando outras palavras que ninguém ouviu. Caiu, inerte, estirada no chão. Mago Natu foi o primeiro a socorrê-la. Abrindo-lhe as pálpebras, declarou: — Morreu. Podemos levá-la para o altar cerimonial de cremação. — E agora, o que respondo ao Rei Mor, Mago Natu? – o Imperador perguntou discretamente, e sem que o emissário do Rei Mor ouvisse tampouco a resposta, segredada no ouvido. — Responda-lhe a epístola com poucas palavras. Precisamos ganhar tempo. Ordene que a Professora Plínia aproveite o mesmo pergaminho, escrevendo ao final, lacrando-o em seguida, para que o emissário continue sem saber seu conteúdo: “Soberano Rei Mor, Único Senhor do Grande Reino de Trindade: Faço resposta sucinta aos seis itens da Vossa Real epístola. 1 –O Príncipe da Beira do Rio, Sua Alteza Urucumacuã, no vindouro ano de 366 dias visitará pessoalmente Vossa Soberaníssima Majestade; 2 –Tratará em nome deste Imperador o que interessar diretamente ao Império do Elo Dourado; 3 –Negociará livremente impostos e divisas sobre as terras onde Corumbi ara; 4 –Reitero, no momento, desinteresse em formar exército para combater convosco; 5 –Considerai-vos convidado juntamente à nobilíssima Corte para o casamento, a contar de hoje exatos três anos, do Príncipe Urucumacuã com a Princesa Irina, bela, virtuosa e digna filha do Rei Naldo de Avilhanas; 6 –VIDA longa ao Rei Mor. Assina REI MÉDIUM – Elo Dourado Imperator.” Com o pergaminho em mãos, lacrado e selado com a efígie do Imperador do Elo Dourado, o Senhor Uru, visivelmente desconcertado devido ao inusitado da morte da Rainha Vidência, não se sentia à vontade para solicitar esclarecimentos quanto à compreensão de suas emblemáticas palavras. Temendo deixar à mostra sua completa ignorância na interpretação de predições e agouros, para impressionar o Imperador, inquiriu: — Venerável soberano, Imperador do Elo Dourado, é-me permitido transmitir ao meu soberaníssimo rei a nefasta profecia que ouvi neste recinto, para que também se acautele o meu senhor quanto ao calamitoso futuro de seu reinado? Rei Médium olhou fortuitamente para o Mago Natu que, entendendo o que pensava, fez um leve aceno de cabeça, já sabendo de antemão o que haveria de responder: 305 H. H. Entringer Pereira — Certamente, Senhor Uru, se conseguires lembrar uma a uma as palavras que ouvistes, alcançando seu profético e enigmático significado, nada impedirá de declará-las ao vosso soberano. Acrescente-vos ainda que não as registrei na missiva, posto confiar na vossa prodigiosa memória e bom discernimento, perfeitamente capazes de notificar com absoluta clareza a agourenta tragédia que nos espera. Seis elementos, portando uma espécie de maca ornamentada de flores brancas e amarelas, adentraram o Salão do Trono sob o consentimento do Imperador. Removendo o corpo inerte da Rainha Vidência, conduziram-no até o altar, para dar início ao cerimonial fúnebre que antecedia a cremação dos falecidos. Enquanto se retiravam, Rei Médium convidou os emissários do Rei Mor a participarem das exéquias que sempre aconteciam durante o crepúsculo. Escusando-se sob o pretexto de esgotado o prazo que tinham para retornar a Trindade, lamentaram e despediram-se. Perfilados em frente ao Palácio Fortaleza, os soldados do Rei Mor, os Caçadores de Cornos, esperavam impacientes pelo chefe da comitiva, Senhor Uru e seus guarda-costas, para regressarem levando a missiva de seu soberano com a resposta do Imperador. Três grandes balsas e uma barcaça estavam prontas no cais do porto para zarpar com cavalos e cavaleiros. Uma fumaça branca subiu aos céus dourados pelo pôr do sol. Em poucos minutos, o silêncio e a noite chegavam juntos ao Elo Dourado.
Comentar